Blog: Democracia e Economia – Desenvolvimento, Finanças e Política
A criação do Network for Greening the Financial System para o sistema financeiro mundial, a ferramenta NGFS scenarios e os desafios da transição justa
por Emanuel H P Santos
O que é o Network for Greening the Financial System
Em 2017, no Paris One Planet Summit, foi lançado o Network for Greening the Financial System (NGFS), uma rede formada por Banco Centrais e Supervisores espalhados pelo mundo. O NGFS tinha oito membros[1] em sua criação, contando, atualmente, com 134 membros, incluindo o Banco Central do Brasil, que, desde 2022, passou a compor o comitê diretor.
A rede surgiu da necessidade de financiar a transição para uma economia sustentável e neutra em carbono, para alcançar metas estabelecidas no Acordo de Paris. Dessa maneira, visa superar os desafios climáticos e ambientais e fazer bom uso de oportunidades coletivamente. Assim, o objetivo do NGFS é a colaboração entre os membros a fim de transformar o sistema financeiro por meio da troca de experiencias e compartilhamento de boas práticas, promovendo a ecologização do sistema financeiro global e mobilizando financiamentos para uma economia sustentável. Desse modo, a rede visa desenvolver e promover práticas de gestão de riscos ambientais e climáticos no mercado financeiro, não restritas apenas aos membros.
Recomendações do NGFS
Em 2019 foram feitas seis recomendações, sendo da 1º à 4º boas práticas direcionadas aos bancos centrais e parte delas podendo ser aplicadas à outras instituições financeiras. A 5º e 6º são direcionadas aos legisladores, para facilitar o trabalho dos bancos centrais. São as recomendações:
Entendendo o NGFS cenários
O NGFS scenarios é uma ferramenta criada em parceria com economistas e climatologistas e tem o objetivo de auxiliar responsáveis por políticas públicas a tomarem decisões, levando em conta os riscos que as mudanças climáticas podem trazer para a economia e sistema financeiro, e compreenderem como o risco físico e o risco de transição se desenvolvem em diferentes cenários. Também, a ferramenta traz um referencial comum de análise, que permite trabalhos colaborativos e maior compatibilidade entre eles, ainda que precisem adaptá-la às suas particularidades.
O NGFS destaca que a importância da modelagem se dá pelo impacto direto que os riscos físicos e as políticas de mitigação têm na macroeconomia e no sistema financeiro global. Há a certeza de que o mundo sofrerá com impactos de mudanças climáticas, mas há também a incerteza sobre a magnitude dos eventos, e isso apresenta o desafio de classificar e se preparar para danos futuros. Nesse contexto, o NGFS Scenarios é apresentado como uma inovadora ferramenta que permite explorar e entender as ameaças climáticas do futuro, e cria cenários adaptados às necessidades do setor financeiro para mitigar os efeitos na economia. Para os riscos de transição utiliza o método Integrated Assessment Models (IAMs), enquanto a avaliação de riscos físicos utiliza uma função de dano e modelos de catástrofe natural. Além disso, o NGFS destaca características únicas de sua ferramenta, como resultados consistentes que combinam os riscos da transição e riscos físicos com o desenvolvimento das microfinanças. A ferramenta não faz previsões, mas sim esboços de futuros resultados plausíveis. Ferramentas mais tradicionais baseadas apenas em dados do passado são insuficientes, essa ineficiência ocorre devido à dificuldade de prever situações ainda não vivenciadas pela sociedade e a realidade diferente do passado, pois diferenças como o número de pessoas, legislações, nível de desmatamento, emissão de gases de efeito estufa e consumo mudam resultados futuros.
ONetwork for Greening the Financial System disponibilizou um portal com cenários modelados propriamente. Há o cenário “Net Zero 2050”, queé considerado bem ambicioso e tem como objetivo zerar as emissões de gases do efeito estufa (GEE) até 2050 com medidas imediatas, enquanto o cenário “Current Policies” é baseado na continuidade das atuais políticas para o futuro e apresenta um resultado preocupante. Ademais, os dois cenários e mais outros podem ser acessados e explorados no portal scenarios portal, ou pelo link: https://www.ngfs.net/ngfs-scenarios-portal/.
Consideração final
Para realizar a transição do atual sistema econômico e financeiro para outro que, em sua essência, considere a importância da conservação do meio ambiente e de medidas que podem amortizar danos inevitáveis, é indispensável que haja esforços colaborativos em nível global. Nesse cenário, o fato de as nações terem suas particularidades como estoque de riqueza, sistema político, necessidades específicas, criam dificuldades em alguns quesitos e facilidades em outros. Apesar do NGFS Scenarios permitir a adaptação para cada realidade, é um desafio considerar medidas futuras para o Brasil e compará-lo com outros países, isso devido a empecilhos presentes no país, como forte lobby do agronegócio e outros setores que contribuem para a alta emissão de CO₂ e restrições no orçamento impostas por regras fiscais que limitam os gastos públicos. Para além disso, esses problemas são agravados pela elevada concentração de renda e riqueza no Brasil, problema esse que expõe as populações vulneráveis aos riscos climáticos e ambientais, desafiando o compromisso com uma transição justa. Em contrapartida, o Brasil se mostra o país com o maior potencial de produção de hidrogênio verde e do biocombustível etanol.
