Padrão que levou ao massacre de índios em 1993 foi agravado

‘O garimpeiro é um herói da sociedade local, e o índio, ‘preguiçoso’, passou a ser o dono das terras’
Jornal GGN – Em 1993, um conflito entre garimpeiros e índios em Roraima, levou ao assassinato de 16 índios, no que ficou conhecido como o “Massacre do Haximu”. Somente em novembro deste ano, por uma ação movida pelo Ministério Público Federal, Pedro Emiliano Garcia, o único dos cinco garimpeiros envolvidos no massacre ainda vivo, foi sentenciado e preso.
Esse é o único caso de condenação por genocídio na história da justiça brasileira. O Brasil é signatário da Convenção para Prevenção ao Crime do Genocídio, de dezembro de 1948, incluída na Constituição brasileira de 1988 que tipifica o genocídio como: “Destruição no todo ou em parte de um grupo étnico ou religioso em razão de seu pertencimento a essa minoria. Morte, lesões ou morte de um líder que desarticule política ou culturalmente esse grupo, mudanças forçadas ou esterilização”, explicou em entrevista para a Folha de S.Paulo o procurador federal Luciano Mariz Maia, responsável pela acusação, e vice de Raquel Dodge na Procuradoria Geral da República.
Mariz Maia analisou que o mesmo padrão cultural que levou ao assassinato dos índios da Terra Indígena Ianomâmi, em 1993, foi agravado. “O garimpeiro é um herói da sociedade local, na praça central de Boa Vista há um Monumento aos Garimpeiros. Mas não há nenhum garimpo permitido em Roraima e, pelo menos desde 1989, o garimpo em terra indígena é crime”.
A estátua se encontra na principal praça de Boa Vista, capital de Roraima, entre o Palácio do Governo, a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Justiça. “Ele está para Boa Vista como o monumento a Juscelino Kubitschek em Brasília, junto à Praça dos Três Poderes”, escreve o Leão Serva, autor da reportagem.
Mariz Maia analisou, ainda, que o garimpeiro é compreendido como “um herói na região, que à custa de sacrifícios pessoais expande as fronteiras da riqueza. E o índio, de muitas terras, ‘preguiçoso’, passou a ser o dono das terras”.
“Conseguimos demonstrar esse choque: se o sujeito era herói e agora se torna bandido, imagine a frustração. São fatores que interferem para que esses grupos sejam violentos com os índio”, completou.
Para provar que o massacre do Haximu foi um genocídio, a procuradoria apresentou provas de que o objetivo dos atores do crime era exterminar a comunidade indígena, mas como não encontraram todos do grupo, investiram contra um acampamento.
Redação

Redação

Recent Posts

Choques políticos em série refletem bagunça institucional, por Antonio Machado

O chamado ativismo judicial provoca rusgas institucionais desde o tempo do mensalão, antecedendo os ataques…

7 horas ago

Lei de Alienação Parental: revogar ou não revogar, eis a questão

Denúncias de alienação descredibilizam acusações de violência contra menores e podem expor a criança aos…

8 horas ago

Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano

Os dois conversaram sobre o combate à desigualdade e à fome. Para Dilma, o papa…

10 horas ago

Exposição à poluição aumenta o risco de doenças cardíacas em moradores de São Paulo

Os pesquisadores constataram que pessoas que sofrem de hipertensão sofrem ainda mais riscos, especialmente as…

11 horas ago

Vídeo mostra a ação da polícia durante abordagem de Tiago Batan

Caso ganhou repercussão no interior de SP; jovem faleceu após ser baleado na região do…

12 horas ago

Roberto Campos Neto e o terrorismo monetário

É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente…

13 horas ago