Morre na França o violonista brasileiro Toninho Ramos
Por Geovany Hércules
O grande violonista brasileiro Toninho Ramos, que fez carreira na Europa, morreu na manhã desta terça-feira (28/02) em Toulon, na França. As causas ainda não foram reveladas. Segundo a violonista Cristina Azuma, que reside em Paris e trouxe as primeiras informações ao Acervo Violão Brasileiro, Toninho estava sozinho em seu apartamento, quando os vizinhos ouviram um barulho vindo sua residência. Ele já foi encontrado sem vida.
Antônio Ramos (1942-2023), que no próximo dia 6 de março completaria 81 anos de idade, deixa o legado de um estilo bem pessoal de tocar e compor, extremamente rítmico e harmônico, com muita liberdade de improvisação, fruto de suas influências de música brasileira, música clássica, free jazz e música atonal, como destaca Azuma no verbete que escreveu para o Dicionário do Acervo.
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Residindo na França desde a década de 1970, Toninho Ramos nasceu em São Paulo em 1942, mas cresceu em Uberaba, Minas Gerais. Do começo autodidata às primeiras aulas de música, a qualidade de compositor-intérprete surgiu aos 13 anos, já em suas primeiras apresentações, em que mesclava obras clássicas e populares com suas primeiras composições e arranjos.
A evolução musical sempre foi orientada pelo constante desejo de descobrir novas sonoridades e novas técnicas. De acordo com Cristina Azuma, Ramos utilizava os cinco dedos da mão direita para os acordes, os diferentes dedos na mão direita para escalas e a técnica de palheta com cada dedo da mão direita.
Durante a juventude em São Paulo, Toninho Ramos tocou em boates da noite paulistana na Galeria Metropolis: Carinhoso, Jogral, onde conviveu com grandes músicos, como Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte e Jorge Benjor. Nessa mesma época, aos 19 anos, começava a sua carreira docente, ensinando choro e música brasileira antiga numa escola de música e também em aulas particulares. Um de seus alunos ilustres é o violonista e compositor Eduardo Gudin.
Seu primeiro LP, O Violão e a Flor, foi lançando em 1969, e contém vários arranjos de músicas brasileiras e duas peças de sua autoria. No segundo disco gravou clássicos, como Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos e o Adagio de Albinoni. Dedicou-se com afinco ao estudo do violão clássico, tendo aulas com o violonista Geraldo Ribeiro. Nessa época, Toninho Ramos começou a ficar apreensivo de tocar em público, voltando para noite só aos 28 anos. Passou progressivamente para o violão de 7.
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Foi à Europa por três vezes acompanhando o grupo do sambista Martinho da Vila até decidir se fixar na França definitivamente. Trabalhou em boates francesas, como Discophage et Chez Felix, e fez shows na Alemanha e em Amsterdam, como solista e com outros músicos, dentre os quais Airto Moreira, Naná Vasconcelos, Sivuca, Cesarius Alvim, Nenê e Tania Maria. Na França, continuou seus estudos de composição clássica com Tony Hobin, na École Normale de Paris. Foi nessa época que ele alcançou seu estilo idiossincrático de tocar violão misturando música brasileira, música clássica, free jazz e música atonal.
Na França, Toninho Ramos continuou dando aulas e lançando discos. Foi professor na academia de violão da Université de Jussieu em Paris e lançou discos importantes, como o LP Dedicado em 1979, misturando arranjos e peças próprias, com o seu irmão Paulo Ramos na percussão. Já em 1983, gravou na Alemanha o disco Cordas Brasileiras, também com seu irmão percussionista, mas só com peças autorais. Outro destaque fonográfico é o CD Canto da Lua, de 1996, formado por peças improvisadas.
Em fevereiro de 2021, Toninho Ramos foi entrevistado em live do Acervo Violão Brasileiro, ao lado do também violonista José Barrense Dias e com as participações do compositor Paulo Bellinati e da violonista Cristina Azuma, sob mediação do jornalista e produtor Alessandro Soares. A live está disponível no Youtube do Acervo Violão Brasileiro e integra uma série de lives dedicadas a violonistas brasileiros que há vários anos moram no exterior.
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