Será que Sergio Moro gostaria de ser julgado por Sergio Moro?

Foto: Divulgação

Na foto, Carlos Zucolotto aparece atrás de Sergio Moro

Jornal GGN – O advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido pelo apelido Kakay, elencou pelo menos 11 motivos para perguntar se o juiz Sergio Moro gostaria de ser julgado segundo as diretrizes que ele próprio desenvolvou ao longo da Lava Jato.

Isso porque um amigo pessoal de Moro está envolvido em um escândalo revelado pela jornalista Mônica Bergamo, no domingo (27), sobre tráfico de influência e possível pagamento de propina para fechar acordo de delação com a Lava Jato de Curitiba.

De acordo com a denúncia, o advogado Carlos Zucolotto, “amigo pessoal” do juiz , teria oferecido seus “contatos” em Curitiba para fechar o acordo de delação do também advogado Rodrigo Tacla Duran, que é investigado por lavagem de dinheiro e organização criminosa na Lava Jato.

O amigo de Moro teria solicitado a Duran pagamentos em caixa 2, para facilitar que os recursos fossem distribuídos às pessoas que construíram o acordo com a equipe de Deltan Dallagnol nos bastidores.

Moro, Zucolotto e os procuradores de Curitiba negam as acusações. O juiz alegou que Duran não tem provas do que diz e ainda apontou que a palavra de um criminoso não deveria receber crédito da imprensa.

O GGN mostrou, nesta segunda (28), que apesar de tratar Duran como um bandido, Moro decidiu rejeitar a denúncia que o Ministério Público Federal fez contra o advogado, em abril passado. Leia mais aqui.

Em mensagens no WhatsApp, Kakay apontou que Moro não usa com o escândalo os mesmos critérios que usou em outros casos da Lava Jato. 

Veja a reprodução feita pelo Conjur, abaixo.

Na introdução de sua mensagem, o advogado começa por esclarecer: “É claro que temos que dar ao Moro e aos procuradores a presunção de inocência, o que esse juiz e esses procuradores não fariam, mas é interessante notar e anotar algumas questões.” E enumera:

“1 — O juiz diz que não se deve dar valor à palavra de um “acusado”. Opa, isto é rigorosamente o que ele faz ao longo de toda a operação!

2 — O juiz confirma que sua esposa participou de um escritório com seu amigo Zucolotto (que supostamente teria pedido dinheiro a um réu para melhorar a situação dele na ‘lava jato’), mas sem ‘comunhão de trabalho ou de honorários ‘. O fato seria certamente usado pelo juiz da 13ª Vara como forte indício, suficiente para uma prisão contra um investigado qualquer. Seria presumida a responsabilidade, e o juiz iria ridicularizar essa linha de defesa.

3 — A afirmação de que dois procuradores enviaram por email uma proposta nos mesmos termos da que o advogado, padrinho de casamento do juiz e sócio da esposa do juiz, seria certamente aceita como mais do que indício, mas como uma prova contundente da relação do advogado com a força tarefa.

4 — O fato de o juiz ter entrado em contato diretamente com o advogado Zucolatto, seu padrinho de casamento, para enviar uma resposta à Folha, ou seja combinar uma resposta para a jornalista, seria interpretado como obstrução de justiça, com prisão preventiva decretada com certeza.

5 — A negativa do tal procurador Carlos Fernando de que o advogado Zucolatto, embora conste da procuração, não é seu advogado mas sim um outro nome da procuração, seria ridicularizada e aceita como motivo para uma busca e apreensão no escritório de advocacia.

6 — O fato de o tal Zucolatto dizer que trabalha com a banca Tacla Duran, mas que conhece só Flavia e nem sabia que Rodrigo seria sócio, se analisado pelo juiz da 13ª Vara, certamente daria ensejo a condução coercitiva.

7 — E o simples fato de a advogada [Flavia Tacla Duran] ser também advogada da Odebrecht seria usado como indício de participação na operação.

8 — A foto apresentada [Moro, Zucolotto e Rosângela Moro], claro, seria usada como prova.

9 — A negativa de Zucolotto, que afirma não ter o aplicativo no seu celular seria fundamento para busca e apreensão do aparelho .

10 — Enfim, a afirmação de que o pagamento deveria ser em espécie, não precisaria ter prova, pois o próprio juiz admitiu, ontem numa palestra, que a condenação pode ser feita sem sequer precisar do ato de oficio, sem nenhuma comprovação.

11 — Ou seja, embora exista a hipótese de os fatos serem falsos o que nos resta perguntar é como eles seriam usados pela República do Paraná? Se o tal Deuslagnol não usaria a imprensa e a rede social para expor estes fortes “indícios” que se entrelaçam na visão punitiva. Devemos continuar dando a eles a presunção de inocência, mesmo sabendo que eles agiriam de outra forma.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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