Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Há 70 anos, Exército tirava Getúlio do poder

Por André Araújo

HÁ SETENTA ANOS O EXÉRCITO TIRAVA GETULIO DO PODER – Em 29 de Outubro de 1945, o Presidente Getúlio Vargas era removido do cargo pelo Alto Comando do Exército, representado pelo General Pedro Aurélio de Góis Monteiro, Ministro da Guerra, o mesmo que foi seu braço militar na vitoriosa Revolução de 1930. O regime do Estado Novo ganhou um fôlego extra com a participação do Brasil no lado dos Aliados na Segunda Guerra, participação importante, expressiva, diplomática e militar, que levantou a estatura geopolítica do País, tornado então o maior aliado dos EUA no continente.

O Brasil sai do conflito como um dos oito Aliados que derrotaram as potências do Eixo, com uma posição de destaque, tendo sido convidado a ser potência ocupante da Áustria. Seu papel foi especial na América Latina, país combatente no teatro de guerra europeu, o único na América Latina. De 1942 a 1945, o regime do Estado Novo se sustenta no esforço de guerra. Finda esta, o respaldo acaba e as tensões que vinham desde 1943 com o Manifesto dos Maneiros, declaração pró democracia assinada por 92 personalidades de Minas Gerais como Pedro Aleixo, Afonso Pena Jr., Alaor Prata, Bilac Pinto, Adauto Lucio Cardoso, muitos diretores de bancos, escritores e professores universitários. O Governo puniu a maior parte dos signatários, mas a própria existência do documento foi uma prova de que a blindagem do regime estava se rompendo. Vargas edita a Lei Constitucional nº 9 para convocar uma Constituinte e depois realizar eleições. Os democratas desconfiavam das intenções de Vargas e não queriam uma Constituinte com ele na Presidência. Vargas fixou eleições para 2 de dezembro de 1945 e os partidos começaram a se formar. Do lado dos democratas a UDN, chefiada pelo Brigadeiro Eduardo Gomes e do lado oficialista o PSD, dos interventores varguistas e o PTB, das lideranças sindicais pró-Vargas.

O clima era em direção à democratização do País e pelo fim da ditadura, que era muito mais profunda do que o regime militar de 1964. No Estado Novo o Congresso esteve fechado completamente, não havia eleições, Vargas indicava todos os governadores, com o nome de Interventores (menos em Minas, que continuou como Governador) e todos os Prefeitos do Pais, não havia Assembleias Legislativas e nem Câmaras de Veredores, o poder era um só e seu titular era Getulio Vargas.

No geral o regime do Estado Novo foi modernizador e centralizador, criou os concursos públicos e os cargos de carreira, a maioria dos Prefeitos indicados eram da elite intelectual e profissional de cada cidade, foram fundadas novas instituições centralizadoras e organizadoras do Estado em moldes modernos, pode-se dizer que Vargas criou o Estado nacional centralizado onde antes havia um confederação de coronéis regionais e não um País uno.

Um movimento das forças de Vargas aliadas aos comunistas, logo eles que foram destroçados por Vargas, chamado de QUEREMOS GETÚLIO, os “queremistas”, apontava que Vargas seria candidato nas eleições de 2 de dezembro, embora declarasse que não seria. Vargas também tinha marcado eleições para 1938, e pouco antes as cancelou e estabeleceu a ditadura com o apoio do Exército, embora já houvesse candidatos lançados à Presidencia (José Americo de Almeida e Armando de Salles Oliveira).

Havia fundadas desconfianças que repetiria a manobra e essa desconfiança ficou muito maior quando Getúlio nomeia seu irmão Benjamin (o Bejo) como Chefe de Polícia do Distrito Federal em 25 de outubro. Bejo Vargas era um personagem temido e detestado pelos democratas, tipo do caudilho gaúcho, andava armado e dava tiros em cassinos e restaurantes, tido como violento e irresponsável.

