A estratégia do PT e a realidade do projeto da esquerda, por Luis Felipe Miguel

A estratégia do PT e a realidade do projeto da esquerda

por Luis Felipe Miguel

Acho apropriada a estratégia do PT de manter a candidatura de Lula até o fim. A cada nova pesquisa eleitoral, fica mais evidente que, sem Lula, a legitimidade da eleição de outubro está ferida de morte. A manutenção da candidatura de Lula é a mais eloquente denúncia do Estado de exceção a que estamos submetidos.

A radicalidade desta defesa contrasta, porém, com todo o resto da coreografia eleitoral do PT, que insiste nas práticas dos últimos anos, vendo a eleição como um xadrez desconectado dos conflitos políticos fundamentais, pronto a se aliar com quem passe pela frente. Por vezes, sacrificando até seus melhores quadros. A pressão pela retirada da candidatura de Marília Arraes em Pernambuco, uma candidatura favorita ao governo, para dar apoio à reeleição de Paulo Câmara, é o exemplo mais dramático.

Defender o direito de Lula se candidatar é prioridade para qualquer democrata. Mas erra feio a parte da militância do PT que julga que optar por qualquer outro candidato é uma “traição”. A exigência de que o nome de Lula conste na urna é exatamente para permitir que o eleitorado disponha de efetiva possibilidade de escolha.

Da mesma forma, é legítimo que Ciro Gomes faça as movimentações que faz para ampliar seu arco de alianças e aproveitar a occasione para se firmar entre os candidatos a serem levados a sério. Mas não é razoável que parte dos ciristas conclua que, como seu candidato é hoje o que melhor pontua entre os de esquerda (na ausência de Lula, convém sempre lembrar), é obrigatório que todos o apoiem.

Ciro tenta ser o Lula da era pós-Lula, mas sem o lastro social do líder petista. Não é e nunca foi um caminho para a esquerda brasileira. A meu ver, apoiá-lo representa abdicar da construção deste caminho, em nome de um possibilismo focado na eleição.

Por tudo isso, penso que Guilherme Boulos é a melhor opção para outubro. Ele encarna sem rodeios os valores ético-políticos da esquerda e está pronto para a fazer a disputa por eles. Sabe se comunicar e politiza o debate. Tem a preocupação de confederar as diferentes agendas emancipatórias, sem ignorar que o grande desafio é superar o capitalismo. Sua candidatura contribui para repensar o projeto da esquerda para o Brasil e as formas de lutar para realizá-lo. Boulos o candidato para quem sabe que a política não começa na urna, nem termina na apuração.

 

Luis Felipe Miguel

18 Comentários

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  1. Essa insistência em querer

    Essa insistência em querer alinhar logo com qualquer um é muito estranho.

    Isso é se declarar um sem estratégia.

    Qual o ganho de se pendurar num Ciro que amarga 5% do eleitorado??

    Qual o ganho de apostar no bocó do Haddad que foi protagonista naquela revolta falsa dos 20 centavos e ainda perdeu para o almofadinha do Dória???

    Qual o ganho político de se alinha ao PSOL da Globo???

    Qual a vantagem de apostar num PCdoB, que já se alinhou a Ciro e ficará a ver navois ???

    Quem entende de urna é Lula e não vocês analistas políticos.

  2. Paciência e foco. Ainda não é hora de unificar as candidaturas

    Apoiar Ciro ou Boulos agora, sendo vice de um deles é rachar o PT ao meio e deixar a maioria pobre da população perdida.

    O caminho é insistir em Lula, pois a cada dia que conjuntura economica e social se deteriora e quanto mais a direita golpista quebra cabeça para emplacar um candidato, pior fica a situação para as forças golpistas.

    Não inistir em Lula é perder a referência para educar politicamente a população. Lula, é hoje um instrumento pedagógico. Não se trata de uma pessoa, mas da referência de um projeto incluente de valorização dos mais pobres. Essa é a referência. Lula não é uma pessoa, mas a síntese de um projeto de desenvolvimento com inclusão social e posicionamento soberano. É disso que se trata. É pedagógico para a maioria do povo.

    Quanto pior ficar a crise, mais perto das eleições e caso Lula seja registrado como candidato, maior o preço que os golpistas pagarão. Ou seja, mais fácil fica para essa parcela da população entender que na política há dois projetos. Um deles é pelo povo, para o povo e com o povo, e o outro é contra o povo, ou apenas para usa-lo como mão de obra e massa de manobra.

