Em outro gabinete da esplanada dos ministérios, estranha senhora (como diria Machado de Assis no final do século XIX) também invocava o Espelho mágico:
– Espelho, Espelho meu, existe ministra mais inteligente do que eu?
“Caralho!”, pensou o Espelho, “será que essa maluca não se enxerga?”.
Logo depois da posse e antes de ser derrotado e preso na Amazônia, o cavaleiro Messias encomendara a um mercador grego dois espelhos mágicos, um para cada ministra-fêmea, como ele dizia.
– Quero espelhos com duas qualidades: primeiro, que respondam a tudo que as ministras-fêmeas perguntarem. Segundo, que os espelhos transmitam a meu centro de informações tudo o que se passar no gabinete delas.
O mercador grego, famoso entre chiques e milionários, entregou no dia seguinte os dois espelhos. Quanto custaram? Não sei. Melhor perguntar ao Queiroz.
Enfim, lá estava a ministra Maldares entregando um belo abacaxi para o Espelho descascar. Enquanto esperava a resposta, continuou ensinando às cobras que lhe povoavam a cabeleira a se comportar em público.
– Fica quieta, Margarida. Não bota a língua de fora.
– Para de chacoalhar o rabo, Hermenegilda. Não esquece que és uma víbora.
– Não fica silvando à toa, Janaína. Cuidado com o que fala.
Etc.
ANGÚSTIAS DE ESPELHO MÁGICO
Como todo Espelho mágico, este também possuía mil qualidades e virtudes, além de atuar, nas horas vagas, como professor.
Foi ele, por exemplo, que sugeriu a Maldares aquele papo de “menina veste rosa e menino veste azul”. Teve certeza antecipada do sucesso.
Foi ainda ele quem contou a história do Cristo na goiabeira, que na verdade tinha acontecido com Chico Bento.
O Espelho só não conseguia meter na cabeça dura da Maldares que ela era ministra da mulher (sic), da família (sic) e dos direitos humanos (sic), nessa ordem.
– Não, Maldares – resmungava ele. – Você não prestou atenção. Primeiro vem a mulher, que é a raiz de tudo, depois a família, que é o núcleo da sociedade, só depois vêm os tais direitos humanos, aqueles que se colar colou. Nessa ordem, sacou?
– Mas o que tem raiz é mandioca… e homem – explicava Maldares, soltando uma risadinha. – Mulher tem é um buraco cabeludo no meio das pernas.
– Não seja grosseira, Maldares – impacientava-se o Espelho. – Lembre-se que você é pastora e tem de dar bom exemplo. Raiz aqui quer dizer origem, princípio.
– Mas o princípio de tudo não é Deus? – questionava Maldares. – Acima de tudo está Deus. Depois o cavaleiro Messias. Depois as milícias. Depois os filhos de Messias. Depois os ministros que nem eu. Direitos humanos nem sei o que é.
– Não é disso que estou falando, Maldares – teimava o Espelho. – Estou falando da ordem social e de como o seu ministério se encaixa nela.
– Encaixa em quê?
– Na ordem social…
– Ah, bom. Na ordem social. Mas o que é ordem social?
SIM, ELA NÃO ENTENDEU NADA
Bufando de raiva – porque os espelhos mágicos também bufam de raiva – o Espelho tentou de novo.
– Vamos lá, Maldares. Diga o nome do seu ministério.
– Primeiro vem a mulher. Depois… vem o quê?
– Repita comigo, Maldares – recomeçou o Espelho. – Ministério da mulher…
– Ministério da mulher… repetiu Maldares.
– … da família…
– … da família…
– … e dos direitos humanos.
– … e dos direitos humanos – concluiu Maldares. – Mas você tá enrolando, Espelho. Você não respondeu se existe ministra mais inteligente do que eu.
“Tá danado” – pensou o Espelho com suas dobradiças. “De ministra, além dela, só tem a Tereza Cristina. A Maldares não é mais burra porque é uma só. Mas será mais inteligente a outra, que só entende de desmatamento, soja e vaca? Tô lascado, mas tenho de responder!”.
– Com certeza, Maldares – disse baixinho o Espelho. – Você é a mais.
– Não enrola, Espelho – ameaçou Maldares. – Não enrola ou te faço picadinho com um martelo. Sou a mais o quê?
– A mais tudo – desconversou o Espelho mágico.
– A mais tudo, não senhor – protestou Maldares. – Sou a mais inteligente entre as ministras. Acima de mim tem o cavaleiro Messias, que tem lá sua raiz, tem o Senhor, que não sei se tem raiz…
“Valha-me Deus!”, desesperou-se o Espelho mágico. “Será que o cavaleiro Messias não achou uma mulher menos burra pra botar no ministério? Ou será que foi por isso mesmo?”
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