Com caso Lula, mídia brasileira e seu maior desafio: fazer jornalismo, por Luis Nassif

A liminar do Ministro Luiz Edson Fachin traz um novo desafio para a mídia brasileira: reaprender a fazer jornalismo. A tragédia Bolsonaro é consequência direta da decisão da mídia de se transformar em partido político. Durante anos, exercitou a política da forma mais selvagem possível, criando teorias conspiratórias, alimentando o ódio, disseminando fake news com o objetivo óbvio de demonizar os adversários.

A ampla irresponsabilidade, de não avaliar as consequências do discurso de ódio, rachou o país, contaminou as instituições, gerou a polarização, tendo como resultante final, a tragédia Bolsonaro.

Ontem, ainda atarantada com a decisão de Fachin, a mídia retomou seu vício predileto: o de ser um papagaio,  repetidora de bordões. A era do “opinionismo” vazio não se restringe às redes sociais. É a era das hashtags generalizadas.

Bordão 1 – a Bolsa caiu porque o mercado teme que a volta de Lula faça  com que Bolsonaro acelere práticas “populistas”.

Qualquer medida que possa beneficiar a população é taxada de “populista”, deixa o mercado “preocupado” e “atrasa” a recuperação da economia. Se você ler ou ouvir um jornalista repetindo esse mantra, coloque-o na lista do “jornalismo irrelevante”.

Bordão 2 – a volta de Lula irá comprometer a saída virtuosa do centro.

Não existe saída do centro, nem virtuosa nem viciosa. Nesses anos todos, mídia e mercado não lograram viabilizar uma candidatura, um modelo viável de país sequer. Apostaram apenas em cavalos mancos, como Rodrigo Maia, ou em candidatos fake, como Luciano Huck ou em falsificações, como a de que a desmontagem das redes de proteção social geraria crescimento.

Bordão 3 – Bolsonaro sai ganhando, pela volta da polarização.

É de um ridículo humilhante para o jornalismo.

Pesquisas insuspeitas, como a de Márcia Cavallieri, colocam Lula como único candidato capaz de vencer Bolsonaro. É cedo para conclusões definitivas. Mas há uma resistência enorme do eleitor aos chamados candidatos “janotas”, como João Dória Jr e Luciano Huck.

Agora, volta à cena o único candidato em condições de vencer Bolsonaro, e ele sai dando pulinhos de alegria, por ter alguém para xingar. É de um ridículo atroz.

A ideia de que Bolsonaro irá crescer com a candidatura de Lula, parte do pressuposto que ele vai cair sem a presença de Lula. Cairá por força da gravidade de seus próprios erros, já que, sem Lula, não há uma candidatura competitiva para ameaçá-lo.

Os caminhos de Lula

É primária essa tentativa de criar o falso paralelismo entre a radicalização de Bolsonaro e a suposta radicalização de Lula. A marca de Lula sempre foi a conciliação entre trabalhadores e empresas, movimentos sociais e mercado.

O caso concreto é que, em todos esses anos de desmonte institucional, de Lula fora do jogo, o trio MMS (mercado-mídia-Supremo) não logrou criar um projeto de país minimamente viável. Desmontou direitos, sancionou o negócio da privatização, prometeu o pote de ouro no fim do arco-iris, e entregou a maior crise da economia, mesmo antes da pandemia.

Pior: deixaram o país à mercê de um genocida, que permitiu o maior massacre da história

Luis Nassif

Luis Nassif

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