Economia

Novo sistema econômico global está em desenvolvimento, diz Sergey Glazyev

Um novo sistema econômico e monetário deve reduzir a influência do dólar norte-americano nas negociações globais, ao viabilizar uma associação entre a China e os países que integram a União Econômica Euroasiática (EAEU) – entre eles a Rússia.

O economista russo Sergey Glazyev, considerado um dos economistas mais influentes do mundo, é uma das cabeças pensantes por trás dessa estratégia, que tende a ser uma opção ao chamado consenso de Washington.

Glazyev é integrante da Academia Russa de Ciências, foi assessor do Kremlin de 2012 a 2019 e comandou o portfólio de Moscou como Ministro Encarregado da Integração e Macroeconomia da EAEU.

Em uma extensa entrevista ao jornalista Pepe Escobar no site The Cradle, Glazyev explica que a elite norte-americana “jogou seu último ‘trunfo’ na guerra híbrida contra a Rússia” ao restringir o acesso às reservas cambiais mantidas em bancos centrais ocidentais e instituições regulatórias fora da Rússia, o que comprometeu o papel do dólar, do euro e da libra nas reservas globais.

O economista afirma que a proposta de transição para um novo sistema econômico teve início há mais de uma década, no Fórum Econômico de Astana, e teria como base uma nova moeda de negociação sintética, estruturada a partir de um índice de moedas dos países que integram o sistema – mais tarde, essa cesta foi ampliada com o acréscimo de cerca de 20 commodities negociadas nas bolsas de valores.

“Uma unidade monetária baseada nessa cesta expandida foi modelada matematicamente e demonstrou alto grau de resiliência e estabilidade”, explica Glazyev, ressaltando que a transição para uma nova ordem econômica mundial começou após a desintegração da URSS, e agora está perto do final “com a desintegração iminente do sistema econômico global baseado no dólar, que forneceu a base do domínio global dos Estados Unidos”, diz Sergey Glazyev.

O próximo estágio de desenvolvimento seria o novo sistema convergente surgido na China e na Índia, que combina o planejamento estratégico centralizado e da economia de mercado, com o controle estatal da infraestrutura monetária e física e empreendedorismo.

“O novo sistema econômico uniu vários estratos de suas sociedades em torno do objetivo de aumentar o bem-estar comum de uma forma substancialmente mais forte do que as alternativas anglo-saxônicas e europeias. Esta é a principal razão pela qual Washington não será capaz de vencer a guerra híbrida global que começou”, acredita o economista russo.

Esta é também a principal razão pela qual o atual sistema financeiro global centrado no dólar será substituído por um novo, baseado no consenso dos países que aderirem à nova ordem econômica mundial.

Processo de transição para o novo modelo

Sergey Glazyev explica que, na primeira fase da transição, esses países voltam a usar suas moedas nacionais e mecanismos de compensação, apoiados por swaps de moedas bilaterais.

“Neste ponto, a formação de preços ainda é impulsionada pelos preços em várias bolsas, denominados em dólares. Essa fase está quase no fim: depois que as reservas da Rússia em dólares, euros, libras e ienes foram “congeladas”, é improvável que algum país soberano continue acumulando reservas nessas moedas”. No lugar dessas moedas, entram divisas nacionais e o ouro.

A segunda fase de transição para o novo modelo considera a adoção de mecanismos de precificação que não usam o dólar como referência – embora gere despesas consideráveis, a formação de preços em moedas nacionais seria mais atraente do que com moedas “não ancoradas” como dólares, euros, libras e ienes.

A terceira fase considera a adoção de uma moeda de pagamento digital, fundada por meio de um acordo internacional estruturado em transparência, justiça, boa vontade e eficiência, e que seria usada apenas para os pagamentos trans-fronteiriços e emitida com uma base preestabelecida para os países participantes.

A cesta também poderia conter um índice de preços das principais commodities negociadas em bolsa: ouro e outros metais preciosos, principais metais industriais, hidrocarbonetos, grãos, açúcar, bem como água e outros recursos naturais.

O peso de cada moeda na cesta poderia ser proporcional ao PIB de cada país (com base na paridade do poder de compra, por exemplo), sua participação no comércio internacional, bem como a população e o tamanho do território dos países participantes.

“Espero que o modelo dessa unidade monetária que desenvolvemos desempenhe seu papel nesta fase. Uma moeda como essa pode ser emitida por um pool de reservas monetárias dos países do BRICS, ao qual todos os países interessados ​​poderão participar”, diz Glazyev.

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