Enviado por Alexandre Tambelli
Para uma boa discussão no Blog: os jovens candidatos dos partidos de esquerda, nascidos das manifestações de junho de 2013. Matéria do SUL 21.
Do Sul 21
Caio Venâncio
Em junho de 2013, milhares de brasileiros saíram às ruas do país para lutar pela qualificação do transporte público, a moralidade na política e outras pautas, num fenômeno de indignação difusa que surpreendeu a todos. Agora, mais de um ano após este levante popular, parte daqueles que gritavam nos protestos se tornaram candidatos de diferentes partidos e disputam espaços na política tradicional, ainda que outros manifestantes repudiem a opção pela via eleitoral. Nas propostas, estes concorrentes a deputado estadual, federal e até mesmo a vice-governador, a maioria deles jovens, já se mostram afinados com a voz das ruas: muitos falam em passe livre no transporte coletivo e pregam a desmilitarização da Polícia.
Candidata a vice-governadora na chapa de Roberto Robaina (PSOL), a jornalista Gabrielle Tolotti, também do PSOL, refuta o rótulo de figura central nas manifestações e, assim como todos os demais candidatos ouvidos pela reportagem, se coloca como mais uma pessoa entre tantas outras que esteve nos atos, onde não poderiam ser apontados líderes. Em junho, as instituições políticas tradicionais foram bastante questionadas, mas Gabrielle justifica de forma sucinta o porquê de disputar este mesmo espaço. “Não existe lacuna na política. Não podemos abrir mão desta disputa e deixar que apenas as expressões do retrocesso e do continuísmo em nosso país se apresentem”, justificou.
Se vier a ocupar o Palácio Piratini, a jornalista colocaria como tema central a dívida pública do Rio Grande do Sul, que atualmente inviabiliza investimentos do governo do estado. “Não queremos calote, queremos a auditoria da dívida, um instrumento legal que já foi usado no Equador e não levou este país ao caos que alguns propagam. Só assim poderemos oferecer a saúde e a educação de qualidade que o povo tanto demandou”, garantiu.
Para contemplar as reivindicações em torno do transporte, ela acredita que uma empresa nos moldes da Carris deveria ser criada para atender a população e servir de modelo para as demais responsáveis pelos ônibus na região metropolitana.
Passe livre
Pleiteando uma cadeira no Câmara dos Deputados, o estudante de Ciências Sociais Lucas Maróstica, também do PSOL, aprofunda o debate em torno do transporte público. Ainda em campanha, ele trabalha na construção de um projeto de lei pelo passe livre nacional. Uma proposta semelhante foi apresentada no Congresso Nacional no ano passado, mas ela não trazia a informação de qual seria a origem do dinheiro para que isso fosse possível.
A diferença da nossa ideia é esta. Estou construindo isto juntamente com economistas e já definimos que esta verba deve vir de um imposto sobre grandes fortunas. ‘Os ricos devem pagar a conta’, era isso que se dizia nas ruas”, recorda. Ativista da causa LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), Maróstica ressalta que este também será um eixo central de sua campanha, que tentará combater a bancada evangélica.
“Além disso, aqui no Rio Grande do Sul, queremos que esta campanha marque a aposentadoria de figuras como Luiz Carlos Heinze (PP)”, declarou, referindo-se à polêmica criada pela divulgação de frases e discursos do deputado federal, em referência à negros, índios e gays como “tudo o que não presta”.
Militante do PSTU, Matheus Gomes, também conhecido como Gordo, esclarece que seu partido disputa as eleições já tendo a consciência de que, no atual modelo político, elas são comandadas por aqueles que têm maior poder econômico.
Mesmo assim, o estudante de História frisa que é importante se valer deste momento de debate para apresentar um projeto de transformações radicais, porém a mobilização deve ser permanente. No momento, o jovem candidato a deputado federal, assim como Lucas Maróstica, Rodrigo “Briza” Brizola e outros militantes do Bloco de Lutas pelo Transporte Público, está sendo indiciado por sua atuação em protestos no ano passado.
