Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A tradição dos grandes economistas italianos, por André Araújo

Por André Araújo

Ontem discutiu-se aqui algo sobre a Escola Austríaca de pensamento econômico, criada por volta de 1870 e hoje na 6ª geração. Citam-se os austríacos e os anglo-americanos, os franceses e suecos, mas os que cultuam a ciência econômica esquecem os fundadores da economia moderna, muito anteriores aos convencidos ingleses, e aos audaciosos franceses, sem falar nos pedantes americanos.

A economia moderna nasceu na Itália, quando a Inglaterra era ainda um lugar de agricultores e pastores de ovelhas.

Os sofisticados banqueiros de Florença, os Medicis, Struzzi, Bardi, Peruzzi já operavam bancos no Século XV, foram os italianos que inventaram o capitalismo moderno, tornado possível pela criação da contabilidade de partidas dobradas, modelo em que até hoje se registram em todo o planeta as transações e se publicam os balanços. Os florentinos inventaram a letra de câmbio, a ordem de pagamento, a nota promissória, as operações de crédito.

O mais antigo banco do mundo até hoje é o Monte dei Paschi di Siena, fundado em 1472 e em plena operação, mostrando que a Itália é muito mais antiga no conhecimento e operação da economia do que qualquer outro País.

Dois grandes professores de economia dirigiram a Italia no pós Guerra, Luigi Einaudi, segundo Presidente da República Italiana, e Romano Prodi, Primeiro-Ministro e depois Presidente da Comunidade Europeia e dois Mario, Draghi e Monti, no centro da economia europeia, como presidente do Banco Central Europeu e Ministro da Economia da Itália.

Nos tempos do Fascismo, um dos expoentes do Governo Mussolini foi o economista Giuseppe Bottai, hierarca do regime. O fascismo teve também seus bons economistas da linha estatizante eficiente.

O profundo conhecimento da ciência econômica pelos italianos vem dos seus grandes economistas clássicos, como Vilfredo Pareto, falecido em 1923, Piero Sraffa, Luigi Amoroso, dos ainda vivos Lamberto Dini e Luigi Pasinetti (coloquei aqui um artigo dele anteontem),  dos modernos mas já falecidos Franco Modigliani, Prêmio Nobel de Economia.

Curiosamente os economistas italianos são pouco citados nas escolas de economia do Brasil  ligadas ao mundo acadêmico americano, é uma pena, tem muito mais a ver com o Brasil o pessoal de Chicago e Boston.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

17 Comentários

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  1. André Araújo sempre nos

    André Araújo sempre nos presenteia com textos muito interessantes!

    A única coisa que é mais interessanrte que seus textos é se aprofundar nos temas lançados por ele.

  2. Não é à toa que os locais não

    Não é à toa que os locais não pertencentes a Inglaterra mais citados nas peças de Shakespeare são as cidades italianas [ aliás, Shakespeare, se não me engano, é o autor não italiano que mais citou cidades italianas]. Quando a Inglaterra pastoril começou a se tornar um império, sua elite mirava a sofisticação de Veneza, Florença – além de mirar a força e influência que Roma tivera no passado, o maior império produzido até hoje. ] 

    Foi nesse ambiente que nasceu as maravilhas da pintura, escultura, e também o livro que melhor descreve o que é a política sem idealização nenhuma = O Principe, de Maquiavel [ infelizmente, alguns procuradores imberbes devem ter lido outro príncipe, o pequeno, de Experry-rsss ] Acabei de reler e é incrível como as observação de Maquiavel continuam atualíssimas. Aliás, unindo as pontas, depois de ler O Príncipel, recomendo Júlio César de Shakespeare. Gênios.

     

     

     

  3. André Araujo,
    Você foca no

    André Araujo,

    Você foca no tema dos economistas e grandes economistas para estabelecer um contraponto ao que se pratica ou deixa de se praticar hoje no Brasil. Seus textos são bons e interessantes e a discussão é válida. Mas, eu volto ao tema que já escrevi em outros comentários porque acho que é uma discussão essencial.

