“Eu me arrependi de ter dado entrevista para a Revista Época”, diz especialista em HIV

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Rico Vasconcelos

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Vivemos no Brasil uma situação em que a epidemia de HIV continua crescendo entre alguns segmentos chamados grupos chave de alta vulnerabilidade. 
 
Para conseguir controlar esse crescimento novas estratégias de prevenção tem sido desenvolvidas, como por exemplo a PrEP (Profilaxia Pré Exposição), que tem sido, de maneira muito responsável, estudada desde 2014 no Brasil por instituições sérias como a FIOCRUZ, a FMUSP e o CRT DST/Aids. 
 
O sucesso desses estudos fez com que a implementação PrEP tenha sido iniciada em dezembro/17 em 36 centros no país.
 
Num momento ainda inicial dessa implementação, a Revista Época me procurou querendo fazer uma matéria falando da PrEP e de sua chega ao Brasil. Eu gastei horas, em mais de um dia, totalmente disponível para conversar sobre a PrEP e resolver todas as dúvidas que pudessem ter sobre o assunto. Falei com clareza todos os equívocos comuns que surgem quando se trata do tema e de tudo o que deveria ser evitado na matéria para possibilitar que a PrEP atingisse seu objetivo com sucesso, sem disseminar desinformações.
 
Foi assim então que me deparei com a matéria publicada com essa chamada na capa. Uma manchete que vai contra todos os resultados dos estudos realizados no Brasil, já publicados em revistas internacionais, que só pode ter sido baseada em sensasionalismo. 
 
O texto da matéria não é nada melhor. Repleto de equívocos que reforçam estigmas sobre temas que já estão soterrados de preconceitos, como por exemplo o fato analisado com julgamento moral de que gays são promíscuos, ou que somente os gays precisam se preocupar com HIV. Informa de maneira errada sobre o que é PrEP e PEP, troca nomes de entrevistados e joga no lixo tudo o que conversamos em horas de explicação.
 
Quando me dispus a ajudar a revista pretendia fazer a informação correta sobre a estratégia de prevenção chegar ao máximo de potenciais beneficiários possível, para quebrar impressões automáticas negativas e fazer finalmente a epidemia de HIV desacelerar no Brasil.
 
O resultado dessa reportagem será um desserviço ao programa de implementação da PrEP no Brasil, disseminando inverdades sobre o assunto, voltando a opinião pública contra a estratégia e fazendo com que pessoas que poderiam evitar suas infecções pelo HIV deixem de buscar a PrEP, permanecendo assim vulneráveis.
 
Não comprem a revista e nem leiam a matéria se pretendem se informar sobre a PrEP. Existem canais muito mais sérios, como o www.facebook.com/PrEPBrasil
 
E pensem bem se algum dia a Revista Época procurar você para uma entrevista, pois existe risco do seu depoimento ser deturpado.
 
Rico Vasconcelos é coordenador Médico do PrEP (Profilaxia Pré Exposição) Brasil 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. Cada vez aumenta o número de arrependidos em dar entrevistas

    Não percebem que um dos motivos do Brasil ser o que é atualmente é reflexo desta mídia altamente comprometida com o discurso atrasado e muitas vezes usando este recurso de falsear os ditos e dizeres para se enquadrarem em seu discurso? Ora, a elite do atraso emite o discurso do atraso. Se querem divulgar algo de valor, não faltam canais alternativos melhores e muitas vezes gratuitos. A grande maioria dos leitores de veja, época e istoe, preferem este discurso que elas projetam.

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