Promotor que não quer PM fiscalizada em protestos taxa imprensa de marxista

Jornal GGN – Aluisio Antonio Maciel Neto, promotor de Justiça criminal de Piracicaba (SP), estrelou no Estadão de sábado (10) assinando um artigo (leia aqui) que provoca a Procuradoria Geral da República. Endereçado ao comandante do Ministério Público Federal, Rodrigo Janot, o texto sustenta que a Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), ligada ao MPF, deveria se ocupar dos políticos citados na Lava Jato em vez de acompanhar as ações da Polícia Militar de São Paulo em protestos contra o governo Temer, para evitar novos episódios dignos de um regime ditatorial. 

No artigo, Neto diz que “causou estranheza a informação veiculada pela imprensa de que o Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, ‘monitorará as condutas das forças policiais durante as manifestações’. (…) Com o devido respeito, parece descabida a preocupação do Ministério Público Federal, pra não dizer afrontosa”, diz o procurador.

“Não cabe ao Ministério Público, seja em sua porção Federal ou Estadual, pautar-se por predileções ideológicas ou favoritismos políticos. Muito menos se posicionar com ideias preconcebidas para agasalhar pretensões de um lado em detrimento de outro”, disparou o procurador que, curiosamente, assina um abaixo-assinado movido por outros membros do MP contra Lula.

“(…) gradecemos a preocupação”, continuou, “mas dispensamos a colaboração ‘unilateralmente imposta’. Em outras palavras, não precisamos de babás, tutores ou curadores”, disse, afirmando que a competência para apurar qualquer problema com a PM paulista é do MP estadual.

Ao final, a provocação, afirmando que a PGR está perdendo em número de condenados da Lava Jato para a força-tarefa de Curitiba. “(…) em dois anos, a Força Tarefa de Curitiba já instaurou 1.397 investigações, ajuizou 46 ações penais contra 225 pessoas e conseguiu 106 condenações; enquanto isso, a Procuradoria Geral da República instaurou apenas 81 investigações, ajuizou 14 denúncias contra 45 pessoas e não conseguiu nenhuma condenação!”

Uma rápida sondagem virtual sobre Neto mostra que o promotor tem saído na mídia interiorana por envolvimento em processos sobre agentes da PM assassinados por membros do PCC. Por um artigo chamado “Além da farda cinza”, em que aborda as lamúrias dos policiais mortos em campo sem o reconhecimento da sociedade, Neto ganhou uma homenagem da Câmara de Piracicaba.

Neste artigo, o promotor avalia que a desvalorização dos policiais que dão a vida por pessoas que “nem conhecem” é culpa da imprensa “marxista”, que embute na cabeça do público que os oficiais do Estados violam direitos humanos.

Escreveu Neto: “Embevecidas pela ideologia marxista de eterno embate entre Estado e indivíduos (…) e incentivada pela covardia de um posicionamento governamental, [os jornais] escolhem suas pautas a fim de manter a velha divisão dentre ‘explorados’ e ‘exploradores’. Sob as vestimentas de uma humanidade virginal, repetem o mantra de que criminosos ‘são vítimas da sociedade’, da falta de condições sócio econômicas (…), olvidando-se de que ao ser humano é destinado o Livre Arbítrio, a capacidade de distinguir entre o certo e o errado.”

Para ele, “a falta de informação verdadeira acaba por acometer a sociedade de uma espécie de miopia coletiva monocromática, que se acostumou a enxergar os ‘fardas cinzas’ tão somente como objetos (…) de um Estado falido.”

As críticas do promotor à imprensa não ficam apenas no papel. Neto já chegou a conseguir que a Justiça determinasse uma invertenção numa TV de Barretos, no interior de São Paulo, por entender que políticos ligados ao PDT se beneficiavam da programação.

Em sua página pessoal no Facebook, Neto republicou, recentemente, um vídeo produzido pelo MBL (Movimento Brasil Livre) – um dos grupos que puxaram os protestos pró-impeachment em março de 2015. Ao comentar a produção que visa desqualificar a ideologia dos manifestantes que compareceram ao Fora Temer na Paulista, este mês, Neto escreveu: “A esquerda que se apresenta é produto de ignorância coletiva ou a ignorância coletiva é o que produz esta esquerda? De todo modo, causa enorme preocupação a forma agressiva e violenta de manifestação”, afirmou, em alusão a black blocs.

Em outra publicação, Neto critica a “ditadura ideológica em que vivemos”, reproduzindo um artigo que diz: “Me chamam de racista, porque sou branco; de homofóbico, por ser heterossexual; machista, por ser contra o aborto; antissocial, por valorizar o mérito e ser contra cotas raciais, sociais e sexuais; reacionário, por divulgar os insucessos das experiências totalitárias; saudosista do DOI-CODI, por querer segurança pública e bandidos na cadeia; criminalizador dos movimentos sociais, por apontar os crimes que cometem.”

O promotor também mantém no Facebook uma página chamada Café em Prosa, na qual publica textos de sua autoria. Em um deles, ele dispara contra Junho de 2013, movimento que, em São Paulo e em várias capitais, cobrou, entre outros pontos, a redução da tarifa do transporte coletivo. Neto disse não entender como as pessoas serviram de “massa de manobra” em protestos por causa de centavos, enquanto “vivemos o caos” no país, com corrupção e incompetência administrativa, sem que as pessoas saíssem as ruas em luta por sua Nação. 

Entusiasta dos atos anti-PT, Neto comemorou que o “povo foi às ruas” nos protestos convocados pelo MBL e outros grupos à direita do espectro político, para escrever “um dos capítulos mais lindos da história da nossa democracia ainda juvenil” contra o “populismo governamental”.

