Xadrez do pós-Lula e o fator Ciro, por Luís Nassif

Ponto 1 – o avanço do Estado de Exceção

Se havia alguma dúvida sobre o Estado de Exceção, deixou de existir no julgamento do habeas corpus de Lula.

Não se alimentem esperanças com novos habeas corpus, novas discussões sobre prisões em 2ª instância, qualquer atitude digna do STF (Supremo Tribunal Federal) reconhecendo direitos de Lula. O último julgamento demonstrou que a única lógica que vigora no STF é a da prisão e/ou impedimento eleitoral de Lula.

 A cena final, do Ministro Marco Aurélio espicaçando a presidente Carmen Lúcia, colocando a nu suas manobras processuais,  comprova que ela perdeu até o mais básico dos fatores de contenção: o pudor. Se, na próxima 4ª feira, Marco Aurélio de Mello conseguir colocar em votação a questão das ADCs (Ação Direta de Constitucionalidade) sobre prisão em 2ª instância, ou a Ministra Carmen Lúcia tem um ataque de pânico, ou alguém Ministro pede vista ou a douta Ministra Rosa Weber mudará de opinião, em cima de um novo voto escrito em puro javanês.

Aliás, a contra-ofensiva de Carmen Lúcia foi a de pautar o julgamento de habeas corpus de Antonio Palocci e Leo PInheiro. Como HCs têm prioridade, echa a pauta para o julgamento das ADCs. Ontem, os bravos juristas da Globonews não se cansaram de elogiar a esperteza de Carmen.

Os distintos Ministros rasgaram as respectivas becas e as posições de dignidade, por lá, sempre serão minoritárias.

Esse liberou geral decorre da crise do Executivo. Sem Executivo forte, abrem-se os portões dos estábulos e de potrinhos a cavalos velhos, todos saem derrubando as cercas e gozando da liberdade de um país com a Constituição pisoteada.

Ponto 2 – a inviabilidade da pax lulista

A grande contribuição de Lula à história, além do combate à miséria, foi a visão nacional de busca de consensos. Esse trabalho permitiu 10 anos nos quais o país avançou em políticas educacionais, tecnológicas, industriais, regionais, nas políticas sociais de ponta.

Trouxe lideranças empresariais de visão – como Luiz Furlan, Roberto Rodrigues -, diplomatas experientes, grandes formuladores de políticas sociais, movimentos sociais e, gradativamente, empurrou o governo para o centro-esquerda.

A polarização alimentada pela mídia explodiu esse consenso. Um Executivo extremamente fraco e ingênuo, conferindo autonomia total ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal, descuidando-se do STF, do Judiciário, permitiu o avanço ilimitado das corporações. Elas simplesmente ocuparam o vácuo deixado pelo Executivo e ampliado pelo bate bumbo da mídia.

O primeiro passo para a volta da governabilidade, portanto, será recuperar o poder do Executivo. E, aí, sem a ingenuidade de supor ser possível recuperar o país sem conflitos políticos.

Ponto 3 – o papel restaurador das eleições e o caminho da governabilidade

Há dois desafios pela frente.

O primeiro, a garantia das eleições. Nos próximos meses haverá uma tentativa insana de diversos setores para adiar as eleições.

O segundo, a garantia da governabilidade.

Eleições têm o condão de resetar o HD institucional. O presidente sempre dispõe de poderes amplos, desde que saiba utilizá-los, especialmente em relação às corporações públicas que assumiram as rédeas do Estado.

Pela Constituição, Procuradores Gerais são demissíveis a qualquer momento; a lista tríplice para Procurador, uma invenção do próprio Ministério Público, não prevista na Constituição, certamente será abolida. Aliás, no site da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) fica claro qual o objetivo maior da lista tríplice: “O chefe do Executivo pode avaliar os anseios da carreira antes de repassar ao Senado Federal o nome do indicado”.

