Damares não desmontou, mas destruiu os direitos das mulheres: Eleonora Menicucci no Cai na Roda deste sábado

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Ex-ministra escancara o desmonte nacional das políticas desenvolvimentistas desde o golpe de 2016, comenta os anos de avanço dos direitos das mulheres e faz um relato emocionante sobre os bastidores dos meses que antecederam o afastamento da ex-presidente.

Jornal GGN –  A ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres do governo de Dilma Rousseff, Eleonora Menicucci, escancara o desmonte nacional das políticas desenvolvimentistas desde o golpe de 2016 na edição deste sábado, 8 de maio, do Cai na Roda, exibido na TV GGN

Menicucci avalia que a partir do impeachment de Dilma as áreas de defesa das minorias, principalmente sobre os direitos das mulheres, foram desmontadas. Mas, com a chegada do governo de Jair Bolsonaro, o cenário se agrava. Hoje, o chamado Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos é encabeçado por Damares Alves. 

“A questão [dos direitos das mulheres] foi desmontada com a Fátima Pelaes – [ secretária de Políticas para Mulheres] – do governo de Michel Temer, esse desmonte começou ali. Já a Damares, [a ministra de Bolsonaro], não só completou o desmonte em todas as áreas, dos direitos humanos, da mulher e igualdade racial, mas mas destruiu. Desmontar é uma coisa e destruir é outra”, entendeu Menicucci. 

Para a ex-ministra, todos esses retrocessos foram exacerbados pela pandemia da Covid-19, momento em que a violência doméstica e sexual contra mulher aumentou drasticamente. Só em São Paulo a alta foi de 42%, de acordo com os atendimentos por meio do telefone 190, da Polícia Militar. 

O cenário se torna um limbo quando se olha para o Orçamento nacional destinado às políticas em defesa das mulheres. Segundo Menicucci, que coordena o Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas (NAPP), da Fundação Perseu Abramo, as análises mostram que “a previsão orçamentária é de zero para as políticas das mulheres”. 

“Como feminista, todos os meus sonhos de um país com mais direitos para mulheres eu consegui implementar alguns como ministra. Agora, como feminista, professora e ex-ministra vejo que não tem mais nada. É como o país, porque o desmonte na área das mulheres é o mesmo que está acontecendo no país”, desabafou. 

Os anos de avanço dos direitos das mulheres 

Ao longo de uma hora de entrevista com as mulheres da redação GGN, Menicucci contou sobre a estrutura da Secretaria de Políticas para as Mulheres, que tinha status de ministério, e comentou os importantes avanços feitos durante sua gestão, com a implementação de políticas como a Casa da Mulher Brasileira, que universalizou o acesso de mulheres à Saúde, principalmente sobre as questões sexuais e reprodutivas, além da sanção de Leis contra o Feminicídio e a aplicação efetiva da Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha.

“Nos governos do PT nós avançamos imensamente nas questões das políticas para mulheres. Na questão do enfrentamento à violência contra as mulheres foi um avanço inemensuravel, nós universalizamos o acesso de todas as mulheres a todos os serviços necessários para enfrentar a violência contra mulher, doméstica e sexual, tivemos avanços extraórdinarios na área da Saúde da mulher de direitos sexuais e reprodutivos, também tivemos avaços na parte de educação, internacional e do trabalho”, explicou.

Os bastidores do Golpe

Atuante na linha de frente do governo Dilma, a ex-ministra também fez um relato emocionante sobre os bastidores dos meses que antecederam o afastamento da mandatária. Confira:

“A partir de maio, quando a Câmara decretou o afastamento da Dilma e enviou pro Senado, que são os ritos do impeachment, que no caso da presidenta foi golpe, muitos ministros tiveram que voltar para seus lugares de origem e retomarem suas atividades, mas eu fiquei em Brasília e tive o privilégio de participar do núcleo que ficou no [Palácio da] Alvorada, que foi muito forte e importante. Conheço a presidenta Dilma desde Belo Horizonte, mas a serenidade dela e a compreensão do processo me impressionaram. Ela, como sempre, foi atuante de manhã, de tarde e de noite em todas as decisões. Por um lado foi muito dolorido, mas por outro foi um privilégio, porque eu pude presenciar a lucidez e a compreensão dela do porquê daquele golpe. É claro que a indignação dominava ali, mas foi uma experiência que culminou naquela fala dela no Senado, que todas nós vimos, a retidão, inclusive a não exaltação dela, para falar das coisas mais pesadas. Do ponto vista dela foi maravilhoso, do ponto de vista da firmeza da luta pela democracia foi extraordinário, porque à mim reforçou mais a determinação da certeza do lado certo da história que nós estávamos e que a própria história se incubiria de desvelar”, relatou.

O debate para um futuro digno às mulheres

No dia 14 de maio, Menecucci ao lado de outras ex-ministras e ex-presidentes do Conselho Nacional de Direitos da Mulher, da Secretaria de Políticas para Mulheres e do Ministério da Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos para debater a “Construção e Desmonte dos Direitos Humanos e Políticas para Mulheres no Brasil”, com a organização Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. 

O evento, que pretende elaborar o futuro de uma agenda desenhada no nosso presente pelas possibilidades trazidas pelo pleito eleitoral que se aproxima, será transmitido pela TV GGN

Participaram deste episódio as jornalistas Lourdes Nassif, Cintia Alves, Patricia Faermann e Ana Gabriela Sales. Assista:

Sobre o Cai na Roda

Todos os sábados, às 20h, o canal divulga um novo episódio do Cai Na Roda, programa realizado exclusivamente pelas jornalistas mulheres da redação, que priorizam entrevistas com outras mulheres especialistas em diversas áreas. Deixe nos comentários sugestão de novas convidadas. Confira outros episódios aqui:

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