A crítica à criminalização dos movimentos sociais é também um eixo de campanha, bem como a legalização da maconha, a desmilitarização da polícia e o fim daquilo que chama de “genocídio da juventude negra da periferia”. “Algumas destas pautas já eram conhecidas há muito tempo por aqueles que vivem nos bairros mais pobres, mas entraram no debate público a partir do ano passado, quando, nos protestos, pessoas de todas as classes sociais se deram conta do quanto a Polícia Militar é violenta e antidemocrática”, analisou.
Sem Medo
Membro da organização, o ex-presidente e fundador da Frente Nacional de Torcedores (FNT), é candidato a deputado federal pelo PT. Nas urnas, seu nome será João Sem Medo, uma referência ao técnico da Seleção Brasileira nos anos 1960 e comunista João Saldanha, além de um indicativo, assegura ele, de que não terá receio “dos ricos, dos protestos, da Polícia Militar, da grande mídia ou de quem quer que seja”.
Filiado a um partido que está atualmente à frente do governo estadual e federal, o advogado não vê isso como um impeditivo para que sua candidatura traga elementos daquilo que se viu e ouviu pelas ruas do país durante as manifestações.
“A denúncia que foi feita não era contra um governo, mas sim um sintoma de uma crise de representatividade, de problemas do capitalismo também. Nossa organização não está no governo, não possui cargos. No entanto, o PT é o único partido de esquerda com verdadeira viabilidade eleitoral pra conter a direita do PSDB e da Ana Amélia (PP).
Chegando ao poder, continuaremos combatendo as contradições destas gestões, colocaremos o dedo na cara da presidente pra dizer que a Dilma que queremos é a guerrilheira, a das lutas”, prometeu. Ainda neste tema, João Hermínio aponta que sua candidatura vai ser também o fortalecimento da proposta de um Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva pela Reforma Política. Para ele, esta é uma luta que deve ser feita com urgência na “democracia burguesa” e que atenua a crise de representatividade.
Candidato a deputado estadual pelo PCdoB, Roger Corrêa, atualmente vereador em Novo Hamburgo, é mais um a entusiasmar a reforma política. Enquanto ela não ocorre, contudo, é preciso disputar os espaços mesmo assim. Fazendo parte de um partido que é base de apoio dos governos Tarso e Dilma, exercendo um mandato voltado para a juventude, movimento estudantil e os trabalhadores, Roger lembra que é necessário ser consequente e buscar o diálogo para atender a indignação explosiva das ruas.
“Governos têm o poder de promover mudanças muito grandes. Tarso, por exemplo, escutou as vozes dos jovens e criou o passe-livre estudantil intermunicipal, que foi uma grande conquista”, define. Conquistando uma cadeira na Assembleia Legislativa, o vereador hamburguense pretende defender ideias como as ciclovias, os direitos dos animais e o desenvolvimento econômico e social de sua região.
Parlamento burguês
Descrente do sistema político eleitoral, o educador social Rodrigo “Briza” Brizola, morador e militante do assentamento urbano Utopia e Luta, além de figura atuante do Bloco de Lutas pelo Transporte Público, acredita que não vale a pena participar da disputa pelo “parlamento burguês”, que classifica como espetáculo. “Nossas urgências não cabem nas urnas, nós confrontamos este modelo, queremos a democracia de base, com lutas independentes de pátria, partido e padrão”, expôs. “Briza” explica que, junto a seus companheiros de militância, reivindica a reforma agrária, a reforma urbana e a desmilitarização da polícia. No Bloco de Lutas, ele esclarece que não há espaço para que ninguém se promova politicamente a partir do coletivo. “É uma organização autônoma e horizontal, não serve para alavancar a campanha de ninguém. Não estou preocupado com candidatura de fulano ou beltrano. Respeito os companheiros que optaram por este caminho, mas que o trilhem longe do Bloco. No Utopia e Luta, nossas bandeiras seguem tremulando negras e vermelhas”, esclareceu.