Com o fim da Lista Tríplice, os anseios da carreira voltarão a ser o de bem servir ao país e à Justiça, e a condenar as demonstrações vergonhosas de poder deslumbrado, de atos arbitrários de um poder que, por algum tempo, perdeu a noção de sua missão.

Um Ministro da Justiça com autoridade enquadra a Polícia Federal. Haverá um Congresso horroroso, mas manejável com um mínimo de habilidade política.

Há, enfim, a figura do Conselho da República, que poderá ser invocado e se tornar o fórum para uma repactuação política. Previsto na Constituição, todos os integrantes são membros do Executivo e do Legislativo ou indicados por quem detenha votos, sem risco de apropriação pelas corporações do Estado ou pelo Partido do Judiciário.

Integram o Conselho:

•          O Vice-Presidente da República

•          O Presidente da Câmara dos Deputados

•          O Presidente do Senado Federal

•          O Líder da Maioria na Câmara dos Deputados

•          O Líder da Minoria na Câmara dos Deputados

•          O Líder da Maioria no Senado Federal

•          O Líder da Minoria no Senado Federal e o líder do Congresso, sendo nomeado pelo órgão constituinte.

•          O ministro da Justiça

•          6 cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 anos de idade, sendo 2 nomeados pelo Presidente da República, 2 eleitos pelo Senado Federal e 2 eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.

Ponto 4 – Ciro os novos blocos de poder

O ponto central é quem irá para o 2º turno e como montar um novo pacto de governabilidade. Com a fragmentação partidária, o 1º turno das eleições será uma confusão só.

Se tivesse uma bússola menos descontrolada, porta estaria aberta para Ciro Gomes. Ele tem algumas vantagens relevantes, especialmente para a atual quadra da história:

  • É afirmativo, às vezes até em excesso;
  • Tem uma ótima percepção sobre políticas públicas, com noção clara sobre as complementaridades Estado-iniciativa privada, papel das políticas sociais, da educação.
  • Tem um projeto nacional, em consonância com os desenvolvimentistas históricos e com os segmentos industriais.
  • Tem noção clara sobre o excesso de poder de corporações e mídia.
  • Empunhou desde cedo a bandeira da anticorrupção contra o PMDB e o PSDB.
  • Não foi envolvido em escândalos até agora.
  • Tem histórico de lealdade com os governos aos quais serviu, incluindo o de Lula.

Seu problema é mirar vários alvos simultaneamente e acabar se enrolando nas suas estratégias.

  • Para não perder a onda anticorrupção, costuma endossar a Lava Jato e os julgamentos do TRF4.
  • Ao mesmo tempo, sabe que Lula tem sido alvo de perseguição política por parte do Judiciário. Costuma se enrolar tendo que defender Lula, sem se expor ao pensamento monofásico dos punitivistas.
  • Apesar do seu histórico nos governos petistas, não quer se contaminar junto às camadas antipetistas da população. Quer representar o gestor moderno, que o PSDB sempre prometeu a seus leitores, sem nunca conseguir entregar. E está fugindo do PT como o diabo da cruz.

E aí entra em uma sinuca.

Ponto 5 – os dilemas de Ciro

As guerras políticas dos últimos anos, estratificaram dois blocos antagônicos: de um lado, o petismo baleado; do outro, Judiciário, Ministério Público, estamento militar, mídia e grupos empresariais, tendo em comum apenas o antipetismo mais visceral – que, aliás, serviu de álibi para a implantação do Estado de Exceção.

O novo presidente terá que montar um novo pacto, romper com a polarização e ter energia suficiente para enquadrar os recalcitrantes.

Ciro conta com a possibilidade de, indo para o 2º turno com um candidato de direita (Bolsonaro ou Alckmin), a esquerda petista não ter outra alternativa senão a de votar nele.

A questão é chegar ao 2º turno. E Ciro anda criando problemas de graça para sua candidatura.