Em outro artigo, Neto pediu serenidade e paciência a internautas num escândalo recente de estupro, no qual afirma que não existe a “cultura do estupro”, mas sim leis que podem punir os autores do crime. No texto, o promotor defende que isso ocorra após a devida investigação policial, caso contrário corre-se o risco de recriar o caso Escola Base, manchando a reputação de pessoas que são condenadas pela opinião pública antes a apuração dos fatos.

A “presunção de inocência”, contudo, não serve quando quem está na mira do Judiciário é o ex-presidente Lula.

Em “Uma mente criminosa”, Neto deixa claro seu desprezo pelo petista. Escreveu: “Desde sua condução coercitiva e nas revelações do conteúdo de suas conversas telefônicas [reveladas pela Lava JAto], Lula tem demonstrado uma personalidade que beira a insanidade, típica de comportamentos sociopatas com que lido diariamente na Promotoria de Justiça.”

“Lula faz mal a sociedade. Seu discurso populista menospreza as instituições, desrespeita os Poderes e incute a sensação de guerra na população, com a intenção evidente de desviar a atenção da opinião pública quanto às negociatas, esquemas criminosos e corruptos por ele liderados. (…) Os crimes cometidos e a forma como Lula se comporta diante das investigações seriam motivos suficientes para que qualquer cidadão comum fosse levado ao cárcere”, defendeu.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • O Horror dos horrores, a

    O Horror dos horrores, a casta suprema: um mpf e judiciario inimputaveis. Melhor seria um congresso corrupto. Mas nao teremos tanta sorte, pois serão aliados.

  • PROCURADOR LAMBE-BOTA DE MEGANHAS !

    Em mais um zurro lascinante e inferior, um dos integrantes da casta da pseudo justiça brasileira , cuja a inteligencia e o carater podem ser medidos por numeros fracionarios , vem á publico demonstrar seu grau de servilismo nojento ao fascismo.

    Após ter ingressado na casta da pseudo justiça brasileira através de um concurso de credibilidade duvidosíssima , este verme acredita-se com respaldo moral para "  dar conbselhos "  á quem quer que seja .

    Repugnante !

    Calhordas como esta bacteria , em qualquer país civilizado já teria sido defenestrado e fuzliado por alta traição ao povo e ao país , mas aqui neste paraiso de fascistas parasitas , ele tem espaço para seus latidos fedorentos ,

    Não podemos esperar muito deste lixo , pois nem mesmo conhece seu pai biológico e sua " Mami "  passa seu tempo em lupanares de 5,categoria se refastelando com a escória local por 30 moedas.

    Não reconheço autoridade nesta Súcia composta pelas tropas de ocupação oficiais ( " policias ) , pelo simulacro de ministério público e seus asseclas fascistas e analfabetos e por juizes fantoches guiados pela rede Globo, a maior e mais antiga organização criminosa sustentada por dinheiro público do planeta .

    Para mim não passam de um arcabouço pseudo legal com o obketivo de proteger ricaços e aniquilar o resto da população .

    Cada um agora que se defenda desta Corja , já que a união da população contra esta turba de vagabundos é uma utopia impensável no Brasil 

     

     

     

     

     

  • Os conflitos de interesse dele nao me interessam mas...

    "No artigo, Neto diz que "causou estranheza a informação veiculada pela imprensa de que o Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, 'monitorará as condutas das forças policiais durante as manifestações'. (...) Com o devido respeito, parece descabida a preocupação do Ministério Público Federal, pra não dizer afrontosa", diz o procurador":

    Um DA nos EUA que dissesse que iria "monitorar" acoes de policia seria um DA desempregado...  isso nem eh perto da jurisdicao deles, pra comeco de conversa.

  • Normal, o procurador está

    Normal, o procurador está procurando holofotes, prestígio junto a determinado público. É óbvio que ele entende que a atenção do MP é quanto aos abusos e violência praticados pelas PM. O piracicabano está explorando o fato de que jamais a PM vai ser tão criminosa quando os protesto forem a favor do status quo, da "direita". Enfim, partidário é claro que quem está sendo é ele. Tudo é possível mas tenho dificuldade em crer que uma pessoa que ocupe um cargo público como ele não reconheça sua falácia. A mim parece não ignorância mas sim hipocrisia.

  • Verdade verdadeira mas

    Verdade verdadeira mas incompleta: "...típica de comportamentos sociopatas com que lido diariamente na Promotoria de Justiça". Não apenas lá, em todo lugar e todo dia, a não ser que consiga desvencilhar-se do próprio corpo.

  • Que tipo de sincretismo é esse?

    Lendo a descrição do perfil desse cidadão - e reconhecendo nele um perfil de classe, portanto, generalizado - me sinto impelido a debruçar numa análise sobre. Mas confesso que não ando com energia para lançar mão, de ao menos um pouco, da minha antropologia sobre isso e assim escrever um texto. O fato social grave que salta aos olhos é uma espécie de sincretismo involutivo, que faz um movimento para trás, que não negocia forças diversas para ir adiante. Se o nosso nacionalismo se orgulha da mistura é hora de olharmos para misturas desse tipo e ver que de positivas não tem nada, pois monstruosas. Que híbridos habitam o MP e o Judiciário?

  • expurgo

    o pensamento mediano desse energúmeno representa mais de 90% do que passa pelas cabecianhas dos marajás das promotorias e magistratura.

    diante da impossibilidade de separar o joio do trigo e da necessidade de sobrevivência do Estado, urge o expurgo total tanto nas promotorias quanto na magistratura a bem do serviço público, isto é, sem direito a nada.

  • Há mais de dez anos sp vive

    Há mais de dez anos sp vive sob uma ditadura,

    nada funciona a contento no estado com todas as instituições sequestradas, quem não se lembra dos procurador geral que virou secretario de estado? E dos promotores que viram politicos?

     

     

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