O que a China fez, e o Brasil não, para dar certo, por Luis Nassif

Um bom resumo do modelo chinês de desenvolvimento foi preparado por Ricardo Lopes Katz, da Universidade Federal de Santa Catarina, a partir de sua dissertação “A nova rota da seda: entre a tradição histórica e o projeto geoestratégico para o futuro” (https://goo.gl/tu3SnG).

O sucesso do modelo é indiscutível. Tirou 800 milhões de pessoas da linha da pobreza, de 1978 para cá aumentou a renda per capita de menos de US$ 1.0000,00 para mais de US$ 8.800,00. O país representava 3% da economia global quando Deng Xiaoping iniciou seu mandato. Agora, representa 19%. Mais que isso, enquanto as democracias liberais estão em crise, China continua em trajetória pujante, apesar de muitos problemas ainda não resolvidos, como a desigualdade entre o leste e o oeste do país, questões ambientais e de sustentabilidade, envelhecimento da população, bolha imobiliária, como explica Katz.

Xiaoping avançou em quatro grandes modernizações:

1. Agricultura, com o objetivo de se alcançar a autossuficiência alimentar.

2. Forças Armadas, reduzindo a burocracia e investindo em equipamentos de maior intensidade tecnológica.

3. Indústria, mudando do modelo intensivo em capital (herdado da ex-URSS), para indústrias leves intensivas em mão-de-obra.

4. Promoção das exportações, seguindo o modelo vitorioso de outros países do leste asiático.

O modelo de inovação consistiu em abrir zonas econômicas especiais no sudoeste, para atrair investimentos e integrar o país ao comércio exterior. E usou o mercado interno como instrumento de barganha. Empresa estrangeira, para investir na China, deveria obrigatoriamente estabelecer uma joint venture com empresa local.

Ao Estado coube papel central:

1. Grandes investimentos em infraestrutura. No Brasil, tenta-se esvaziar o maior financiador da infraestrutura, o BNDES.

2. Grandes investimentos em ciência, tecnologia e inovação. No Brasil, entrega-se o setor a um ex-astronauta, sem nenhuma familiaridade com políticas de inovação.

3. Investimento em educação básica e superior, incluindo intercâmbios universitários no exterior. No Brasil, acabam com o programa Ciência Sem Fronteias.

4. Proteção às indústrias nascentes e subsídios às empresas chinesas, além de políticas monetária e cambial estimulando a competitividade nas exportações com conteúdo nacional. No Brasil, anuncia-se um processo de abertura indiscriminada da economia, sem negociação de contrapartidas.

Como explica o economista Paulo Gala, no caso da indústria automobilística, exigiu-se que as montadoras estrangeiras tivessem um nível de conteúdo nacional de autopeças de até 70% no prazo de três anos (https://goo.gl/URh1vz). Essa exigência fez com que as montadoras cooperassem estreitamente com os fornecedores locais. A capacitação foi tão completa que, depois de ter sido derrubado esse requisito (quando a China aderiu à Organização Mundial do Comércio), manteve-se a fidelização.

Na fase mais auda da globalização, a China conseguiu se inserir com sucesso. Agora, que a globalização entra em xeque, e até os Estados Unidos acenam com políticas protecionistas, o Brasil caminha célere para a abertura indiscriminada às exportações.

Espera-se que os Ministros da Infraestrutura e de Energia, que parece ter pés no chão, incutam um mínimo de racionalidade e discernimento à tropa bolsonariana-guediana.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Sinta a diferença

    "Atualmente, oito entre os nove melhores dirigentes chineses são engenheiros e o nono é geólogo." - J Estrin

  • Nassif, esses militares tem a
    Nassif, esses militares tem a mesma "visão" da tropa boçalnara guediana, nao se iluda.

    É um tremendo erro de avaliaçao achar que que são militares estadistas de cinema. A diferença pro boçalnaro é que falam menos, so isso. Os preconceitos politicos e ideologicos sao os mesmos, estão ai pra fazer o acerto de contas com a guerra fria e pronto, em pleno seculo XXI.

    Você acha que aprendem o que nessas academias miitares? A "visao" politica deles é de jornal e revista, a mesma dos paneleiros e do MBL, por exemplo.

