Dia Nacional da Leitura: temos o que comemorar?, por Valéria Martin Valls

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Dia Nacional da Leitura: temos o que comemorar?, por Valéria Martin Valls

No Brasil temos várias datas comemorativas relacionadas ao livro e a leitura, são elas: o Dia Mundial do Livro (23 de abril), o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil (2 de abril), o Dia da Leitura (12 de outubro), o Dia Nacional do Livro Infantil (18 de abril) e o Dia Nacional do Livro (29 de outubro).

Especialmente sobre a comemoração do Dia Nacional da Leitura e da Semana Nacional da Leitura, no dia 12 de outubro, ela foi instituída pela Lei 11.899/09, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que afirmou que a iniciativa estimulará a convivência da sociedade com a produção literária do país, além de ter a intenção de enfatizar junto à sociedade brasileira a importância do cultivo do amor aos livros desde a infância.

Mas, de fato as crianças brasileiras têm contato com livros na família, na escola e nas bibliotecas? A leitura é um componente cultural da nossa sociedade? A cultura digital tem afetado o hábito de leitura das crianças, que já estão conectadas muito antes de serem alfabetizadas? Os jovens ainda se sentem atraídos pelo livro tradicional?

Nesse contexto, em pesquisa recente sobre a Leitura e Informação na cidade de São Paulo a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP apresentou dados muito relevantes: segundo a pesquisa, os principias meios de se informar sobre o que acontece na cidade são os Portais da Internet (34%), as Redes Sociais (26%) seguidos de perto pelos telejornais (25%), dentre outros meios, o que indica que a internet hoje é o grande canal de acesso a informação por parte dos paulistanos.

Outro dado interessante se relaciona à quantidade de livros lidos, que foi categorizada por formação: quem mais lê são os cidadãos com mestrado (15 livros) e pós-graduação (9), e na categoria jovem quem tem colegial incompleto (8) e primário incompleto (7).  A pesquisa ainda apresenta que o gênero literário mais lido é o de não-ficção (39%), seguido por ficção (35%), autoajuda/religioso (25%) e infanto-juvenil (1%), considerando que 40% dos entrevistados tem entre 20 e 29 anos.

A análise desses dados aponta para uma tendência: sim, os jovens ainda leem livros em formato tradicional, mas não podemos perder de vista que o fomento à leitura não se restringe somente ao aumento da produção editorial.

Livrarias não são bibliotecas!

Nas livrarias há um grande apelo comercial e a cada ano cresce exponencialmente o número de títulos disponíveis para venda, com o crescimento das FL´s (feiras de livros) espalhadas pelo Brasil. No caso das livrarias, há o incentivo ao consumo de livros que indiretamente pode estar relacionado sim ao aumento da leitura. Comprar livros pode não ser sinônimo de ler livros, já que não é incomum as pessoas acumularem grandes quantidades de livros não lidos…

As bibliotecas por sua vez devem ser espaços de mediação da leitura e da aprendizagem, ou seja, além de dispor de livros para empréstimo, a biblioteca é o local ideal para que crianças, jovens e adultos tenham contato com a leitura e com todo o universo da informação, ampliando sua visão de mundo e senso crítico. A biblioteca deve ser uma janela para o mundo: da cultura, da informação, da colaboração e da criação de novos conhecimentos!

Nesse sentido, a sociedade deve se posicionar para ampliar o número de bibliotecas escolares e públicas, garantido o acesso de toda à população a esses importantes equipamentos culturais e educacionais. Garantir o acesso à informação (que seria o mínimo) e mais do que o acesso, a ampliação do senso crítico dos cidadãos, que deveria ser uma política de Estado, independente do partido deste ou daquele membro do Executivo municipal, estadual ou federal.

A educação e a cultura devem caminhar juntas! Não basta instituir dias comemorativos que isoladamente não garantem políticas públicas a longo prazo. A sociedade deve se mobilizar nesse sentido, entendo que um pais democrático se sustenta por cidadãos conscientes do seu papel social e com uma visão de mundo mais colaborativa e igualitária.

O livro é e continuará sendo um importante instrumento para que isso aconteça. Mas não basta fornecer/vender livros, precisamos ampliar as oportunidades de “leitura do mundo” às crianças, jovens e adultos, especialmente com o advento das novas formas de interação digital, onde as relações e informações são fluídas e voláteis. É preciso mais interação e com certeza a leitura, o livro e as bibliotecas podem ser excelentes aliados nessa empreitada.

