E se o ex-braço direito de Alckmin fosse investigado numa Lava Jato?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A história de Edson Aparecido é um enredo digno de Lava Jato: tem empreiteiro, tem patrimônio transferido à agente público que, por sua vez, não explica a diferença de valores, e tem também contratos com o Estado. Mas a investigação passou bem longe de fazer qualquer conexão que coubesse num Power Point
 
Foto: Maurício Rummens/Divulgação
 
Jornal GGN – Um tucano graúdo compra de um empreiteiro um apartamento em área nobre de São Paulo por R$ 620 mil. Só que, 6 anos antes, este mesmo imóvel havia sido adquirido pelo antigo proprietário por R$ 1 milhão.
 
Quem vendeu o apartamento ao ex-chefe da Casa Civil de Geraldo Alckmin, Edson Aparecido – hoje, secretário da gestão João Dória – foi um empresário que tem contratos milionários com o governo do Estado.
 
O enredo é digno de Lava Jato. Até nasceu em portais de notícias ligados à Globo, como ocorreu com o triplex atribuído a Lula.
 
Só que no caso em tela, a investigação não é criminal, não cita em nenhum momento o histórico de Aparecido com o PSDB nem questiona a ligação entre o antigo proprietário do apartamento com o governo Alckmin.
 
O que a Promotoria do Patrimônio Público de São Paulo pôde apresentar contra Aparecido foi uma ação civil por improbidade administrativa.
 
O relatório faz questão de frisar que a investigação surgiu a partir de matéria do UOL, com o título “Número 1 do governo Alckmin comprou imóvel de empreiteiro por 30% do valor.”
 
O MP-SP apurou que, em 2001, o imóvel foi adquirido por Luiz Albert Kamilos e Sarah Maria Giffalli de Moura pelo valor de R$ 1 milhão, já “abaixo do valor venal de referência”. “Em 2007, seis anos depois, Edson Aparecido dos Santos adquiriu o mesmo imóvel pelo valor de R$ 620 mil.”
 
“Noutras palavras, mesmo considerada a valorização anual do imóvel, (…) Edson Aparecido dos Santos adquiriu o apartamento por aproximadamente 40% a menos do valor de aquisição.”
 
Quando o inquérito veio à tona, o G1 divulgou que Luiz Albert Kamilos é dono da construtora Kamilos. “De acordo com o Portal da Transparência do próprio governo [Alckmin], entre 2014 e o início de 2016, a Kamilos recebeu mais de R$ 45 milhões por serviços prestados ao DER – o Departamento de Estradas de Rodagem.”
 
O pedido para processar Edson Aparecido não contém informações sobre a construtora.
 
Em depoimento ao MP, Aparecido explicou que comprou o imóvel com um cheque de R$ 200 mil, mais um empréstimo de aproximadamente R$ 110 mil em espécie (sem comprovante da transação) e com a troca de um apartamento que dispunha em São Paulo, avaliado em pouco mais de R$ 300 mil.
 
Para o promotor, Aparecido não conseguiu provar a origem dos recursos. Além disso, com o salário de deputado, à época da compra do apartamento, ele não teria condições financeiras de custear outras despesas mensais e viver com dignidade. 
 
Sem contar que o fato de ter adquirido o imóvel por quase metade de seu valor configurou enriquecimento ilícito, na visão do MP.
 
 
Ao propôr a ação civil, a Promotoria do Patrimônio pediu o bloqueio de bens de Aparecido e solicitou medidas para impedir dilapidação de patrimônio.
 
Aparecido deixou a Casa Civil de Alckmin tão logo a denúncia surgiu na mídia. À época, parte da imprensa ajudou a disseminar a ideia de que existia uma “saia justa” entre o governador e Aparecido, que havia se recusado a fazer campanha para João Doria.
 
Ironicamente, foi a gestão Doria que aceitou dar um cargo para Aparecido, na cúpula da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação), já depois que o tucano passou a ser investigado.
 
Aparecido, aliás, tem trajetória de prestígio dentro do PSDB, tendo sido, inclusive, vice-presidente nacional.
 
Veja o perfil que o governo de SP publicou sobre ele, em meados de 2011.
 
 
Embora a história seja muito similar a outras que foram abraçadas na Lava Jato (tem empreiteiro, tem patrimônio transferido à agente público que não explica a diferença de valores, e tem também contratos com o Estado), a investigação passou longe de fazer todas as conexões que caberiam em um Power Point.
 
Que o leitor menos íntimo da cobertura que este blog faz da Lava Jato não se engane: não se está aqui afirmando que o rigor da força-tarefa que atingiu a Petrobras é maior ou que deveria ser parâmetro para outras autoridades.
 
Só é curioso o gritante e costumaz pudor de investigações sobre escândalos envolvendo tucanos em São Paulo enquanto, no Estado vizinho, a criatividade (ou falta de limites) para traçar ligações supostamente criminosas impera.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. Mas é Lula quem deve ir preso

    Mas querer que investiguem o candidato deles em plena campanha eleitoral é querer demais! Se quisessem investigar o PSDB São Paulo, muita gente ja teria ajoelhado no milho e rezado a São Serapião e todos os santos, mas não aquele “santo” especifico. Alckmin vem ai; é o candidato anêmico do PSDB, em quem a PF, MPF e Judiciario votara, quando não, votarão em Bolsonaro.

