O último prussiano e a cidade de João Ninguém

O último prussiano

Por Motta Araujo

O Marechal de Campo Ger von Rundstedt foi o ultimo grande militar prussiano do Século XX.

Produto da exclusiva Academia Militar Alemã, que só admitia 100 alunos por ano e só graduava como oficiais 25 por ano, a admissão era restrita à famílias da aristocracia prussiana.

Rundstedt, nascido em 1875, foi um dos mais importantes comandantes alemães da Segunda Guerra, duas vezes Comandante em Chefe na Frente Ocidental em 1940, depois comandante de um dos três Exercito que invadiram a União Soviética e finalmente e novamente Comandante em Chefe da Frente Ocidental em 1944 até o fim da guerra. Foi o ultimo Marechal de Campo da casta militar prussiana.

Finda a guerra rendeu-se aos anglo-americanos e foi levada preso à Inglaterra, onde foi no geral bem tratado e protegido pelos ingleses, que respeitavam inimigos de origem nobre. Os russos queriam Rundstedt obviamente para executá-lo mas os ingleses o seguraram bem longe da Rússia. Já com saúde debilitada foi solto e morreu em casa em 1953.

Suas relações com Hitler sempre foram tumultuadas, era evidente o desprezo de um prussiano para um ex-cabo austríaco, mas Hitler precisava de sua figura imponente e altamente respeitada.

Na hierarquia militar alemã da Segunda Guerra atuaram 29 Marechais de Campos, mas Rundstedt era o de mais alta autoridade pessoal por sua origem e qualificação. Sua frieza, perfil e conhecimento davam-lhe uma reputação inigualável.

A República Federal lhe negou aposentadoria, ele e a mulher foram mantidos por seus colegas.

O nome Rundstedt é conhecido em todos os exércitos do mundo como símbolo do militar profissional e apolítico.

No meio de uma guerra mundial nunca se curvou a um político, nem a Hitler, e nunca perdeu a postura de oficial de carreira.

Enviado por Schell

A cidade de João Ninguém

Por Tânia Du Bois

Você já ouviu falar na cidade de joão ninguém? É a cidade onde todos mandam, ninguém obedece e poucos respeitam.

Noel Rosa, em tempos passados, compôs uma letra com o nome de João Ninguém. O poeta teve sensibilidade para compreender o que estava acontecendo à sua volta; foi capaz de traduzir naquela música o seu tempo social. Trabalhou duro a palavra para tentar mostrar o que estava acontecendo em uma cidade saída da Revolução de 1930, num país carente da palavra; ele soube usá-la para definir o movimento das palavras para com a música: “João Ninguém / Que não é velho nem moço / Come bastante no almoço / Pra se esquecer do jantar / Esse João nunca se expôs ao perigo / Nunca teve um inimigo / Nunca teve opinião.”

Mas, nos tempos atuais, é a cidade em que o povo escuta música em volume excessivo, nos carros, nas ruas, até altas horas; os carros são estacionados de qualquer maneira, em qualquer mão. Nas lojas, parece que cada dono faz o seu próprio horário de atendimento. Não há policiamento. As casas são assaltadas à luz do dia. A novidade é que, agora, os ladrões escalam prédios e até matam para roubar. Os supermercados fixam preços de acordo com a temporada. O saneamento básico é feito e refeito. E como é a cidade de joão ninguém, não são tomadas providências, nenhuma atitude sobre absolutamente nada. Tudo é permitido, tudo podem.

Álvaro Mutis, poeta colombiano, mostra-nos que a força das armas não contempla a permanência, ao contrário, leva à destruição e ao esquecimento; a ilusão do progresso como atos a reconfigurar a terra em novas formas de compartilhamento: “Senhor das armas / ilusórias, faz tanto tempo / que o olvido trabalha / teus poderes que teu nome, teu reino / e torre, o estuário as areias e as armas / se apagaram para sempre…”

E como vivem os forasteiros nessa cidade? Eles entendem que a cidade de joão ninguém é protegida pela natureza. Que o Sol é glorioso e a Lua quando bate no mar reflete os sonhos. Que o entardecer se confunde com as telas de Ivan Freitas. Que o mar é verde esmeralda, como pinceladas de Sansão Pereira. Que os pescadores pertencem à tela de Elias Andrade.