    Discutir economistas ou escolas economicas é interessante mas não é o essencial, o ponto chave. A história de fato não é feita por eles. São estudiosos, academicos, pensadores e não “fazedores”. Isso tanto dentro das economias nacionais quanto das grandes e pequenas organizações empresarias que fazem a real economia girar.

    Na escola de administração, o primeiro nome que estudei foi Fra Luca Pacioli, o suposto criador da Contabilidade. Economista não estuda contabilidade! Economista não estuda casos! Economista não aprende a definir e resolver prioridades! Enfim volto a esse tema porque apesar do estrelato dos grandes economistas, precisamos é de contabilistas, de auditores, de administradores. No meu ponto de vista, uma das grandes diferenças daqui para os EUA, é que lá se dá muito mais valor a essas profissões do que ao economista.

    1. Keynes tinha uma frase

      Keynes tinha uma frase lapidar: “”A Historia da humanidade é a historia do pensamento economico e pouco mais do que isso”. O pensamento economicos está na base das grandes transformações da Historia, as expansões coloniais, o nascimento da industria, o mercantilismo, o socialismo, são produtos do pensamento economico.

      A profrissão de ECONOMISTA no Brasil e nos EUA são bem diferentes no seu campo profissional. Economista nos EUA é pesquisador e não administrador, os economistas americanos se dedicam basicamente ao research, ao trabalho nos think tanks e universidades, não estão nas empresas, economista americano é basicamente MACROECONOMISTA.

      No Brasil há um adesivo de automovel revelador, da Ordem dos Economistas, “Antes de fazer um negocio consulte um economista”, algo que não tem sentido nos EUA, lá economista não é consultor de negocios e nem administrador.

      Mas a presença de economistas é total no FEDERAL RESERVE SYSTEM, o banco central americano, todos os sete membros do Board são professores de economia e o Presidente dos EUA tem na Casa Branca um Conselho de Assessores Economicos constituido 100% de professores de economia.

      A poltica economica nos paises centrais é basicamente orientada por economistas de grande peso academico, esse é o modelo do mundo atual para o bem ou para o mal, essa é a realidade.

      1. Gosto muito dos seus textos

        Gosto muito dos seus textos André. Te considero um dos melhores articulistas aqui do portal.

        Gostaria que um dia o senhor pudesse escrever algo sobre a prevalência engenheiros no debate e na direção da economia aqui no Brasil Eu sinceramente suspeito desses “engenomistas” (engenheiros metidos a economistas que acham que só eles sacam e têm autoridade para falar de economia). Por outro lado acho que debates sobre economia não devam ser exclusividade de economistas de graduação (Roberto Campos era teólogo, Ciro Gomes formado em direito).

        Abraços

  4. Está faltando economistas marxistas no blog

    Muito raramente este blog abre espaço para opiniões marxistas, seja em poíítica, seja em economia. E, no meu entender, os marxistas são os únicos que estão conseguindo explicar o que está se passando no mundo, hoje em dia.

    Acabo de ler um artigo sobre o Brexit, do economista indiano Prabhat Patnaik no Resistir . É uma posição equilibrada e bem diferente daquela esquerda progressista. Aliás, sugiro que este autor seja regularmente publicado no blog.

    Outro autor interessante é o brasileiro José Martins do Critica da Economia, com análises muito consistentes da crise atual.

    Aqui no blog, se discute muito as medidas econômicas e as ações políticas, se liberais, se progressistas, mas nunca se sai da “caixinha” do capitalismo, para mirá-la e criticá-la “de fora” de seus pressupostos.

    Discutir o capital parece até sacrilégio. Entendo esta posição, quando vinda da grande mídia, mas de blogs alternativos que se querem plurais, acho inacietável.

    Parece que os leitores e os autores deste blog querem porque querem continuar a pensar apenas dentro da camisa de força dos conceitos do capitalismo…

    E se o capitalismo, desta vez, estiver degringolando por conta de suas próprias contradições internas, como afirmam os marxistas da crítica do valor? E olhem que os os dados empíricos estão comprovando suas teorias – até agora, as mais sólidas para explicar a crise atual.

