As matérias que Cachoeira plantou na Veja

Em 2008 dei início à primeira batalha de um Blog contra uma grande publicação no Brasil.

Foi “O Caso de Veja”, uma série de reportagens denunciando o jornalismo da revista Veja. Nela, selecionei um conjunto de escândalos inverossímeis, publicados pela revista. Eram matérias que se destacavam pela absoluta falta de discernimento, pela divulgação de fatos sem pé nem cabeça.

A partir dos “grampos” em Carlinhos Cachoeira foi possível identificar as matérias que montava em parceria com a revista. A maior parte delas tinha sido abordada na série, porque estavam justamente entre as mais ostensivamente falsas.

Com o auxílio de leitores, aí vai o mapeamento das matérias:

DO GRAMPO DA PF DIVULGADO PELA REVISTA VEJA ESTE FIM DE SEMANA:

Cachoeira: Jairo, põe um trem na sua cabeça. Esse cara aí não vai fazer favor pra você nunca isoladamente, sabe? A gente tem que trabalhar com ele em grupo. Porque os grande furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles fomos nós que demos (…).

Cachoeira: Eu fiquei puto porque ontem ele xingou o Dadá tudo pro Cláudio, entendeu? E você dando fita pra ele, entendeu? (…)

Cachoeira: Agora, vamos trabalhar em conjunto porque só entre nós, esse estouro aí que aconteceu foi a gente. Foi a gente. Quer dizer: mais um. O Jairo, conta quantos foram. Limpando esse Brasil, rapaz, fazendo um bem do caralho pro Brasil, essa corrupção aí. Quantos já foram, rapaz. E tudo via Policarpo.

Graças ao grampo, é possível mapear alguns dos “furos” mencionados pelo bicheiro na conversa entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira com o PM-araponga Jairo Martins, um ex- agente da Abin que se vangloria de merecer um Prêmio Esso por sua colabiração com Veja em Brasília. Martins está preso, junto com seu superior na quadrilha de Cachoeira, o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, fonte contumaz de jornalistas – com os quais mantém relações de agente duplo, levando e trazendo informações do submundo da arapongagem.

O primeiro registro da associação entre Veja e Cachoeira está numa reportagem de 2004, que desmoralizou uma CPI em que o biicheiro era invetigado. Em janeiro daquele ano, Cachoeira foi a fonte da revista Época, concorrente de Veja, na matéria que mostrou Waldomiro Diniz, sub de José Dirceu, pedindo propina ao bicheiro quando era dirigente do governo do Rio (2002). Depois disso, Cachoeira virou assinante de Veja.

As digitais do bicheiro e seus associados, incluindo o senador Demostenes Torres, estão nos principais furos da Sucursal de Brasília ao longo do governo Lula: os dólares de Cuba, o dinheiro das FARC para o PT, a corrupção nos Correios, o espião de Renan Calheiros, o grampo sem áudio, o “grupo de inteligência” do PT.

O que essas matérias têm em comum:

1) A origem das denúncias é sempre nebulosa: “um agente da Abin”, “uma pessoa bem informada”, “um espião”, “um emissário próximo”.

2) As matérias sempre se apoiam em fitas, DVDs ou cópias de relatórios secretos – que nem sempre são apresentados aos leitores, se é que existem.

3) As matérias atingem adversários políticos ou concorrentes nos negócios de Cachoiera e Demostenes Torres (o PT, Lula, o grupo que dominava os Correios, o delegado Paulo Lacerda, Renan Calheiros, a campanha de Dilma Rousseff)

4) Nenhuma das denúncias divulgadas com estardalhaço se comprovou (única exceção para o pedido de propina de 3 mil reais no caso dos Correios).

5) Assim mesmo, todas tiveram ampla repercussão no resto da imprensa.

CONFIRA AQUI A CACHOEIRA DOS FUROS DA VEJA EM ASSOCIAÇÃO COM DEMÓSTENES, ARAPONGAS E CAPANGAS DO BICHEIRO PRESO:

1) O CASO DO BICHEIRO VITIMA DE EXTORSÃO

Revista Veja Edição 1.878 de 3 de novembro de 2004

http://veja.abril.com.br/031104/p_058.html

Trecho da matéria: Na semana passada, o deputado federal André Luiz, do PMDB

do Rio de Janeiro, não tinha amigos nem aliados, pelo menos em público. Seu

isolamento deveu-se à denúncia publicada por VEJA segundo a qual o deputado

tentou extorquir 4 milhões de reais do empresário de jogos Carlos Cachoeira. As

negociações da extorsão, todas gravadas por emissários de Cachoeira, sugerem

que André Luiz agia em nome de um grupo de deputados.

