A prova do pudim da Lava Jato nas mãos de Janot

Todos os jornais impressos esconderam a declaração do doleiro Alberto Yousseff à CPI da Petrobras, de que o senador Aécio Neves recebia US$ 150 mil mensais de Furnas.

Após o impeachment de Fernando Collor, um jornal se vangloriou de não ter escondido seu passado: a Folha de S.Paulo. Essa atitude ajudou a pavimentar sua reputação pelos anos 90 a fora.

Agora, todos os jornais brasileiros se calaram, inclusive a Folha. Mesmo depois dos serviços online – que não haviam sido enquadrados – terem dado a notícia que, àquela altura, já tinha transbordado para o mundo.

A notícia abriu a Top News da Reuters internacional. Seria manchete em qualquer jornal respeitável do mundo. Afinal, um candidato a presidente da República, no passado, recebia dinheiro de corrupção, proveniente de uma estatal. Não se tratava de algum recurso recolhido por um tesoureiro de partido, mas dinheiro direto na conta.

A delação de Yousseff veio com todas as peças encaixadas: o valor da propina, a destinatária (a irmã de Aécio) e até a empresa que fazia a lavagem do dinheiro (a Bauruense). Os bravos procuradores da Lava Jato teriam levantado essas operações em um dia de trabalho. Bastaria quebrar o sigilo da Bauruense.

Além disso, na gaveta do PGR repousa um inquérito desde 2010 apontando para lavagem de dinheiro de familiares de Aécio Neves em um banco de Liechenestein. Tinha-se o começo e provavelmente o destino final da propina.

Mesmo assim, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot não endossou a denúncia sustentando estranhamente que dizia respeito a um outro episódio e o delator (o deputado que contou sobre a propina a Yousseff) já ter morrido. Equivale a um jovem procurador que invade um escritório à procura de pistas sobre roubos de eletrônicos, encontra provas de roubos de remédios e deixa de lado porque no momento ele só trabalha com roubos de eletrônicos.

Janot poderia ter pedido autorização para o STF (Supremo Tribunal Federal) para ao menos investigar a denúncia, garantindo o sigilo nas investigações. Nem isso foi solicitado.

Qual a lição que se pretende passar?

A Lava Jato pretende demonstrar que não é apenas mais uma investigação de corrupção, mas a operação que irá mudar o pais. Houve outras investigações na história.

No início dos anos 50 os IPMs (Inquéritos Policiais Militares) prenderam pessoas próximas a Vargas e colocaram em xeque o próprio poder presidencial, a ponto de criar o clima que levou ao suicídio do presidente. Ficou conhecida na história como uma manobra golpista, não como uma ação virtuosa.

Em 1963 e 1964, meros delegados de polícia colocavam na cadeia até empresários poderosos ligados a Jango, sob os argumentos mais estapafúrdios: Santo Vahlis, um venezuelano que tentou comprar um jornal no Rio, foi jogado em uma cela sob a acusação de ter escondido seu local de nascimento.

O anônimo delegado de polícia comprovou que proximidade com o governo não blindava ninguém, com o poder, sim . E sua valentia se devia apenas ao fato de que o poder já mudara de mãos. Ele era apenas um joguete nas mãos do verdadeiro poder.

A Lava Jato será conhecida na história não pelos poderosos que prendeu, mas pelos poderosos que poupou. Será ou a operação que limpou o Brasil, ou a operação instrumentalizada por um grupo político para desalojar outro grupo político.

A prova do pudim estará nos intocáveis, os cidadãos do lado de cá, tão acima de qualquer suspeita que não serão sequer investigados mesmo sendo delatados por delatores que mereceram toda a confiança dos procuradores nas delações contra o lado de lá.

As suspeitas sobre Aécio, agora, correm o mundo, nas asas da Reuters e de outras agências internacionais. Está nas mãos de Janot garantir a reputação internacional da operação que irá marcar para sempre a história do país: se apenas uma operação autorizada pelo poder do lado de cá, ou se uma operação que colocará definitivamente o Ministério Público Federal como avalista de uma nova República.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Pobre Getúlio...

    Existisse a Internet naqueles tristes dias e provavelmente não teria cometido suicídio e o Brasil, hoje, seria outro... E que ninguém se engane; nossa grande Imprensa familiar É o Golpe!

