Frente Ampla, por Wilson Ramos Filho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Frente Ampla

por Wilson Ramos Filho Xixo

Têm sido frequentes os apelos para que “os partidos de esquerda se unam” em 2018. São sinceras, de boa-fé, essas exortações a uma “esquerda unificada”, na maioria das vezes.

Na maioria, sublinho. Há, claro, quem finja disposição para um “entendimento entre as forças progressistas”, mas que – de fato, tentando aparentar sensatez -, na verdade começa por aí para, na sequência, destilar toda sua intolerância contra a proposta, impondo condicionantes impossíveis de serem atendidas.

Há também quem amplie de tal modo o leque do que poderia ser considerado como “esquerda” que o resultado acaba se configurando como uma “aliança de centro” incapaz de desconstruir as maldades praticadas pela quadrilha que se associou para concretizar o Golpe em andamento.
Restrinjamo-nos às propostas de “unidade na esquerda” verbalizadas com boa-fé.

Sejamos razoáveis. Seria possível uma aliança entre PT e PCdoB. Talvez até com setores do novo PCB, ou de organizações semi-clandestinas como o Consulta, o PCR, o Levante, o PCO, entre outros. Mas parece de uma ingenuidade brutal imaginar uma aliança com o PSOL. Seria impossível.

Surgido de um cisma do PT, seus dirigentes mais antigos mantém fundadas razões para o ressentimento. Seria muito difícil para eles uma composição com aqueles a quem sempre criticaram. O maior problema, contudo, reside nas atuais direções do PSOL nos Estados, quase todas compostas pela galera que foi formada no anti-petismo. São pessoas que começaram a militar há menos de 15 anos, e que foram se construindo no movimento social como inimigos de tudo o que o PT e o PCdoB representavam. O anti-lulismo, neles, é irreversível. Não conseguem deixar de criticar Lula, Dilma e o PT, sob pena de terem que fazer uma impraticável autocrítica. Alguém consegue imaginar dirigentes do MES, o MAIS ou a CST pedindo votos para um candidato que não seja do PSOL? Não votarão no Lula ou em outro petista nem no segundo turno em sua maioria (talvez na Insugência ou outras forças mais à esquerda, em parte, pudesse vir, mas não todos).

Sejamos realistas: os dirigentes do PSOL ou do PSTU (este é irrelevante, mas sempre aparece) jamais aceitariam uma aliança com os demais setores de esquerda. E não por que a Esquerda não a desejasse. Bem ao contrário. Mas porque seria exigir deles o impossível. Só existem como “o outro do PT”. Não podem, ainda que quisessem. Seria suicídio político.

Uma Frente Ampla, para ser eficaz, teria que partir de um PROGRAMA de mínimos, com dez ou doze itens, que oferecesse aos brasileiros uma PROPOSTA DE RECONSTRUÇÃO daquilo que foi desmontado pelo Golpe iniciado em 2016 (ou seria em 2013, nas “heróicas jornadas de junho”?) e de  PROPOSTAS DE AMPLIAÇÃO DE DIREITOS E GARANTIAS que não foram concretizadas no período 2003-2016.

Esta FRENTE AMPLA certamente teria que congregar, além dos partidos de Esquerda, setores do PSB, do PDT, do PMDB em alguns Estados e até do REDE e de outros Partidos menores, e diversos movimentos sociais, com militantes  sindicais da maioria das Centrais (seria impossível esperar que militantes do CONLUTAS ou da INTERSINDICAL viessem conosco, pelas mesmas razões pelas quais as direções do PSOL e do PSTU se sentem impedidos de nos apoiar), MTST, MST, UNE, UBES, AMES, FBP e FRENTE POVO SEM MEDO, entre outros coletivos comprometidos com a democracia. Uma Frente com personalidades, artistas, intelectuais, movimentos culturais, grupos progressistas que se sentem desassossegados com o crescimento do fascismo e do autoritarismo judicial, todos os que percebem as consequências do Golpe nas relações sociais concretas poderiam se unir.

Delírio? Utopia? A Esquerda estaria condenada a ser sempre fraticida? Escolho ser otimista quanto a esta hipótese.

