MPF é porta da frente e PF é a dos fundos para acordos, diz Carlos Fernando

Expectativa para a delação de Palocci era de um “acordo do fim do mundo”, disse procurador. Mas fechada com a PF, está “mais para o acordo do fim da picada”. “Eu acho que a PF fez esse acordo para provar que tinha poder de fazer”, completou

Foto: Divulgação
Jornal GGN – Se as delações premiadas na Operação Lava Jato já são tema rodeado de polêmicas e questionamentos pelo mundo jurídico e métodos de investigação, a possibilidade dada agora à Polícia Federal de atuar independente em acordos abriu nova richa com o Ministério Público Federal (MPF).
Foi o que demonstrou o procurador da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, em entrevista à Folha de S.Paulo, publicada nesta segunda (30). Como exemplo desse antigo conflito, o procurador mencionou o acordo fechado pelo ex-ministro Antônio Palocci com a PF. Para ele, enquanto o MPF é “a porta da frente” para os acordos com investigadores, a PF segue sendo a “porta dos fundos”.
E criticou duramente o depoimento de Palocci: “Qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do mundo. Está mais para o acordo do fim da picada. Essas expectativas não vão se revelar verdadeiras. O instituto é o problema? Eu acho que a PF fez esse acordo para provar que tinha poder de fazer”, disse. E confirmou ao jornal que as delações foram os principais meios de acusação usados pela Lava Jato.

“Nós mal teríamos chegado à conclusão de que houve corrupção na Petrobras. Na primeira vez em que a Petrobras veio aqui, veio para nos dizer que era impossível ter corrupção na Petrobras, que todos os esquemas de controle funcionavam perfeitamente. Mas vem Paulo Roberto Costa e diz: “Não, existia”. Ele explica tudo. Estaríamos nos batendo hoje, ainda, com uma discussão se houve ou não corrupção”, disse.
Questionado se, então, isso torna a Lava Jato dependente de acordos, o procurador disse que “é uma técnica moderna que tem que ser usada”.
“Todas as investigações de crime organizado hoje vão depender da colaboração”, defendeu.
Confirmando que o método tem como base o medo ou o receio de que investigados sigam cometendo crimes pela possibilidade de um deles delatar, a delação “começa a gerar desconfiança” e por isso seria não somente uma apuração do crime já cometido em si, como também “um aspecto preventivo”.
E admitiu falhas em alguns destes acordos. Como por exemplo a delação de Delcídio do Amaral e de Sérgio Machado. “No caso do Sérgio Machado, no final das contas, o principal sequer foi denunciado. Aquelas conversas supostamente com membros do Congresso e ex-parlamentares, que geraram até pedido de prisão no Supremo, sequer movimentaram uma denúncia. Aquela gravação era um bom início de negociação, mas não era um fim em si mesma. A gente tem que tomar muito cuidado com excesso de vontade de conseguir certos documentos, provas, gravações”, narrou.
Durante a conversa, Carlos Fernando também admitiu que os procuradores da Lava Jato de Curitiba preferem fechar acordos com investigados de Sérgio Moro do que tentar políticos que cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) analisar a viabilidade dessas colaborações. “Toda vez que faço um grande acordo esbarro no foro. É preferível fazer um acordo com pessoas menores que resolvo aqui no Moro”, disse.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  • A delação não intimida os criminosos, ao contrário, os incentiva
    A delação não intimida os criminosos. Ao contrário, a delação premiada incentiva os criminosos a continuar praticando crimes, pois, se descobertos, podem delatar seus comparsas, e, em consequencia, ter o produto dos seus crimes branqueados pela justiça e sair impunes ou ter uma punição insigificante.Tem criminoso não só praticando crimes, mas registrando seus crimes em cartórios.Esse Prucurador, tal qual o Moro, é um cloaca de galinha.

  • Esse angu tem caroço...

    A delação do palocci vai pegar alguém que ele quer proteger...

    Por isso já está desqualificando...

    Por que se fosse do PT não precisaria nem de provas...

    Ele nem precisava dizer a verdade...

    • "A delação do palocci vai

      "A delação do palocci vai pegar alguém que ele quer proteger..."

      Ele (Santos) e o dono da firma "Folha", os Frias...

  • A delação do "Palofi" pega a
    A delação do "Palofi" pega a Globo e o mercado financeiro.
    Por isso não interessou ao MPF/Moro.

    Em relação ao Lula/PT, a delação ficou na base do "ouvir dizer". Por isso foi descartado.

    Pqp ! Nessa altura do campeonato de falcatruas e armações da Lava jato, esses caras querem enganar a quem.

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