Encontro entre Putin e Xi foi pontapé para nova ordem global, diz professor da USP

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Presidentes da Rússia e da China se encontraram no primeiro dia das Olimpíadas de Inverno; 20 dias depois, Putin invadiu Ucrânia

Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Xi Jinping, presidente da China, Foto: Sputnik/Aleksey Druzhinin/Kremlin – via Agência Brasil.

A guerra entre Rússia e Ucrânia balançou a organização econômica e política mundial, mas essa reorganização começou a ser planejada pelos russos no começo de fevereiro, e com o aval da China.

“No dia 02 ou 04 de fevereiro, o primeiro dia das Olimpíadas (de Inverno), o Xi (Jinping, presidente da China) recebe o (Vladimir)Putin (presidente da Rússia), e lançam uma carta que foi a Carta para os Povos do Mundo, um documento contestando a ordem mundial pós-Guerra Fria e dizendo o seguinte: ‘aquela ordem é uma ordem que não atende mais aos interesses do momento presente’”, afirma Pedro Costa Junior, professor da USP, em entrevista à TV GGN Nova Economia desta quinta-feira (07/04).

Na carta, Xi e Putin afirmam que a ordem anglo-saxã, liderada pelos Estados Unidos, não existe mais. “E a partir daí estão dizendo o seguinte: dizendo não ao expansionismo da OTAN, e não ao expansionismo da OTAN na Europa Oriental e não ao à influência da OTAN no Mar do Sul da China”.

Segundo o acadêmico, Rússia e China deram um basta muito claro ao expansionismo puxado pela OTAN, e estão propondo uma ordem multilateral e “policêntrica”, nas palavras deles.

“Não é mais uma ordem voltada no excepcionalismo norte-americano”, diz o professor da USP, afirmando que a ordem global pautada nos últimos 300 anos considera o conceito de ‘cidade construída acima da coluna’”.

E essa ‘cidade acima da coluna’ seria os EUA, que podem exportar seu liberalismo e sua democracia para outras partes do mundo. Porém, a proposta da China é de não intervenção. E as diferenças puderam ser vistas recentemente, no Afeganistão.

“Essa saída desastrosa do (Joe) Biden do Afeganistão foi negociada durante o governo Trump com o Taliban, mas aquelas imagens indeléveis das pessoas penduradas nas asas do avião, aquilo foi uma derrota que vai ficar na história do governo Biden”, diz Costa Junior.

“Os EUA entraram para tentar exportar o american way of life de alguma maneira, na democracia e no liberalismo norte-americano. O que a China faz: a China negocia com o Taleban. A Rússia negocia com o Taleban. Ou seja, é respeitar a autodeterminação e a soberania dos povos, à sua maneira, isso significa uma ordem democrática e policêntrica e multilateral”.

“Nas relações internacionais você lançar um documento tentando romper o status quo ao vento não significa muita coisa. Ou seja: desde a história do Peloponeso você precisa da caneta e da espada. Depois do verbo, vem a bala, vem o canhão. 20 dias depois, começa a guerra”, diz o professor da USP.

Veja mais a respeito do tema na íntegra da TV GGN Nova Economia. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

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  1. As alterações que estão ocorrendo na geopolítica mundial, vinham em trânsito desde muito antes de qualquer especulação sobre a questão Rússia – Ucrânia. Com maior ou menor força, países buscavam ampliar suas relações em vários campos, sejam na diplomacia,nas áreas econômica e comercial, tecnológica, etc. Diminuir a ultra-dependência de Europa e Estados Unidos.
    A multiplicação de problemas ao redor do mundo, leva à busca de encontrar condições de resposta mais ampliada. Esse movimento acaba criando afinidades e em consequência a formulação de propostas conjuntas e objetivos em comum. No caso da China e da Rússia, devido serem super potências, essa aproximação ganhou destaque; pelo que representa com o surgimento de um novo pólo, com importância para estabelecer divisão das centralidades de poder entre os países.
    O ocorrido na decisão da Rússia invadir a Ucrânia, não possui nenhuma ligação com as relações de interesse mútuo em andamento entre os dois países. O encontro dos dois países próximo da abertura das Olimpíadas de Inverno, quando apresentaram documento conjunto dos acordos firmados entre eles; pode até ter sido antes da invasão russa. Mas uma coisa não tem nada com a outra. A tensão entre a Rússia e a Ucrânia é assunto relacionado com a Rússia, sobre o entendimento dela, do eventual risco nessa questão. Que formato uma nova geopolítica mundial vai ter, se saberá. Mas ele (o conflito) não faz parte do processo.

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