Tempos atrás, teve oportunidade de fechar uma dobradinha com Fernando Haddad – este, de vice. Seria o time dos sonhos para as esquerdas e os desenvolvimentistas. Para fora, Ciro fazendo política e recompondo a base de aliança para garantir a governabilidade. Para dentro, Haddad suprindo um dos grandes problemas de Ciro: a falta de paciência com os movimentos sociais e os sindicatos. E administrando o dia a dia dos planos de governo.

Como nem Haddad, menos ainda Ciro, podem ser confundidos com o petismo tradicional – aquele que tira o sono da classe média -, seria uma maneira de ampliar as alianças sem jogar fora o acervo precioso do lulismo.

Mas, ao que tudo indica, Ciro está abrindo mão dessa possibilidade de receber parte do legado de Lula.

Com a proliferação de candidaturas, corre o risco de não passar para o 2º. O ex-Ministro Joaquim Barbosa deverá repartir com ele a colheita da anticorrupção.

Lula está francamente contrariado com sua falta de solidariedade.

No palanque de São Bernardo, os elogios que Lula fez a Guilherme Boulos, do PSOL, apresentando-o como o novo na política, foi uma forma indireta de cutucar Ciro.

Da parte de Haddad, sua presença discreta no palco foi decisão pessoal, para não parecer estar explorando politicamente uma tragédia política, como ocorreu com os funerais de Eduardo Campos. Mas sua posição é de total acatamento do que Lula determinar. Se quiser que seja candidato a presidente, será; se quiser que se apresente como vice de Ciro, irá; se quiser que se candidate a Senador, se candidatará.

Esses são os dados que deverão ser jogados até fins de maio, quando será dada a largada para as elelições.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Para deixar bem claro:
    Se

    Para deixar bem claro:

    Se houver um segundo turno entre Ciro e Bolsonaro, eu voto nulo.

    E milhões de eleitores farão o mesmo.

    Então não é por aí.

    O PT terá candidato.

    E, no improvável caso de não ter, apoiará Manuela ou Boulos.

    E Ciro vai morrer abraçado com a histeria "anti-corrupção".

    • Manuela e Boulos ainda são

      Manuela e Boulos ainda são novos, devem se candidatar a dep federal e serem puxadores de votos em seus estados. 

      Dividir ainda mais a esquerda para que ?

      Não faz sentido. 

       

    •  Então pela tua covardia, o

       Então pela tua covardia, o nosso país, o país dos teus e meus filhos e netos, vai se F*.

      • Judas

        Quem trai pessoas, trai ideias.

        Covardia coisa nenhuma. É preciso enfrentar desde já o fantasma dessa candidatura desagregadora e irresponsável. E a melhor maneira de enfrentá-la é ser claro: é uma candidatura inviável, por que não vai ter votos daqueles a quem ele traiu.

        Covardia é votar no inimigo mais simpático.

        • Lula está vivo - LulaLivre

          Um tanto fora do tempo esse artigo do Nassif.

          O pulso ainda pulsa e o Ciro vai cumprir o prometido: ¨...a gente vai lá e sequestra ele...¨

          Do boquirroto em alto e bom som, aos 2:40s

          [video:https://youtu.be/98-CF9FnYys%5D

          maldito videotape

           

        • Aplausos, aplausos. A

          Aplausos, aplausos. A diferença entre Alckmin/Ciro e Bolsonaro é que aqueles  matam em banho-maria e o último pode levar a uma contradição e violência tão absurdas, que a consciência das pessoas terá que dar um salto à frente.

    • Então vai ser Bolsonaro

      Se Ciro não deslanchar, então Bolsonaro vai vencer, e o pior que a maior parte da esquerda pensa assim.

      Aí as esquerdas serão completamente perseguidas, eliminadas, e quem sabe até apagadas dos livros de História? Desta vez, provavelmente  os militares  não vão cometer os mesmos erros de deixar vivos os opositores que poderiam suscitar as diretas já...

      Bom, então venha o que tiver de vir, e nos veremos de novo em 1964, com os militares no poder, fazer o que.