Lembremos que embora possa haver alianças entre Partidos e Forças Políticas nos movimentos sociais, a principal “aliança” é feita pelos eleitores à vista de cálculos e percepções, acima de tudo “pragmáticas”. Ainda que sem aliança formal com este ou com aquele Partido, se a Esquerda tiver um PROGRAMA sedutor, que fale ao conjunto da população, dificilmente as bases seguirão as orientações dos líderes que rejeitarem a ideia de uma FRENTE AMPLA PELO BRASIL.

O que mais me encanta, mesmo, na ideia da Frente Ampla reside no fato de que nela os Partidos e Movimentos nela não se diluem, seguem existindo, mantendo suas identidades, seus programas, suas ideologias.

Na prática, nos conformemos, haverá uma Frente de Esquerda, se não no primeiro, ao menos no segundo turno. Seu tamanho, sua “amplitude”, dependerá das análises de conjuntura que logremos, em conjunto, concertar, sem moralismos pueris e sem sucumbirmos à soberba. Como a juventude em maio de 1968, espero que sejamos realistas e demandemos o impossível.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Nao. Q sejamos realistas, DONDE peçamos O POSSÍVEL

    Nao um possível diminuto, mas um possível importante e relevante, mas com pés no chao. Por ex, a exigência de um plebiscito p/ a revogaçao do congelamento de serviços públicos, da reforma trabalhista e da reforma da previdência, se ela passar. Isso já é bem difícil de conseguir, mas está dentro do possível. Agora, querer praticamente a revoluçao, ignorando as forças sociais reais com que temos que lidar (como na prática pedem muitos psolistas e assemelhados) é atrapalhar, em nome de sonhos ou de um “purismo” infantil, a defesa concreta da retomada de direitos dos trabalhadores

  2. Procurndo entender, de

    Procurndo entender, de coração e mente aberta, as reflexões do articulista e diante do avassalador desmonte de parte significativa da economia brasileira, do perverso retrocesso de conquistas sociais recentes e algumas mais antigas, da ignorância política secular da sociedade brasileira, confirmada em recente pesquisa, resta-me perguntar (e o faço sem qualquer tipo de ironia): EXISTE ESQUERDA NO BRASIL?

  3. As resistências têm caráter pessoal

    Como o texto bem abordou, são picuinhas pessoais, ressentimentos e mágoas antiquíssimas e não o bem da nação que se coloca no topo na hora de se negociar uma Frente Ampla, uma necessidade urgente até que a Democracia seja restaurada e consolidada. Uma vez  que estejamos com os pés firmes num Estado Democrático de Direito a Frente pode se desfazer uma vez que seus objetivos principais forem atingidos.

  4. PSB com PT – possível nessa Frente Ampla

    Vou repetir aqui, no contexto da FRENTE AMPLA defendida pelo Wilson uma possiblidade factivel a ser trabalhada pelo Lula-Presidente. A política é a arte do possível, ensinou Bismarck.

    Com a anunciada filiação do ex-Ministro Joaquim Barbosa ao PSB – ele que sempre declarou ter votado em Lula e Dilma – se credencia a ser o Vice que surpreenderá a direita o oferecerá ao PT a oportunidade: fez a autocrítica dos erros cometidos pelo pragmatismo do passado recente.

    Antes que os petistas, precipitados e inconsequentes como sempre, desmerecem os aliados (indispensáveis) lembro que ficaram em silêncio com as alianças espúrias – bancadas B,B,B – (Bíblia, Bala e Boi), e diante do ´xadrez´ nacional, aqui uma análise de conjuntura do PSB que poderá agradar ao PT.

    Para início de uma aliança sincera, verdades há que ser ditas. Uma delas: dos 400 picaretas hoje no Congresso Nacional, pelo menos 250 – BBB´s – foram eleitos sob as alianças lideradas pelo PT nos estados e que bandearam para a oposição sob o ´comando´ de Cunha e Temer, dois golpistas que o PT fez Presidente da Câmara e Vice-Presidente da República, é bom que se lembre e não se omita.

    As forças de centro-direita estão muito bem articuladas. A candidatura Alckimin-PSDB, em provável aliança com o PMDB e DEM disputará o voto conservador e evangélico com o Bolsonaro para ida ao segundo turno.

