Economia

Guerra nada mais é do que estágio na busca pelo lucro, por Antonio Uchoa Neto

Comentário do post A guerra é a economia por outros meios, por Raquel Varela

Por Antônio Uchoa Neto

”…Quem olha com desdém ou como ingênuos os internacionalistas que, como eu, se opõem a Vladimir Putin, à União Europeia e à OTAN, defendendo a solidariedade entre os povos…Por isso devemos exigir que os nossos Estados não enviem tropas nem armamento nem decretem sanções…”

Não existem Estados. Estados são fachadas para o binômio Bancos/Corporações. E este binômio representa o verdadeiro – e único – internacionalismo que tem eficácia prática, neste mundo. E o olhar que este binômio lança, sobre os “internacionalistas” que ainda se expressam por demandas (ou súplicas) de solidariedade entre os povos e exigências pacifistas aos “Estados”, não desdenham nem lhes atribuem ingenuidade; o binômio não lhes dirige o olhar, simplesmente. São como uma pequena comichão, numa parte recôndita do corpo, que eles coçam sem sequer precisar enxergar onde está.

Considerações de ordem moral – solidariedade e respeito à integridade física dos outros, inclusive – simplesmente não fazem parte da constituição orgânica do binômio. A realidade do binômio é uma só; e é, ao mesmo tempo, seu motto, sua razão de ser, seu sangue e seu oxigênio: LUCRO ACIMA DE TUDO.

Para regular questiúnculas insignificantes, e sobretudo não lucrativas, tais como a moral, a solidariedade entre os povos, e a sobrevivência da massa de explorados que compõe a maioria absoluta da população do planeta, eles usam o Estado – para o qual “contribuem” fornecendo-lhes (ou, em alguns casos, patrocinando) a camada dirigente, legislativa, e judiciária. O binômio tem coisa mais importante de que se ocupar: LUCROS.

São inúteis (e eu mesmo, até pouco tempo, estava embrenhado nelas) essas elucubrações e ilações sobre a guerra ser a continuação da política por outros meios. A guerra não continua nada; é só um estágio necessário – sim, necessário – e passageiro, na única busca incessante do binômio: a busca pelo lucro.

E a política é apenas o ajuste dinâmico entre quem vai lucrar o quê, de que forma, e onde. Quando esse ajuste desanda, ou desagrada uma das partes, aí temos a guerra. Como de hábito na história da humanidade, o(s) mais forte(s) vence(m), e começa uma nova rodada do jogo. Todos os participantes recolhem seus ganhos e perdas; uns ganham novos mercados, outros um alívio significativo na sua folha de previdência.

As corporações, como um tumor, aumentam de tamanho, devorando células mais modestas; esse câncer mata incessantemente, mas, graças, entre outras coisas, ao avanço da tecnologia, não morre nunca. Os bancos, cevados eternamente nessa roda, também vão devorando seus pares “menos favorecidos” (sim, eles também existem, do lado de lá, e necessitam desses eufemismos para contabilização nos livros maiores), também são seu próprio câncer, o bom câncer, que só mata, e não morre nunca.

E a moeda de toda esta movimentação, deste balanço de ganhos e perdas é o ser humano – moeda em perpétua emissão, mas que inflaciona, e por isso, de tempos em tempos, é preciso cortar três zeros dela.

Mas as loucuras e os crimes das nacionalidades não nos levarão – assim espero – ao nada atômico. Nos levarão onde sempre levaram: à mesa de negociações. Na gigantesca sala onde está essa mesa, nos reservam um lugar bem afastado, onde quase não dá para se ver nada – e onde ficamos, até que a claque nos indique o momento de aplaudir e retirar-se. “Estadistas” fora, segundos fora, apagam-se as luzes, para que não se veja o trabalho de limpeza a ser executado: debaixo da mesa, milhares, milhões de cadáveres. Ucranianos, dessa vez.

Quem move o mundo – bancos/corporações – move-se em busca de lucro. Já perdi a esperança de que o homem comum, cuja informação vem, em grande parte, de acólitos do binômio, se dê conta disso, algum dia. Vão nos anestesiando, com as grandes lições da solidariedade entre os povos, da ética no poder, com a eterna busca por sonhos impossíveis, enquanto se apropriam, um por um, de todos os sonhos possíveis.

A nós, o pesadelo.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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