  • Cada vez mais vai se

    Cada vez mais vai se confirmando a supeita-certeza de que o STF, o MP funcionam turbinados pelos fatos, pela "faca no pescoço" da imprensa golpista. Impressionantemente lamentável! Agora ainda o golpe hondurenho do TSE. Haja bando de escroques...

  • Ou Janot denuncia o Aécio e

    Ou Janot denuncia o Aécio e torna-se um republicano, ou se cala, e a opreação Lava Jato vira uma farsa, uma mera perseguição politica.

  • AS IS:

    "A Lava Jato será conhecida na história não pelos poderosos que prendeu, mas pelos poderosos que poupou. Será ou a operação que limpou o Brasil, ou a operação instrumentalizada por um grupo político para desalojar outro grupo político.

    A prova do pudim estará nos intocáveis, os cidadãos do lado de cá, tão acima de qualquer suspeita que não serão sequer investigados mesmo sendo delatados por delatores que mereceram toda a confiança dos procuradores nas delações contra o lado de lá.

    As suspeitas sobre Aécio, agora, correm o mundo, nas asas da Reuters e de outras agências internacionais. Está nas mãos de Janot garantir a reputação internacional da operação que irá marcar para sempre a história do país: se apenas uma operação autorizada pelo poder do lado de cá, ou se uma operação que colocará definitivamente o Ministério Público Federal como avalista de uma nova República."

  • O Janot é claramente um

    O Janot é claramente um procurador político, Nassif. Um equilibrista ábil diga-se de passagem. Não fustiga a chefe do governo, Dilma, nem da oposição, Aécio (em tese). A primeira é responsável por sua indicação. O outro é do senado que vai sabatiná-lo. Já tem um desafeto lá, o Collor.

    Ainda por cima age de olho no pig. Só foi para cima do Cunha quando este, além de ultrapassar o limite do razável, começou a perder a blindagem unânime da mídia. Esta está com Aécio e não abre. Apesar de agora mesmo na Band terem dado a acusação contra o Aécio. 

    O problema de ficar ancorado na imprensa brasileira é que a desmoralização desta, que se acelera a olhos vistos, pode resvalar em voce. Janot deveria ler mais a blogosfera

  • As "doações" de Furnas para Aécio e a delação de Youssef

    Seria de bom alvitre acessar http://www.academia.edu/810196/O_Voto_Lul%C3%A9cio_e_as_Elei%C3%A7%C3%B5es_de_2006_em_Minas_Gerais para se entender a aproximação de Aécio com Lula nas eleições mineiras em 2006, um fato político de amplo conhecimento no estado, que pode ter ensejado a Aécio manter nomes de sua confiança na Diretoria de Furnas, além de ter gerado reações dos tucanos paulistas que certamente ainda perduram...

    A acareação de Youssef e Costa ontem apenas serviu para confirmar a vinculação de Aécio com a Lista de Furnas e a de Álvaro Dias com Youssef, quando da campanha de Dias ao Senado, via utilização do jatinho de Youssef ao custo de US$ 170 mil.......não devemos esquecer que Álvaro Dias compunha a dupla de senadores tucanos na CPI da Petrobrás em 2009 com Sérgio Guerra, cujo recebimento de 10 milhões de reais para "abafar a mesma CPI" foi também confirmado por Paulo Roberto Costa, ontem na acareação...

  • A justiça é um espetáculo dantesco!

    A Justiça é um espetáculo!

     

    Ontem, a oposição “formal” (PSDB, DEM, PPS e SD) decidiu – não por seu desejo, certamente, mas pela falta de condições de fazê-lo – adiar “indefinidamente” uma reunião para tratar do “impeachment” da Presidenta Dilma.

    Faltam-lhe, obvio, condições políticas.

    Mas seu papel foi, rapidamente, assumido pela “oposição judicial” que, contrariando o voto da relatora original do processo, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, confirmou o prosseguimento de uma ação “junta tudo” – composta de todos os fatos e suspeitas dos tucanos quanto à regularidade da campanha de Dilma Roussef – para conseguir a cassação do mandato.