    Então, não valeria abrir espaço para o pensamento deste pessoal?

     

    1. livre pensar é só pensar

      Como dados empíricos a Grécia pode ser um bom case, a Europa como um todo não pode ficar sem outro case.

      Estatísticas, números, opiniões bem torturados falam as verdades convenientes para… 

  5. A Itália e sua grande escola de negócios

    A maioria esmagadora de candidatos brasileiros a MBAs no exterior preferem grifes norte-americanas, em linha com os tradicionais rankings anuais das revistas (Forbes) e dos jornais (FT)  de negócios. Lá estão Harvard, Stanford, MIT, Universidade de Chigado (Booth), Wharton, UCLA, Kelllog, Dartmonth, e até mesmo uma Brigham Young, university em homenagem a um ex-lider da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

    Quando se trata de Europa, reluzem as francesas, como Insead, Hautes études commerciales, ESSEC, assim como as inglesas como a London Business, a City University de Londres e até mesmo a tradicional Oxford, que montou uma magnífica escola de negócios (Said Business School, com filial em Dubai) graças a doação de um destacado trader de armamentos, Wafic Saïd, de origem síria-saudita.

    Uma grande escola europeia, no entanto, passa quase despercebido pelos postulantes a MBAs no exterior. Localizada nos arredores de Milão, a SDA Bocconi é a melhor universidade italiana privada atualmente. Disputadíssima entre os italianos e europeus, com o intuito de aperfeiçoar o conhecimento de finanças e economia. A escola é conhecida pelo excelente corpo nessas disciplinas de cursos de negócios. Atualmente, ela é presidida pelo economista e ex-primeiro ministro Mario Monti. Uma pena os brasileiros não conhecerem essa grande escola de negócios da Itália

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Luigi_Bocconi

    http://www.sdabocconi.it/en/node

     

     

     

     

     

     

     

    1. A Bocconi é top, meu filho

      A Bocconi é top, meu filho que tem passaporte italiano fez teste lá mas depois optou por oitra coisa. As universidades americanas e inglesas tem otimo marketing no Brasil, algumas tem representantes ou escritorios aqui para captar alunos, depois há a questão da grife, os novos ricos conhecem mais as americanas, as revistas de negocios só falam de americanas ou britanicas, então na cabeça do estudante daqui fica essa ideia de que só é bom curso nos States.

  6. Lição de historia e um olhar no futuro

    Como sempre AA a nos remeter na origem dos acontecimentos, tal como a filosofia base dos estudos ainda nos textos gregos, a Economia quando na mão de pessoas cultas pode fazer a diferença.

  7. Olho no retrovisor

    Bem posto Andy.

    Mas um dos maiores  problemas é o olho no retrovisor. Explico. Vai-se lá fora e fica-se cinco anos fazendo um doutourado ou mestrado. Invariavelmente estuda-se o que atingiu a economia de alhures e com uma defasagem de no mínimo cinco anos, quando da volta do mancebo ao Brasil perpetua-se o atraso. Aplica-se o que já tem cinco ou mais anos de uso e fica-se receitando remedio para gato velho em uma anta com gripe!  Como se fosse a última palavra no assunto. Foi assim com os Chicago Boys; os mesmos que criaram uma década perdida após sua volta da escola de água doce e sentaram nas cadeiras de couro da tecno-burocracia tupiniquim.  Estamos em uma versão 2.0 desta prática, com os MBAs que prometem catapultar a carreira dos proto-candidatos à CEO.

    O tempo passa, célere, e osmemsmos erros cometidos ontem prometem se perpetuar amanhã.

  8. Não só em economia os

    Não só em economia os italianos são geniais, mas principalmente em Política.

     

    Vejam agora, com o Brexit, a oportunidade pingando na área. Renzi se prepara para dar um cheque-mate na Alemanha.

    Ninguém suporta mais austeridade na UE, e o governo italiano é o mais radical defensor de uma mudança de postura no BCE, que é evitado pela Alemanha.

