Para juristas, impeachment é nulo porque senadores esvaziaram sessões

Jornal GGN – Juristas ouvidos pelo portal Justificando afirmam que o impeachment de Dilma Rousseff pode ser anulado se a defesa alegar que os juízes do processo simplesmente decidiram esvaziar o plenário do Senado durante a colheta de provas – quando testemunhas de defesa rejeitaram a tese de que a presidente cometeu crime de responsabilidade fiscal.

Nesta segunda (29), Dilma também denunciou seu “estarrecimento” com senadores que declararam votos na imprensa favoráveis ao afastamente antes que ela pudesse fazer a defesa pessoal. Quando da fase da sabatina com os senadores, ela também criticou oposicionistas do PT que a condenaram previamente, afirmando que seu discurso não mudaria o resultado final.

Outro ponto levantado pela defesa no processo no Senado foi a confirmação de que o procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União foi considerado “suspeito” e rebaixado de testemunha a informante por Ricardo Lewandoski. Julio Camargo militou nas redes sociais contra Dilma e o PT. Ele também admitiu que foi assessorado pelo auditor do TCU Antonio Carlos D´Ávila, que ajudou a redigir o esqueleto do impeachment e depois o aprecisou na corte de contas.

Julgamento do impeachment está nulo pois juízes não participaram da colheita da prova, afirmam juristas

Do Justificando

ulgamento do Senado está nulo, uma vez que os julgadores não presenciam as falas dos depoentes. Esse é o entendimento de juristas e professores de Processo Penal ao analisarem o quórum vazio no plenário durante a fala de pessoas arroladas pela defesa da Presidenta Dilma.

Nesse sábado, durante a oitiva de testemunhas arroladas pela defesa – o Professor de Processo Penal da Universidade do Rio de Janeiro, Geraldo Prado, e o Professor de Direito Econômico da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Ricardo Lodi, a grande maioria dos senadores não se fez presente no plenário. Em certo momento, o quórum de parlamentares durante o depoimento não chegava a um terço do total.

Para o Presidente da Associação Juízes para a Democracia (AJD), André Augusto Bezerra, a ausência do julgador na colheita de provas invalida todo o processo – “Se há no ordenamento jurídico a previsão de um julgamento, ainda que politico, o que se espera é o respeito mínimo ao devido processo legal. Um julgador que não se dá ao trabalho de presenciar a oitiva de testemunhas viola este pressuposto mínimo. Há, pois, no meu entendimento jurídico, a caracterização de nulidade a invalidar todo o processo”.

O Procurador de Justiça aposentado e Advogado Roberto Tardelli explica de forma didática – “É possível que o juiz se ausente da colheita da prova? Se ele é o destinatário da prova a ser colhida, tudo o que não se imagina é que a prova seja produzida no vazio. O juiz que não estava lá não pode apreciar a prova produzida”.

Tardelli complementa que o processo não passou de uma farsa – “Os senadores e senadoras deram um exemplo vivo da pior postura que se pode esperar da autoridade judiciária: transformaram o processo em uma farsa e, independentemente de qualquer prova, já selaram o destino de quem está ali acusada, a presidenta da república. O processo deixou de ser dialético e,  farsesco, passou ser mero instrumento de execração pública”.

Um “teatro” foi como o Professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Salah H. Khaled Jr., definiu a questão – “o que nós estamos testemunhando não é mais do que um teatro com verniz de legalidade. Para um juízo ‘político’ que não é mais do que um reflexo da subjetividade dos senadores, a produção de prova é algo desnecessário, já que não é preciso confrontar o juízo pessoal com qualquer realidade externa a ele, bem como não é preciso exteriorizar os motivos da decisão”.

O Juiz de Direito e Professor na Escola da Magistratura do Rio de Janeiro, Rubens Casara, afirmou que a ausência dos julgadores é apenas uma das nulidades desse processo – “tudo é estranho nesse processo. Senadores, que são os juízes da causa, fazem ‘réplicas’ às falas das testemunhas, antecipam o teor dos votos antes mesmo da instrução, não entram em contato com a prova, afirmam que vão julgar fatos distintos daqueles imputados na acusação, afirmam que ‘na dúvida’ devem condenar a presidenta, etc”.