    Pensar em legalidade, ou coisas do tipo: – ah, a “justiça”, a Globo e o exército não deixarão Lula concorrer; é o mesmo que dizer à massa da população mais pobre: – políticos e partidos são todos iguais, ninguém esta disposto a lutar por vocês, eles só querem saber de ganhar as eleições.

    Quanto mais próximo das eleições, com Lula ainda se dizendo candidato, mais força ele terá para definir o pleito. Mesmo que indicando outro nome – do seu próprio partido ou de uma aliança. 

    Os outros candidatos da centro esquerda tem que se colocar como prontos para entrar em ação. Devem fazer suas campanhas, defender suas propostas, confrontar o golpe em todas as frentes, em todos os espaços. Não há conflito estratégico. São táticas distintas que se somam numa única estratégia, derrotar as forças golpistas – antipopulares, antinacionalistas, antidesenvolvimentistas.

    1. Mas parece que faltou

      Mas parece que faltou combinar essa estratégia com os russos, no caso o resto da esquerda. Por que ao que parece estão todos desesperados querendo que o PT desembarque dessa ideia de Lula ou nada. Não só o resto da esquerda, os governadores do PT também. Até faz sentido fazer um jogo de cena pra militância de que o candidato é o Lula, ela já está acostumada engolir qualquer coisa da direção do partido e facilmente repetiria em qualquer situação esse mantra. O problema é que parece que pra parte relevante do partido a ideia é essa mesmo, se não fosse assim o resto da esquerda estaria mais tranquila com o seguimento de um lado da candidatura Lula, de outro uma sinalização que isso é pra inglês ver e que no tempo certo viria a tão propalada união. O que se vê é um compasso de espera pra ver o que o PT realmente vai fazer, ou seja, muita conversa, mas não se bate martelo, o tempo urge e daqui a pouco o momento pras articulações já terá passado. Assim, o partido acaba correndo o risco, e parece que isso já ocorre, de muitas da suas próprias lideranças atropelarem a direção e fecharem acordos informais com o PDT e o PSB. É a tucanização autofágica que o  PT começa a viver e toda a responsabilidade é da direção e sua estratégia amalucada, ou melhor, a sua não-estratégia.

      1. O inferno e as voas intenções.

        Caro Maurício,

        Seu comentário se encaixa perfeitamente no adágio.

        Ora, se o PT perder o trem, se tucanizar ou queimar no fogo do golpe, azar do PT.

        Mas eu temo que o desespero não é esse.

        É o apetite dos chacais que fala mais alto, junto com a hienas, ávidas para banquetear a carcaça do PT.

        Vai ser difícil engolir.

        O PT e Lula levaram porrada desde 2006, esse pessoal do ciro e do resto tentaram, e não deu certo, a tese de que os erros e amizades do PT o levaram ao cadafalso, urraram uma autocríticas e blá,blá,blá, e nada.

        O PT é o partido com maior aceitação popular e com o candidato PRESO e favorito!!!!!

        Olha, do ponto de vista histórico eu também acho isso um desastre, a hegemonia do PT no campo da esquerda e da política nacional.

        Gostaria, sinceramente, que houvesse gente com capacidade e colhões para mobilizar essa gente e revirar esse país de cabeça para baixo.

        Mas tenho certeza que meu desejo não se realiza com ciro e os nanicos que, como mariposas, circulam a luz de Lula.

         

         

        Seu texto é um primor de dubiedade farsesca: primeiro desanca a militância aduzindo que ela irá onde a direção mandar, depois diz o contrário, que dessa vez a militância não largará o “Lula ou nada”.

        Qual é sua narrativa?

        Ora, um pouco de honestidade histórica dirá que, de certa forma, em todas as eleições, com Lula livre e sem golpe, vivemos essa “pressa”, esses atropelos regionais que assediam a chapa nacional.

        Isso nem é novidade no PT.

        A novidade, meu caro, é o golpe, o cenário, a prisão do único candidato capaz de unificar aquilo que chamamos (ainda) de campo progressista, tendo claro que as eleições agora é o que menos importa, e que a luta não poderá ficar resumida aos desejos (legítimos, diga-se) de grandeza de ciros e outros nanicos.

        Querem disputar política com o PT e influenciar suas decisões? Bolas, cresçam, acumulem capital político e apareçam.