    • Bolsonaro x Alckmin

      Entre Bolsonaro e Alckmin, o voto util sera por Bolsonaro. Porque Alckmin tem mitomania e co-autoria do golpe, ja Bolsonaro pelo menos vai enquadrar a farsa a jato (ou voces acham que vai deixar alguem mandar mais que ele?)

      ONDE/Quando saiu esse convite de Ciro presidente com Haddad vice?

       

  • Ciro realmente está fazendo

    Ciro realmente está fazendo tudo errado. 

    No 1 turno ele só precisaria do apoio de Lula e pronto, estaria no 2 turno. 

    Ai no 2 poderia se descolar de Lula tranquilamente. Com Haddad de vice seria perfeito. 

    Mas no 1 turno, sem Lula, com este apoiando outro candidato, provavelmente Haddad, o mais óbvio é que Haddad tenha mais votos que Ciro. 

    O grande perigo é nenhum deles irem ao 2 turno. 

    Um segundo turno Bolsonaro x Alckmim ou Bolsonaro x Barbosa, ou Marina, ou A. Dias, seria bizarro e trágico para a centro esquerda e para o País todo. 

    O melhor para a centro esquerda, a meu ver, seria a união. 

    Boulos e Manuela saindo para dep. federal, puxadores de votos. Assim como Dilma em Mg. 

    Se possível, Ciro e Haddad juntos, senão, Haddad sozinho. 

    Um segundo turno Haddad x Bolsonaro seria o sonho. Haddad poderia galvanizar, talvez até todos os outros candidatos em seu apois. Até a Globo balançaria. Iria apoiar Bolsonaro ? Duvido.

    Mas para isso o PT precisa começar a agir e agir com estratégia. 

    Ciro, pelo jeito, vai ficando pelo caminho. 

    Haddad tem que crescer e aparecer. 

     

  • Lula Livre

    O Ciro não teve a grandeza de comparecer ao ato em São Bernardo, mas este nem é o principal poblema. Há tempos ele vem demonstrando uma torcida latente pela não participação do Presidente Lula nas eleições, algo desleal, por isso nunca terá o meu voto. Quanto à análise, por mais que devamos ser realistas, certas posições e/ou comentários podem gerar desânimo nos que lutam pelo restabelecimento de direitos. Precisamos ser propositivos e expor aos quatro ventos a injustiça que está acontecendo, e não ficar conjecturando possíveis cenários derrotistas.

  • AMEAÇA CONTRA A VIDA DE LULA DURANTE O VOO

     

    Primeiro, o áudio foi publicado no Face do deputado federal Décio Lima, do PT:

     

    [video:https://www.facebook.com/deciolimapt/videos/1888655961204943/%5D

     

    Duvidaram que fosse verdade. Há quem duvide  quando lê uma notícia de barbárie contra a esquerda em um endereço livre. Deveria ser o contrário. Mas agora acreditam: o Globo e a Veja confirmaram o áudio com ameaças à vida de Lula durante o voo para a prisão https://oglobo.globo.com/brasil/vaza-audio-de-voo-com-lula-para-curitiba-leva-nao-traz-nunca-mais-22570705

     

    Também no Correio Braziliense

    https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2018/04/08/interna_cidadesdf,672090/manda-esse-lixo-janela-abaixo-ai-lula.shtml

  • Ciro é muito mais do que uma

    Ciro é muito mais do que uma análise que o PT faz agora, possa parecer.

    Ciro é uma especie de adivinho do quadro político brasileiro, basta ver seus vídeos n oYouTube, datados de 2009, 2012, 2014, e por aí vai.

    Ele cantou a bola do Temer, do Cunha, do afastamento da Dilma, muito antes destes estarem nos radares dos mais astutos analistas políticos.

    É óbvio que Ciro tem um pouco de ressentimento sobre ele ter sido o candidato em 2010, que aliás teria sido ótimo,com um vice do PT que estaria capacitado a sucedê-lo em 2018.