NOTA: A fonte da matéria são “emissários de Cachoeira”, o “empresário de jogos”

que Veja transformou de investigado em vítima na mesma CPI.

 

2) O CASO DO DINHEIRO DAS FARC

Capítulo 1 – Revista Veja Edição 1896 de 16 de março de 2005

http://veja.abril.com.br/160305/p_044.html

 

Trecho da Reportagem: Um agente da Abin, infiltrado na reunião, ouviu tudo, fez

um informe a seus chefes (…) Sob a condição de não reproduzi-los nas páginas da

revista, VEJA teve acesso a seis documentos da pasta que trata das relações entre

as Farc e petistas simpatizantes do movimento.

Capítulo 2 – Revista Veja Edição 1.899 de 6 de abril de 2005

http://veja.abril.com.br/060405/p_054.html

 

Trechos da matéria: Na semana passada, a comissão do Congresso encarregada

de fiscalizar o setor de inteligência do governo resolveu entrar no caso Farc-PT.

 

Na quinta-feira passada, a comissão do Congresso decidiu convocar o coronel e o

espião. Os membros da comissão também querem ouvir José Milton Campana, que

hoje ocupa o cargo de diretor adjunto da Abin e, na época, se envolveu com a

investigação dos supostos laços financeiros entre as Farc e o PT.

 

O senador Demostenes Torres, do PFL de Goiás, teme que a discussão sobre o

regimento sirva só para adiar os depoimentos. “Para ouvir a versão do governo e

tentar dar o caso por encerrado, ninguém precisou de regimento”, diz ele.


3) O CASO MAURICIO MARINHO

Capítulo 1 – Revista Veja Edição 1.905 de 18 de maio de 2005

http://veja.abril.com.br/180505/p_054.html

Trecho da reportagem: Há um mês, dois empresários estiveram no prédio central

dos Correios, em Brasília. Queriam saber o que deveriam fazer para entrar no

seleto grupo de empresas que fornecem equipamentos de informática à estatal.

Foram à sala de Maurício Marinho, 52 anos, funcionário dos Correios há 28, que

desde o fim do ano passado chefia o departamento de contratação e administração

de material da empresa. Marinho foi objetivo na resposta à indagação dos

empresários. Disse que, para entrar no rol de fornecedores da estatal, era preciso

pagar propina. “Um acerto”, na linguagem do servidor. Os empresários, sem que

Marinho soubesse, filmaram a conversa. A fita, à qual VEJA teve acesso, tem 1

hora e 54 minutos de duração.

 

NOTA: As investigações da PF e de uma CPI mostraram que o vídeo foi entregue à

revista pelo PM-araponga Jairo Martins, que “armou o cenário” da conversa com

Marinho a mando de concorrentes nas licitações dos Correios.

4) O CASO DOS DÓLARES DE CUBA

Revista Veja Edição 1.929 de 2 de novembro de 2005

http://veja.abril.com.br/021105/p_046.html

 

 

Trecho da reportagem: (Vladimir) Poleto, (principal fonte da reportagem) até

hoje, é um amigo muito próximo do irmão de (Ralf) Barquete, Ruy Barquete,

que trabalha na Procomp, uma grande fornecedora de terminais de loteria

para a Caixa Econômica Federal. Até a viúva de Barquete, Sueli Ribas Santos, já

comentou o assunto. Foi em um período em que se encontrava magoada com o PT

por entender que seu falecido marido estava sendo crucificado. A viúva desabafou:

“Eles pegavam dinheiro até de Cuba!”

NOTA: A empresa de Barquete venceu a concorrência da Caixa Econômica Federal

para explorar terminais de jogos em 2004, atravessando um acordo que estava

sendo negociado entre a americana Gtech (antiga concessionária) e Carlinhos

Cachoeira, com suposta intermediação de Waldomiro Diniz. O banqueiro teria

deixado de faturar R$ 30 milhões m cinco anos.

A armação era para pegar Antonio Palloci, padrinho de Barquete. Pegou Dirceu.