O melhor caminho, segundo o NGFS, para mitigar riscos e perdas é o cenário “Net Zero 2050”. Porém, apesar de mitigar o risco físico, tem alto risco de transição. Esse elevado risco está relacionado com radicalidade necessária para tal cenário, e poucos países como EUA e Japão e a União Europeia atingem o objetivo nesse cenário de zerar emissões de GEE. Todavia, é notável que uma grande mudança de escala global não se faça apenas com um pequeno grupo de países ricos, é necessária a inclusão de países pobres e emergentes na transição. É extremamente importante e justo que haja financiamentos por partes de países ricos para países mais pobres, aliás, observando o retrospecto, é inegável que a intensiva e extensiva exploração do meio ambiente e de ex-colônias desde o passado, por nações hoje abastadas, causou e vem causando fortes danos nos países menos desenvolvidos. O NGFS modela um resultado bem interessante, comparado com tendências passadas, se houver a continuidade das políticas atuais, o PIB mundial pode reduzir em até 14% até 2050 – mas já alertam que esse percentual pode aumentar – devido aos impactos de mudanças climáticas. Contudo, esse percentual pode ser menor, até 7% sob o cenário “Net Zero 2050”, levando em conta o objetivo de segurar o aumento da temperatura em 1,5º, meta estabelecida no Acordo de Paris. Sob essa ótica, fica evidente a necessidade de uma maior integração entre países a fim de promover uma transição econômica justa, pois não se trata apenas de danos que ocorrerão em determinados locais, mas sim em todo planeta ameaçando a vida.
Emanuel H P Santos – graduando em Economia na UFF e bolsista FAPERJ
Referências consultadas
Network for Greening the Financial System, NGFS. Annual report 2020. Site institucional, 2021. Disponível em: https://www.ngfs.net/en/liste-chronologique/ngfs-publications?year=2021.
Network for Greening the Financial System, NGFS. Governance (About Us). Site institucional, 2024. Disponível em: https://www.ngfs.net/en/page-sommaire/governance.
Network for Greening the Financial System, NGFS. Origin and purpose. Site institucional, 2024. Disponível em: https://www.ngfs.net/en/about-us/governance/origin-and-purpose.
Banque de France. Joint statement by the Founding Members of the Central Banks and Supervisors Network for Greening the Financial System. Paris: Network for Greening the Financial System, NGFS, 2017. Disponível em: https://www.ngfs.net/en/communique-de-presse/joint-statement-founding-members-central-banks-and-supervisors-network-greening-financial-system-one-0.
Banco Central do Brasil. Banco Central do Brasil vira membro do Steering Committee da Network for Greening the Financial System (NGFS). Site institucional, 2022. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/detalhenoticia/605/noticia.
Nassif, Tamara. Entenda o que é o hidrogênio verde, chamado de ‘combustível do futuro’ na transição energética. São Paulo, SP: Folha de São Paulo, 2024. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/02/entenda-o-que-e-o-hidrogenio-verde-chamado-de-combustivel-do-futuro-na-transicao-energetica.shtml.
Network for Greening the Financial System, NGFS. NGFS scenarios: Purpose, use cases and guidance on where institutional adaptations are required An explanatory note. Network for Greening the Financial System, NGFS, 2024. Disponível em: https://www.ngfs.net/sites/default/files/medias/documents/ngfs_guidance_note_on_the_scenarios.pdf.
Network for Greening the Financial System, NGFS. Guide to climate scenario analysis for central banks and supervisors. Network for Greening the Financial System, NGFS, 2020. Disponível em: https://www.ngfs.net/sites/default/files/medias/documents/ngfs_guide_scenario_analysis_final.pdf.
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O Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (FINDE) congrega pesquisadores de universidades e de outras instituições de pesquisa e ensino, interessados em discutir questões acadêmicas relacionadas ao avanço do processo de financeirização e seus impactos sobre o desenvolvimento socioeconômico das economias modernas. Twitter: @Finde_UFF
O Grupo de Estudos de Economia e Política (GEEP) do IESP/UERJ é formado por cientistas políticos e economistas. O grupo objetiva estimular o diálogo e interação entre Economia e Política, tanto na formulação teórica quanto na análise da realidade do Brasil e de outros países. Twitter: @Geep_iesp
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[1] Banco de Mexico, the Bank of England, the Banque de France and Autorité de Contrôle Prudentiel et de Résolution (ACPR), De Nederlandsche Bank, the Deutsche Bundesbank, Finansinspektionen (The Swedish FSA), the Monetary Authority of Singapore e the People’s Bank of China
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