    E ele tem toda razão quando aponta o egoísmo do PT como inconveniente, pois o partido esfarelado insiste em ter candidatura própria, ao invés de buscar uma composição com ele que nunca traiu ou deixou na mão o partido. Esta composição qualificaria um vice do PT para sucedê-lo, afirmo novamente.

    Ciro trabalhou para impedir o golpe já na questão do mensalão em 2005. Em 2015 estava circulando o país participando de eventos condenando o golpe e se oferecendo para atuar diretamente na linha de frente do governo.

    Porém Dilma preferiu ficar com figuras como Eduardo Cardoso que até saiu do goveno no final.

    E vejam que ela deixou de indicar um Ministro com 'M' maiúsculo como Aragão, por mero capricho partidário, Aragão teria sido um ministro da justiça muito mais eficaz e até um ministro do STF muito melhor do que as indicações desastrosas e traidoras que foram feitas.

    Com Ciro a questão é parecida. Por mero capricho o partido vai perder a melhor oportunidade, talvez a única forma de manobrar no cenário brutal que se apresenta, para indicar um nome que tem enormes chances de nem ir ao 2º turno.

    • Democracia brasileira

      Sou palmeirense.

      Não assisti ao jogo. Soube que perdemos nos pênaltis.

      Não fiquei triste porque pela primeira vez na história uma derrota do meu time serve para algo importante para o país e para mim, pessoalmente.

      Quase torci pelo time adversário só por ele, nosso Lula, mas o máximo que consegui foi não torcer pelo meu nem considerar o que houve hoje uma derrota, ao contrário, como nos tempos do dr. Sócrates, foi uma vitória da democracia brasileira pelos pés corintianos, e nos tempos que correm, nossos piores adversários estão em outro campo, onde não há alegria digna de respeito. 

       

      Parabéns ao Sport Club Corinthians - que teria feito meu saudoso tio João também muito feliz - e que o time honre a história de defesa da democracia no esporte e através dele, construída por dr. Sócrates, Casagrande, Biro Biro, Wladimir e outros, e grande parte de sua torcida nas periferias do Brasil. Parabéns principalmente por ter feito a alegria de alguém tão importante para o Brasil, e para nós militantes de esquerda, nosso Lula, prisioneiro político  do neofascismo brasileiro que é inimigo de todo povo. 

       

      Ao meu time, o Palestra, parabéns pela campanha; como torcedora continuo orgulhosa - menos pela fulana que pretende comprar o time. Hoje, uma vitória teria, para mim, um gosto amargo. 

      Aos coxinhas, palmeirenses e corintianos, nada a declarar - exceto que o país para mim está acima do futebol, portanto, estamos em lados opostos e dispenso opiniões futepolíticas sobre o meu comentário. 

       

       

      SÓCRATES BRASILEIRO - de José Miguel Wisnik - com Ná Ozzetti 

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=JBpBlHHUjG4%5D

      https://www.youtube.com/watch?v=JBpBlHHUjG4

       

       

      Sampa/SP, 09/04/2018 - 00:58 (alterado às 01:13).

      • Não consegui lhe dar as merecidas estrelinhas!

        Problemas no site.

        Também sou Palmeirense, aliás, era pois agora sou Lula e o cabra é Corinthiano!

        Então, torci para o Corinthians, só para dar ao Lula uma pequena alegria, mas também por causa disto:

  • Uma coisa que não entendo

    Uma coisa que não entendo nesta e na maioria das análises é a variável golpe.

    Na tentativa de tentar entender como essa questão é apresentada, imagino que ela é vista como algo menor. Tipo: ontem houve um golpe, mas hoje as instituições voltaram a funcionar, logo, amanhã haverá eleições livres e democráticas.

    Nesse caso, o golpe teria sido dado por conta de uma questão também menor, do tipo: havia um governo frágil e incapaz e, por isso, foi derrubado. Afinal, a economia não pode parar, precisa funcionar bem. Em suma, não houve nenhuma transformação de maior vulto no regime político e na condução da política econômica do país. Por isso, em novembro teremos eleições normais. E daí a análise dos prováveis candidatos, suas alianças e suas probabiliades de vitória.

