Morra quem morrer… o deus dinheiro não se importa, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Morra quem morrer… O culto do deus dinheiro não pode parar. A bíblia dele é a contabilidade financeira.

Morra quem morrer… o deus dinheiro não se importa

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Em geral, costuma-se dizer que o judaísmo e o cristianismo se distinguiam das religiões antigas em virtude do monoteísmo. Há, porém, uma diferença entre a religião como destino tribal imposta pelo nascimento da qual o indivíduo não deve se libertar (judaísmo) e a crença à qual qualquer um pode aderir independentemente do grupo em que nasceu (cristianismo). 

A noção de pecado que existe no judaísmo e no cristianismo é aparentemente semelhante. Mas a perfectibilidade do indivíduo com seu  deus tribal (que pode levá-lo a cometer violências inenarráveis para preservar essa identidade) é obviamente diferente do aperfeiçoamento do indivíduo consigo mesmo à luz do criador (que pode provocar a renúncia total à violência).

Nas religiões antigas também existiam interdições, mas a transgressão não era vista como um problema. Afinal, os deuses também transgrediram a moralidade vulgar (Zeus era infiel, Hera era vingativa, etc…). E existia até mesmo um deus cuja principal atributo era justamente essa transgressão (Baco). Para o homem comum, a principal virtude era não se exceder. Apenas os deuses podiam cometer excessos sem sofrer as consequências negativas de suas escolhas.

As tragédias – e essa continua sendo a principal a lição catártica do teatro grego – começam por causa de um comportamento excessivo. Creonte proibe o enterro (um direito costumeiro cuja origem ancestral é antiquíssima) e isso se volta contra ele. Laio fica apavorado por causa de uma profecia e abandona o filho colocando em marcha a fatalidade que pretendia evitar. 

Todo excesso produz um final trágico. Não por acaso, a filosofia aristotélica se caracteriza pela valorização do meio termo entre dois extremos. Ponderação, tolerância e autocontrole não significam submissão total ao deus tribal (judaísmo), nem a renúncia a ação violenta (cristianismo) e sim a adoção de um curso de ação capaz de produzir o menor trauma à maior quantidade de pessoas. 

Desde que tomou posse, Bolsonaro escolheu um curso de ação capaz de causar o maior trauma à maior quantidade de pessoas. Ele se diz cristão, mas é devoto de um deus tribal extremamente rancoroso, belicoso e incapaz de demonstrar empatia por qualquer um que não pertença ao grupo dos seus escolhidos. Não, esse deus não é o deus dos judeus (cuja adoração exige a renúncia à adoração do bezerro de ouro). 

O deus de Bolsonaro é o deus dos endinheirados. Ele é o deus dinheiro. Morra quem morrer… o deus dinheiro só se preocupa com o lucro que pode ser entesourado com o extermínio dos índios, com a superexploração dos trabalhadores, com o desprezo por aqueles que ficaram desempregados e sentem fome, com o ódio pelos desafortunados que caem nas garras da justiça porque se recusaram a cair nas garras da morte.

Morra quem morrer… O culto do deus dinheiro não pode parar. A bíblia dele é a contabilidade financeira. Seus principais dogmas são a cobrança de juros, a arrecadação do dízimo e a extração de privilégios orçamentários mediante a supressão dos programas sociais que atendem o conjunto da população. Oculto no tabernáculo do deus dinheiro está a morte, seja ela causada por uma pandemia, pela explosão de violência provocada pelo aumento do comércio de armas, pela letalidade policial, pela fome, pelo desespero suicida. 

Na porta do Inferno dantesco o aviso “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”. Nas portas dos templos do deus dinheiro a advertência “Conservai toda esperança vã, ó vós que entrais”. Precipitação, intolerância e sujeição inconsequente. Essas são as principais características da liturgia do deus dinheiro e, sem dúvida alguma, da filosofia bolsonarista.

Abri a internet e confirmei minhas suspeitas https://revistaforum.com.br/coronavirus/pms-bolsonaristas-de-sao-paulo-se-mobilizam-contra-vacina-da-covid-19/. Policiais bolsonaristas se recusam a tomar vacina e fazem campanha para que seus colegas façam o mesmo. O comando da tropa prefere aceitar o risco de perder policiais ou possibilitar que eles se transformem em vetores de uma doença letal do que contrariar a esperança vã de uma salvação que não seja aquela preconizada pela ciência. 

Tomar vacinas é pecado. Morrer e causar a morte transmitindo uma pandemia letal não. O deus dinheiro contabiliza os lucros. Mas os juros serão depositados apenas nas contas dos endinheirados e dos pastores safados.  

Redação

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