O escandaloso papel do FIB Bank, o “lorota banco”, no esquema da Covaxin

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A CPI mostrou que o FIB Bank aparentemente "não tem lastro" algum para dar garantias pela compra bilionária da Covaxin. É uma "empresa fantasma" e com "sócios laranjas"

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Jornal GGN – Escabroso. Demolidor. Escandaloso. Um dos mais importantes depoimentos em 120 dias de trabalho. Foi com esses termos que os senadores da CPI da Covid definiram nesta quarta-feira (25) o depoimento de Roberto Pereira Ramos, o presidente – mas não dono – do FIB Bank, apelidado pela comissão parlamentar de inquérito como “lorota banco”.

Como ficou claro na CPI, o FIB Bank não é um banco, mas um fundo garantidor de crédito que se apresentou como fiador da Precisa Medicamentos na compra da vacina Covaxin para revenda ao Ministério da Saúde.

O governo Bolsonaro ensaiou assinar um contrato de 1,6 bilhão de reais pela vacina indiana que seria intermediada pela Precisa Medicamentos, de Francisco Maximiano, que já tem negócios milionários com a Saúde graças à passagem de Ricardo Barros – hoje líder do governo Bolsonaro na Câmara – no Ministério, durante o governo Temer.

A CPI mostrou que o FIB Bank aparentemente “não tem lastro” algum para dar garantias pela compra bilionária da Covaxin. É uma “empresa fantasma” e com “sócios laranjas”, insistiram senadores como Simone Tebet e Izalci Lucas.

Curiosamente, o contrato social do FIB Bank apontava um capital social de 7,5 bilhões de reais, integralizados sobretudo por meio de dois imóveis, um no Paraná e outro em São Paulo. Um deles – que seria equivalente a 10% da área urbana de Curitiba – representa 75% do capital social. Custaria, segundo Randolfe Rodrigues, tão caro quanto o Palácio de Buckingham, na Inglaterra.

E tem mais: os imóveis estariam relacionados a outras empresas que pertencem ao empresário, advogado e amigo pessoal de Ricardo Barros, Marcos Tolentino. Ele, inclusive, acompanhou Barros em seu depoimento na CPI, há alguns dias.

Tolentino, segundo o depoente, foi quem conversou com o setor comercial do FIB Bank para viabilizar o negócio com a Precisa.

Como se as ligações entre FIB Bank, a Precisa e Ricardo Barros não fossem suficientes para arrepiar os fios de cabelos dos senadores, a própria fundação da empresa se mostrou um verdadeiro “caso de polícia”, nas palavras da cúpula da CPI.

Randolfe apresentou documentos mostrando que ao menos dois sócios faleceram em 2017 e 2020, mas continuaram fazendo movimentações em nome de uma empresa relacionada ao FIB Bank em agosto de 2021. Amparado por um habeas corpus, o depoente preferiu ficar em silêncio.

Além disso, outras duas pessoas tiveram seus nomes usados, com laranjas, para abrir a “empresa de prateleira” que antecedeu o que hoje se tornou o FIB Bank. Uma delas é um trabalhador humilde, do interior de Alagoas, que sequer conseguiu fazer o financiamento de uma moto e resgatar seu seguro-desemprego após uma demissão, pois seu nome constava indevidamente como sócio de uma empresa bilionária.

Como a Lava Jato, que fez uma devassa a partir do Paraná, nunca se deparou com os negócios do FIB Bank e empresas relacionadas, é o que o senador Rogério Carvalho quer saber. Ele também questionou o valor do IPTU de um terreno de mais de 7 bilhões de reais. O depoente não soube responder. Para os senadores, Ramos passou mal impressão por desconhecer inúmeros detalhes sobre a empresa que preside.

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