        Primeiro disseram que a culpa do golpe era nossa (justamente as vítimas), agora, a saída do golpe depende dos nossos humores…

        Uai, e não levamos nada por sermos o “centro do universo”? Só naba?

        É isso mesmo, o PT vai ter que se contentar com acordo caracu?

        Vai a festa de pica fantasiado de bunda? 

        É essa a sugestão?

        Vai dormir, maurício, vai meu filho!

         

  3. São tantas as frustrações que

    São tantas as frustrações que o golpe impôs, com interrupções cruéis de programas sociais, de crimes lesa pátria, que fica muito difícil imaginar uma eleição que não seja em clima de resistência e emoção. Emoção pautada nos sentimentos de exclusão, de baixo autoestima e de falta de perspectivas. É muito provável que esses mesmos sentimentos que já afetam a classe média desavisada que levarão a um impasse-  ou elegem Lula, ou elegem quem melhor o represente.

  4. Não Existem Opções, Existe Possibilidade Única: Lula Candidato.

    Qual a dificuldade desses entenderem que Lula candidato não é opção, mas única possibilidade de impedir que consigam legalizar o golpe vencendo a eleição para presidente em 2018, conforme planejado ou será que a toa, a operação lavajateira passou quatro anos fazendo de tudo ao alcance para excluí-lo dessa possibilidade, não conseguiram, e agora estupidamente  queremos exatamente fazer o que não conseguiram?

    – Mas, ao final, não vão deixa-lo participar da eleição, pela ficha-limpa?

    Depende e não depende.

    Depende do TSE e/ou do Povo apoiando ainda mais, para que participe de direito e vencendo governe.

    Não depende do TSE, se proclamado sem direito, concorrer através de substituto que, vencendo, permita que governe de fato ‘à moda Putin’.   

  5. Vou repetir uma vez mais.
    Meu

    Vou repetir uma vez mais.

    Meu candidato é Lula.

    Se ele não for candidato votarei NULO.

    Ninguém vai me obrigar a votar em Ciro Gomes.

    Prefiro ver um imbecil violento na presidência do que votar num traíra do PDT.

    Minha posição política não será definida pelo resultado da eleição. 

    Mais alguma dúvida?

  6. Vou repetir uma vez mais.
    Meu

    Vou repetir uma vez mais.

    Meu candidato é Lula.

    Se ele não for candidato votarei NULO.

    Ninguém vai me obrigar a votar em Ciro Gomes.

    Prefiro ver um imbecil violento na presidência do que votar num traíra do PDT.

    Minha posição política não será definida pelo resultado da eleição. 

    Mais alguma dúvida?

    1. É Lula ou nada!

      Estou na mesma posição do Fábio, se não puder votar no Presidente Lula prefiro ficar em casa no dia da eleição. Mesmo que o PT venha a fazer algum acordo com o PDT, não me sentirei obrigado a votar em um Ciro Gomes qualquer.

  7. a questão não é o PT aceitar

    a questão não é o PT aceitar coligação com “qualquer um”, a questão é aceitar coligação com o Ciro..

    .. não se trata de gostar ou não..

    .. Ciro, candidato de direita, é a legitimação do golpe, todo mundo sabe disso, embora alguns prefiram ignorar esse aspecto e dar sequência à vida..

    Ah, vale lembrar: tirar o Dirceu de cela especial é tentativa de assassinato.. o jogo é bruto..

     

    Eleições sem Lula é fraude.

    Com Lula é lenda.

    Dá uma lida nessa análise. Deixe suas críticas:

    https://jornalggn.com.br/blog/jruiz/momento-ideal-para-discutir-o-sistema

  8. Respeito cara!

    E falta-nos com o respeito quem pensa que mantendo fidelidade ao PT erra.
     

    Ora bolas!… Temos um candidato e enquanto ele for candidato quem for do PT tem o dever partidário de manter-se fiel ao projeto Lula. Ele foi, é  e será enquanto possível o nosso candidato, nossa primeira opção. Enquanto Lula se disser candidato aquele que disser votar nesse ou naquele está, antecipadamente, traindo o partido, e não é um erro manter-se fiel ao projeto Lula. Erro é aceitar o golpe e pular para outro barco abandonando nosso maior líder. Ademais, Ciro não é uma segunda opção. Temos pelo menos duas outras e boas alternativas antes de Ciro. É legítimo o movimento Ciro para atrair a militância do PT? Sim, é; mas daí a achar que já temos que optar por Ciro é uma ofensa à nossa inteligência pela própria história do Ciro, um coronel arrogante, falastrão, camaleão (camufla-se conforme suas conveniências). Ele não é, não tem projeto de esquerda, nunca foi e, definitivamente, só em caso de enfrentar os fascistas de extrema direita. 
     

