(Procurando somar) Uma breve história da 3a. via no Ocidente, por Gunter Zibell

Em alguns países (México, França, Colômbia, Chile) algo como Nova Política rendeu bons frutos. Em outros (EUA, Reino Unido, Itália) rendeu uns sustos. E em alguns (Alemanha e Canadá) é o ambientalismo que que cresceu na agenda de discussões

(Procurando somar) Uma breve história da 3a. via no Ocidente

por Gunter Zibell

Vou redigir de memória porque leio bastante sobre isso. Pode conter erros e omissões.

1) Na Inglaterra os Liberal-democratas não passam de 20% desde os anos 1960. Ultimamente estão em torno de 10%. E, como o sistema é distrital, o resultado mais comum é dividirem o voto dos Trabalhistas e ajudarem os Conservadores a elegerem maior percentual de deputados que de votos. O que aconteceu em 2019. (O discurso antissistema de ultradireita provocou o auge de Farage, UKIP e Brexit. E agora sumiu.)

2) No Canadá o NDP (3a. via pela esquerda) chegou ao 2o. lugar em 2011 e na eleição anterior. Mas pelo voto distrital deixou os Conservadores formarem governo de minoria. (A ultradireita local surgiu em 2019 mas não passa ainda de 5% e não elege deputados.)

3) Espanha: Podemos (esquerda) e Ciudadanos (direita) oscilam de 10 a 20% há uma década. Mas voltaram a ser linha auxiliar de PSOE e PP, respectivamente. (O Vox chega a 13% dos deputados, mas se conforma em ser auxiliar do PP. No momento está na aventura Bannon e tentando criar filial no México.)

4) Alemanha: os Verdes estão crescendo aos poucos e este ano chegaram a liderar em pesquisas. Mas já voltaram ao 3o. De qualquer modo é um caso de relativo sucesso, pois se fizeram necessários para completar maioria. (A Alternative fur Deutschland chegou a 12% em eleições recentes. Ainda mantém esse patamar mas não influencia governo federal.)

5) EUA. Outro caso (como Canadá) de 3a. via pela esquerda. Não fez presidente ainda, mas influencia o governo Biden. Depois de ter melado com tiros no pé a campanha de 2016 e ajudado Trump a ascender. (O Tea Party + Supremacistas recuperaram fôlego com Trump e criam ainda muitas guerras culturais artificiais. Têm sido modelo para o MBL, Bolsonarismo, etc.)

6) México. O Morena (centro-esquerda) venceu em 2018 (pela primeira vez em décadas um presidente se elegeu com mais de 50%) e manteve maioria (menor) em 2021. É um caso de sucesso.

7) França. A ultradireita de Le Pen parece ter atingido seu auge, pois nas eleições regionais deste ano apenas repetiu o insucesso de 5 anos atrás. Já o En Marche (com a mesma sigla de Emanuel Macron, o que é bisonho) pode ser visto como uma 3a. via de sucesso, com programa meio-Republicanos meio-Socialistas.

8 ) Argentina. Surgiu uma terceira via em 2015 pós-desmonte midiático do governo Kirchner. Chegou a uns 20%, não foi pro 2o. turno e retrocedeu em 2019. Vida que segue.

9) Chile. 3a. via à esquerda (Boric) está bem cotada este ano. Disputa com a ex-Concertacion (não lembro o nome atual da coligação Socialistas e Democratas-Cristãos) e a coligação que sustentou o governo Piñera.

10) Colômbia. O centrismo-verde já chegou a 2o. turno em 2018. Se então disputou com partidos de direita e uribismo (Ivan Duque), em 2022 deve disputar com social-democratas convencionais. Pode ser a primeira vez que nenhum grupo de direita vai a 2o. turno.  (Entre Uribe e Duque teve 8 anos do bem-sucedido governo pró-democratização de Manuel Santos. Um caso de direita elogiada pela esquerda internacional.)

11) Itália. O Cinco Estrelas é uma estranha mistura de xenofobia de direita com direitos sociais de esquerda. Nessa posição já coligou com os dois pólos (como o MDB no Brasil). Deu-se bem em 2018 mas em 2023 pode perder relevância.

12) Austrália. Nem 3a. via, nem verdes nem ultradireita são relevantes. O país parece estabilizado no binômio Trabalhistas x Conservadores desde os anos 70. Considerando que é o único país rico que não passou por recessão nos últimos 25 anos, não é um problema.

Grosso modo, e considerando que o governo Trump não foi um desastre (pois pelo menos as gestões da economia e da política externa foram competentes), o mundo ocidental segue a vidinha. Ainda existe Onda Conservadora, mas não é o mesmo sucesso de 2015-2017. (Com atrasos no Brasil, 2018, e Reino Unido, 2019.)

