Sinto muito, mas no capitalismo para sair de uma recessão só com ela própria, porém… por Rogério Maestri

Sinto muito, mas no capitalismo para sair de uma recessão só com ela própria, porém…

por Rogério Maestri

Como funciona a real saída de uma recessão, se miserabiliza os pobres, se empobrece a classes intermediárias e se fale todas as indústrias e outras empresas que não são eficientes, porém esta máxima do sistema capitalista não é válida para países não desenvolvidos, como será explicado no texto a seguir.

A primeira e segunda parte da solução, as referentes aos pobres e classes intermediárias já se está fazendo, por outro lado as taxas de juros próximas a zero e um quantidade de dinheiro a este baixo valor, permitiu nos últimos dez anos que empresas de baixa competitividade se mantivessem fazendo empréstimos para cobrir seus empréstimos e trancando o que os economistas modernosos chamam a destruição criadora ou criativa, que não é mais nada menos do que a velha expressão do séculos passados que dizia, quem não tem competência que não se estabeleça.

As crises por excesso de demanda ou falta de consumo levam grande parte da economia a estagnação ou no passado a crises mais profundas que foram nas últimas décadas no primeiro mundo escondidas pelo aumento do crédito barato, impagável, das empresas, estados e famílias. Com a crise do surbprime que em 2007-2008 retirou a casa de milhões de norte-americanos transferindo-as para os bancos, e falindo as pequenas e médias empresas que não “eram tão grandes que não podiam falir” e foram salvas pelo contribuinte norte-americano, fazendo parte da primeira e segunda parte da ação de uma crise, levou a um crédito barato, com juros bem baixos criando o que se convencionou chamar a “empresas zumbis”, ou seja, 15% das empresas das maiores economias que simplesmente continuaram somente rolando a sua dívida sem a mínima capacidade de se modernizar e ganhar “produtividade”.

A farra do crédito barato, foi utilizada não só pelas empresas, mas também pelos consumidores, criando o que o Word Bank Group descreveu com dados até dezembro de 2019 “Global Waves of Debt: Causes and Consequences”, ou seja, antes da crise do coronavirus.

Se o coronavirus foi geneticamente modificado e largado dentro da China por algum dos grandes países imperialistas do mundo, para principalmente falir as milhares de “empresas zumbis” que existiam na China e abrir espaço para as indústrias que teoricamente não seriam atacadas nos países imperialistas, o tiro saiu pela culatra, os chineses num processo típico de um país que teve e mantém parte da estrutura dominante dos comissários do povo vinculados ao PCC, tomaram seus postos, para com um esforço dantesco de vigilância, estão conseguindo barrar a epidemia e esta se alastra pelos países imperialistas.

Porém, como toda a epidemia, não adianta colocar grandes barreiras nas fronteiras, pois a epidemia passa, e todo e qualquer pretensão de esconder ou simplesmente subnotificar os pacientes com a doença, se torna uma bomba relógio, por exemplo, mortos é muito difícil de esconder, e quando países como os Estados Unidos começam a mostrar taxas de mortalidade acima da média mundial, representa não que as pessoas são mais frágeis naquele país, mas sim que os exames para identificar quem está doente não estão sendo feitos ou não estão sendo notificados.

Mas voltando a crise financeira, tanto os economistas mais tradicionais como os neokeynesianos só tem duas armas para tentar reavivar a economia, a política monetária e estímulos fiscais. A política monetária já não tem a mínima capacidade de reação, pois como as taxas de juros dos bancos centrais estão próximas a zero e em muitos casos, considerando uma pequena, mas persistente inflação, já estão abaixo de zero. Logo diminuir 1% nas taxas de juros nem faz cócegas na economia, restando a política fiscal.

Esta última tentativa de política fiscal, aumentando os gastos públicos junto com cortes nos impostos é a última tentativa que o FMI, a OCDE, o Banco Mundial e outras grandes instituições mundiais estão apregoando neste momento, se eles tivessem feito isto há dois ou três anos, ainda teria um pequeno resultado, simplesmente porque a capacidade dos governos em investir não ultrapassa, salvo na China, algo em torno de 2% de cada país, o FMI propõe uma ajuda emergencial de 50 Bilhões de dólares, governos como o italiano pretende injetar 4 Bilhões de dólares na sua economia, porém há duas barreiras imensas neste movimento, para uma crise que começa a ser estimada em torno de trilhões de dólares, trabalhar com uma década abaixo do valor do prejuízo, só dará refresco para empresas que ainda tenham alguma capacidade financeira e não tiverem que parar por qualquer motivo mais de um mês na sua produção.

