Água de qualidade para população do RJ depende de cuidado com os rios

Dois milhões de moradores ficaram sem água por mais de dois dias em municípios do Grande Rio por contaminação do sistema Imunana Laranjal

Sistema Imunana-Laranjal paralisou produção após constatada a presença da substância altamente tóxica. Foto: Divulgação/Inea

do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

Água de qualidade para população do RJ depende de cuidado dos rios Guapiaçu e Macacu

por Silas Borges Evangelista | MAB

Na quarta-feira, 04, a população dos municípios fluminenses Itaboraí, São Gonçalo, Niterói e Maricá, além da Ilha de Paquetá (distrito da capital do estado) entraram em um colapso por falta de abastecimento de água. A Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (CEDAE) paralisou o abastecimento do leste metropolitano após detectar a presença de uma substância tóxica na água que abastece o sistema Imunana-Laranjal. Segundo a companhia, o tolueno vem das águas do Rio Guapiaçu, afluente do Rio Macacu. O motivo da contaminação do rio segue desconhecido pelas autoridades de proteção ao meio ambiente do estado do Rio, seis dias após ser constatada a concentração da substância. Após determinação da Justiça, a Polícia Civil e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) realizam buscas em 16 empresas que utilizam tolueno em seu processo de produção, mas ainda não descobriram o foco do poluente.

O problema, porém, é apenas um dos reflexos de uma gestão pública que não prioriza as políticas de saneamento básico no estado. A prova disso é a privatização dos serviços de abastecimento de água em regiões populosas desses municípios. Apesar de carregar a responsabilidade de abastecer as casas de mais de dois milhões de pessoas, o sistema Imunana-Laranjal não recebe investimentos do poder público no que diz respeito à gestão do recurso tão essencial para a população. O Rio Guapiaçu, por exemplo, margeia vários assentamentos de agricultura familiar, em uma região rica em florestas e nascentes, mas a população do entorno é carente de políticas básicas, como o saneamento rural, o incentivo à agroecologia e a educação ambiental.

Assentamento São José da Boa Morte com terras alagadas. Foto: divulgação

A CEDAE vem operando o sistema Imunana-Laranjal desde 1996, apesar de não cumprir efetivamente as condicionantes ambientais. A dragagem do rio, por exemplo, poderia mudar a realidade dos agricultores do Assentamento São José da Boa Morte, que sofrem todos os anos com o alagamento de suas terras por pelo menos cinco meses. Criar iniciativas sustentáveis para preservar as margens do rios é fundamental para que a produção de água seja em quantidade e qualidade necessárias.

O rio Macacu também sofre com a atuação do antigo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), reativado depois de anos de paralisação com com o nome GásLub. A Petrobras possui oleodutos na região que atravessam os assentamentos e os próprios rios e já foi responsável por vazamentos que contaminaram o ambiente.

É importante que se entenda que esta região do nosso estado é, ao mesmo tempo, uma grande produtora de água e de alimentos, pois a agricultura familiar ali praticada é de extrema relevância para o abastecimento da região metropolitana do Rio de Janeiro. Apesar do descaso do poder público, da ausência de políticas de crédito, assistência técnica e incentivos do governo em todas as esferas, as famílias assentadas seguem trabalhando na terra e produzindo alimentos como aipim, inhame, jiló, berinjela, pimentão, batata doce, quiabo, leite, entre outros, que são comercializados em todos os municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro.

A garantia do direito à água de qualidade no Leste Metropolitano, portanto, só vai ser possível com uma iniciativa voltada para a preservação das margens dos rios Guapiaçu e Macacu. Para isso é importante abordar as seguintes questões:

Educação Ambiental
É necessário ampliar o cuidado com a água e, através da educação, envolver os moradores de Cachoeiras de Macacu e Guapimirim. As pessoas desses lugares mal sabem que a água que passa em sua comunidade abastece tanta gente em outros locais. É preciso envolver essas pessoas nos debates e decisões a respeito desse bem comum.

Saneamento rural
A empresa Águas do Rio já disse aos agricultores locais que não tem interesse em investir na zona rural de Cachoeiras de Macacu, mas isso não desfaz a necessidade de investimento em saneamento rural. É inaceitável que ribeirinhos de dois dos poucos rios limpos que desaguam na Baía de Guanabara não tenham acesso a esgotamento sanitário, água encanada e, em alguns locais, nem mesmo a coleta de resíduos sólidos.

Reflorestamento
Investir em reflorestamento nos entornos dos rios de forma responsável e que não ponha em risco a produção de alimento e o sustento das famílias.

Agricultura sustentável
Sabemos que a agricultura é responsável por produzir alimentos, mas ela pode produzir alimento e água. Investir em práticas agrícolas que promovam um ambiente sustentável é tarefa dos gestores de nosso estado. O potencial produtivo dessa região pode ser dobrado se houver políticas públicas que incentivem os agricultores a mudarem suas práticas produtivas. As agroflorestas, por exemplo, são modelos produtivos que podem contribuir muito para o aumento da oferta de água na região.

Estruturação dos assentamentos
Uma das principais bandeiras de luta dos assentados de São José da Boa Morte e Marubaí é que o Estado invista na infraestrutura dos assentamentos. Melhorar a qualidade e a efetividade dos canais de drenagem e refazer os diques de contenção das margens dos rios são medidas simples que mudariam completamente a vida das pessoas que vivem naquele local. É preciso muito dinheiro para investir nessas políticas? Frente a quantidade de dinheiro que o Banco Nacional de Desenvolvimentos Social (BNDES) investiu em empresas privadas para que elas instalem hidrômetros em todas as casas das periferias – não! Investir na recuperação ambiental desta região certamente é mais importante e mais barato ao Estado. É preciso mobilização, luta e vontade política.

Silas Borges Evangelista é militante do MAB no Estado do Rio de Janeiro, agricultor familiar em Cachoeiras de Macacu e graduando em Pedagogia.

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