Ora, ora, ora: a ministra Maldares Alves também quer aparecer na Amazônia!, por Sebastião Nunes

Ora, ora, ora: a ministra Maldares Alves também quer aparecer na Amazônia!

por Sebastião Nunes

Em outro gabinete da esplanada dos ministérios, estranha senhora (como diria Machado de Assis no final do século XIX) também invocava o Espelho mágico:
– Espelho, Espelho meu, existe ministra mais inteligente do que eu?
“Caralho!”, pensou o Espelho, “será que essa maluca não se enxerga?”.
Logo depois da posse e antes de ser derrotado e preso na Amazônia, o cavaleiro Messias encomendara a um mercador grego dois espelhos mágicos, um para cada ministra-fêmea, como ele dizia.
– Quero espelhos com duas qualidades: primeiro, que respondam a tudo que as ministras-fêmeas perguntarem. Segundo, que os espelhos transmitam a meu centro de informações tudo o que se passar no gabinete delas.
O mercador grego, famoso entre chiques e milionários, entregou no dia seguinte os dois espelhos. Quanto custaram? Não sei. Melhor perguntar ao Queiroz.
Enfim, lá estava a ministra Maldares entregando um belo abacaxi para o Espelho descascar. Enquanto esperava a resposta, continuou ensinando às cobras que lhe povoavam a cabeleira a se comportar em público.
– Fica quieta, Margarida. Não bota a língua de fora.
– Para de chacoalhar o rabo, Hermenegilda. Não esquece que és uma víbora.
– Não fica silvando à toa, Janaína. Cuidado com o que fala.
Etc.

ANGÚSTIAS DE ESPELHO MÁGICO
Como todo Espelho mágico, este também possuía mil qualidades e virtudes, além de atuar, nas horas vagas, como professor.
Foi ele, por exemplo, que sugeriu a Maldares aquele papo de “menina veste rosa e menino veste azul”. Teve certeza antecipada do sucesso.
Foi ainda ele quem contou a história do Cristo na goiabeira, que na verdade tinha acontecido com Chico Bento.
O Espelho só não conseguia meter na cabeça dura da Maldares que ela era ministra da mulher (sic), da família (sic) e dos direitos humanos (sic), nessa ordem.
– Não, Maldares – resmungava ele. – Você não prestou atenção. Primeiro vem a mulher, que é a raiz de tudo, depois a família, que é o núcleo da sociedade, só depois vêm os tais direitos humanos, aqueles que se colar colou. Nessa ordem, sacou?
– Mas o que tem raiz é mandioca… e homem – explicava Maldares, soltando uma risadinha. – Mulher tem é um buraco cabeludo no meio das pernas.
– Não seja grosseira, Maldares – impacientava-se o Espelho. – Lembre-se que você é pastora e tem de dar bom exemplo. Raiz aqui quer dizer origem, princípio.
– Mas o princípio de tudo não é Deus? – questionava Maldares. – Acima de tudo está Deus. Depois o cavaleiro Messias. Depois as milícias. Depois os filhos de Messias. Depois os ministros que nem eu. Direitos humanos nem sei o que é.
– Não é disso que estou falando, Maldares – teimava o Espelho. – Estou falando da ordem social e de como o seu ministério se encaixa nela.
– Encaixa em quê?
– Na ordem social…
– Ah, bom. Na ordem social. Mas o que é ordem social?

SIM, ELA NÃO ENTENDEU NADA
Bufando de raiva – porque os espelhos mágicos também bufam de raiva – o Espelho tentou de novo.
– Vamos lá, Maldares. Diga o nome do seu ministério.
– Primeiro vem a mulher. Depois… vem o quê?
– Repita comigo, Maldares – recomeçou o Espelho. – Ministério da mulher…
– Ministério da mulher… repetiu Maldares.
– … da família…
– … da família…
– … e dos direitos humanos.
– … e dos direitos humanos – concluiu Maldares. – Mas você tá enrolando, Espelho. Você não respondeu se existe ministra mais inteligente do que eu.
“Tá danado” – pensou o Espelho com suas dobradiças. “De ministra, além dela, só tem a Tereza Cristina. A Maldares não é mais burra porque é uma só. Mas será mais inteligente a outra, que só entende de desmatamento, soja e vaca? Tô lascado, mas tenho de responder!”.
– Com certeza, Maldares – disse baixinho o Espelho. – Você é a mais.
– Não enrola, Espelho – ameaçou Maldares. – Não enrola ou te faço picadinho com um martelo. Sou a mais o quê?
– A mais tudo – desconversou o Espelho mágico.
– A mais tudo, não senhor – protestou Maldares. – Sou a mais inteligente entre as ministras. Acima de mim tem o cavaleiro Messias, que tem lá sua raiz, tem o Senhor, que não sei se tem raiz…
“Valha-me Deus!”, desesperou-se o Espelho mágico. “Será que o cavaleiro Messias não achou uma mulher menos burra pra botar no ministério? Ou será que foi por isso mesmo?”

Sebastiao Nunes

Sebastiao Nunes

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