Justiça do Rio Grande do Sul julga feriado da Consciência Negra inconstitucional

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul derrubou o feriado da Consciência Negra e da Difusão da Religiosidade em Porto Alegre. O Órgão Especial do TJ considerou inconstitucional a lei que definiu a data como feriado municipal. (Tânia Rêgo / ABr)

da Revista Fórum

Justiça do Rio Grande do Sul julga feriado da Consciência Negra inconstitucional

Sindicato de lojistas havia entrado com ação questionando a data em Porto Alegre. Para vereador autor da lei que tornou o 20 de novembro feriado municipal, “assistimos a mais um momento de estagnação da história”

Por Redação

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) havia sido ingressada pelo Sindicato dos Lojistas do Comércio (Sindilojas) da cidade. A alegação da entidade é que o feriado prejudicaria o comércio. “Uma loja de pequeno porte deixa de faturar cerca de 4% do total do mês a cada dia em que permanece fechada. Reforçamos ainda que o comércio não é contrário às homenagens e ao Dia da Consciência Negra, mas questiona a antiga decisão de tornar o 20 de novembro um feriado”, disse o presidente do sindicato, Paulo Kruse.

O relator da ação, desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, afirmou que cabe ao município julgar apenas feriados de caráter religioso, a Consciência Negra não apresentaria um “critério de razoabilidade” que permitisse ao município “arbitrariamente, estabelecer ingerências em relações de trabalho e interferir na atuação da administração pública federal e estadual”.

A lei que tornava o feriado foi aprovada em 24 de novembro de 2015. A proposta foi do vereador Delegado Cleiton (PDT), um dos dois únicos parlamentares negros na Câmara de Porto Alegre. Em seu Facebook, ele lamentou a decisão. “No Tribunal de Justiça assistimos a mais um momento de estagnação da história”, disse. “Nossas lutas nunca foram fáceis, mas não desistiremos da guerra, iremos além, sempre em busca desta reparação, justiça e respeito ao povo e sua religiosidade!”

O advogado Genaro Borges, que representa a Federação Afro-Umbandista e Espiritualista do Rio Grande do Sul, diz que ainda cabe recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, apenas a prefeitura de Porto Alegre ou a Câmara Municipal podem entrar com pedido. A Câmara Municipal afirmou que não irá se manifestar sobre o caso.

“O feriado do Dia da Consciência Negra demorou mais de 30 anos para ser aprovado como parte do calendário municipal de Porto Alegre”, lembrou a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL). Para ela, a decisão do TJ-RS foi lamentável. “Uma cidade que não reconhece um lutador como Zumbi dos Palmares na resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial nega a importância em se manter viva na memória coletiva de um município a história de resistência e luta d@s negr@s.”

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  • Deve haver mais na fala

    “No Tribunal de Justiça assistimos a mais um momento de estagnação da história” Ele deve ter explicado porque considera não decretar feriado ser um momento de estagnação.

    • No Brasil todo! Inclusive
      No Brasil todo! Inclusive imbecis que generalizam um estado inteiro por conta de uma decisão da justiça.

  • Finalmente, alguém tem

    Finalmente, alguém tem coragem de colocar um freio nessa bizarrice politicamente correta, que estabeleceu um feriado cinco dias após outro feriado nacional. Isso começou aqui no Rio e se espalhou pelo país; aliás, temos aqui outro desses, o Dia de São Jorge, celebrado em 23 de abril, dois dias após o feriado nacional do dia 21. É preciso que se entenda que não é com medidas do gênero, bastante prejudiciais às atividades econômicas das quais depende a sobrevivência da maioria da sociedade, que se reforça ou homenageia a luta pela igualdade de oportunidades, sem qualquer desrespeito a Zumbi dos Palmares como um símbolo da luta contra a escravidão (mesmo que ele próprio mantivesse a sua cota de cativos), ou à crença no Santo Guerreiro. Tomara que o exemplo seja seguido em outros estados.

  • feriados e o comércio

    Feriados não atrapalham venda alguma, atividade nenhuma ou comércio algum. Quem quer comprar algo vai em outro dia. Quem não quer , pode deixar a porta do comércio escancarada que não entra.

  • Tradição Continuada

    Nassif: essa dita inconstitucionalidade já era esperada. O despreso aos negros faz parte da tradição do pessoal naquele rincão. Lembra da Gurerra do Chaque, apelidade de Revolução Farroupilha pelo republicanos? A libertação dos escravos era uma das bandeiras. Bastou um recado dos ministros da Capital do Império e um papinho com Caxias para que a ideologia do "Liberdade, Ilgualdade,Fraternidade" fosse pro ralo. Pra manerar, os negros que conseguiram sair vivo, que eram bucha de canhão nos campos de batalha, estes foram ditos libertos e largados a própria sorte, muitos totalmente mutilados.

    Portanto, não vejo novidade alguma nesse julgado da Corte de Suplicação dos Pampas. É apenas a tradição continuada.

    Na verdade, tirando o Saci Pererê, que outro negro esse pessoal tem simpatia ou bota fé?

    • Opinião é como bunda. Todo
      Opinião é como bunda. Todo mundo tem.

      Agora usar a revolução farroupilha pra justificar algo nos dias de hoje e ainda cravar que o comportamento racista é comum no Rio Grande Do Sul, é típico dos imbecis que tomaram conta da internet.

      Parabéns, vc em nada difere dos lixos "bolsonaro 2018".

    • hm e ja ia esquecendo, so
      hm e ja ia esquecendo, so pra sublinhar um pouco mais sua estupidez.

      Alceu colares foi governador negro e Paulo Paim senador eleito pelos gauchos mais de uma vez.
      Uma pena nao termos outros governantes mas aceitem ou não, o RS tem de fato menos negros que o resto do pais. A população gaúcha chega a quase 85% de pessoas auto declaradas brancas e 11% de pardos. Sobrando uma quantidade bem pequena de negros. Mas isso tem a ver com a colonização que houve por aqui.

      Em tempo, nada mais natural que um tapado colocando dentro do mesmo saco todo um estado.

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