Estes estímulos financeiros, que entram na ordem do dia dos keynesianos, dos neokeynesianos e a turma da Escola Monetária moderna, esperam que com investimentos adicionais de 2% do PIB (The Case for Permanent Stimulus – Wonkish – Paul Krugman), vão ter resultados práticos na economia, porém este movimento estimulado pelo próprio Paul Krugman para o Japão, foi um imensa fracasso.

Para a situação atual, além do exemplo japonês que mostra sua ineficiência e que tanto os keynesianos como seus diletos herdeiros estão sugerindo é exatamente o que a falecida primeira dama do Brasil, a Drª. Ruth Cardoso, sugeriu há quase três décadas quando ela viu que os problemas de redistribuição de riqueza criavam uma burocracia mais cara do que conseguiam distribuir, logo ela disse que o melhor era jogar de Helicóptero o dinheiro em zonas pobres que as pessoas com todo o desperdício e a concentração nas mãos de alguns poucos donos das comunidades, seria mais eficiente que toda uma burocracia.

Lula tomando um pouco literalmente a proposta da Drª Ruth, que faz mais falta do que prejudica o seu cônjuge que ainda está vivo e mais atrapalhando do que ajudando, implantou a Bolsa Família com o mínimo de burocracia para o efeito helicóptero valer. Porém Lula cercado por keynesianos foi enganado pela maior falácia desta escola de pensamento, que simplesmente havendo consumo o investimento em produção aumenta automaticamente.

Os keynesianos por desconhecerem a economia marxista, não se dão conta que a primeira coisa que é feita numa aplicação de política de Helicóptero, é que primeiro o capitalista vai tentar ocupar a capacidade ociosa de sua empresa, depois vai aumentar a produção adotando mais mão de obra, capital variável, pois deste ele tira mais lucro (mais-valia) para por fim, ou importar o produto do exterior (o que foi feito) para em última instância aumentar o capital fixo modernizando as suas linhas de produção.

Além do chamado fator multiplicador do esquema keynesiano não existir, os estímulos financeiros, por melhor administrados que sejam, sempre geram uma inflação residual, diríamos algo em torno dos 3%, porém mesmo pequena esta inflação ela elimina por completo o pequeno investimento de 2% ou mesmo 3% do PIB propostos pelos economistas. Para que algo semelhante tenha condições de dar algum resultado o investimento deveria ser superior aos 4% e deveria ter uma rígida contenção dos preços para não sobrepassar o investimento, pode-se dizer que talvez somente a China teria condições de fazer isto.

Como expresso no parágrafo anterior, os estímulos financeiros sempre geram uma pequena inflação, pois mesmo se a carga tributária diminua a pequena pressão sobre os preços é real. Dilma sofreu exatamente o resultado da política keynesiana de Lula e quando tentou estimular a produção foi barrada pelas desabrisses do congresso nacional do famigerado Eduardo Cunha. O cerne de tudo é que a indústria só investe em novas linhas de montagem se tem perspectiva de lucro a médio prazo e a importação se torne proibitiva.

Agora voltando exatamente ao início, o que Paulo Guedes está tentando fazer, simplesmente agravar a crise brasileira, deixar que a própria crise faça a sua faxina no setor capitalista para no fim ter uma retomada no crescimento.

Mas porque ninguém tinha pensado nisto anteriormente? Simplesmente porque há dois fenômenos de direção contrária que impedem por completo o sucesso deste plano, vou começar pelo vetor que ninguém fala, o vetor dos capitalistas, por mais que se comprima os salários, por mais que retire direitos do trabalhador, isto não criará empresas modernas no país, pois todos sabem que TODAS as economias que entraram no rol dos grandes Impérios da atualidade, partiram de um protecionismo incrível e inimaginável nas regras econômicas ditadas pelos ricos atualmente, representados pela OCDE e pelos milhares de acordos internacionais acordados multilateralmente por todas as grandes e médias economias. O plano de Dilma de criar condições de melhoria da produtividade via melhores qualificações (escolarização) do povo brasileiro, está sendo deliberadamente desmontado desde o governo Temer, a capacidade de evolução em ciência e tecnologia da mesma forma está sendo destruída e deixar que o próprio trabalhador pague o seu treinamento via ensino pago, é de uma estupidez espantosa.