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Perguntar não ofende 1, 2, 3…
Perguntar não ofende:
1) E quantos integrantes das manifestações se candidatarão por partidos de direita?
2) Se é para integrar parlamentos burgueses, por que alguns jovens de esquerda se candidatarão?
3) Ouvi várias vezes durante os protestos que não haveria nenhum dos participantes que rumaria para a política institucional e partidária. Mudaram de opinião por que?
“3) Ouvi várias vezes durante
“3) Ouvi várias vezes durante os protestos que não haveria nenhum dos participantes que rumaria para a política institucional e partidária. Mudaram de opinião por que?”:
Que eu saiba e se nao me falha a memoria, Marcos, so os manifestantes de Sao Paulo falaram isso, e em nome de todos os outros.
Definições indefinidas
É possível, até porque nesses protestos “espontâneos” geralmente surgem “organizadores” e “porta-vozes” para “dirigir” as multidões (bem, agora as elas não passam de uns 300 gatos pingados) e dizer que elas são isso e significam aquilo e vão sabe-se lá para onde…
Duas questões me vieram em
Duas questões me vieram em mente ao ler esta reportagem.
1) A realidade da Política se faz nos partidos políticos. Muitos dos jovens de junho de 2013 aprendendo que mudanças desejadas se fazem através de candidaturas, eleições e vida parlamentar.
Não sei se algum desses jovens será eleito, mas é interessante ver a juventude de esquerda na Política partidária. Veremos a diferença entre querer e poder.
2) A desmistificação de parcelas desses jovens idealistas de que a horizontalidade e o apartidarismo eram capazes de por si só de transformar seus ideais em situações práticas.
Interessa dizer que o discurso da horizontalidade e apartidarismo do MPL e outros jovens das jornadas de junho de 2013, hoje, não mais são unanimidade ou preferência.
A extrema-esquerda parece que arregimentou boa parte dessa juventude, que, talvez, como muitos diziam, já era militante dos partidos: PSOL e PSTU.
Vamos ver onde se pode chegar a partir do novo status de candidatos. É bom ver a juventude em ação nos partidos políticos de esquerda e extrema-esquerda. Nós precisamos de Legislativos e Executivos antenados com os anseios dos jovens, com os anseios de um Brasil desenvolvido, soberano e com Justiça Social.
Vai ser interessante a discussão por aqui sobre a mudança de paradigma de parte desses jovens, a realidade cobra o engajamento via partido político ou apenas uma visão mais anárquica consegue as reivindicações almejadas?
Sim, concordo; talvez as
Sim, concordo; talvez as manifestações tenham sido uma vitrine para pequenos partidos. Vão ter que debater isso mas, pelo menos, faz algum sentido.
Ué? Eles não eram
Ué? Eles não eram apartidários? Quem diria hein ?
São, no fundo, proto-ditadores: “Se a passagem não aumentar Porto Alegre vai parar”.
Isso é lema autoritário. Meia dúzia de coxinhas revoltados querem controlar a vida de cidades com mais de 1 milhão de habitantes.
Aí tá certo. São candidatos,
Aí tá certo. São candidatos, tem partidos; apresentam suas propostas e vão debatê-las com representantes de outros segmentos. Isso é política; parabéns e boa sorte.
E, sim, concordo que terão que estar preparados para enfrentar questões vindas de outros candidatos com relação às depredações, apartidarismo, etc.. mas aí os outros candidatos tb terão pontos a serem questionados por eles. O que importa, é que são/serão novas lideranças.
Será que aquele gordinho da
Será que aquele gordinho da Veja, aquele apresentado como a voz das ruas (e que descobriu-se, depois, ser figurante ou qualquer outra coisa da Globo) sairá candidato?