Sua nomeação como Chefe de Polícia indicava que Vargas iria partir para uma nova repressão de seus adversários. Mas o conjunto de forças democráticas e mais o discreto apoio do Embaixador dos EUA, Adolf Berle Jr., personalidade muito próximo da Casa Branca,  tornava difícil qualquer manobra de Vargas.

A nomeação de Bejo foi o sinal de reação do Exército que comunicou sua deposição em 29 de outubro (dizem que por telefone) dando-lhe duas horas para deixar o Catete e se transladar a São Borja, sua terra natal na fronteira com a Argentina, onde deveria ficar confinado.

No dia 30 de outubro assume a Presidência José Linhares, cearense Presidente do STF, que em 90 dias no cargo noemou 63 parentes e legou a famosa frase “Prefiro ficar mal com a Pátria do que com minha família”.

Vargas voltaria cinco anos depois mas já com sua força política debilitada pelas divisões no Pais, que finalmente o levaram ao suicídio de 24 de agosto de 1954.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

12 Comentários

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  1. André, vc acha que se o

    André, vc acha que se o Brasil tivesse tomado parte nas forças de ocupação da Europa, o país estaria entre os cinco (seis) do Conselho de Segurança da ONU?

    Eu acho q seria automaticamente.

     

      1. Ou seja, o cavalo passou

        Ou seja, o cavalo passou encilhado.

        Estamos até hoje, uma naçao terrorial e populacionalmente falando, gigante reinividando uma cadeira no Conselho.

         

         

        1. Falta vontade e capacidade de

          Falta vontade e capacidade de atuar, algo onde o Brasil é deficiente. No caso da Siria foi pedida a opinião do Brasil que preferiu se omitir, o que é um padrão da diplomacia brasileira, sempre se escondendo atrás da pilastra para não ser incomodada. Aliás um Embaixador do Brasil em Damasco que estava em Washington como Ministro Conselheiro, em um almoço onde eu estava presente com o então Sunsecretario de Estado Roger Noriega, à 1 da tarde , não parava de bocejar, estava com sono porque era muito cedo, onde se viu, o cara teve que sair da cama ao meio dia, que sacanagem.

          1. AA,
            o que nos levou  a sair


            AA,

            o que nos levou  a sair da Italia, participar da ONU com Oswaldo Aranha e suuuuuuuuuuuuuuumir do mapa? O Itamarati é de estado, não de governo. Não há/ houve a intenção do protagonismo? A reivindicação da tal cadeira?

             

          2. Infelizmente não houve essão

            Infelizmente não houve essão visão maior de mundo por parte da cupula dirigente do Brasil, ain incluindo Getulio e Dutra.

            Getulio tinha restrições a Oswaldo Aranha, cuja relação com ele foi sempre tumultuosa, apesar de amigos de longa data.

            Getulio temia Aranha e cortou-lhe os passos diversas vezes, houve quatro rompimentos sérios entre eles. Quando Aranha criou a Sociedade Amigos da America, um centro pro-americano, Getulio cerceou-o o quanto pode, não queria muita aproximação com os EUA, Aranha queria uma parceria estrategica mais avançada, o que era impensavel para Fetulio.

            Dutra não tinha essas restrições mas achava que o papel do Brasil tinha-se esgotado com a participação na guerra e

            não era o momento do Brasil aumentar seu papel, alem do que o principal chanceler de Dutra, Raul Fernandes, era avesso a qualquer expansão do papel tradicional do Brasil.

  2. Grato, André Araujo, pelas lembranças.

    José Linhares nasceu em Baturité, Ceará, em 1886 e morreu em Caxambu, Minas em janeiro de 1957. Era presidente do STF quando foi guindado à  presidência  do Brasil, com o afastamento de Vargas. Saindo da presidência do Brasil,  foi novamente  presidente do STF, de 1951 a 1956.

    http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Jos%C3%A9+Linhares&ltr=j&id_perso=396

  3. Forçaram a sair

    Forçaram a sair…Os americanos nunca engoliram Getúlio…A construção da Usina de Volta Redonda-     COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL-        foi a gota d’água…

     

     

     

     

     

     

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