Ou seja, todo e qualquer tentativa de melhorar as condições de competitividade da indústria brasileira é barrada tanto pela incapacidade técnica do fator trabalho, como pela própria ignorância dos nossos capitalistas que de tanto ouvirem que a China cresceu por ter mão de obra escrava, acreditam nesta balela. Por outro lado a maior parte da indústria nacional, na realidade não é nacional, e se Trump e qualquer outro chefe do poder dos países do primeiro mundo disserem para suas empresas que produtos de maior valor agregado devem ficar para as matrizes é isto que ocorrerá, só sobrando para nós produzir industrializados que servem de base para os setores mais modernos e que tem alto impacto ambiental e precisam de mão de obra de baixa qualificação.

Outro grande problema que tem o capitalismo brasileiro é a opção pela exportação de produtos primários, principalmente da agroindústria como solução de compensação da falta de produção industrial no país, para dizermos com clareza, já no século XIX os pensadores pombalinos em Portugal já enxergavam com clareza que a submissão de Portugal ao acordo de vinhos por tecidos com a Inglaterra, levava o país a miséria. Os militares golpistas argentinos, também optaram pelo mesmo esquema de destruição da sua indústria para privilegiar o setor primário. Se não estamos na mesma situação que a Argentina é que na época os militares brasileiros, além de torturadores e assassinos, tinham uma noção da necessidade de industrialização herdada dos pombalinos portugueses do século XIX. É interessante é que nos trabalhos de Rodrigo de Sousa Coutinho (1796-1803) antes mesmo dos cepalinos se antecipou um século nas vantagens de uma indústria no país (no caso Portugal) que deveria ser subsidiada pela superexploração das colônias agrícolas portuguesas. Observem, no século XIX na origem do que se chama economia já havia pessoas em Portugal que eram mais evoluídas do que Paulo Guedes e seus asseclas. Além do falado, com a retirada do Estado da educação e pesquisa e desenvolvimento, a produtividade do trabalhador por falta de qualificação ficará cada vez mais distante da dos países desenvolvidos, fazendo voltar a relações sociais semelhantes ao período escravista, onde a produção industrial ficava barrada pela não criação de um proletariado adaptado as condições do mercado internacional, ou seja, se hoje a relação de produtividade devido ao baixo nível de capital fixo será piorada pela incapacidade do proletariado acompanhar a produção do proletariado internacional.

O segundo problema da solução “Paulo Guedes”, é que além de não dar certo sob o ponto de vista dos capitalistas, é ainda mais errada sob o ponto de vista do proletariado. O achatamento salarial, a retirada do Estado na sua função de fornecer um treinamento de acordo com as necessidades de uma indústria moderna, criará uma massa de desempregados estruturais que se arranjarão num setor de serviços de baixo salário e desregulamentado, que num dado momento aprenderão que não tem futuro e pressionarão de forma vigorosa a mudança não só do governo, mas também das relações sociais. Essa massa será tão numerosa e imbricada com o resto da sociedade que esquemas repressivos serão simplesmente incapazes de detê-los, não podemos esquecer que tanto os escravos Romanos e os Haitianos, nas suas revoltas no primeiro caso quase derrubaram o esquema escravista e no segundo derrubaram por completo, não levando a diante a sua revolta pois na época não sabiam a correta direção.

O que fica claro que a afirmação que para sair de uma recessão só com ela própria, servirá para os países desenvolvidos, se não estourarem primeiro, mas no Brasil a recessão só servirá para agravar mas as condições econômicas do país.

Redação

Redação

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  • "Contrário ao que muitos analistas, entre eles alguns marxistas tem dito, Marx não acreditava que o colapso do capitalismo fosse inevitável. "Crises permanentes não existem", ele insistiu. Como vimos, as crises são sempre soluções momentâneas e forçosas das contradições existentes. Não existe crise econômica tão profunda da qual o capitalismo não possa recuperar-se, uma vez garantido que a classe trabalhadora pague o preço do desemprego, deterioração dos padrões de vida e das condições de trabalho. Se uma crise irá levar a "um estágio mais elevado de produção social" dependerá da consciência e da ação da classe trabalhadora". - Alex Callinicos, Introdução ao Capital de Karl Marx

    http://orientacaomarxista.blogspot.com/2008/03/introduo-ao-capital-de-karl-marx-alex.html

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