    Decisão que formou maioria com o voto de ministros do Supremo no TSE, Gilmar Mendes e Luís “Matus in Pectore” Fux – que dispensam apresentações – além de Henrique Neves e João Otávio de Noronha, cuja proximidade com os tucanos já era apontada pelo especialista da Folha em bastidores do Judiciário, Frederico Vasconcellos, em setembro de 2002, antes que ele fosse nomeado no apagar das luzes do Governo FHC:

    “A Folha apurou que essa hipótese -admitida reservadamente por outros membros do Judiciário e do Ministério Público- é reflexo das nomeações dos ministros Nelson Jobim, Ellen Gracie e Gilmar Mendes, no Supremo Tribunal Federal, e do advogado João Otávio de Noronha, ex-diretor jurídico do Banco do Brasil, no Superior Tribunal de Justiça.Essas nomeações foram associadas ao temor atribuído a Fernando Henrique de vir a ser perseguido por juízes e procuradores, depois do mandato.”

    É uma ação daquele tipo “metralhadora giratória”, onde se aponta suspeitas sobre tantas coisas que, afinal, algo se espera achar para, com um grão, usar o poder do foco para transformá-lo em um deserto.

    Quer entender como é isso? Tome fôlego e leia a quilométrica lista do conteúdo da ação, reproduzida pelo site do próprio TSE: ”

    O PSDB afirma (…) que durante a campanha eleitoral de 2014 houve: abuso de poder político de Dilma pela prática de desvio de finalidade na convocação de rede nacional de emissoras de radiodifusão; manipulação na divulgação de indicadores socioeconômicos – abuso cumulado com perpetração de fraude; uso indevido de prédios e equipamentos públicos para a realização de atos próprios de campanha e veiculação de publicidade institucional em período vedado.Sustenta, ainda, que houve: abuso de poder econômico e fraude, com a realização de gastos de campanha em valor que extrapola o limite informado; financiamento de campanha mediante doações oficiais de empreiteiras contratadas pela Petrobras como parte da distribuição de propinas; massiva propaganda eleitoral levada a efeito por meio de recursos geridos por entidades sindicais; transporte de eleitores por meio de organização supostamente não governamental que recebe verba pública para participação em comício na cidade de Petrolina (PE); uso indevido de meios de comunicação social consistente na utilização do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão para veicular mentiras; despesas irregulares – falta de comprovantes idôneos de significativa parcela das despesas efetuadas na campanha – e fraude na disseminação de falsas informações a respeito da extinção de programas sociais.

    Entendeu como funciona a “estratégia jurídica”? Se não entendeu, a própria ação do PSDB explica:

    Argumenta (o PSDB) que mesmo as questões que, isoladamente, não sejam consideradas suficientes para comprometer a lisura do pleito, devem ser analisadas conjuntamente entre si.

    Como se não bastasse isso, a falta de objetividade e o caráter “genérico” das acusações, Luiz Fux ainda sugere que se juntem as outras ações tucanas, ampliando assim a característica política – e, assim, uma usurpação de funções que não competem à Justiça Eleitoral.

    Que, aparentando grande prazer, entrega-se a este papel, em parceria com a mídia, a mesma que a ex-presidente da Associação Nacional de Jornais, Judith Brito, dizia ser a “oposição de verdade” no Brasil.

     

     

  • Tem gente presa na Sui;a

    Tem gente presa na Sui;a desde 2006 por ter dado dinheiro a membros do governo paulista no caso do Metro.

    Assim, já sabemos as resposta a todas as  dúvidas acima.

     

  • A Prova do Pudim

    O pudim já esteve ne mesa do MP muitas vezes. Nunca foi provado. Sempre se escolheu qual pudim seria degustado. Em que pese  a incompetência da Dilma, e últimamente do PT, para o enfrentamento político (o nosso Tsipras, ganha no voto e joga a toalha), os estamentos judiciários, MP em geral e PGR a frente,  tem lado. São os coronéis modernos.  A "meritocracia".  

  • Por que o Pt não entra com um

    Por que o Pt não entra com um pedido de cassação por falta de decoro parlamentar? Por que essa letargia enquanto a oposição se vira de todas as formas para tomar o mandato do PT? E o que explica o medaço do pgr quando se trata desse senador mineiro? Uma autoridade que vai ao infinito e alem para buscar provas contra uma estatal brasileira mas não move uma palha, mesmo provocado, contra esse senhor? É muita paradeira para o meu juízo.

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