Na crise, gastos preferenciais com bufês e teles, por Marcelo Auler

Por Marcelo Auler

A incoerência de um governo golpista. Em Brasília negocia-se no Congresso Nacional uma ajuda às operadoras de telefonia que causará um prejuízo de R$ 1o5 bilhões aos cofres públicos, nos cálculos feitos pelo insuspeito Tribunal de Cintas da União (TCU). No Rio, centenas de servidores públicos ocuparam a frente do Palácio Guanabara e ruas da zona Sul da cidade protestando contra a falta de pagamento do mês de novembro e do 13º salário para diversas categorias. Aposentados, então, são tratados como uma classe à parte. Até os da Assembleia Legislativa estão meses sem ver a cor do dinheiro, muitos deles endividados com bancos e alguns querendo até recorrer a agiotas.

Pode até parecer provocação, mas é real. Enquanto servidores brigam para receber pelos meses já trabalhados, e apesar de inexistir perspectiva palpável do fim desta crise financeira gerada pela má administração do PMDB por uma década, o Tribunal de Justiça do Estado se prepara para gastar. nos próximos 24 meses, R$ 13,6 milhões contratando copeiros, armazenistas, garçons, equipamentos e insumos, para o atendimento de Suas Excelências, desembargadores, juízes e jurados.
Será um gasto mensal de R$ 566.855,94 mensais com serviçais que atenderão o Judiciário, caso não haja reajuste de valores no meio do caminho. Com o mesmo valor seria possível pagar, por exemplo, mensalmente, a 282 professores com jornada de 30 horas semanais, cujo salário gira em torno de R$ 2009, ou ainda 302 médicos, com vencimentos de R$ 1.874,50. Ou seja, entre o cafezinho dos desembargadores e aulas para crianças e atendimento médico para os necessitados, fica-se com o mimo ao Judiciário.


Da verba do Tribunal de Justiça serão gastos 13,6 milhões com o serviço de copeiragem para, além do cafezinho e lanche dos desembargadores, atenderem em coquetéis e outras recepções.

Certamente se alegará que são verbas distintas, que o Judiciário tem orçamento próprio, como a ALERJ, mas no final das contas é tudo dinheiro público. Isto permite o questionamento óbvio: na crise não seria possível reverter tais gastos, priorizando nas áreas mais necessitadas?

Usando outra comparação. Neste ano, o governo do Estado, gastou R$ 12,7 milhões com o pagamento de fornecedores da Secretaria Especial de Administração Penitenciária (SEAP). Ou seja, cuidando – inclusive com alimentação – da população carcerária que, em julho, antes da Copa do Mundo, totalizava 50 mil presos segundo o advogado Fabio Cascardo, do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Estado do Rio de Janeiro (MEPCT/RJ), vinculado à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

A questão da prioridade dos pagamentos no Rio também beneficiou a Agência Prole de Publicidade, uma das seis contratadas pelo governo Estado. Durante o ano de 2016, ela recebeu R$ 130 mil, sendo que uma das últimas parcelas bem recentemente. A Prole fez as campanhas do PMDB no Rio e participou do pool de agencias que atendeu tanto ao governo do estado como o da prefeitura de Eduardo Paes.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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