Bolsonaro, o candidato sabonete, por Eduardo Borges

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Bolsonaro, o candidato sabonete

por Eduardo Borges

Com Lula ou sem Lula, o cenário que se descortina para as próximas eleições presidenciais é o da consolidação quase absoluta do personalismo na política brasileira. Resultado da crise institucional provocada pelos acontecimentos políticos dos últimos anos, o contexto do jogo político brasileiro atual é o do completo descaso com a Política.

Nunca foi e certamente nunca será benéfico para a democracia que uma parte consistente da população perca completamente sua crença na Política. As consequências, para a sociedade, de operações jurídico-policiais como a Lava Jato tendem naturalmente a saírem do controle. Por mais que tenha sido gestada com o discurso do combate à corrupção, portanto, supostamente voltada exclusivamente para questões de natureza jurídica e policial, operações como a Lava Jato não conseguem ficar imune ao jogo político.

Tendo como alvos principais os agentes públicos que gestaram e gestam cotidianamente e por longos anos a política brasileira, a Lava Jato seria naturalmente engolida pelas disputas de poder que constitui o jogo político brasileiro. Juízes e  promotores não são entidades abstratas com capacidade de pairar sobre as tensões que definem as relações sociais, econômicas e políticas do país. Eles são partes da sociedade, logo, dialogam e refletem com a cultura e as mentalidades dessa sociedade.

Por outro lado, as empresas de mídia, diante de sua histórica concentração oligárquica se posicionam como uma espécie de quarto poder e exercem com mão de ferro e extrema habilidade o controle da opinião publicada. Decidir sob qual ponto de vista uma grande parcela da população vai ler ou ouvir sobre determinado tema da vida nacional, entrega aos barões da mídia brasileira o poder de construir narrativas que caibam perfeitamente em seus interesses privados e de classe.

Nós últimos anos revistas semanais, telejornais e jornais diários, têm construídos uma narrativa da vida política nacional que contribuiu decisivamente para estabelecer no país uma sensação de vivermos nos equilibrando cotidianamente entre o caos e a barbárie. Desde a última campanha eleitoral – que dividiu o país em dois segmentos com possibilidade zero de estabelecer qualquer tipo de relação harmoniosa – até o pós-vitória de Dilma Rousseff e toda a incapacidade do candidato derrotado de assimilar a derrota, que o Brasil passou a ser bombardeado permanentemente por manchetes que se encadeadas resultariam em uma narrativa cujo final seria o próprio armagedon.

Longe de querer negar que nos últimos anos o Brasil tem vivenciado momentos difíceis no que diz respeito à gestão pública, definitivamente não foram suficientes para nos colocar entre o caos e a barbárie como quer nos fazer crer a chamada grande mídia nacional. Parte da crise nacional (também vivenciada por diversos países do mundo) foi inflada pelo ambiente belicista que se estabeleceu a partir da escancarada politização da operação Lava Jato. Exemplos explícitos de quebra da constitucionalidade foi implementado pela operação Lava Jato e com o beneplácito da grande mídia, dos grupos econômicos dominantes e por uma parcela da população (de maioria classe média) influenciada pelo discurso moralista de combate a corrupção.

É justamente nesse ambiente de “instabilidade” estrutural criado pelo “pacto” moralista, oportunista e seletivo que se estabeleceu entre imprensa, burguesia nacional, setores da classe média e operação Lava Jato, cujo desdobramento fez gerar o descrédito pelos políticos, pela política e pelas instituições, que se abre o caminho para o surgimento de personalidades com o discurso do “eu não sou político e não faço parte desse jogo”.

Assim como aconteceu na Itália, pós-operação Mãos Limpas, que viu surgir um político com os atributos condenáveis de um Silvio Berlusconi, o Brasil da Lava Jato, se não gerou vários Berlusconis, gerou o personalismo como centro do fazer político brasileiro. Para as próximas eleições presidenciais, esqueçam partidos, projetos e programas. Esqueçam debates conduzidos por argumentos minimamente racionais embasados em estratégias de médio e longo prazo para as resoluções dos problemas estruturais do país. O que teremos é uma plêiade de candidatos se pautando pelos atributos individuais respaldados em histórias pessoais e edificantes.