    Por outro lado, o articulista afirma com todas as letras que houve a "implantação do Estado de Exceção".

    Ué, mas se é assim, então estamos vivendo sob um regime golpista que somente fará eleições se for para se perpetuar no poder.

    Volto a não entender. O golpe é algo central ou periférico?

    E quando digo central, quero dizer que um grupo político-econômico apropriou-se do poder Estatal para realizar um determinado projeto. Logo, o que rege a disputa pelo poder não são mais eleições democráticas, mas uma queda de braço onde de um lado há uma aliança entre uma minoria formada pelo grande capital internacional, o aparato do Estado e pequenos e médios proprietários e, de outro, as massas. Isto é, a grande maioria do povo pobre e trabalhador, mais de cento e cinquenta milhões de brasileiros.

    Eleições democráticas, no caso, seria franquear a participação de todos na decisão sobre os rumos da política econômica do país. E o problema é o Lula, que desequilibra para o lado dos cento e cinquenta milhões de pobre e remediados.

    Repare a equação. Para incluir todos os brasileiros é preciso usar todo o potencial econômicoo. Mas, para garantir uma vida modesta, de classe média, para vinte por cento da população, basta usar uma pequena parte dos ativos, recursos naturais e mercado interno, a outra, maior, é possível abrir mão para o capital internacional, numa relação de subordinação estratégica.

    Esse é o golpe.

    E, por isso, não haverá eleições. A menos que as massas assalariadas e miseráveis sejam despertadas de seu torpor por lideranças políticas progressistas e nacionalista. E aí está o porquê da prisão de Lula.

    Para encerrar. Ou as lideranças progressistas e nacionalistas primeiro despertam as massas, para, diante disso forçar as forças golpistas a aceitarem um processo eleitoral democrático, ou esse processo não existirá. Em outras palavras, ou as forças nacionalistas progressistas têm capacidade para mobilizar as massas a ponto de forçar os golpistas a libertarem Lula e realizarem eleições livres, ou não haverá eleições, a menos que elas sejam para referendar o projeto de poder golpista.

    Parece que é isso que o ego do Ciro não o deixa entender. Embora o gesto do Lula com o Boulus e a Manuela tenha tentado mostrar.

     

    • Também não entendo

      Tomaram o poder pelo golpe. Em seguida retoma-se à normalidade democrática?

      O Lula, ao meu ver, não foi preso apenas para inviabilizar a sua candidatura. Iriam torná-lo inelegível, negando ou não os HCs, conforme, aliás, declarou o Ministro Gilmar Mendes. O objetivo de sua prisão é privá-lo do contato com o seu povo, os mais humildes, essa massa que, uma vez rebelada, assusta. E quantos líderes existem no mundo com tamanha empatia e comunicação com os de baixo? Por isso, querem  romper esse vínculo,  mantê-lo preso até que a morte o liberte. Nenhuma condenação será revista em instâncias superiores e vem mais por aí, além dessa do maldito triplex. E nem sei se o PT sobrevive, se já não está no forno um processo que o exclua do cenário político. 

      Quanto ao Ciro Gomes, está enturmado com os novos ares. E não quer perder a chance de tornar-se Presidente do Brasil, mesmo numa eleição, digamos, pouco transparente (se houver). Sua falta de solidariedade ao Lula  neste momento tem a ver com isso. 

       

  • Alianças e palanques estaduais

    Nassif, 

    Boa análise. Só faltou um elemento essencial. Ciro terá palanques muito fortes em diversos estados, ao contrário do PT, que está cometendo um gesto suicida ao investir na candidatura Lula até agosto, quando não vai haver mais tempo de construir alianças. Se o Ciro já tem 10% agora, imagina com o apoio de candidatos favoritos ao governo e ao senado no Brasil inteiro. Vai bater 15% fácil. Num contexto destes, o PT vai se arriscar a trabalhar uma candidatura nova, do zero, entre agosto e início de outubro?

    Abraços.

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