E que, ainda, sentar no terraço e apreciar a paisagem na companhia de Mário Quintana, Jorge Luis Borges e Saramago faz com que consigam esquecer que essa cidade pertence a joão ninguém. A brisa chega com Cecília Meireles e cada momento de “Isto ou Aquilo” é desfrutado com muita sabedoria.

Assim vivem os forasteiros na cidade de joão ninguém, tentando unir as letras ao povo, dando-lhes lápis e papel para perceberem a realidade; desafiando a cidade a arranjar um amor e uma palavra.

Redação

18 Comentários

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  1. temo que esta apologia escandalosa ao militarismo de estado

    temo que esta apologia escandalosa do militarismo de estado por aqui ilustradíssimo na honra e glória da vetusta nobreza militar prussiana – nas entrelinhas subliminares do id emocional-bestial do ggn-nassif – professa e prega, aos brasileiros seguidores do blog, a empunharem antes tarde que nunca a bandeira desfraldada da re/volta do regime militar ao poder das terras brasilis.

    1. Nada a ver. É exatamente o

      Nada a ver. É exatamente o contrario. Gerd von Rudnstedt era MILITAR  PROFISSIONAL, nunca se envolveu em politica.

      1. Sujeito bom

        Sujeito bom e excelente profissonal esse Gerd.

        Massacrava seres humanos por… dever de ofício.

        Como dizem os chilenos, “muy cumplidor’.

        1. E vc pretende que militar

          E vc pretende que militar faça o que?

          Rundstedt não foi julgado em Nuremberg, o que indica não ter cometido os delitos capitulados naquele Tribunal, que eram os mais graves do conflito. No mais é raro o general que escapa de acusações em qualquer guerra.

          1. Por esse aspecto, André, esse

            Por esse aspecto, André, esse militar não foi exceção. Nenhuma alta patente do nível dele e comandante de campanhas foi processado em Nuremberg. Os mais vistosos foram os “generais de gabinete”, Marechal Wilhelm Keitel, General Alfred Jodl( a meu ver, injustiçado); da Marinha Almirantes Erich Raeder e Karl Dönitz. Sem esquecer, é claro, do balofo e bufão Marechal-do-Ar Goering. 

            Não concordo acerca da avaliação desse Marechal prussiano. Desprezava Hitler mais pelo orgulho do que pela figura nefasta que era. Desprezava, mas ajudou a concretizar suas diversas políticas. Era um militarista e foi protagonista de alguns episódios nada abonadores já citados pelo comentarista Rebolla. Não se conhece nenhum gesto nobre de sua parte: não aderiu ao levante contra Hitler, nunca condenou o nazismo explicitamente e jamais se retratou publicamente. 

      2. Antes de dizer que o cara era

        Antes de dizer que o cara era profissional, etc., sugiro o Estudo da “Ordem Reichenau” e aí vai descobrir que o profissional era apenas um carniceiro da pior espécie.

  2. Memórias

    Quando era bem jovem, adolescente mesmo, caiu-me nas mãos um livro “Decisões Fatais”, muito técnico, pois fora escrito por militares alemães sobre possíveis erros que ajudaram a apressar a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial. Dá para perceber que o treinamento e pensamento bélico da oficialidade alemã era de primeira, e infelizmente estava a serviço da loucura nazista.  Rundstedt, Rommel e outros líderes são citados neste livro.

  3. Rundstedt – Field Marshall Prussiano da velha cepa

    1) Bismarck era um REALISTA que sabia onde poderia se manter. Não tinha o menor interesse expansionista. Como chanceler, buscou, acima de tudo, preservar a integridade do recém-instaurado Império Alemão, buscando isolar diplomaticamente os profundamente ressentidos e revanchistas franceses (perda da Alsácia-Lorena). Como? Aí se mostra a genialidade bismarckiana: de um lado, por meio do chamado “Sistema de Bismarck”, um conjunto de acordos diplomáticos, inclusive um “hedge-agreement” com os Romanov (Tradado de Resseguro de 1887), e, por outro lado, pelo Diktat de Bad Kissingen, em que se procurava fazer com que outras potências (salvo França) se mantivesse necessitada dela de modo a neutralizar qualquer tipo de aliança contra ela. 