    Então partidários Ciro, segurem a onda. Esperem o segundo turno e vamos conversar. Até lá, respeitem-nos!

  9. PARTE DA MILITÂNCIA NÃO! É

    PARTE DA MILITÂNCIA NÃO! É GRANDE PARTE E VAMOS CRESCENDO E CONSCIENTIZANDO QUE NÃO AVALIZAREMOS UM GOLPE,NÃO CONCORDAREMOS COM A PRISÃO E O ALIJAMENTO DE UM INOCENTE,NÃO PARTICIPAREMOS DE UMA FRAUDE.TEMOS CONSCIÊNCIA E ELA NOS ABSOLVE,ENFIM TEMOS VERGONHA NA CARA!OS JORNALISTAS OS ARTICULISTAS OS DOUTOS CIENTISTAS POLÍTICOS JAMAIS NOS CONVENCERÃO A SERMOS CANALHAS.SOMOS DAS TRINCHEIRA E NUNCA DO COMODO ASSENTO ACADÊMICO QUE POSSUEM OJERIZA A LUTA DE CLASSES E DELA FAZEM PARTE A DIREITA POR OMISSÃO.VERGONHA,VERGONHA LER ISSO DE ALGUÉM QUE ATÉ ENTÃO ADMIRAVA,SOMOS ETERNAS VÍTIMAS DE GOLPES POR COVARDES TENTAREM ACOELHAR O POVO BRASILEIRO.

  10. Cadê o Poder Político do PT ?

    Quem tem Poder Político é capaz de mandar prender réus, sem provas, com base numa deformada Teoria do Domínio do Fato.

    Quem tem Poder Político é capaz de derrubar uma presidente honesta, eleita democraticamente, com base num processo fraudulento (sem crime de responsabilidade).

    Quem tem Poder Político é capaz de prender um inocente, sem crime tipificado, apesar dele ser o melhor avaliado presidente da República e o líder nas pesquisas de intenção de votos.

    Penso que o PT precisa entender que ele NÃO tem esse Poder Político, pois perdeu e continua perdendo em todas as instituições jurídicas nos momentos decisivos. O judiciário é o caminho da falsa legalidade.

    Penso que o PT – na qualidade de maior partido político e maior responsável pela maiores cagadas políticas – precisa entender que não há saída sem uma união das forças democráticas, sem a arrogante “hegemonia” que parte do PT se atribui.

    1. Cadê o Poder Político do PT ?

      Nenhum partido tem hoje mais poder político como partido e como lideranças.

      O MDB está visivelmente fracionado com tendência a aumentar tal a rejeição de Temer.

      O PSDB tem suas lideranças denunciadas e suas impunidades é do domínio público. A caminho de ser nanico.

      Isso é o que dizem as pesquisas.

      Quanto aos governos petistas Dilma foi ao ponto: “fomos ingênuos”.

      Isso é o que é.

      O PT no governo abriu mão de comandar instituições vitais: PF, MPF e BC.

      Acreditou no “republicanismo” de seus integrantes: uma ilusão que nos custou caro.

      Financiou quem mais o atacou: a mídia desde sempre golpista.

      Para o STF indicou profissionais descompromissados com o projeto de Brasil e, pior, dados a leguleios contra suas lideranças.

      O comando tem que ser exercido por quem de direito ou alguem o exercerá.

      Fosse isso a AP 470 não teria existido tal como foi: uma farsa.

      A “república de curitiba” não teria existido e os canalhas, canalhas estariam onde deveriam estar: na jaula.

      Agora vamos ver se houve aprendizado ou teremos mais “paz e amor” com canalhas.

       

       

  11. O não voto também é um posicionamento

    Luis Felipe Miguel, já exemplificando, cito o jornalista que disse que Lula não deveria se entregar, pois seria avalizar o arbítrio.
    Da mesma forma, votar num plano B é, em última instância, concordar com o arbítrio da prisão de Lula.
    Ademais Boulos precisa de uma base parlamentar que não tem. Antes de tudo teria de refazer a base partidária para não ocorrer o replay do Golpe, onde até a base era oposição…

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