STF tem placar apertado para arquivar furto tentado de chiclete e desodorante

do Justificando

STF tem placar apertado para arquivar furto tentado de chiclete e desodorante

Nesta terça, 07, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal absolveu por apertada maioria – 3×2 – uma mulher acusada por furto simples tentado, ou seja não consumado, de chicletes e desodorantes os quais, somados, totalizavam R$ 42,00. O relator do caso, Ricardo Lewandowski foi um dos que negou o Habeas Corpus impetrado seguido pelo ministro Edson Fachin.

O caso trata de Georgina, que entrou em um supermercado em Varginha/MG e colocou na bolsa dois desodorantes e cinco frascos de chiclete de menta. Após sair sem pagar, foi abordada pelos seguranças e presa em flagrante. Curiosamente, a cena se parece muito com uma retratada no filme Eu, Daniel Blake, que retrata a coadjuvante Katie furtando produtos de higiene de um mercado.

Ao comentar a cena, o Juiz André Augusto Bezerra, em artigo para o Justificando, escreveu que o “Estado-terceirizado imagina que o ser humano só vive de comida, tal como um ser irracional, deixando de constar, nas cestas básicas entregues aos pobres, outros bens imprescindíveis para o bem-estar”. A diferença entre o filme e o caso de Georgina é que no primeiro, o gerente de supermercado vê a miséria da mulher e releva a conduta. Já a Suprema Corte foi bem mais dura.

A comunidade jurídica aguardava com uma certa ansiedade esse julgamento. Georgina estava em liberdade, mas ainda assim muitos consideram ruim a mais alta corte do país parar para discutir se o Direito Penal deveria se preocupar com um furto tentado de R$ 42,00; soaria ridículo, não fosse a surpreendente divisão de turma ao julgar a matéria.

O ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso, foi o primeiro a votar e negou o trancamento do caso. Segundo ele, em épocas de crise, seria esperado que índices de furto aumentassem e o Poder Judiciário teria que dar uma resposta satisfatória para não ser conivente com isso. No dia de estreia na Turma, o ministro Edson Fachin seguiu o relator.

Coube a Dias Tóffoli abrir a divergência de voto. No seu entendimento, o caso deveria ser arquivado por se tratar de “crime impossível” – denominação jurídica para um crime que não tinha a menor chance de se concretizar. No caso, Georgina esteve todo tempo sob vigilância e foi parada logo na saída do caixa.

Celso de Mello, acompanhou a divergência, ao comparar o caso de R$ 42,00 com furtos de centenas de milhões de reais que acontecem frequentemente no país – “condenações penais já decretadas contra empresários e ex-governantes deste país envolvidos em delitos gravíssimos, de que resultou desvio ou a ilegítima apropriação de centenas de milhões de reais ou, até mesmo, de dólares“.

Mello ainda ressaltou que não houve violência física ou moral contra o supermercado e que, pelo valor ser ínfimo, não havia bem jurídico lesionado. O ministro Gilmar Mendes seguiu a divergência e formou a maioria para o caso ser trancado.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

View Comments

  • Uma tentativa de furto no

    Uma tentativa de furto no valor de R$ 42,00 "subindo" para a Suprema Corte do país? 

    Arguir que é piada é pouco. Ridículo, sim. Patético, com certeza. Só que em essência é uma tragédia. 

  • Enquanto isso, o mérito do golpeachment dorme nas gavetas.

    Prezados,

    Ridículo, vergonhoso, indigno, infame esse tribunal constitucional que temos no Brasil. Mas se observarmos os antecedentes, não nos surpreendemos com o esdrúxulo julgamento e o placar apertado da decisão. Há menos de trê anos, o STF gastou o caro tempo de uma sessão pra discutir se os espectadores podiam, ou não, entrar com sacos de pipoca no cinema ou se eram obrigados a comprá-los, por no mínimo o triplo do preço, em estabelecimento que fica ao lado da sala de projeção.

    Esse tribunal constitucional é o mesmo que se acumpliciou com o golpe de Estado, que impediu a posse de Lula como Ministro da Casa Civil, que até hoje, por covardia e omissão cúmplice (eu diria criminosa) não julgou o mérito do fraudulento processo de impechment, que destituiu a legítima Presidenta Dilma Roussef e no lugar dela colocou as ratazanas do PMDB e do PSDB.

     

  • Viva Georgina! Viva Daniel Blake!

    É simplesmente inacreditável que o ministro Lewandowski tenha se expressado corretamente.

    “Segundo ele, em épocas de crise, seria esperado que índices de furto aumentassem e o Poder Judiciário teria que dar uma resposta satisfatória para não ser conivente com isso.”

    É simplesmente inacreditável.

    Esses são os nossos “Gigantes Curriculares”!

    Homens com a mais alta formação acadêmica, repletos de diplomas e títulos honoríficos, versados em linguagem de rábula!

    INACREDITÁVEL!!!!!

    NÃO VALEM UMA GEORGINA!!!!!

    NÃO VALEM UMA GEORGINA!!!!!

    E o próximo Gigante Curricular a adentrar esse Olimpo é isso aí:

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/moraes-plagiou-autor-espanhol/

     

  • País de merrecas, isto sim.

    País de merrecas, isto sim. Quantos milhões, até agora, gastou o estado com essa palhaçada? Idiotia tem preço.

  • Quem rouba um tostão é barão, quem rouba um bilhão é barão

    O Lewandovski tá certo. A Georgina não é uma baronesa, é uma ladra. Tentou roubar tão pouquinho, Coitada. Ela é pobre até no furtar.

  • é tudo tão grotesco...

    alguém tentou se apoderar de mercadorias no valor de R$ 42,00 e a justiça fez os contribuintes perderem no mínimo

    R$ 42.000,00

    e ainda chamam esta merda de Justiça

  • Até que uma vez concordo com

    Até que uma vez concordo com Gilmar Mendes. Agora que o voto do Lewandowonski eo do Fachim são prá lá de rídiculos, patéticos, e não adianta nem ir ao dicionário não há adjetivos mais. Só mesmo indo ao Ponte Preta : FEBEAPA. e KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    O duro é q como já comentaram  esta patetice tem um custo. E nóis  que paga mano. Inclusive as bolsas que muitos tiveram para conseguir os  títulos que os presumem tão doutos. Argh.

Recent Posts

“Para mim é um alívio essa correição”, diz Gabriela Hardt

Substituta de Sergio Moro, juíza admite erros no caso Tacla Duran, mas garante que não…

7 horas ago

O que está por trás da nova corrida pelo ouro

Incertezas políticas e internacionais estão por trás da disparada de preços do minério, diz professor…

7 horas ago

Como capturar o comum cotidiano ou a própria vida, por Maíra Vasconcelos

A cada dia, ficamos esquecidos no dia anterior sem ter conseguido entender e ver o…

7 horas ago

Lula e ministros visitam RS para garantir recursos às vítimas das chuvas

Exército aumentou o número de militares e opera hospital de campanha; Transportes se comprometeu a…

8 horas ago

Entrevista: Ilan Fonseca, procurador que trabalhou como motorista de Uber, revela a dura realidade dos aplicativos

Escritor e membro do MPT, Ilan Fonseca propõe alternativas ao oligopólio que controla trabalhadores sem…

9 horas ago

Temporais no Rio Grande do Sul rompem barragem e autoridades alertam para população deixar área

Barragem 14 de Julho, no interior do Rio Grande do Sul, rompe com as fortes…

9 horas ago