Valéria Martin Valls é Bibliotecária e Profa. Dra. em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, coordenadora e docente do curso de graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo FESPSP) e coordenadora de pós-graduação  do Núcleo de Ciência da Informação da FESPSP.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Quero crer que está se lendo mais.

    A sacralização da leitura como ação dos iniciados apenas, dificulta muitas vezes a aproximação de quem lê do objeto/ produto a ser lido. As plataformas digitais têm oferecido bem maiores oportunidades a leituras.

    REPITO:

    Há que se fazer, em bibliotecas, salas de leitura e em outros espaços, a mediação entre leitores e leituras. Sem isso, e com o ensino extremamente “acadêmico’- no pior sentido- que temos em escolas, tudo fica muito, mas muito mais difícil.

    Ontem postei, quando da publicação dos resultados da pesquisa aqui no blog, um pedido: voltarmos a fazer trocas de livros, flash- mobs com “abandono” de livros, por vários lugares das cidades, campanhas com ações de leitura etc. etc. e, principalmente, manutenção de boas bibliotecas e de bibliotecárias, que realmente gostem de ler.

  2. A LEITURA COMO POLÍTICA PÚBLICA E DIREITO DE CIDADANIA

    A LEITURA COMO POLÍTICA PÚBLICA E DIREITO DE CIDADANIA

    Este curso é resultado de um parceria entre a Escola do Parlamento e o Tribunal de Contas do Município – TCM

    Objetivos: Discutir, sob diferentes pontos de vista e a partir de diferentes aspectos, o agendamento, formulação e implementação de políticas públicas do livro, da leitura, da literatura e da biblioteca no Brasil; Apresentar um panorama crítico do processo de formulação e aprovação do PNLL e do PMLLB/SP, em diálogo com experiências de outros municípios do País; Discutir a leitura como direito de cidadania e delinear um panorama a respeito de sua realização no município de São Paulo.

    Coordenador: Prof. Dr. José Castilho Marques Neto (MinC/UNESP)

    Diretor Responsável: Lara Mesquita

    Local: Auditório da Escola Superior de Gestão e Contas Públicas do TCMSP: Av. Prof. Ascendino Reis, 1130 – Vila Clementino – São Paulo – SP – CEP 04027-000 – Tel. 5080-1387

    Inscrições: 06/10 a 13/10 (ou até o preenchimento das vagas, o que ocorrer primeiro)

    INSCREVA-SE AQUI!

    Programação:

    15/out19h – 21hMesa I – O PNLL e as políticas públicas de livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil.Eliana Lucia Madureira Yunes (PUC-RJ)Fernando “Ruivo” Lopes (Coletivo Perifatividade)16/out9p0 – 11p0Mesa II – O PMLLB em São Paulo: Desafios e Possibilidades da Política Urbana para a LeituraRicardo Queiroz Pinheiro (CMSP)Rodrigo Ciríaco (escritor – a conf.)13p0 – 15p0Mesa III – Democratização do acesso à leitura e o papel da mediação: o que define o acesso, instrumentos e ações contemporâneas.Dolores Prades (Instituto Emília)José Vandei Silva de Oliveira (Tenda Literária – a conf.)16h – 18hMesa IV – O valor simbólico da leitura, seu lugar institucional na Política Pública e a Economia Criativa: a história e a contemporaneidade de múltiplas possibilidades.Nabil Bonduki (Secretário Municipal de Cultura)João Luiz Cardoso Taipas Ceccatini (UNESP – a conf.)19h – 21hMesa V – Políticas Articuladas de Leitura entre a Educação e a Cultura: história, impasses, desafios, possibilidades.Paulo Gabriel Soledade Nacif (SECADI/MEC)Bel Santos (IBEAC/SP e LiteraSampa – a conf.)17/out9p0 – 11p0Mesa VI – Formação de Leitores e as diversidades: A importância da Leitura na afirmação da igualdade nas relações étnico-raciais, nas relações de gênero e das identidades LGBT na metrópole paulistanaAlexsandro Santos (CMSP)Dario Ferreira de Sousa Neto (FFLCH/USP)11p0 – 13p0Mesa VII – Biblioteca de Acesso Público e Espaços de Leitura: bibliotecas públicas, escolares, comunitárias: missões e espaços múltiplos de leitura, o que permanece no mundo digital?Charlene Kathlen de Lemos (Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes)Maria Aparecida Arias Fernandez (Centro de Cultura Luiz Freire/PE)14p0 – 16p0Mesa VIII – A leitura Literária como principal formadora de leitores plenos: literaturas clássicas e contemporâneas, a literatura periférica das metrópoles, o papel do escritor

     

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