  2. Santa ingenuidade, Batman!

    Da onde menos se espera, aí não sai nada mesmo!

    Ainda que se trate de um veículo fora do mainstream da mídia comercial, ainda que os editores possam ser considerados “progressistas” ou pelo menos anti-estamento, a análise que a matéria nos indica é paupérrima.

    Ora bolas, estávamos justamemte debatendo isso no post do Fábio Ribeiro sobre Slavoj Zizeck e stalinismo em tempos modernos.

    Eu propus algo mais: A stalinização moderna da esquerda moderna.

    Esqueçam os jargões do centralismo democrático de outrora, o troço agora é versão 2018.0.

    O GGN, assim como outros setores da comunicação da esquerda se apegam a noção liberal de certo e errado em termos jurídicos, esquecendo o básico:

    A ordem jurídica (que eufemisticamente ou ideologicamente chama-se “justiça”) no sistema capitalista é feita, basicamente, para sustentar um sistema injusto, e disso deriva tudo mais.

    Em resumo:

    Não adianta defender uma rigorosa investigação como se isso fosse trazer um expurgo dos chamados “maus hábitos” da política ou na pior das hipóteses, isso nos trouxesse algum ganho político por desgaste da imagem dos adversários.

    Besteira e tolice, ou vice-versa.

    O controle da narrativa é deles, e a narrativa é:

    – Se o PT (ou a esquerda) fez é errado (SEMPRE) porque são petistas (ou da esquerda);

    – Se nós fizemos errado podemos até “provar” ser certo (mudando as regras, o jogo, o nome do jogo, ou o nome das regras, não importa), ou podemos ser ignorados pela “justiça”;

    – Mas ainda assim, se houver alguma investigação, e se for provado que fizemos errado, é porque não tem outro jeito (mas o PT e/ou a esquerda deveriam ser obrigados a “fazer de outro jeito”, ou seja, não governarem);

    – Ou enfim, se ficar provado que um de nós fez errado, é um problema individual, mas se for um problema coletivo, esse problema não está nas pessoas ou em nosso grupo, mas na política que corrompe, logo, política é uma coisa ruim, e devemos procurar políticos anti-política!

    E temos sempre alguns a mão sejam eles liberais ou fascistas para oferecer!

    Esse blog e o GGN, junto com muita gente (uns, como já disse antes, por ingenuidade, outros por cinismo oportunista) praticam a fé de que haja um sistema de freios e contrapesos capaz de “equiibrar” o jogo político a nossa favor, ou defender nossas prerrogativas constitucionais durante esse jogo.

    Tolice (ou cinismo).

    No sistema capitalista, a base ideológica de “convencimento” do trabalhador consiste em dizer que ele é, individualmente imprescindível como tal, mas como classe ele não existe, embora essa oposição (de classe entre trabalhador e capitalista) seja a razão de existir do próprio capitalismo.

    Algo como: você é e será trabalhador expropriado, isso é culpa sua (ser trabalhador), mas não há nada que você possa fazer para mudar isso!

    Nosso sistema judicial deriva dessa noção clássica!

    Os sistemas autoritários, idem. Mesmo aqueles onde acontecem eleições.

    Não há liberdade de escolha, porque não há escolha, a não ser negar a própria noção de que ela (a escolha) exista!

    Eis o admirável mundo novo previsto por Huxley.

     

     

  3. Não Vem ao Caso

    Nassif: vamos aos detalhes. Esse “braçodireito” é de direita ou da esquerda que se bandeou pro lado obscuro da Luz? Aluizim Odebrecht (vai inclusive, pedir a inclusão do nome no registro civil) e aquele vicê governador se deram bem e não pinta nadica pro lado deles.

    E se de direita, qual a ligação com o bando do Mordomo de Filme de Terror.

    Que na política tupiniquim tudo e mais alguns pesam na balança.

    Mas, direita ou esquerda (volver), sendo do bando do Chuchu, é intocável. O único que não conseguiu se safar foi Paulo Preto. Quem manda ser da cor.

    Mas isto já é outra vertente da estória.

  4. Brava Cíntia Alves

    Esteja certa a brava e obstinada repórter Cíntia Alves  de que os leitores sabem identificar quando o GGN está dispoto a fazer jornalismo e quando – por razões até agora não bem explicadas – parte para assassinatos de reputação.

    Os tucanos, bem sabemos, são inimputáveis porque controlam TODO o aparato estatal da burocracia judiciária (polícias, MP e PJ). O caso de SP é o mais acintoso, já que este mais rico e poderoso estado da federação é um feudo tucano há 24 anos. Mas em vários outros estados – sobretudo naqueles em que foi governo por algum período, como MG e PR – esse aparelhamento, essa completa cooptação do sistema judiciário é plenamente visível. Em âmbito federal nem preciso detalhar pois a Fraude a Jato e as gangues do MPF, do TRF4 e do STJ dão provas disso toda semana.

    Que o GGN não se esqueça que o caso de Eduardo Azerdeo, único tucano graúdo condenado em 2ª instância até agora, prescreve em setembro e que o ex-governador de MG recorre em liberdade.

    Ou seja, a parábola bíblica deve ser adaptada para “É mais fácil um camelo passar pelo orifício de uma agulha do que o tucano gráudo ir preso”.

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