Alguns pontos para esquentar a discussão sobre gestão pública, por Mogisenio

Por Mogisenio

Ref. ao post: As novas formas de gestão pública

ATENÇÃO! DEBATE DEVERAS EXTENSO!

Assim, vou sintetizar uma primeira opinião e,  caso necessário, novos acréscimos poderão surgir.

Vamos lá!

Caro Nassif,

Acredito que estou lhe compreendendo bem. Você fez uma rápida análise sobre o setor público brasileiro no que diz respeito à  administração pública federal.

Antes de prosseguir deixo bem claro minha concordância quanto a necessidade de  algumas alterações em nossa administração. São sempre necessárias. Ora, não podemos parar no tempo, pois o “mundo gira” e a “fila anda”, como se diz hoje.

Embora eu esteja concordando com muito do que  v. disse, tenho uma percepção bem diferente deste  tema, razão pela qual, minha análise/opinião/proposta de melhoria é também diferente das demais.

Resolvi, então,  compartilhar essa  minha proposta com o r. jornalista e com os  demais colegas.  

Vejamos.

Nassif partiu da seguinte premissa:   

“Em geral no setor público trata-se o recurso como verba, não como despesa ou custo. Toda a administração pública gira em torno desse conceito.

Algumas iniciativas estão caminhando, no âmbito do Ministério do Planejamento, para mudar essa tendência.”

Ou seja, o tratamento de recurso como verba e não como despesa ou custo parece ser um problema de TODA a administração pública brasileira no âmbito federal( não foi dito que seria só na federal, mas estou deduzindo que o seja  até mesmo para simplificar sobremaneira a análise).

Diante deste rápido diagnóstico – não estou criticando negativamente – o Nassif sugere que é preciso MUDAR essa tendência, isto é, o recurso deve passar a ser tratado como DESPESA OU CUSTO.

Não pretendo aqui discorrer sobre as diferenças de significados técnicos entre recurso/verba/despesa/custo. Limito-me a dizer que podemos dar o NOME que quisermos a determinadas rubricas. Dito de outra forma: você quer que mudemos o nome para despesa, para custo, para verba etc? Ok , sem maiores problemas.

Mas, notemos bem, o problema em  questão é muito maior do  que um simples NOME.  Dar um nome aos seres não, necessariamente, alcança a essência das coisas.

Por isso, trago-lhes aqui outro nome: SERVIÇO PÚBLICO , com  o sentido já amplamente debatido mundo afora.

Vou pegar outro vocábulo: DEVER, também no sentido já amplamente debatido, sobretudo, quando relacionado à primeira expressão.

Em suma, vamos falar de Serviço público como Dever do Estado. Uma atividade Estatal.

Ai então o leque se abre bastante. E como!

E cabe a nós, brasileiros, decidirmos  quando, como, para quem ou mesmo  como  o Estado deve fazer  ou  não fazer qualquer coisa!  E aqui cabe dizer que aquela BALELA prevista pela curva de transformação deixa de existir, ou, se preferirem, ( para agradar os “naturais” de plantão)  passa a existir de forma “mais clara”, digamos assim.

Se resolvermos que o planejamento econômico será centralizado e, obviamente, tivermos “soberania” para tanto, então, está resolvido e ponto final. Teremos só que  controlar  um, digamos, new big brother sam mas isso já seria outra coisa.

Se resolvermos que a receita derivada – mais conhecida como tributos – vai ser empregada em tal lugar e não  em outro, não mesmo!,  por exemplo, vamos aplicar na educação,  na saúde e em nossa tecnologia,  em detrimento da “aplicação” no ETERNO serviço da dívida.  Então, parceiro, cidadão,  está resolvido e  ponto final. Teremos de ter muita soberania para aguentar o tranco… sabe como né, clube de paris, reservas internacionais, rentista, variação cambial,  tomate, urubu, abutre, enfim, aquelas coisas…

Portanto, o meu partido, ou melhor, meu  ponto de partida é outro. Suponho que até mesmo o Bresser Pereira com o seu plano diretor  numa atuação meio de conflito existencial , ou paradoxal, do tipo keynesiana  e ao mesmo tempo  neoliberal( como ?) teria partido de premissas que hoje , talvez,  já teriam sido  abandonadas por ele mesmo ao se afastar do “partido”, ops, de seu ponto de partida.

Em suma, partiu-se de um “partido” cujas premissas se partiram, fazendo com que ele mesmo partisse…

Para encurtar a conversa, minha sugestão então é a seguinte:

“Não tapemos o sol com a peneira”. Taylorismo já foi pensado no DASP. Meritocracia idem. Burocracia, no melhor sentido do vocábulo idem.

Recursos públicos são UTILIZADOS de outra forma que, dependendo do caso, deve , necessariamente, ser  muito diferente da linguagem utilizada pela “propriedade privada”.

Aliás, antes mesmo da mudança de nome no gasto público devemos pensar na mudança de “nome” da  fonte de recursos.

Nesse sentido, no lugar de impostos indiretos, deveríamos pensar em tributos diretos sobre o patrimônio hã? Que tal?

Mudamos  “ o nome” da rubrica da “saída”:   de verba para despesa e custo( de certa forma já é assim) mas também mudamos a rubrica de “entrada” de ICMS/ISS/contribuições sociais para Imposto de renda pessoa física e jurídica, também nos “dividendos”,  com alteração da tabela hã? Que tal? Tabela progressiva ! Que tal?!

Esta aí minha proposta:

Em resumo: mudança  dos nomes já sugerido pelo Nassif. De verba para Despesa/custo e afins.

Mudança dos “nomes” das rubricas de entrada. De impostos indiretos ou diretos compulsório sobre “salário” ou rendimentos do trabalho, para tributos diretos, patrimoniais da RENDA , juros, capital, grandes fortunas  ou até royalties e afins.