Até certo ponto podemos considerar que a culpa por tal comportamento não é exclusivamente do candidato, mas do ambiente hostil à política como espaço do debate e das resoluções dos problemas nacionais. Certamente que nem todos os candidatos se sentirão confortáveis com essa situação. Alguns até devem tentar colocar ideia e projetos como o centro da campanha, entretanto, entre os que até agora se apresentaram como presidenciáveis, o que melhor se enquadra no perfil personalista é o presidenciável Jair Bolsonaro.

Jair Bolsonaro não apresenta nenhuma credencial clássica para se viabilizar enquanto candidato a Presidente da República, tais como: experiência administrativa, liderança parlamentar, liderança partidária, atuação parlamentar como cabeça do congresso e atuação como tribuno com capacidade de argumentação e oratória em defesas de teses estratégicas para o país. Bolsonaro sempre foi um parlamentar representativo dos interesses de um segmento social específico. Tal estratégia política não é nenhum crime e é um direito que lhe pertence, contudo, isso não faz dele um futuro estadista.

Falta-lhe a consistência de quem passou a vida debatendo de maneira macro os problemas do Brasil. Falta-lhe o olhar estratégico de enxergar o Brasil como uma peça de um xadrez muito mais complexo que são as relações internacionais. Bolsonaro é um político provinciano e simplório, tudo o que não compete a alguém que venha a ter a ambição de ocupar o cargo de gestor de uma das maiores economias do planeta.

Como representante de um conjunto de ideias e práticas conservadoras Bolsonaro, como parlamentar, cumpre com mérito a representação de uma parcela da sociedade que comunga com suas ideias. Isso é a democracia, e as ideias de que discordamos devem ser combatidas no ringue da democracia.

Mas é preciso nos dar conta de que a democracia acontece, na prática, em camadas  e que o exercício de poder nos cargos públicos (no legislativo e no executivo) não funcionam sob a mesma lógica. Nesse caso, se Jair Bolsonaro tem cumprido de maneira satisfatória (aos olhos de seus eleitores) sua função como parlamentar, isso não faz dele um evidente presidenciável. Não estou querendo dizer que como cidadão brasileiro Bolsonaro não possa se candidatar a presidente, isso é um direito inalienável, o que quero debater aqui é o risco que teríamos de sua possível eleição.

Seu despreparo para o cargo é explicitado a cada entrevista. Suas falas se resumem a um repertório de lugares comuns e de afirmativas retóricas típicas de quem nunca imaginou estar vivenciando essa condição. A campanha para parlamentar no Brasil é muito pouco politizada e em quase nenhum momento o candidato é levado a debater grandes temas e defender ideias e projetos estratégicos. Essa foi a realidade de Bolsonaro nos último vinte anos, fazer política sem precisar usar dos atributos da política. O problema é que essa tática não cabe em uma campanha presidencial. É preciso oferecer muito mais ao eleitor e Bolsonaro, visivelmente, não tem nada mais a oferecer.

O que lhe resta é apenas apresentar-se como o apolítico. Construir sua campanha em torno de suas vontades pessoais tentando estabelecer com o eleitor apenas um mecanismo pueril de identificação de personalidade. Bolsonaro, como presidenciável, é apenas um sabonete que precisa convencer ao consumidor que seu cheiro é mais agradável do que o do concorrente. Tudo acaba se resumindo ao cheiro, pois lhe falta a capacidade de apresentar outros atributos mais consistentes que justifiquem sua compra.

Bolsonaro será aquele candidato cuja campanha se embasará quase que integralmente na construção da imagem via horário eleitoral e batalha nas redes sociais. Ele e seus seguidores evitarão, certamente, os espaços de conflitos reais, em que o candidato corra o risco de se mostrar nu.

