Além da questão fundiária, execução de Marielle pode ser vingança por CPI das Milícias, diz jornalista

O jornalista e escritor Sérgio Ramalho comenta que, desde 2012, Rivaldo Barbosa consolava famílias de vítimas de crimes que nunca seriam resolvidos

Crédito: Reginaldo Frazão/ Agência Brasil

O programa TVGGN da última quarta-feira (28) recebeu o jornalista e escritor Sérgio Ramalho, autor do livro Decaído: A história do capitão do Bope Adriano da Nóbrega e suas ligações com a máfia do jogo, a milícia e o clã Bolsonaro para comentar o envolvimento de Rivaldo Barbosa no caso Marielle, revelado no último domingo (24).

Após a prisão do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, acusado de ter planejado a execução da vereadora do PSol, a família de Marielle Franco se surpreendeu com a participação de Barbosa no crime, uma vez que ele consolou publicamente os entes das vítimas. 

No entanto, não foi a primeira vez que o ex-chefe da Polícia fez cena. Em Decaído, Ramalho conta que em 2012 o policial foi responsável pelas investigações da morte de Marcone Sacramento, ritmista da escola de samba Imperatriz Leopoldinense. O ritmista foi morto após conflito com Luiz Pacheco Drumond, patrono da escola e bicheiro. 

“Quando ele foi executado, o Rivaldo foi para lá e consolou a família. Foi muito parecido como ele fez com o caso da Marielle, que ele aparece em imagens consolando a mãe e o pais de Marielle, a irmã e a mulher. Então, ele também foi naquela situação lá consolar a mãe do Marconi. As  investigações começaram a apontar obviamente como possível mandante suspeito o Luiz Drummond, por conta desse entrevero que ele havia tido com o mestre Marcone. Entre as pessoas suspeitas de participar efetivamente da execução estava o capitão Adriano da Nóbrega”, comenta o autor. 

As investigações, no entanto, não deram em nada, assim como diversos outros casos suspeitos que, há anos, estão sem resolução. 

Sendo assim, advogados de casos ainda não resolvidos devem pedir a reabertura dos processos, como a morte de Claudia Ferreira Silva, vítima de um tiro no pescoço. Dez anos depois do crime que chocou o país, os policiais militares apontados como suspeitos por matar e arrastar a auxiliar de serviços gerais na Zona Norte do Rio foram inocentados pelo juiz Alexandre Abrahão Teixeira, do 3º Tribunal do Júri.

“A gente já descobriu que alguns inquéritos que têm algum tipo de relação com esses grupos de matadores no qual também o Ronnie Lessa integrava ficaram sem nenhum resultado. Alguns, inclusive, desapareceram peças de provas do inquérito”, continua o escritor.

Todos estes casos indicam, na avaliação de Ramalho, que Rivaldo Barbosa já atuava mais em função de acobertar criminosos do que efetivamente cumprir o ofício de elucidar a morte de civis e encaminhar os casos para o Ministério Público e para a Justiça. 

Vingança

Ainda que a grilagem de terras seja uma das práticas atuais mais rentáveis das milícias do Rio de Janeiro, que hoje tem braços no Legislativo e no Judiciário. Tanto é que o entrevistado cita as constantes promoções de Rivaldo Barbosa na Polícia Civil. 

Além da questão fundiária, outro motivo que pode ter levado à execução de Marielle Franco e, consequentemente, seu motorista Anderson Gomes, foram os trabalhos da vereadora ao lado de Marcelo Freixo (PSol) na CPI das Milícias. 

“O relatório final da CPI das Milícias em 2008 apresenta nomes de pessoas que acabaram sendo indiciadas no relatório final e que acabaram se tornando alvos de investigações. Muitos caíram do céu ao inferno. Ali, por exemplo, tinha o Cristiano Girão, que era um vereador que acabou deixando perdendo o mandato, foi preso por conta dessa relação com milícia e foi condenado”, aponta o jornalista.

Ainda em 2008, o relatório já apontava suspeitas da ligação dos irmãos Brazão com grupos paramilitares. “Eu ainda acho que tem peças soltas nesse quebra cabeça. Como Lewandovski falou, a investigação se encerra aqui, mas isso não significa que ela não possa ser reaberta com outras informações. Acredito que isso ainda está sendo trabalhado porque essa teia ela é um pouco mais ampla do que estamos vendo agora”, acredita o entrevistado. 