Quanto ao ambiente politizado  no que diz respeito aos serviços de limpeza tenho várias sugestões, análises etc. Se prolongarmos nesse debate terei o prazer de apresentá-las

Saudações

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

View Comments

  • Tem outro problema

    Acompanhe a gestão do trabalho dos servidores nos municípios. Está um caos total.

    O Brasil é grande demais e possui recursos de menos, não dá para mudar no país como um todo. O ideal é adotar um estado como experimento de um padrão de primeiro mundo dos serviços prestados.

  • Reforma Tributária. Ta aí uma

    Reforma Tributária. Ta aí uma discussão relevante. O foco deveria estar sobre a qualidade dos impostos e não sobre a quantidade, ou seja, sobre quem paga imposto. Nosso sistema é regressivo, quem paga a conta é o  assalariado e os consumidores. 

  • Perfeito.

    A própria semantização exagerada da origem e destinação do recurso (quem paga, e onde gastamos) já traz em si uma ideologização contrabandeada, escondida neste tecnocratês rasteiro dos jornalistas econômicos.

    Se é despesa é ruim por natureza, se é gasto idem, mas se é investimento aí é bom, e por aí vamos pagando 12% de juros e vociferando contra o imposto de renda negativo (bolsa família), que subtrai umas merrecas do Orçamento.

    Então para o social é despesa, quando é para banca devemos arrumar um nome bonito, que tal, serviço da dívida?

    Em suma, o que importa é:

    Estado: a quem serve.

    Dinheiro público: a quem serve.

    É só isto...

  • Reforma Orçamentária.

    Quando o Governo federal "baixou" os juros estava a caminho da primeira reforma a ser feita no Brasil: a Reforma Orçamentária.

    Destinar 45% do Orçamento da União pra rolar o "jurão" e, quando muito, pagar um pouquinho do principal é verdadeiramente um absurdo. Como resolver? Quebrando a lógica do rentismo e bancando o jogo contra a banca e a mídia patrocinada pela banca. Quebrar essa lógica se faz necessário para querer dar uma destinação melhor às receitas dos tributos seja de tributos direto ou de indiretos, reduzindo despesas com o serviço da dívida e destinando o produto disso para investimentos em áreas sociais e investimentos em infraestrutura.

    Um outro mecanismo é melhorar a eficiência na corança/arrecadação de tributos - que já melhorou muito - aliada à desburocratização. Daí a importância do SPED Social (ou folha de pagamento eletrõnica ou e-SOCIAL). Esse é um projeto piloto que está em curso desde 2009 com 50 (cinquenta) empresas testando essa folha de pagamento eletrônica. O produto final para o contribuinte seria a declaração de ajuste anual de Imposto de Renda Pessoa Física - e Pessoa Jurídica também - preenchido a partir de informações mensais enviadas pelas fontes pagadoras.

    Esse projeto visa eliminar uma série de declarações - mensais como a SEFIP e o CAGED; e as anuais como a RAIS e a DIRF - substituindo pela folha de pagamento num sistema informatizado. Essa folha de pagamento eletrônica - ou e-SOCIAL - seria consolidada no e-FISCAL - ou SPED FISCAL - que faz parte do sistema de escrituração pública digital que já existe, mas que ainda não integrou a folha de pagamentoi eletrônica. Tal projeto faz parte do PAC 2.

    Assim, toda a contabilidade das empresas estariam numa base de dados em servidores do Estado brasileiro, a disposição de diversos órgãos gestores/arrecadadores, como Receita Federal, INSS, CEF, pois os dados com o pagamento de IR, PIS/Confins, FGTS, contribuição previdenciária, etc. estariam lá, assim como dados para concessão de benefícios como aposentadorias, pensões, seguro-desemprego, etc.

    Essa sim uma verdadeira revolução digital na forma de prestar informações para a arrecadação de tributos e para a concessão de benefícios. Teria mais velocidade para a cobrança de tributos com efetiva segurança jurídica - pois a cobraça está baseada em cima da contabilidade mensal do empregador - que um sistema de malha da Receita Federal resolveria. E de quebra a concessão de benefícios sociais - como seguro desemprego, aposentadorias, saques do FGTS, etc. - seria mais rápida e menos suscetíveis a fraudes, pois baseada em informações primárias dos empregadores.

    Segundo "especialistas" da Receita Federal, estima-se que com a consolidação do SPED Social com o SPED Fiscal a receita tributária dos recursos declarados vá aumentar em 20% do total hoje arrecadado. Ou seja, diminui a sonegação. Melhoria da efetividade na cobrança do tributo, com menos burocracia para as empresas e para o cidadão.

    Estava previsto para ser lançado agora em 2014, e para valer mesmo no ano base 2015. Mas por "problemas técnicos" - ou outro "tipo de pressão" - a "coisa" ainda não está pronta.

  • excelente post,

    excelente post, mosigenio,

    quebra paradigmas.

    acho que tudo que for verdadeiramente poublico e não remendos neonliberais

    deveria sewr considerado investimento.

    afinal, não é um bom investimento investir no crescimento das pessoas?

    o que sginifica hiostoricamente essa conversa de custo brasil senão uma criação empresarial - fiep, etc - para atender a esse segmento da sociedade brasileira?

    e o resto que se xploida?

  • Reforma orçamentária

    Divulgando.... Quem tiver interesse no tema e estiver em BSB, vai ter palestra sobre esse assunto amanhã na UnB: 

    Sexta,  5 de setembro às 11:00h

    Desenvolvimento em Marx.
    Com o Professor João Leonardo Gomes Medeiros, do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF).  local: Módulo 8, ICC sul, subsolo.

     

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