“Doutor Moro, o senhor se sente responsável por destruir empregos?”, perguntou Lula

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – O ex-presidente Lula confrontou o juiz Sergio Moro sobre o impacto da Lava Jato na economia, a relação promíscua dos procuradores e juízes com a imprensa e as delações “forçadas”, que só são aceitas pelo Ministério Público Federal quando citam o petista.

Lula perguntou a Sergio Moro se ele se sente responsável pelo fato da Lava Jato ter destruído a indústria da construção civil e afetado setores de óleo e gás, gerando milhares de desempregados. Isso ocorreu após o magistrado perguntar se Lula não se sentia, de alguma forma, responsável pela corrupção que ocorria na Petrobras.

Moro repetiu inúmeras vezes a mesma pergunta: “O senhor não se sente responsável”. Em uma das vezes, Lula respondeu que não, que não via sequer responsabilidade administrativa por ter sido presidente da República enquanto a Petrobras era corrompida, pois a estatal tem administração independente.

Quando Moro insistiu mais uma vez, Lula rebateu com dados do desemprego provocado pelo impacto da Lava Jato na economia. Além disso, afirmou que a operação poderia ter sido feita e a corrupção, combatida, se a chamada República de Curitiba não usasse a imprensa para destruir a imagem das empresas e dos acusados.

Lula também disse que a força-tarefa usa a imprensa para manter os investigados presos e forçar delações premiadas. A “senha” para sair da cadeia é, de acordo com o ex-presidente, citar o seu nome. Prova disso é que todos que delataram e citaram Lula, de alguma forma, estão soltos, desfrutando de mansões e “fumando charuto cubano com dinheiro roubado”.

O confronto está registrado no 5º video do depoimento de Lula a Moro, no último dia 10, que durou quase cinco horas. Começa a partir dos 15 minutos:

https://www.youtube.com/watch?v=QjECjTqsZZ0]

Moro: O senhor ex-presidente entende que com esses fatos, milhões de dólares pagos em propina por contratos da Petorbras, o senhor entende que não tem nenhuma responsabilidade?

Lula: Nenhuma responsabilidade.

Moro: Nem sequer administrativa?

Lula: Nem administrativa. O presidente não administra a Petrobras.

Moro: A Petrobras não é da União?

Lula: A Petrobras é uma empresa com ações na bolsa de valores, empresa pública em que o governo tem minoria nas ações. O governo efetivamente não participa da administração da Petrobras.

Moro: Mas tem o controle, né, senhor ex-presidente?

Lula: Tem o controle, mas no dia a dia, não participa.

Moro: O senhor entende que não tem nenhuma responsabilidade?

Lula: Nenhuma responsabilidade.

(…)

16’52” – 19’24”

Moro: Então o senhor acha que não teve responsabilidade. O senhor entende que teve alguma falha?

Lula: Doutor Moro, o senhor se sente responsável pela Lava Jato ter destruído a indústria da construção civil desse país? O senhor se sente responsável por 600 milhões de pessoas [sic] que já perderam o emprego do setor de óleo e gás e da construção civil? Eu tenho certeza que não.

Moro: Mas o senhor entende que o que prejudicou essas empresas era a corrupção ou o combate à corrupção?

Lula: Era o método de combater a corrupção.

Moro: Ao que o senhor se refere?

Lula: Quero dizer o seguinte: quando o juiz e os acusadores se submetem à imprensa para poder prender as pessoas, aí tudo mais é possível.

Moro: De que forma o Juízo teria se submetido à imprensa, oh, senhor ex-presidente?

Lula: O senhor disse num artigo que o senhor escreveu, copiando as Mãos Limpas da Itália, que se a imprensa não ajudar, não tem como prender rico e político. Então aí vamos deteriorar, degradar a imagem das pessoas na imprensa. Eu vi o depoimento de Léo [Pinheiro. Eu conheço o Léo de antes e depois do depoimento. Depois que o cidadão é condenado a 23 anos de cadeia, ser chamado para falar e a coisa mais importante que tem a falar é que ‘Lula sabia’? Depois de condenar e execrar a imagem de um pai de família, que por mais errado que esteja, merece respeito, como o Duque, a 40 anos de cadeia, e depois prometer a ele liberdade, se a senha falada for ‘Lula sabia’…

Moro: Quem prometeu liberdade para ele?

Lula: Eu vi, eu vi! Eu estou vendo isso na imprensa há tempos!

Moro: Quem prometeu liberdade?