    A centro-esquerda dividida, sem uma FRENTE AMPLA, não chegará a maioria no 2o turno. Certo?

    Eis então um cenário possível e factível. PT e PSB poderão (e deverão) caminhar juntos. Já estivemos em 1989; em 2002; 2006; 2010. Não estivemos em 2014 pois era evidente que o desgoverno DILMA estava ruindo aos pedações. Somente o PT não quiz ver.

    PSB é único partido de centro-esquerda com boa base em diversos estados e forte candidatura a governdor em São Paulo (Márcio França atual Vice governador que assume no final de março/18 com a candidatura de Alckimin a Presidente) já tem uma forte aliança com as bases municipais do estado.

    No PSDB, a candidatura de ALCKIMIN terá que ceder ao grupo Serra-FHC-Aloisio a candidatura ao governo de São Paulo. Serra ou Dória será candidato em São Paulo.

    Porém, MARCIO FRANÇA-PSB no exercício do governo do estado também não abrirá mão da reeleição. E para ajuda-lo precisa de uma forte aliança nacional e o PT/LULA – por nossas afinidades histórias com LULA desde 1989. No segundo governo LULA, então Deputado Federal, FRANÇA foi líder ou vice-líder do governo, com excelente resultados.

    Uma chapa em São Paulo PSB-PT ao governo do estado, com a boa costura nas bases municipais que MARCIO FRANÇA já tem consolidado e aprofundará com o exercíco do governo poderá enfrentar o PSDB que, pela primeira vez, em 24 anos, disputará o governo do estado, sem o poder do Governador.

    Com Joaquim Barbosa viabiliza ao PSB oferecer a LULA um nome nacional consolidade. O melhor VICE numa chapa com LULA PRESIDENTE, pois ele seria para o povão das regiões sul, sudeste e centro-oeste o mesmo que foi ZÉ ALENCAR para a classe média em 2002. Um fator de centro com garantia e credibilidade popular.

    A presença de JB será um aval contra os abusos da ´Lava-Jato´ e um aval político a LULA. Será também uma oportunidade do PT demonstrar que aprendeu a não ´conviver com o inimigo´ – a quadrilha do PMDB – e que não vacilará mais com a corrupção dos grandes grupos econômicos nem  terá como parceiros preferenciais os partidos fisiológicos: Valdemares, Jeffersons, Pedros Correias, Geddel´s, Cunhas, Henriques e outros do tipo.

    Com apoio de uma forte Chapa a Presidente – PT-PSB, viabilizada uma aliança com o PT em São Paulo, elegendo o governador do PSB em São Paulo e LULA a Presidência da República.

    Lembro que o LULA na Presidência jamais teve o apoio de São Paulo e de Minas. Imaginemos um governo LULA com apoio dos governos de São Paulo, de Minas e do Rio de Janeiro além do nordeste e outros estados medianos?

    Quem viver, ou quem sobreviver às fortes emoções de 2018, poderá sonhar e verá! É possível.

  5. Ampla
    Acredito em “frente ampla” mas não em candidatura única. Pelo simples fato de que os debates televisivos exigem isso para que o tempo não seja monopolizado. Além disso o lawfare vai estar a pleno vapor durante a eleição e precisamos de um várias frentes.

  6. Partidos do ressentimento condenados ao esfarelamento

    “Lula, eu já te odiei tanto; e agora, eu te amo tanto!”

    “…e o Lula, como personagem político, é uma figura que consegue, a meu ver, produzir na população brasileira, que consegue ultrapassar essa questão da vergonha do seu legado de classe, um profundo amor contra o  ressentimento.”

    “Assim como eu aprendi a reconhecer na dor a partir da qual você fala a minha própria, eu também aprendi a reconhecer na alegria com que você se expressa a minha própria.”

    Trechos do discurso histórico e antológico da filósofa e escritora Márcia Tiburi, ex-psol, no encontro de intelectuais e artistas com Lula, no último dia 09/12, no Rio de Janeiro.

    https://www.facebook.com/LeonelD.Jr/videos/365147257271175/

    https://www.ocafezinho.com/2017/12/10/o-discurso-de-marcia-tiburi-no-encontro-de-intelectuais-com-lula/

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