    Acontece que toda oposição interna ao PD de Renzi é eurocética. Se cair o governo, a Itália põe um pé fora da UE. E pra Itália ficar? Bingo!

  9. Conceitos

    Lúcido Araújo, então os economistas do Keynes, como pesquisadores, estudam a distribuição geográfica dos recursos do planeta e como dominá-los, através do uso de ações diplomáticas e militares (e não do mercado).

    Ok. Porém, esse não é o conceito convencional de “economia”.

    É por isso que concordo com os colegas acima que a discussão “economicista” não responde questões às quais todos procuramos respostas. (Noto que “capitalismo” e “mercado” são conceitos típico-ideais: não existem na realidade porque prescindem do “inimigo” Estado [ou são apenas um de seus lados].)

    Logo, a explicação deve ser procurada da “luta” pelo Poder. Este preocupa-se antes com a ideologia é só mais tarde com os recursos ditos “escassos”. Quando tivermos uma única empresa no planeta, a Soros Lt., e.g., ela, então possuidora de todos os recursos da galáxia, deverá lidar apenas com a ideologia para se manter no poder.

     

  10. Modigliani e Sraffa além de

    Modigliani e Sraffa além de não serem economistas clássicos, como André Araújo ignorantemente afirmou, são amplamente conhecidos e citados entre economistas.

    1. Modigliani economista cabeça flex
      Os ares da The New School contribuiram para a mentalidade flexível desse grande economista, prêmio Nobel. O seu modelo de Estrutura de Capital é universalmente ensinado, seja em Wharton, seja em qualquer Tabajara College mundo a fora.

    2. Piero Sraffa foi o principal

      Piero Sraffa foi o principal editor das obras completas do maior dos classicos DAVID RICARDO e o conjunto de seu pensamento é conhecido como “escola neo ricardiana”. Franco Modigliani foi professor nos ultimos anos de vida de dois templos da economia classica, a Carnegie Mellon University e o MIT. A Carnegie Mellon, de Pittsburgh é a herdeira

      do legado de Milton Friedman, cuja bandeira é levada por Alan Metzler, a herança  friedmaniana saiu de Chicago para a Carnegie Mellon, hoje Chicago mudou e deriva para o New Economic Thinking, dois de seus top scholars são fundadores do INET-Institute for New Economic Thinking, que é uma critica ao monetarismo pos-2008.

      Considero-os classicos pela estatura da obra e o grande sinal dos maiores economistas é a FLEXIBILIDADE em relação

      a cartilhas, Keynes é o simbolo dos economistas flexiveis, quando foi criticado por ter sido ortodoxo no Tesouro inglês

      heterodoxo na construção do New Deal e depois novamento ortodoxo em Bretton Woods, a critica era um Lady, Keynes respondeu ” Eu não mudo, o que mudam são as circunstancias”..

      Os economistas mediocres não são nada, apenas seguem uma cartilha FIXA tipo “”É preciso trazer a inflação para o centro da meta””, mandamento maximo de Ilan Goldfajn, não sabe fazer outra coisa, cozinheiro de prato unico.

      Os grandes economistas flexiveis do Brasil foram Roberto Campos e Antonio Delfim Neto, podiam jogar no gol, na zaga ou no ataque, Delfim chegou a fixar o cambio e os juros por decreto, Campos fundou o BNDE, o simbolo do Estado na economia mas era tambem um ortodoxo quando as circunstancias exigiam.

      Na minha visão não tem mais utilidade a divisão binaria entre ortodoxos e heterodoxos, o simbolo maximo do grande economista flexivel é Hjalmar Schacht, que liquidou em seis meses com a hiperinflação alemã de 1923 através de um Plano de troca de moeda do qual o Real é plagio total e depois para atender o rearmamento alemão criou os Bonus rotativos MEFO e os “marcos de compensação”, este ultimo tão eficiente e contrario aos interesses do financismo que os estatutos do FMI proibem expressamente “moedas de compensação”, o maior pecado para Wall Street e Cuty..

       

       

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