Casara complementa que em tempos de Estado de Direito, tal processo não poderia prosseguir – “No Estado Democrático de Direito, esses ‘juízes’ não poderiam participar de qualquer julgamento sério. Se participarem, os seus atos deveriam ser anulados. Mas, na pós-democracia, em que não existem limites ao exercício do poder, vale tudo”.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • Pior já fizeram

    Isso é só um detalhe para quem vai aprovar um impeachment sem crime. Mas vamos expor os golpistas o máximo possivel

  • Por que eles não se rebelam
    Por que eles não se rebelam contra a violação do estado democrático de direito, no qual as leis devem ser respeitadas sobretudo por julgadores. É o que eles estão dizendo: juízes devem respeitar o devido processo legal e ele, o devido processo legal, segundo eles, esta sendo desrespeitado.
    Nós ainda vivemos em uma democracia e eles têm autoridade para botar a boca no trombone. Por que não põe? Vão todos dar uma de Marco Aurélio Mello? Deixar que as coisas passem assim sem que ninguém enfrente a omissão do judiciário? Nem que seja pra debater isso as escancaras, o povo é capaz de entender, ou esses senhores acham que não? E o Marco Aurélio Mello também acha que o povo é incapaz de ver, de entender?
    Fica essa falação do cassete mas só a Dilma que enfrenta os 81. Porque os juízes para a Democracia não aumentam logo o tom de voz? Já é tarde, já passa da hora.

  • Tudo resolvido

        Então na 4a feira, estes doutos juristas entraram no STF com uma petição baseada nestes sólidos argumentos, alem de extensa jurisprudência, e de imediato os nobres Ministros, por maioria de votos irão declarar todo este processo NULO, dando tempo ainda para que a Presidenta reemposada possa pegar um avião e ir para a China, participar da Reunião do G20.

         Estou de saco cheio de advogados, juristas, teses, reflexões, parem de enganar visando "aparecer na foto", falem a realidade : é um golpe, um tribunal de excessão, nada de "juridico" é politico, contra o qual os mecanismos juridicos pouco importam, e qualquer burro - ate´um leitor de Veja - sabe o veredicto a meses.

  • Incluídos os impolutos

    Incluídos os impolutos esseteefes que há muito tempo - na primeira investida da Dilma em busca de respaldo legal - deviam ter jogado esses golpistas na lata do lixo da democracia. Mas, como se associaram aos golpistas, agora, terão de participar da pantomina até o seu fim, ou seja, ficarão historicamente conhecidos como apequenados, golpistas, acunhados e outros adjetivos de pior nomeação jurídica. Golpista e merda é a mesma coisa, desde sempre.

  • Se o afirmado é verdade
    A frequência de parlamentares de esquerda em todas as sessões muito provavelmente legitimou a instrução do julgamento.

    Facepalm épico.

    • O que eles estão dizendo é
      O que eles estão dizendo é que a presença do julgador nessas audiências é indispensável e, nesse caso, a presença não é apenas para registrar corum mas para formação do convencimento do julgador, se ele não participou da sessão ele não tem elementos para julgar.Os presentes oidem até estar legitimando o golpe, mas, se a tese vale, os ausentes não podem votar.

      • Baboseira

        É golpe. 

        Uma vez desolcado o poder real, empossado Temer, não há mais volta, a fé na justiça só existe na cabeça de quem não tem família nordestina ou não leu Kelsen. 

        O que eu disse foi uma gozação, pois sob tais argumentos não há absolutamente nenhuma possibilidade de se anular a sentença. 

        O golpe não tergiversa, ele entranha e se aprofunda, podemos ter um golpe dentro do golpe, mas retroceder, jamais. 

    • Quem não estava presente para

      Quem não estava presente para colher a(s) prova(s) não pode condenar e nem inocentar. Portanto não pode votar.