Em alguns países (México, França, Colômbia, Chile) algo como Nova Política rendeu bons frutos. Em outros (EUA, Reino Unido, Itália) rendeu uns sustos. E em alguns (Alemanha e Canadá) é o ambientalismo que que cresceu na agenda de discussões. Na Espanha houve barulho e na Austrália silêncio. No mais das vezes segue-se o pingue-pongue entre centro-direita x centro-esquerda (na Alemanha nem isso, pois governam juntos, as eleições são para determinar o líder de governo.)

E para o Brasil? No momento vivemos um cenário pior que todos os citados. O Brasil é o único grande país do Ocidente onde a distopia é tanto política (mais que na Itália), econômica (nos últimos 10 anos pior que na Itália e Argentina), ambiental (pior que nos EUA) como cultural (mais ou menos como Polônia – e Rússia, Turquia e Indonésia, que não são ocidentais).

Talvez o caminho para dar certo seja dar um passo atrás, mais ou menos como Argentina em 2019 (e Itália em 2013). O discurso antissistema não ajudou nada e continuará não-ajudando.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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  1. No Canadá está havendo eleições federais essa semana, com o dia de votação oficial no dia 20 de Setembro. Entre os dias 10 e 13 de Setembro houve votação antecipada em todo o país. O voto no Canadá é distrital.

    Jack Leyton foi o grande nome da política na primeira década deste século, líder do NDP (New Democratic Party). Era graduado em Ciências Políticas, com doutorado em Filosofia. Foi professor em algumas das melhores universidades de Ontario e construiu sua carreira política em Toronto. Era um líder carismático e em 2011, meses antes de sua morte por cancer, levou o NDP a formar a oposição oficial no parlamento, no governo Conservador de Stephen Harper.

    Leyton e o NDP se beneficiaram do vácuo deixado pelo partido Liberal, de esquerda. O vácuo, entretanto, foi ocupado pelo jovem Justin Trudeau, filho de Pierre Trudeau, primeiro ministro de 1968 a 1984 (com um breve interregno entre 1979 e 1980).

    Justin Trudeau foi eleito em 2015, derrotando o Conservador Harper. Trudeau é formado em educação, jovem, carismático, enérgico e defende princípios progressistas. Abriu diálogo conciliador com os povos originários (First Nations) para reparar os extensivos danos causados pela colonização. Defende os serviços públicos universais de saúde e educação, as minorias, a diversidade. Nas atuais eleições busca obter maioria no parlamento para aprovar e tocar adiante sua agenda progressista.

    Os Conservadores não encontram um líder à altura de Trudeau desde 2015. A atual agenda conservadora de direita, capitaneada por Erin O’Toole, se assemelha bastante à agenda de Trump, de extrema direita. Não reconhecem direitos fundamentais, como o aborto e identidade de gênero. Atacam os sistemas públicos universais e procuram espaço para implementar sistemas privados de saúde e educação. Erin O’Toole não tem nenhum carisma, é morno, sem graça, fraco e ainda recorre à fake news, à la Trump.

    As eleições até o momento estão parelhas, com margens em torno de 30% para Liberais e Conservadores. O NDP de Jagmeet Singh vem em terceiro, com cerca de 18% de margem. O mais provável é que Trudeau mantenha seu governo minoritário, mas a pandemia e as controvérsias em relação a vacinas podem mudar o quadro. Erin O’Toole não defende claramente a necessidade da população se vacinar e, com a volta às aulas neste mês, os números de infectados vem aumentando.

    Nota sobre o NDP:
    O legado de Jack Leyton, que deu ao partido presença no parlamento em Ottawa, se arrefeceu desde então. O atual líder, Jagmeet Singh, surgiu como uma boa surpresa de esquerda, mas nos últimos anos passou a não apoiar Justin Trudeau e as políticas Liberais de esquerda, apoiando inclusive algumas das posições dos Conservadores. Paradoxalmente, a presença mais significativa do NDP hoje é em Alberta, a província mais conservadora do país, governada majoritariamente pelos Conservadores por mais de 40 anos. O longo reinado foi interrompido com a eleição de Rachel Notley do NDP em 2015. Notley implementou mudanças em todas as esferas com uma agenda progressista. Foi rechaçada nas eleições em 2019, quando os Conservadores voltaram ao poder triunfantes, pelas mãos de Jason Kenney, pior e mais radical líder de direta visto no país em décadas. Notley e o NDP continuam a fazer uma oposição importante à agenda conservadora em Alberta.

    Espero ter contribuído.

  2. Há um erro no meu comentário que precisa ser corrigido:
    O nome correto é Jack Layton e não Leyton.
    Outros pequenas correções seria necessárias, mas não interferem no conteúdo.

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