Um país incinerado, às cinzas, por Marcelo Mattos

Não à toa, a ignomínia histriônica do atual presidente da República nomeou o mezzo ator Mario Frias para dirigir a importantíssima Secretaria Especial de Cultura, com o desígnio exclusivo de desmantelamento e destruição da cultura, da identidade e memória brasileira.

Agência Brasil

Um país incinerado, às cinzas

por Marcelo Mattos

O recente incêndio ocorrido na Cinemateca Brasileira não é somente uma morte ou crime anunciado, é mais uma ação brutal, intencional e meticulosamente orientada pela ingestão de um governo de destruição nacional, em especial da cultura e de todo patrimônio intectual brasileiro.

A quinta maior cinemateca em restauro no mundo abriga um acervo com mais de 250 mil rolos de filmes da nossa história audiovisual, sendo 44.000 títulos de curta, média e longa-metragem, além de programas de TV, registros audiovisuais e riquíssimo arquivo documental público do cinema brasileiro, como, por exemplo, o arquivo completo do cineasta Glauber Rocha.

A severa crise financeira foi dimensionada pelo desprezo da política pública, o descuramento de um desgoverno com o intuito de afligir a sua existência física, tanto que, em agosto de 2020, a mando do presidente, a Polícia Federal foi à sede da Cinemateca para tomar as chaves da instituição que, desde então, encontra-se fechada e sem manutenção.

Não à toa, a ignomínia histriônica do atual presidente da República nomeou o mezzo ator Mario Frias para dirigir a importantíssima Secretaria Especial de Cultura, com o desígnio exclusivo de desmantelamento e destruição da cultura, da identidade e memória brasileira. O logro é imenso: já em 2018, o então Ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão do governo Temer, atual Secretário de Cultura de São Paulo (onde hoje está localizada a Cinemateca) era o recordista em viagens nacionais. O atual dirigente Frias, ex-apresentador do “A Melhor Viagem” da TV Record, além de desfilar armado pelos corredores da secretaria para intimidar servidores, segue transformando a indústria cultural numa ferramenta, uma correia ideológica do agronegócio, enquanto viaja em recreio com o dinheiro público:  recentemente participando da 17ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, ao ser interpelado sobre a homenageada, a arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, disse “Eu não conheço nada, desculpa! Me ajuda!”. Enquanto a Cinemateca Brasileira ardia em chamas, o mesmo secretário-viajante, madraço e nefasto, desfrutava dias de uma incursão de lazer pelos ares de Roma.

Da mesma forma que o acervo da nossa cinematografia é incinerado, quilômetros quadrados de florestas e área de preservação são devastados; seguem o extermínio de nações indígenas para beneficiar a grilagem de terras e o favorecimento do agronegócio e do garimpo ilegal; se realiza a “queima” de livros pela Fundação Palmares, um catálogo com mais de 5.300 obras, patrimônios públicos excluídos de seu acervo, além da supressão de 27 negros da lista de personalidades homenageadas pela entidade.

O recente apagão no CNPq, sem backup e queima de servidor fazendo milhares de dados, trabalhos acadêmicos e informações de pesquisadores desaparecerem da plataforma Lattes; os constantes cortes de investimentos e recursos para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e CNPq liquidam as pesquisas, ciências e tecnologias nacional; e o completo desmonte, o verdadeiro desmanche do patrimônio e empresas nacionais, como a Petrobrás, Bancos públicos, a privatização do sistema elétrico.

Lembremos que faz parte da ação nefasta deste governo, uma permanente estratégia de privatização e entreguismo patrimonial, orientado pela precarização do atendimento e dos serviços públicos, como a destruição dos direitos sociais, das Universidades Públicas, do Sistema único de Saúde – SUS, entre outros.

 A assolação, a destruição e abandono da Cinemateca Brasileira é parte da ação de um desgoverno abjeto, criminoso e de imbecilidades, com um projeto de aniquilamento da memória nacional, resultante da concepção fascista do bolsonarismo, composto exclusivamente por uma horda de milicianos, vagabundos contumazes de gravatas, militares poucos afeto ao trabalho que mosqueiam, varejam vantagens e hipersalários, em suma, uma horda de criminosos infames destruindo o país.

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