Desmascarando uma fake News, por Gustavo Gollo

O anúncio do falecimento de um jovem de 28 anos participante de teste de vacina disparou centenas de falsos comunicados repetindo fonte apócrifa de que o voluntário teria tomado placebo, e não a vacina em teste.

O boato originou-se no site da Reuters, imediatamente ao anúncio, onde se lê:

“Não há informações oficiais sobre se o voluntário que morreu foi inoculado com a potencial vacina ou se recebeu uma substância placebo. Entretanto, uma fonte familiarizada com a situação disse que o teste com a potencial vacina teria sido suspenso se o voluntário que morreu estivesse no braço ativo do estudo — que aplica a vacina. A afirmação sugere que o voluntário estava no grupo controle, que recebe um placebo.”

A informação original deixa clara, portanto, a origem especulativa da suposição, baseada na dedução, por parte de fonte não identificada, de que o teste teria sido suspenso caso o voluntário falecido tivesse recebido a vacina.

A dedução, no entanto, é equivocada. A interrupção de novos recrutamentos de voluntários faria sentido, mas essa fase já foi concluída. Seria mera irresponsabilidade, no entanto, e não teria o menor sentido interromper o acompanhamento dos testes nos voluntários que já receberam a vacina, qualquer que tenha sido seu resultado. Resultados ruins, aliás, são mais informativos que os bons.

Apesar da clara origem especulativa da informação, o boato foi suficiente para sugerir, já no título da matéria, que o voluntário recebeu placebo, não a vacina.

“Testes com vacina de Oxford seguem; fonte indica que voluntário que morreu recebeu placebo” é o título do site.

Atribuída à Bloomberg, como para despistar, e repetida em seguida por inúmeros papagaios, a fake news espalhada pela Reuters serviu para amenizar a queda no valor das ações da companhia. O desembolso previsto para esse projeto, apenas pelo Ministério da Saúde do Brasil, é de R$ 1,9 bilhão.

É certo que, na mesma noite, a Globo se empenhou em endossar a farsa que no g1 recebeu o título:

“Voluntário brasileiro que participava dos testes de Oxford tomou placebo, não a vacina”

enfatizado pelo subtítulo:

TV Globo confirmou informação com fontes ligadas aos testes.

Na reportagem da TV, no entanto, ouvimos a entrevistada, Natália Pasternak, negar tal especulação:

“Demora alguns dias para o comitê abrir o cego, né, para saber se a pessoa estava no grupo da vacina ou no grupo placebo e investigar se essa morte teve alguma coisa a ver, caso esteja no grupo vacina, se teve alguma coisa relacionada com a vacina ou se foi um evento independente”

O g1, por outro lado, informa que “fontes ligadas ao estudo disseram ao Jornal Nacional que o voluntário estava no grupo que não recebeu a dose da vacina, apenas do placebo”, endossando a fake news já amplamente disseminada, em tal altura.

O comentário apócrifo contradiz todas as informações oficiais sobre o caso.

Erro adicional foi ainda induzido pela notícia. Ao contrário do veiculado pela Globo, os participantes que caíram no grupo de controle do estudo NÃO receberam uma substância inócua, mas doses de uma outra vacina experimental contra meningite, baseada na mesma tecnologia, conforme informação da BBC.

“Uma parcela dos voluntários vai receber uma outra vacina, usada comumente contra meningite, que provoca sintomas parecidos. Este será o grupo de controle, usado para comparar e contrastar as duas vacinas. Os voluntários não serão informados sobre qual vacina estão recebendo.”

Considerando-se a metodologia do teste conclui-se que um jovem saudável de 28 anos adoeceu e faleceu após ter tomado uma vacina experimental.

A gravidade do fato e as cifras financeiras envolvidas ressaltam a oportunidade da fake news plantada para amenizar as consequências do óbito.

Redação

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