Camarada Miguel Urbano Rodrigues: Presente!

Enviado por Almeida

Os sítios portugueses resistir.info e odiário.info noticiaram neste sábado, a perda de seu fundador e um dos mais brilhantes jornalista de expressão lusófona:

MIGUEL URBANO RODRIGUES, 02/08/1925 – 27/05/2017

“Com profundo pesar resistir.info informa que Miguel Urbano Rodrigues, seu fundador, faleceu hoje em Vila Nova de Gaia. O corpo estará em câmara ardente a partir das 14h00 de domingo, 28 de Maio, no Centro Funerário da Lapa (junto à igreja da Lapa, R. de São Brás, nº1, 4000-494 Porto). O funeral será segunda-feira, 29 de Maio, às 16h00″.
 

“ODiario.info comunica aos seus leitores e amigos a morte do seu fundador e editor Miguel Urbano Rodrigues.

Nascido em Moura, Alentejo, em 1925, filho de pai jornalista e escritor, no seio de uma família de agricultores abastados de tradição republicana, experimentou a implantação da ditadura do “Estado Novo”, enquanto colhia a influência e inspiração das gentes insubmissa de sua terra.

Miguel Urbano Rodrigues cursou a Faculdade de Letras de Lisboa. Veio a ser redactor do Diário de Notícias (com início em 1949) e chefe de redacção do Diário Ilustrado. Jovem dotado de curiosidade e talento intelectual invulgares, e comprometido com as causas do povo, encontrou-se constrangido e ameaçado pelo regime fascista que amordaçava e aprisionava o seu país.

Exilado no Brasil, foi editorialista de O Estado de S. Paulo (1957 a 1974) e editor internacional da revista Visão (1970 a 1974). Durante esse período e acompanhou ou interveio em eventos marcantes da debilitação do regime fascista no plano externo, designadamente o assalto ao “Santa Maria” e a progressão da luta do MPLA e do PAIGC contra o colonialismo Português. Em 1963 aderiu ao Partido Comunista Português.

Regressou a Portugal logo após a o 25 de Abril de 1974, no auge da explosão de entusiasmo popular, incorporando-se na construção do regime democrático, como militante comunista. Foi chefe de redacção do Avante! em 1974 e 1975 e director do jornal O Diário, de 1976 a 1985. Exerceu a presidência da Assembleia Municipal de Moura de Janeiro de 1986 a Junho de 1988, foi deputado à Assembleia da República entre 1990 e 1995, e ainda deputado nas Assembleias Parlamentares do Conselho da Europa e da União da Europa Ocidental.

Enquanto exilado desenvolveu vasta rede de contactos de trabalho e de laços de cúmplice amizade com inúmeras personalidades políticas progressistas da América Latina. De regresso em Portugal desempenhou inúmeras missões de natureza política ou jornalística, e expandiu a sua vasta rede de solidariedades e cooperação internacional.

Miguel Urbano Rodrigues foi fundador do sítio resistir.info em 2002, e do sítio odiario.info em 2006. E foi o principal promotor dos memoráveis Encontros de Serpa “Civilização ou Barbárie” que, nos anos de 2004, 2007 e 2010, reuniram numerosos activistas cívicos e alguns dos mais destacados intelectuais progressistas dos cinco continentes do mundo, em torno das questões da transformação revolucionária da sociedade.

Viajante e observador incansável, intelectual excepcional que contudo se tomava como um homem comum entre os demais em todas as latitudes em que viveu ou visitou, deixa-nos uma obra extensa que abarca géneros diversos, sempre inspirado pela compreensão e exaltação da condição e da acção do indivíduo na transformação revolucionária do homem e da sociedade, na realização suprema da Justiça e da Felicidade.

O corpo de Miguel Urbano Rodrigues vai domingo pelas 14 horas, para o Centro Funerário da Lapa (Igreja da Lapa, Porto), onde ficará em câmara ardente até ao funeral que será pelas 16 horas de 2ª feira”.

Redação

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  1. Um Poema oferecido ao Miguel

    Elegia 1938

    Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
    onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
    Praticas laboriosamente os gestos universais,
    sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
    Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
    e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
    À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
    ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
    Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
    e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

    (À noite eu sempre durmo na esperança de morrer

    mas logo vem a banda me acordando prá viver)

    Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
    e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
    Caminhas entre mortos e com eles conversas
    sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
    A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
    Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
    Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
    e adiar para outro século a felicidade coletiva.
    Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
    porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

    Carlos Drummond

  2. Nassif, nosso querido

    Nassif, nosso querido ex-colega de Estadao, Miguel Urbano, deve ter lido esse editorial dos Mesquitas de agora, repudiando as eleicoes diretas e deificando a eleicao indireta do sucessor de Temer, pois mesmo de volta `a Lisboa nunca nos esquecia…

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