O Nordeste tem vilões e heróis, por Rogério Faria

Os quadrinhos são um meio profícuo para a experimentação e resgate da memória em obras de qualidade e premiadas.

A hora e a vez de Augusto Matraga, 1965

O Nordeste tem vilões e heróis, por Rogério Faria

A região Nordeste desde sempre foi palco de histórias marcantes e personagens fortes. De gente real como Lampião e Maria Bonita a ficcionais como Maria Moura, a cadela Baleia, o vaqueiro Manuel. É assim na literatura, no cinema, música, poesia, pintura, teatro, teledramaturgia, que fica impossível citar todos.

Nos quadrinhos, não é diferente, o Nordeste é terra do grande mestre Watson Portela, do arrasa-quarteirão Mike Deodato, e, mais recentemente, de autores como o talentoso Shiko (Piteco – Ingá, MSP). É de lá, por exemplo, a Turma do Xaxado, de Cedraz; o Cabra (2010), de Flávio Luiz; e Bando de Dois (2010), do Danilo Beyrut. Inclusive, o sertão já recebeu a visita de gringos ilustres, como o mutante Wolverine, da norte-americana Marvel (Saudade, pela editora Panini em 2006), e Mister No, da italiana Bonelli, (Mister No Especial 3, lançada neste ano pela editora 85).

Os quadrinhos são um meio profícuo para a experimentação e resgate da memória em obras de qualidade e premiadas. Marcelo D’Salete, por exemplo, nos trouxe Zumbi de Palmares no livro em quadrinhos Angola Janga – Uma história de Palmares (Veneta, 2017). São 432 páginas sobre a resistência negra durante a escravidão no século XVII ambientadas em Pernambuco, Alagoas, capazes de doer ainda hoje. O livro venceu diversos prêmios, como o nacional Jabuti 2018 e o Eisner, o maior prêmio de quadrinhos do mundo.


Lá é terra também do Cabra d’Água, um super-herói nordestino cujo corpo é 100% água, personagem criado pelo roteirista Airton Marinho. Para ele a criação de um personagem com superpoderes aqui tem que levar em conta a realidade brasileira para não, simplesmente, copiar a fórmula norte-americana, de heróis musculosos, roupa colante, abdome trincado e capa. Airton vê o sertão nordestino como lugar perfeito para histórias fantásticas e um cenário que pode ser tanto bonito quanto trágico. Para ele, ter crescido na região é fundamental para se criar histórias autênticas.

Seu personagem estreou no Gibi Quântico n° 1 (2014), com desenhos de Leopoldo Alves, e protagonizou a HQ Cabra d’Água – Terra Sitiada (Draco, 2015), desenhos de Ronaldo Mendes. Agora, ele é está em um novo álbum, Cabra d’Água em a Peleja contra os Gigantes, com desenhos e cores de Lederly Mendonça, também pela editora Draco. O super-herói nordestino continua tentando encontrar seu lugar no mundo, enquanto aprende sobre seus poderes. Na HQ ele enfrenta um homem extremamente poderoso e ainda mais cruel numa mistura de o “O Auto da Compadecida” com “One Piece”.

Essa nova HQ será lançada na Comic Con Experience 2019, em dezembro, mas precisa, antes, ser financiada com a participação do público na sua pré-venda, com preços mais vantajosos e recompensas arretadas na plataforma Catarse, clicando aqui. É mais uma história sobre o Nordeste que conta com o apoio não só dos leitores da região mas do país como um todo para se tornar realidade.

O Nordeste vem, assim, cada vez mais, ganhando representatividade nos quadrinhos nacionais e de forma autêntica. Vale aqui lembrar de Ariano Suassuna, que se dizia a favor da internacionalização da cultura, mas não acabando com as peculiaridades locais e nacionais: “Não troco meu oxente pelo ok de ninguém.”

Redação

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