Confira a entrevista completa em:

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Camila Bezerra

Jornalista

3 Comentários

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  1. Uma das coisas mais fantasiosas que já li.

    CPI em 2008 vingança em 2018?

    Se formos buscar todo mundo que ficou insatisfeito com a CPI das milícias em 2008, vamos começar com a prefeitura do Rio, o comitê olímpico e os organizadores do Pan 2007, e quem sabe, até o governo Lula.

    A cidade evento Rio de Janeiro teve como estratégia de (para) segurança a tolerância com as milícias, na época entendidas como um mal menor frente só tráfico.

    Deixo diz isso no relatório para georreferenciamento das primeiras milícias na zona oeste, ao lado de cada equipamento (pan)olímpico.

    Como já disse antes, na ausência de provas, criou-se a narrativa de tantas outras suspeitas (não comprovadas também), que buscam assim corroborar a versão que se apresenta.

    Isso é grave.

    Há possibilidade de que o delegado tenha agido em benefício deste ou daquele grupo na sua carreira?

    Sim, há, mas sem provas isso não pode ser considerado, muito menos para corroborar o famigerado PowerPoint sem PowerPoint de Lewandowski.

    A promiscuidade do jogo do bicho com as instituições fluminenses é secular.

    Sabem quem é o suplente de Brazão, o sobrinho de Anísio.

    Sabem quem é Anísio?,

    O dono da Beija-Flor, que é integrante da LIESA, que negocia com a Globo, com a Riotur, e sim, com a EMBRATUR do Freixo.

    No Carnaval tem delegacia de polícia, destacamento da PM e até sede do juizado especial no sambódromo.

    E essa promiscuidade não se restringe ao jogo ilegal, o setor de transportes tem padrinho, literalmente, no STF, que esteve no casamento da filha de um capo do setor.

    (será por que ninguém aventa o fato de Marielle ter investigado relações espúrias dos concessionários deste serviço com o poder concedente em 2018, na CPI dos transportes?)

    Repito, é possível que Brazão e Rivaldo tenham concorrido e se aproveitado do crime?

    Sim, é.

    Mas cadê as provas?

    Será esse outro caso escola base?

    Será que de tanto combatermos os monstros da lava jato acabamos como eles?

    Por favor, Nassif, rigor.

    Apuração.

    Fatos.

  2. Nassif, eu vejo muitas idas e voltas nesta investigação, opinião pessoal, isso é um faz de contas, ao terminar a tal intervenção no RJ, o general havia solucionado o caso, friamente foi uma manobra eleitoral. O RJ é sabido carcomido em totalidade as suas instituições, inclusive as federais lá atuando. A tal intervenção,foi para para conter os aliados do crime organizado, e administrar descontentamentos e subverter o sistema de justiça, para o intento da lógica criminosa, o que dá a se entender,é, ou está com nós ou está contra nós. não foi uma intervenção de caráter legal, foi a busca de conhecedores da situação criminosa, para obter valores e poder político, insanamente prejudicando toda sociedade do RJ. É só olhar as licitações, ou não licitações, com ênfase em vinhos importados, comidas exóticas e outras mordomias, que não fazem parte do obséquio das FFAA, era uma espécie de alforria criminosa a bem dos famigerados “homens de bem”, ou de bens. Todos esses crimes praticados por essa quadrilha ou não, tem os mesmos personagens, não duvidem disso, esse acordo, não condiz com a percepção do conjunto de criminosos que transformaram o RJ em um México no sudeste do Brasil. O calculo dessa conta, ainda não bate.

  3. Por falar nesses ratos que mataram a Marielle, o governo de São Paulo tá travando uma guerra civil contra a população pobre, du que não tá nem aí e ninguém toma uma providência.

    São Paulo
    Bala perdida em suposto confronto mata mãe de seis filhos no litoral
    Familiares questionam versão da polícia e afirmam que não houve troca de tiros; inquérito foi aberto para apurar conduta dos PMs

    How much blood do you need yet, Mice?

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