Portanto, com Bolsonaro na corrida eleitoral, teremos um anticandidato em todas as suas plenitudes e possibilidades. Teremos um candidato que vai terceirizar a algum economista ou político mais experiente o debate sobre pontos estratégicos para o país e se restringir a fazer o papel de relações públicas de si mesmo, nada, além disso. A esperança é de que ao exercer seu direito constitucional de candidatar-se, Bolsonaro, em algum momento, terá que jogar o jogo da democracia. É justamente nesse momento que ele pode finalmente dizer a que veio. Cobrar dele que jogue o jogo e que se expunha ao debate de ideias deve ser uma obrigação não apenas dos que não votam nele, mas, principalmente, dos que antecipadamente o consideram o melhor candidato a governar o Brasil nos próximos quatro anos. Não me canso de afirmar a seguinte frase: “ O Brasil não é um país para amadores”. Entender isso faz uma enorme diferença em longo prazo.

 

8 Comentários

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  1. Tenho muito medo das chances de Bolsonaro:

    ao contrário do que diz, eleitoralmente, Alckmin (em quem não voto), Bolsonaro não é um mero “vôo de galinha”. Desde as elei-ções de 2013, o eleitorado votou por exclusão, pelo que imagina ser “diferente de tudo que está aí”. Ele com boa Assessoria de Marketing não irá a nenhum Debate (“não se misturará”, “é o diferente”). O povo, nosso povo, tem o maior número de homicí–dios per capita, tem linchamentos a cada dia (dizem algumas estatisticas e bons cientistas políticos), o povo quer quem comba-ta a violência, seja de que jeito for, com mais força, sem papas na língua. Enquanto um Partido não resolve as lutas intestinas (que estão a mil, a Nota desconfirando, como diz Jânio de Freitas) é sinal de que há rachas e adiaentos de convenções, ras-teiras, absolutizando coligação nacional, ignorando realidades localizadas.( “Centralismo ”  “”Democrático””” stalinista).

    1. Centralismo democrático

      Acho que você não sabe o que quer dizer “centralismo democrático”. Não tem nada a ver com priorizar questões nacionais sobre questões locais.

      1. Centralismo democrático

        usei uma forma simplificadora. Centralismo democrático pode ter tido validade em períodos de convulsão, de guerra. Supostamente, pressupõe reuniões e o que prevalece é a maioria, os votos vencidos acatam, ou têm que acatar. Na prática, serviu pra decisões de cima pra baixo. Pouca discussão, pelo menos nas instâncias que não tenham sido a cúpula da cúpula, na prática, dominadas pelos chefes, coronéis (neo-coronéis) e a obediência cega juntando com menos capacidade de argumentação, ou disiciplina militaresca. A comparação acho que vale, sim. Talvez os que não entenderam são fiéis, digo, com uma forte dose de religiosidade (falo no sentido amplo, não de religião).

  2. Fuga
    Bolsonaro vai simplesmente fugir dos debates e usar as redes sociais para divulgar seu belicismo. Não espere mais que isso dele.

    Muito perspicaz sua analise de que não há debate programático nos candidatos ao congresso. Sempre foi uma eleição personalizada inclusive pelo pouco tempo dado a esses candidatos no horário político em detrimento aos candidatos majoritários.

    Ao meu ver a legislação eleitoral deveria ser mudada com a proibição total de coligações, e a proporção de cadeiras do congresso sendo definida pelo percentual de cada candidato majoritário no 1o turno, e com a ordem de preenchimento das vagas ai sim pela votação nominal dos proporcionais. Isso acabaria ao mesmo tempo com a distorção dos “puxadores de votos”, forçaria os partidos a investir mais forte em candidatos majoritários e facilitaria a governabilidade do eleito.

    1. Eles não vão fazer leis contra si próprios
      Dadas as peculiaridades do Brasil, essa proposta de distribuir os assentos no Legislativo, de forma proprcional à do cargo Executivo correspondente, parece ser a melhor saída. Principalmente, se levarmos em conta o desleixo com que o brasileiro encara a eleição legislativa. Não é raro que se vote num candidato de um partido para o Executivo e de outro, por vezes, antagônico, para o Legislativo.