(Detalhes da relação Cachoeira-Gtech na matéria do Correio Braziliense de 26 de

setembro de 2005:

http://www.febrac.org.br/showClipping.php?clipping=30305&cod=7112)

5) O CASO FRANCISCO ESCÓRCIO

Revista Veja Edição 2.029 de 10 de outubro de 2007

http://veja.abril.com.br/101007/p_060.shtml

 

 Chamada no alto, à esquerda: RENAN AGORA ESPIONA OS ADVERSÁRIOS

 

Na semana passada, Demostenes Torres e Marconi Perillo foram procurados por

amigos em comum e avisados da trama dos arapongas de Renan. Os senadores se

reuniram na segunda-feira no gabinete do presidente do Tribunal de Contas de

Goiás, onde chegaram a discutir a possibilidade de procurar a polícia para tentar

flagrar os arapongas em ação. “Essa história é muito grave e, se confirmada, vai

ser alvo de uma nova representação do meu partido contra o senador Renan

Calheiros”, disse o tucano Marconi Perillo. “Se alguém quiser saber os meus

itinerários, basta me perguntar. Tenho todos os comprovantes de vôos e os

respectivos pagamentos.” Demostenes Torres disse que vai solicitar uma reunião

extraordinária das lideranças do DEM para decidir quais as providências que serão

tomadas contra Calheiros. “É intolerável sob qualquer critério que o presidente

utilize a estrutura funcional do Congresso para cometer crimes”, afirma

Demóstenes.

Pedro Abrão, por sua vez, confirma que os senadores usam seu hangar, que

conhece os personagens citados, mas que não participou de nenhuma reunião. O

empresário, que já pesou mais de 120 quilos, fez uma cirurgia de redução de

estômago e está bem magrinho, como disse Escórcio. Renan Calheiros não quis

falar.Com reportagem de Alexandre Oltramari (que viria a ser assessor de Marconi Perillo)

NOTA: Demostenes é a única fonte que confirma a versão em que teria sido vítima.

6) O CASO DO GRAMPO SEM ÁUDIO

Capítulo 1 – Revista Veja, Edição 2022, 22 de agosto de 2007

http://veja.abril.com.br/220807/p_052.shtml

Capítulo 2 – Revista Veja Edição 2073 de 13 de agosto de 2008

http://veja.abril.com.br/130808/p_056.shtml



Capítulo 3 – Revista Veja Edição 2.076 de 3 de setembro 2008

http://veja.abril.com.br/030908/p_064.shtml

 

 Chamada acima do logotipo: “PODER PARALELO”

 

 

Trecho da matéria: O diálogo entre o senador e o ministro foi repassado à revista

por um servidor da própria Abin sob a condição de se manter anônimo.

 

Trecho da matéria: O senador Demóstenes Torres também protestou: “Essa

gravação mostra que há um monstro, um grupo de bandoleiros atuando dentro do

governo. É um escândalo que coloca em risco a harmonia entre os poderes”. O

parlamentar informou que vai cobrar uma posição institucional do presidente do

Congresso, Garibaldi Alves, sobre o episódio, além de solicitar a convocação

imediata da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso para

analisar o caso. “O governo precisa mostrar que não tem nada a ver e nem é

conivente com esse crime contra a democracia.”

 

NOTA: O grampo sem áudio jamais foi exibido ou encontrado, mas a repercussão

da matéria levou à demissão do delegado Paulo Lacerda da chefia da Abiin.

7) O CASO DO “GRUPO DE INTELIGÊNCIA” DO PT

Capítulo 1 – Revista Veja Edição 2.167 de 2 de junho de 2010

http://veja.abril.com.br/020610/ordem-casa-lago-sul-p-076.shtml

 

 

Trecho da matéria: Não se sabe, mas as fontes de VEJA que presenciaram os

eventos mais de perto contam que, a certa altura…

Nota: a “fonte” não citada é o ex-sargento Idalberto Matias, o Dadá, funcionário de

Carlinhos Cachoeira, apresentado a Luiz Lanzetta como especialista em varreduras.

Capítulo 2 – Revista Veja Edição de julho de 2010

http://veja.abril.com.br/090610/era-levantar-tudo-inclusive-coisas-pessoais-p-

074.shtml

 

 Trecho de entrevista com o ex-delegado Onézimo de Souza:, que sustentou (e

depois voltou atrás) a história de que queriam contratá-lo para grampear Serra:

 

O senhor foi apontado como chefe de um grupo contratado para es-pionar

adversários e petistas rivais?

Fui convidado numa reunião da qual participaram o Lanzetta, o Amaury (Ribeiro), o

Benedito (de Oliveira, responsável pela parte financeira) e outro colega meu, mas

o negócio não se concretizou.

 

NOTA: O outro colega do delegado-araponga, que Veja não menciona em

nenhuma das reportagens sobre o caso, é o ex-sargento Idalberto Matias, o

Dadá, capanga de Cachoeira e contato do bicheiro com a revista Veja (o outro

contato é Jairo Martins, o policial associado a Policarpo Junior)

(Confira na entrevista da Folha de S. Paulo com Luiz Lanzetta:

http://m.folha.uol.com.br/poder/746071-jornalista-sai-da-campanha-de-dilma-

apos-polemica-sobre-dossie.html)

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