    2) Guilherme II foi um lunático que, por meio da Weltpolitik, encapsoulou toda a politica de Bismarck e a mandou pro espaço. Resultado? Contribuiu decisivamente para o desequilíbrio europeu, inflou os ânimos nacionalistas diversos (especialmente nos Balcãs) e enrijeceu mais ainda todo o estado de tensão. Um caldeirão de ácido sulfúrico que culminou na Grande Guerra, em 1914.

    A Academia Militar Alemã era, acima de tudo, Prussia e Bismarckiana. Nada a ver com um Hitler foi um lunático, um louco, um diabólico que buscava retomar o orgulho, não em bases realistas, mas idealizadas, como Guilherme II. 

     

  4. Andre lava, Araujo enxágua…

    … Von Rundstedt foi um porco, merecia não o fuzilamento ou a forca, mas a faca do açougueiro.

    Apoiou a carnificina realizada pelos einsatzgruppen no leste, o massacre de Babi Yar ocorreu enquanto foi comandante do exército sul do front oriental. Ao tomar conhecimento de uma ordem de Von Raichenau para o fuzilamento sumário de judeus, membros ou meramente suspeitos de pertencerem ao PC e civis russos sem salvo-conduto fora das suas cidades de origem a retransmitiu para todos os seus subordinados como exemplo a ser seguido. Não importava se eram cidadãos indefesos em fuga, não era necessário nem mesmo a suspeita de ser um partisan. Eram alvos para o sadismo dos celerados boches.

    Na realidade o último prussiano foi russo… avança ou morre. Porém filho de camponeses e que trabalhou como peleteiro, sem as nobres origens tão apreciadas por você.

    1. Perfeita a sua descrição.
       
      O

      Perfeita a sua descrição.

       

      O único General nazista e “prussiano” que mereceria respeito foi Erich Von Manstein, para mim o grande gênio militar alemão da II GM.

       

      Se analisar apenas os resultados (Leningrado, Moscou, Stalingrado, Kursk, Bragation e Berlim), não tem ninguém que chegue aos pés de Zhukov.

      1. Zukov sempre teve baixas
        Zukov sempre teve baixas gigantescas em todas as batalhas q se se envolveu. manstein ele mesmo q perdiam ele conseguia resultados bons, sempre com poucas baixas e sempre vitorias espetaculares,ate o Rommel q luto pouco na africa teve umas das mais importantes vitorias da guerra, zukov sp sabia jogar seus soldados ate a municao fos alemaes acabarem era a tal famossa estrategia dele…

  5. Certamente

    o Motta Araújo conhece a história – se não me engano, relatada por Liddell-Hart em “The other side of the hill”, na qual o Montgomery foi visitar o Rundstedt no campo de prisioneiros após a guerra,  e na hora de sair, o Rundstedt deu passagem para o visitante sair na frente, porque, afinal aquela era sua – de Rundstedt – casa…

  6. Apenas um carniceiro, nada mais

    Rundstedt era apenas mais um carniceiro. “Mais importante General Prussiano”? Só se idade for o principal fator.

    Como citado anteriormente, para Rundstedt, ordens do tipo Reichenau (matar qualquer transeunte) era um exemplo a ser seguido. Teve a “honra” de ser o primeiro nazista derrotado pelos Soviéticos.

    Aconselho o colunista a não apenas transcrever resenha de livros e fazer uma pesquisa sumária antes de escrever qualquer coisa.

  7. Apolítico??????

    Pelo amor de Deus! Apolítico??????? Foi uma das mas importantes peças do projeto político genocida nazista. Simples assim. O desprezo que ele dizia sentir por Hitler não lhe deu coragem para fazer parte das iniciativas para eliminar aquele responsável direto pela aniquilação de sua tão amada Prússia. Também não dedurou os que faziam parte das conspirações. General muito capaz, isso é inegável, agora apolítico? Cometeu crimes de guerra sim e foi covarde o suficiente para não evitar o massacre de populações inocentes. O termo é covarde e não apolítico. Não foi julgado por seus cometidos crimes de guerra por causa da idade avançada e doença. Respeitado por ser apolítico, essa é boa!

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