      Durante os depoimentos das testemunhas, ou "colheita de provas", o plenário chegou a ter quórum inferior a um terço do total, o que já é suficiente para anular o julgamento.

      Diga-se de passagem, anula qualquer julgamento, uma vez que as testemunhas de defesa não foram ouvidas.

  • Paradoxo

    Independente de quem está com a razão, parece-me um certo paradoxo: argumentam que é golpe apesar de seguir os ritos processuais mas querem anular o impeachment por não seguir os ritos processuais.

    Prefiro que fique assim, às claras, que é uma decisão política de um grupo que se uniu com interesses diversos, e não um julgamento. Os registros ficam mais verdadeiros. É melhor isto do que todos fingirem estarem atentos aos argumentos e debaterem longamente sobre o assunto criando um pseudo-julgamento e depois votarem sem considerar todo o processo.

  • Mas o processo É uma farsa, e

    Mas o processo É uma farsa, e uma das mais malfeitas que eu já vi (se fosse bem feita ninguém estaria considerando que seria uma farsa). Os golpistas só estão continuando com a farsa porquê vocês brasileiros são "mansos" demais para fazer o que deveriam fazer.

  • A CORAGEM E A DIGNIDADE POLÍTICA DE DILMA ROUSSEFF

    A presença, participação exemplar e justa defesa de seu mandato expressas pela Presidenta Dilma, nesta segunda feira, no Senado da República, é uma demonstração de coragem e dignidade na política jamais acontecidas antes na história do Brasil. Trata-se da mais precisa aula de grandeza pessoal que o povo brasileiro saberá reconhecer ao longo do tempo. Feliz o país que tem mulheres da estatura e firmeza de nossa Presidenta da República. Aqueles que pretendem condená-la são não mais do que asquerosos ratos conforme soube muito bem repersentá-los uma charge publicada pelo jornal New York Times há dois dias. Se absolvida, Dilma será uma valiosa marca de coragem e dignidade necessárias na vida democrática das instituições nacionais. Se condenada por esses ratos, a Presidenta, sem sombra de dúvida, estará absolvida pela Hiistória. E quanto aos mesquinhos ratos políticos dispostos a condená-la, estes desde já estão condenados à lata de lixo do tempo histórico. Longa vida a Dilma Rousseff! A imensa maioria do povo brasileiro a tomará como exemplo por sua manifestada grandeza pessoal e política! O fato é que urgentemente precisamos de políticos do feitio dela! Viva o Brasil!

  • É a mais prova de que vivemos num país pós-colonial.

    Não vão fazer porque a omissão impera. Vamos ver o que o Levandowisk concluirá. 

    A Dilma explicou para crianças de 5 anos fez a sua parte. Cairá de pé!!!

    Democracia onde? Façam as contas de quantos Senadores foram eleitos com o voto direto.

  • A ausência dos senadores

    A ausência dos senadores naquela sessão me fez lembrar aquelas sequência de idas e vindas de alguns tucanos, atravessand a Esplanada, com papeladas debaixo dos braços, no intuito de abirem mais uma ação, representação, ou qualquer coisa contra a Presidente. Eram uns patetas juntos, precisando de holofotes. Nenhuma dessas demandas foi aceita pelo supremo, deixando-os posteriormente de cara no chão.

    É próprio do PSDB, com o DEM junto - Dem que não tem a menor expressão, e vive como parasita no lombo dos tucanos - tomarem atitudes contra Dilma, porque agem como meninos com raiva da única menina do pedaço. Não se impõem; não respeitam o cargo que ocupam. 

    Se Dilma ainda puder contar com juristas de peso, para mais defesa, dessa feita junto ao Supremo, nem tudo estará perdido, se, de fato, vermos a Constituição devidamente aplicada. Se contra fatos não há argumentos, é fato que juízes não podem julgar o que desconhecem. Se se ausentaram de uma sessão por picuinha de meninos, podem ser chamado a explicar esse procedimento. Ou não?

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