    • Exato! O mais competente
      Exato! O mais competente deles foi preso sem nenhuma reação da tropa. Mesmo quebrando a cara com Villas Boas, parece que ainda tem iludidos no assunto. Villas Boas, ao final, não passou de um babão de quem está no poder. Se a esquerda brasileira não aprender que têm inimigos vai apanhar para sempre.

  • O título do post poderia ser:

    O título do post poderia ser: Como construir e como destruir uma nação. Hoje, o Brasil depende da bandeira vermelha e do Partido Comunista da China  para manter funcional seu sistema econômico. 

  •   Para a China não é um

      Para a China não é um problema que, no GRANDE JOGO, o Brasil volte à condição de colônia exportadora de produtos primários. Nosso mercado consumidor, mesmo reduzido, é um problema menor que a eliminação de um potencial concorrente.

      Os EUA ganharam a batalha ao eliminar um dos jogadores - este nosso Brasil varonil foi derrotado em uma guerra apenas visível nos bastidores e saiu da disputa mundial, mas nessa pode ter até beneficiado Pequim, economicamente falando.

      Politicamente, fosse dez ou vinte anos adiante, a China talvez viesse a bancar nossa manutenção no GRANDE JOGO, mas os chineses ainda não dispõem dos meios necessários para jogar nas Américas; seja como for, nossa eliminação enquanto país autônomo está sendo compensada por meio de estreitamento de laços chineses com a Rússia e mesmo a Índia, antiga desafeta.

     

      Voltando a nosotros: um país apenas chega ao patamar de civilização e é dono do próprio nariz quando suas elites dirigentes veem a si e ao seu país como algo "excepcional", distinto dos outros e digno de pavimentar seu próprio caminho entre as nações. Nós não contamos com isso e, enquanto algo do tipo não vier a existir, estaremos sujeitos a NO MÁXIMO pequenos soluços de autonomia. Em resumo, voltamos à nossa "vocação" colonial.

  • Só que não!

     

    Fernando Brito traz um comentaário em seu site que expõe o comportmento atual das FFAA emulando um partido político tal como conhecemos no pós moro o partido juiciário. Sem projeto, sem direção,sem propósito, esperar o que?

  • Que maldade!

    Esse quadro comparativo  é tão eloqüente que dispensa comentários.

    O Brasil, definitivamente, não é um país sério.

  • na contramao

    O Brasil , na minha geração,só andou uma vez na mao da via, nos governos do PT,  fora isso só na contramão,o Bolsonaro não entende nem o que é juros e  nem correção monetaria deve achar que é a mesma coisa, tamanha deficiencia cognitiva,vai ser engolido pelo agiota do Guedes , pois banqueiro no Brasil é agiota explicito,nosso presidente mesmo sem ter votado nele vai dar muito dinheiro da previdencia para pagar juros dos Bancos de poucas familias abastadas

  • governança na china

    Nassif, uma boa leitura para entender a governança chinesa é o Livro do proprio presidente Xi Jinping "a Governança da China". o livro ja existe traduzido para a lingua portuguesa

  • A china padece de cuidados

    A china padece de cuidados com o meio ambiente e a degradação da saúde da população nos grandes centros urbanos, além de que o trabalhador chinês sustenta uma política econômica parasitária do grande staff burocrático militar de seu governo

    A china pela sua falta de liberdade de pensamento e exploração de seus proletarios não deve servir de modelo pra ninguém, nem mesmo pro Brasil 

    É o capitalismo ditadorial travestido de economia  comunista e em certos aspectos de seu imperialismo na Ásia se compara em muito ao imperialismo americano 

    • Atraso de 12 anos

      Seu comentário está atrasado uns 11 anos pelo menos. Desde 2008 entrou em vigor a "CLT" chinesa, a legislação ambiental se tornou mais rigorosa e hoje o país é líder em várias indústrias de ponta na área de energias não-poluentes.

      Há problemas, sim, na China, em todas as áreas. O relevante é notar que ela vem evoluindo e se tornando mais civilizada em praticamente todas elas.

      • Pra quem gosta de gente

        Pra quem gosta de gente explorada deve ser o "must", 

        A nosss clt tem décadas e ainda hoje  temos escravidão, imagino a clt chinesa 

        Não se pode combater imperialismo com imperialismo 

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