Relatório mostra desmatamento florestal no Brasil afetando mudanças climáticas

“Desmatamento em curso na Amazônia agrava ainda mais os efeitos negativos do clima globalmente, sobre a floresta e os brasileiros que lá vivem”, diz o diretor executivo do IPAM

José Cruz – Agência Brasil

IPCC mostra Brasil e Amazônia vulneráveis às mudanças climáticas global

Do IPAM Amazônia

O novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) dá um recado contundente: não há mais dúvidas de que as mudanças climáticas estão em curso devido às ações humanas, já com efeitos negativos em todo o planeta. E, ainda, se medidas para conter as emissões de gases estufa não forem tomadas, imediatamente, a situação só vai piorar

Esse é o sexto trabalho do IPCC desde sua criação, em 1992, que consiste em uma ampla revisão de trabalhos científicos publicados sobre o tema nos últimos anos. É também o relatório mais incisivo. “Não existe mais espaço para dúvidas sobre o papel humano nas mudanças climáticas, nem para leniência. Diante do grave cenário descrito pelo IPCC, o cenário para Amazônia poderá ser ainda pior do que o previsto pelo relatório”, afirma o pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho.

Todo o globo sente os efeitos do aquecimento do planeta, 1,1ºC a mais em média em comparação com as temperaturas registradas desde 1850. Nos próximos 20 anos, a temperatura deve ultrapassar 1,5ºC a mais – trazendo ainda mais efeitos negativos para a vida das pessoas, como extremos de temperatura mais frequentes, intensos e perigosos.

No Brasil, a temperatura pode subir entre 4ºC e 5ºC nas próximas décadas. Isso terá efeito direto na disponibilidade de chuva e na produtividade do agronegócio. “O desmatamento em curso na Amazônia agrava ainda mais os efeitos negativos do clima: globalmente, sobre a floresta e os brasileiros que lá vivem”, diz o diretor executivo do IPAM, André Guimarães. “Para manter a capacidade produtiva no campo, é preciso agir agora.”

Além disso, um ambiente mais quente e seco torna a vegetação ainda mais inflamável. Neste fim de semana, por exemplo, uma expedição do IPAM e do Woodwell Climate Research Center observaram incêndios florestais no Cerrado e no Pantanal de Mato Grosso, que começaram de forma acidental e alastraram-se rapidamente, atingindo propriedades rurais e a vegetação nativa. “Quanto mais quente e seco o ambiente fica, maior é o risco de qualquer foguinho virar um incêndios de grandes proporções, produzindo fumaça que tem levado milhares de brasileiros aos hospitais, todo ano”, explica a diretora do IPAM, Ane Alencar.

A principal contribuição do Brasil para o agravamento das mudanças climáticas é o desmatamento e a degradação florestal. Em 2019, o país lançou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), crescimento de 9,6% em relação ao ano anterior. O setor de mudanças de uso da terra respondeu pelo maior aumento, 23%, e quase metade de todas as emissões brasileiras naquele ano: 44%, ou 968 milhões de tCO2e, segundo o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa).

É neste setor de uso da terra, contudo, que o Brasil pode fazer uma contribuição fundamental para o futuro do clima planetário. Para isto, o país precisa reduzir o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, recuperar com florestas as áreas degradadas e aumentar a produtividade agrícola nas grandes áreas já desmatadas e que estão subutilizadas.

Redação

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