Lula: Ele vai fazer delação, doutor. E a condicionante, vemos na imprensa há meses, é citar o nome do Lula. O senhor me desculpe, respeito seu trabalho, mas esse último mês foi o mês Lula. Vamos chamar todo mundo… Se pudesse ressuscitar o Conde de Monte Cristo, ele viria aqui dizer que foi o Lula. Então, doutor, eu tenho consciência do que eu fiz e não fiz o que meus adversários pensam que eu fiz. 

(…)

Moro: Com todo respeito, essas afirmações são equivocadas. Ninguém dirige esses acordos com a esse intuito específico, tá certo?

(…)

Carlos dos Santos Lima: Pela ordem, o Ministério Público vai esclarecer que isso se trata apenas de uma fantasia, porque em nenhum momento o Ministério Público prometeu benefício para qualquer pessoa que não tenha acordo vir falar nesse processo.

(…)

Moro: Quer dizer, então, que a corrupção favorece a economia e o combate à corrupção gera desemprego?

Lula: (…) Não coloque palavras na minha boca, de que eu sou a favor da corrupção. (…) Você pode fazer apuração de corrupção usando inteligência, ou pode fazer usando manchete de jornal. (…) Eu acho que combate à corrupção é necessário no Brasil e no mundo, mas dá para fazer isso sem destruir os agentes produtivos.

 

Lula depôs no âmbito da ação penal que trata do triplex no Guarujá.

O GGN acompanhou os outros vídeos do depoimento a Moro:

VIDEO 1 – Moro incluiu corrupção na denúncia do triplex

VIDEO 2 – Lula: invenção do triplex é “prestação de contas” do MP à Globo

VIDEO 3 – “Se as testemunhas não dissessem a senha ‘Lula’, não valia para vocês”

VIDEO 4 – Lula: “Você que grampeou Youssef, deveria saber mais de corrupção que eu”

VIDEO 6 – O julgamento político de Moro contra Lula

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Por favor, os universitários

    Por favor, os universitários me ajudem!  Enrabada é sinônimo de entubação anal ou laparoscopia no intestino?

  2. “Carlos dos Santos Lima: Pela

    “Carlos dos Santos Lima: Pela ordem, o Ministério Público vai esclarecer que isso se trata apenas de uma fantasia, porque em nenhum momento o Ministério Público prometeu benefício para qualquer pessoa que não tenha acordo vir falar nesse processo”:

    Nem precisa.  Ele eh obvio desde o comeco.

  3. Moro, sabendo ser Lula esse

    Moro, sabendo ser Lula esse homem irônico, bruto, que quando se entende com a razão não se dobra a ninguém, explorou ao máximo a veia crítica do ex-Presidente, se expondo ao mínimo, enquanto sabia que as televisões iriam mostrar aquela imagem de Lula de garganta afiada e a dele, como se fosse um Papa no Vaticano. Por isso não faltam na imprensa jornalistas, como Boechat a dizerem que Moro foi muito prudente pedindo ao povo para não se manifestar, ou pela forma com que deu amplo direito de defesa a Lula.

    E já tem muita matéira especulando mais a fundo esse encontro de Lula e Moro, sem nenhuma crítica aos abusos da justiça, sobretudo pelo tempo de exposição dessa oitiva, que cansaria um jovem de 18 anos, quanto mais um idoso de mais de 70. Por um lado, o que Lula mostou foi garra, foi viço, foi força de quem, apesar da idade, tá vivo e bulindo, como diz o nordestino; e não só isso: mostrou muita indignação e vociferou contra todas as arbitrariedades do seu maior desafeto do momento, sem titubear nas respostas, e indo longe nas suas considerações a respeito da propaganda malvada que faz a imprensa macomunada com o seu algoz. Nã à-toa Lula dizia que tinha pressa e ansiedade para chegar a esse dia, porque estava tudo engasgado, e ali, naquele foro, Lula arrebentou, queiram ou não os que fingem em dizer o contrário.

    A imprensa tá como o diabo gosta, mais ainda após ver Lula dando-lhe o troco, reverberando o que muitos sabe como ela age, porque ainda tem muito poder de força, e não aceita deixar barato acusações tão bem apropriadas e sinceras. Sabe, apesar de tudo, que ainda tem cartas na manga, e, ajudada pela justiça, e vice-versa, ambas vão dando conta de ir desfazendo uma coisa desagradável a ela para pôr no centro da mesa outra que acaba de chegar, quentinha: a divulgação dos depoimentos de Santana e Mônica. Outro capítulo da história de maldades contra Lula, e de novo, sem provas cabais. 

     

  4. Corrupção

    O Procurador Eugênio Aragão já demonstrou que na Alemanha empresas que colaboram com os nazistas não foram destruídas porque eram utéis ao Estado Alemão , geravam empregos. pagavam impostos.No Brasil se dá o inverso se destrói as empresas.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador