Ato Falho de São Paulo, por Sergio Saraiva

Freud poderia construir sua obra sobre o inconsciente apenas lendo as matérias dos jornais brasileiros sobre Lula.

Por Sergio Saraiva

Ato falho – também conhecido como lapso freudiano, é um erro na fala, na memória, na escrita ou numa ação física que seria supostamente causada pelo inconsciente. Freud evidenciou que o ato falho era sintoma da constituição de compromisso entre o intuito consciente da pessoa e o reprimido. Através do ato falho o desejo do inconsciente é realizado.

Lula já está condenado há anos, em quilômetros de folhas de papel-jornal e tonéis de tinta de impressão. As provas é que não têm colaborado.

Assim, não deve estar sendo fácil a vida da ombudsman da Folha. Como conciliar o engajamento do jornal no mais desbragado antipetismo com o apego à verdade factual necessária a um jornalismo que se quer analítico?

Sob pressão, é interessante notar o que atos falhos nos trazem à tona. Vejamos extratos de sua coluna de 14 de maio de 2017 em que comenta o depoimento de Lula ao juiz Moro:

“Os jornais têm evidentemente de cumprir o papel de noticiar logo os fatos mais importantes. Assim o leitor espera”.

“Leitores têm questionado o que há de provas materiais de crimes na Lava Jato, além de declarações acusatórias nascidas de delações premiadas. Incomoda a alguns a reprodução acrítica de depoimentos”.

A ombudsman busca, agora, na memória, um porto seguro onde ancorar suas esperanças na prática pela Folha de um jornalismo analítico e factual.

“Em 7 de maio, a Folha publicou reportagem que indica um caminho a seguir. Nela, revelou que depoimentos de delatores da Odebrecht e materiais entregues como prova ao Ministério Público Federal contêm erros factuais, contradições e inconsistências, em casos que envolvem governadores e parlamentares, entre outros acusados”.

Pois é, e aqui começam os atos falhos.

A Folha apontou contradições nas acusações feitas pelo MPF a governadores e parlamentares majoritariamente… do PSDB.

A ombudsman sabe que: “urge que trabalho semelhante venha a ser feito com os personagens principais da Lava Jato”.

Por que, então, a Folha não segue o mesmo caminho em relação à Lula e ao PT. Não é o que espera a parte dos seus leitores que reclama a apresentação de fatos?

Pronto, o subconsciente trai a ombudsman. E ela interpreta inconscientemente a cobrança dos leitores não como se fosse por isenção, mas como se fosse por mais empenho da Folha em condenar definitivamente a Lula.

“Entendo a cobrança dos leitores sobre a publicação do que existe de provas concretas. A Folha tem de ser cuidadosa em suas afirmações, ao mesmo tempo em que precisa demonstrar que indícios constroem circunstâncias que podem formar a convicção do juiz e daí levarem à condenação de determinado acusado.

Não é necessário, como parte dos leitores acredita, que existam provas materiais como extratos bancários, papéis assinados irrefutáveis, confissões de culpa gravadas, vídeos de encontros etc. Não se pode provar com probabilidades, como disse um ministro do STF, mas um somatório de indícios pode se tornar prova cabal que permita atribuir um crime a alguém”.

Interpretando o que salta do discurso da ombudsman: não é necessário que existam provas materiais, mas um somatório de indícios pode se tornar prova cabal que permita atribuir um crime a alguém. A Folha precisa demonstrar que indícios constroem circunstâncias que podem formar a convicção do juiz e daí levarem à condenação de determinado acusado.

A confissão inconsciente não pôde ser controlada. Através do ato falho o desejo do inconsciente é realizado.

A inocência de Lula não é mais uma das duas possibilidades racionais de um julgamento. Condenação ou absolvição conforme as provas apresentadas. A inocência de Lula foi afastada pelo inconsciente da ombudsman.

Lula é imperdoável.

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia: de médico e de louco temos um pouco. Consultas gratuitas com ambas as especialidades.

Redação

20 Comentários

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  1. Bom, pode-se atribuir o crime

    Bom, pode-se atribuir o crime de lawfare contra Lula, por parte da Folha e associados, simplesmente a partir de indícios, como manchetes, reportagens e artigos. 

  2. A Folha de São Paulo reconhece que não há provas das convicções

    Mas, da mesma forma que quem não tem cão, caça com gato, quem não tem provas condena com indícios e convicções. A Folha reconhece que não há provas contra o Lula. Mas isso não importa, pois há convicções e indícios e esses indícios podem se tornar provas cabais que permitam atribuir um crime a alguém. Em outras palavras, você não tem provas de que Lula é criminos, mas vai atribuir a ele o crime do qual ele é acusado.

    Então indícios CONSTROEM circunstâncias?

    o art. 239, do CPP, dispõe que ‘considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.

    Como visto, indícios não CONSTROEM circunstâncias, eles apenas autorizam, por INDUÇÃO, a conluir-se a existência de outra(s) circunstância(s).

    Todo indício é circunstância, mas nem toda circunstância é indicio. Em sendo assim, ainda que indícios construíssem circunstâncias, essas circunstãncias não se constituiriam em indícios.

    Indícios são dúbios por demais para darem origem a certezas. No máximo, eles autorizam, por indução, concuir-se a existência de outra ou outras circunstâncias. Nesse caso, não obtemos indícios probatórios nem provas indiciários, mas somente novas circunstancias. Mas in dubio, deve o juiz absolver o réu;

    As provas carreadas aos autos não são irrefutáveis nem robustas a ponto de ensejar a certeza para a condenação do Lula. Mas elas são suficientes para ensejar sua absolvição.

     Quando indícios e presunções poderiam ser usadas contra os executivos brasileiros, ensejando uma insegurança jurídica monumental, o Ives Gandra se levantou contra eles. Mas como eles usam dois pesos e duas medidas, um peso e uma medida para os ricos donos da Casa Grande, e um peso e uma medida diferente para os pretos, pobres, putas e petistas, certamente que o Ives Gandra, em relação ao Lula, não adota o seu ponto de vista a seguir transcrito:

    “Com ela [teoria do domínio do fato], eu passo a trabalhar com INDÍCIOS E PRESUNÇÕES. Eu não busco a verdade material. Você tem pessoas que trabalham com você. Uma delas comete um crime e o atribui a você. E você não sabe de nada. Não há nenhuma prova senão o depoimento dela -e basta um só depoimento. Como você é a chefe dela, pela teoria do domínio do fato, está condenada, você deveria saber. Todos os executivos brasileiros correm agora esse risco. É uma insegurança jurídica monumental. Como um velho advogado, com 56 anos de advocacia, isso me preocupa. A teoria que sempre prevaleceu no Supremo foi a do “in dubio pro reo” [a dúvida favorece o réu]”. – Ives Gandra.

    Indícios, induções, circunstancias e presunções não conduzem à certeza. Mas não tem problema, pois in dubio, contra Lula.

  3. Lula preso é o sonho da

    Lula preso é o sonho da direita, ele inocentado seu pesadelo. Muito simbólica a lembrança que a foto traz do Lula preso, outro ato falho?

  4. Ombudsman Hariovaldiana.

    Depois que o Prof. Hariovaldo começou a escrever na Folha, a ombusdman ficou preocupada e já começa a fazer uma competição com ele.

  5. Espero que este momento sirva

    Espero que este momento de iminência da prisão injusta de um dos construtores deste pais, sirva ao menos para uma coisa: a legalização do poder midiático/verbalizador como poder republicano para que assim figure, ao lado do legislativo, executivo e judiciário, como parte da governança. 

    O que não dá é para continar sendo mas fazendo de conta que não é…

    Pela entronização do Poder Verbalizador

    https://josecarloslima.blogspot.com.br/2017/05/pela-entronizacao-do-poder-verbalizador.html

  6. MT negociou com um

    MT negociou com um empreiteiro R$ 400 milhões de reais; Aécio “seria” investigado por outros tantos milhões, assim como Serra, e vai longe a lista dos milhões que, segundo os delatores, caíram certinhos nos bolsos de uma bando de políticos.

    A lista de Janot é enorme, com citações dos mais poderosos políticos de partidos como PSDB, DEM, PROS, etc. Vai morrer do jeito que está nos últimos suspiros o mensalão tucano.

    A lista dos que tentaram depor conta Lula é imensa, porém sem nenhum dado real, prova cabal, nada. Pior: o que se diz muito é que tal quantia, vultosa sempre, foi doado ao partido ou a algum petista a pedido de Lula. Pronto.

    Ficam duas perguntas sem respostas:

    1. Lula, tão influente para se dirigir a esses bandidos, seria um verdadeiro jumento se pedisse tanta grana para o partido e para os políticos sem que ficasse com parte substancial dessa grana. Aí, atribuir burrice a Lula fica impossível, por ele ser, a bem da verdade, com todos os seus antecedentes de escolaridade, mais sábio que um milhão de doutor;

    2. Moro, deslumbrado com a imprensa, pelo Judiciário, e por uma camada considerável de nossa população, deve se olhar todos os dias no espelho como um Narciso, e se perguntado como fazia a bruxa de Branca de Neves: “Por que eu consigo ver maracutaia comprovada em todos e não consigo ver nesse pernambucano seboso?

    Eu entro nessa questão envolvendo Lula e Moro dessa forma porque não existe outra. Ou Moro se vê perdido e Lula é um espertalhão de primeira; ou Lula, de fato, nada tem a esconder, e Moro fustigará ao máximo o ex-Presidente e sua vida por meio de delatores pela necessidade ímpar de não sair perdendo nesse jogo, sob pena de se sentir totalmente desmoralizado perante o mundo. 

    É um jogo e as peças não param de ser montadas com mais personagens. Já estamos com o casal Santana e Mônica, e com a promessa de Palocci na sequência, ou concomitantemente aos dois, e, assim, sucessivamente,

  7. Teoria do direito circunstancial

    Indícios são circunstâncias que autorizam, por indução, a concluir-se a existênia outra(s) circunstância(s). eS, com base em indícios, eu concluo a existência de algo que eu não vejo, não sinto, não ouço, não toco, não respiro, ec., esse algo existe, mesmo que nunca seja comprovado, tal como o bule de chá do Russell.

    Você sabe o que é circunstância?

    É um detalhe metafísico,  insignificante, secundário, sem essência, filosófico, com ou sem a qual o mundo continua igual.

    Vou traduzir:

    An unessential or secondary accompaniment of any fact or event; minor detail:  The author dwells on circumstances rather than essentials.

    Precisa desenhar, Folhudo?

  8. Detalhes tão miruxutos de nós 2 são coisas mto grandes prá lembr

    A Monica declinou o motivo de não ter deletado esse bendito rascunho?

    Eu também não deletei um rascunho que eu mandei prá Hungara, a Mulher mais bela do mundo. Temos um e-mail conjunto, mas no dia que ela souber, ela publica a senha

    Foi esquecimento ou foi para garantir a prova do próprio ctime, com direitoinclusive  a autenticação em cartório, , o qual garantiria sua impunidade?

    Em se tratando de memória, a Monica ganha de um elefante, Uma Mulher que viaja o mundo inteiro, frequenta vários palácios, vê tantos computadores, passa tanta coisas na sua retina pelas pestanas afora e nada obstante tudo isso,. ela descreve minuciosamente o computador da Dilma.

    Noutro depoimento ela disse que não falou a verdade porque o risco de prisão é uma situação extrema, o que dificulta o raciocínio, Agora, entretanto, ela está em risco é de ser solta. Por isso ela se lembra de mais um computador, entre milhares que cruzaram sua vista. De repente alguma foto do ambiente lhe refrescou a memória.

    Será que detalhes tão pequenos assim são coisas tão grandes prá lembrar?

  9. Na ditadura JK foi acusado de ser corrupto e dono de “triplex”

    Daqui a uns 20 anos, não antes porque os golpes de Estado no Brasil não duram menos que isso, a democracia retornará, o campo progressista será eleito até mesmo por força das circunstâncias: o pais em frangalhos com pressão nas ruas  exigirá o retorno da democracia…e a burguesia cederá….sim, foi assim com o PT: a burguesia não teve como evitar a eleição de Lula…mas também  nunca o digeriu apesar de terem ganho muito dinheiro sob seu governo… mas exigiram o poder de volta deram um golpe de Estado – mais um – e com a ajuda da mesma midia que sempre atuou para derrubar governos trabalhistas…. a nossa mida é a mesma de 50 anos atrás:  em 1964, na campanha pró-golpe, acusou JK de ser corrupto e dono de “triplex”.

    https://jornalggn.com.br/noticia/na-ditadura-jk-foi-acusado-de-ser-dono-de-imovel-em-nome-de-amigo-por-mario-magalhaes

    1. Prezado SpinBom dia Golpes

      Prezado Spin

      Bom dia 

      Golpes acontecem no Patropi a cada ciclo geracional desde a implantação da republica. Percebi o hiato em seu texto no que tange a Collor, pois, também foi golpeado. O mais estranho,  é nossa falta de percepção que isso se repete a cada “vinte anos”!

      Temos um legislação que priveligia a casa grande e quando algum “aventureiro/progressista” tenta modifica-la, é removido sem dó e nem piedade, e ainda somos utilizados como massa de manobra.

      Lamentavelmente, falta aos “progressistas” um pouco de nacionalismo para usar a força ao invés de “democracia” para confrontar como se deve essas oligarquias que se utiliza do estado e dos politicos como se seu fossem!

      Que inveja tenho de Putin e Xi Jimping!

      Abração

    1. Nem queira saber o que de fato a folha pensa

      Nem queira saber o que de fato a Folha pensa, pois é bem pior do desejar o fim da Lava Jato após a prisão do Lula

    1. Amigo, nem queira saber o que

      Amigo, nem queira saber o que de fato a Folha pensa sobre o momento atual, de forma que só mesmo o arte do ato falho para revelar a verdade

  10. Direito Circunstanciário

    Um chefe de família ausenta-se da sua família por um período de 4 anos. Quando volta para casa, sua mulher tem um bebê de um ano de idade. A ausência do chefe de família por 4 anos é uma circunstância conhecida e provada, relacionada ao nascimento do bebê e, portanto, à infidelidade conjugal, que autoriza, por indução, a concluir que o chefe da família não é o pai daquela criança, nada obstante o direito civil disponha que o filho nascido na constância do casamento presume é do casal. Esse indício, entretanto, só autoria concluir que o chefe da família não é o pai da criança, mas não permite concluir que o pai da criança seja fulano ou sicrano. Como visto, as provas indiciárias tem um limite estreito e uma abrangência exígua. A luz projetada pelos indícios é suficiente apenas para iluminar mini-certezas, como diria o Cazuza em Blues da Piedade.

    Na hipótese acima, os indícios são suficientes apenas para que o chefe de família não tenha a obrigação de sustentar a criança mas não são suficientes para que ele não morra de fome.

  11. Eu já tinha ouvido falar,

    Eu já tinha ouvido falar, aliás, já tinha conhecimento de guerra assimétrica. Agora estou testemunhando uma justiça assimétrica….

  12. A Folha de SP seria verdadeira se publicasse seus atos falhos…
    A Folha de SP seria verdadeira se publicasse seus atos falhos… SP com sua elite que não se desgruda do DNA escravista é o tumulo da democracia: lutou com unhas e dentes contra o  fim do regime do cativeiro quando o mundo civilizado já havia resolvido esta questão…em 32 a elite cafeeira pegou em armas pelo separatismo…em 64 apoiou o golpe de Estado, graças ao eleitorado de SP Collor foi eleito….se dependesse de SP o Aecio Neves seria nossos presidente….em 2016 o povo brasileiro foi presenteado com Temer, presidente, paulista da gema e chefe da quadrilha de assaltantes que no momento DESgoverna nosso pais…evidente que a midia oligárquica e hegemônica, porta-voz da ideologia de uma elite bizarra que odeia trabalhador e o trabalhismo, tem desempenhado ao longo da nossa história  seu papel nessa sequência de atrasos e retrocessos… Saiba mais

     

    https://josecarloslima.blogspot.com.br/2017/05/a-marcha-que-deu-sentido-para-que-tudo.html

     

     

     

  13. Indícios são insuficientes para embasar condenação

    “PROVA – Existência de indícios de autoria – Condenação – Impossibilidade: – Indícios de autoria são insuficientes a embasar édito de condenação, mister que se produza prova inconcussa, não bastando sequer alta probabilidade, sendo certo que estando o ânimo do Julgador visitado por dúvida razoável, outra decisão, que não a absolutória, não há que ser emanada, posto que o Processo Penal lida com um dos bens maiores do indivíduo: a liberdade. ” (Apelação n° (.275.247/2 – São Paulo – 5a Câmara – Rei. Desembargador MAPJANO SIQUEIRA – 12/12/2001 – M. V. TACrim – Ementário n° 30, JUNHO/2002, pág. 24).

    “Prova-Insuficiência-Meros indícios que não bastam para a condenação criminal – Autoria que deve ser concludente e estreme de dúvida-Absolvição decretada. Em matéria de condenação criminal, não bastam meros indícios. A prova da autoria deve ser concludente e estreme de dúvida, pois só a certeza autoriza a condenação no juízo criminal. Não havendo provas suficientes a absolvição do réu deve prevalecer” (TJMT – 2o C. – Rec. em AP – j . 12.5.93 – Rei. Inácio Dias Lessa – RT 708/339).

    “Indício, suspeitas, ainda que veementes, não são suficientes para alicerçar um juízo condenatório. A prova judiciária somente é bastante à incriminação do acusado quando formadora de uma cadeia concorrente de indícios graves e sérios, unidos por um liame de causa e efeito, excludentes de qualquer hipótese favorável ao acusado. Para a condenação é mister que o conjunto probatório não sofra o embate da dúvida(TAMG – 1o C. – AP – j . 27.2.96 – Rei. Audebert Delage – RT 732/701).

    “Para a condenação do réu a prova há de ser plena e convincente, ao passo que para a absolvição, basta a dúvida, configurando-se princípio do In Dúbio Pró Réu contido no Art. 386 do Código de Processo Penal.” JUTACRIM 72/26 – Rel Alvaro Cury

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