      Só que aí, vai reduzir os esquemas. Sem puxador de votos, não dá mais para eleger cidadãos “na aba”. O voto de cabresto continuaria sendo um problema (talvez, no voto distrital, ficasse ainda pior).

      Um caso especial, é a dos candidatos evangélicos. Estes são espalhados entre vários partidos e, também, geograficamente (meio que emulando o modelo distrital). Deste modo, conseguem votações expressivas, e ficam no topo das listas dos respectivos partidos.

  3. Bollsonaro fede. E seus aliados fedem mais ainda
    O Bollsonaro vem avançando com a imagem de “anti-tudo o que está aí” (Aham… A droga, é que o povo acredita, em particular, os “patos amarelos”).

    Além disso, conforme apresentado em outro artigo, tem a questão dos evangélicos, os quais vêm repudiando as pautas progressistas associadas à esquerda, e cujos votos caíram no colo delle. Aliás, aquele “batismo no rio Jordão” vem-se revelando um belo golpe publicitário (não sei se elle o fez por conta própria, ou se foi instruído para isso).

    Os “bollsomínions” possuem um comportamento de seita, fanatismo religioso dos brabos. Nenhuma evidência irá fazê-los despertar.

    E o povo, em geral, que sofre com a violência e a corrupção, tende a ver com bons olhos o discurso “linha-dura” do Fantoche. Ah, tá… Como se a violência não desse lucros a muita gente graúda, que o Mico nem pensará em tentar enfrentar.

    Quando ao discurso anti-corrupção, esse vídeo dá uma amostra bem interessante. Não é que o Bollsonaro foi “convencido” a mudar de opinião sobre a PEC do teto, em um jantar com o Temerário?

    https://youtu.be/9yZqc-YaKxM

    O mais legal, são os aliados que elle vem arrumando.

    Por exemplo, o articulador da campanha.

    https://www.gazetaonline.com.br/amp/noticias/politica/eleicoes_2018/2018/06/articulador-de-apoios-a-bolsonaro-deputado-confessou-caixa-dois-1014134496.html

    E o Magno Malta, para quem o Mico fez até declaração de amor?

    http://www.leia-se.com/noticia/2017/04/30/magno-malta-engana-muita-gente-mas-sempre-foi-um-quadrilheiro-no-espirito-santo.html

    http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL31859-5601,00.html

    http://ucho.info/2011/07/18/senador-magno-malta-e-envolvido-em-novo-escandalo-de-empreiteiras-no-ministerio-dos-transportes/

    Curiosamente, o Fantoche levou um fora. Será que o Malta percebeu que a candidatura começou a “fazer água”?

    https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,magno-malta-diz-a-bolsonaro-que-nao-sera-vice,70002343756.amp

    EMHO, creio que uma maneira de pôr fim a esse oba-oba acerca do Fantoche, será por os seus aliados à luz, expondo os seus respectivos podres. Assim sendo, demonstrando que o Mico é “mais do mesmo”.

  4. Creio que há dois “tipos” de

    Creio que há dois “tipos” de eleitores de Bolsonaro, embora ambos contem com sua burrice: o primeiro o quer eleito para tirar proveito disso; o segundo porque gosta da truculência vulgarmente relacionada à burrice.

    Enfim acho que é inútil mostrar que esse candidato é inepto, despreparado, um verdadeiro apedeuta. Disso todo mundo sabe mas há quem veja nisso virtude. Bolsonaro só perde voto se deixar a turma vê-lo rastejando, ainda que esse rastejamento seja para os financistas. Acho que é por isso que a turma que cuida de sua imagem recomenda que ele não debata com outros candidatos.

  5. Escorregadios
    Todos os candidatos, a não ser Ciro Gomes, escorregam quando o tema é tributação. O governo imprime dinheiro; fixa a sua receita a partir do seu gasto; diz a quem, quanto e quando paga, mesmo que deva. O governo não quebra. Mas o trabalhador já quebrou e o pequeno empreendedor está no seu limite. O governo quebrou o país. Meu voto vai para quem propuser uma carga tributária de até 25%.

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