Homossexualidade na TV brasileira: liberação ou reprodução de preconceitos?

 
Sugerido por Gunter Zibell – SP
 
 
Para Ribeiro, é positivo mostrar que uma pessoa gay pode ter falhas de caráter; a exemplo de Félix, de Amor à Vida
 
O tema da homossexualidade, ou do homoerotismo, ou da homoafetividade, como preferem alguns, é praticamente sinônimo de polêmica em se tratando de Brasil, um país de ampla maioria cristã. Portanto, com uma população pouco simpática às relações sexuais fora dos padrões chamados heteronormativos, baseados nas relações homem versus mulher, no casamento e no sexo para procriação. Nos últimos anos, devido à presença cada vez maior do tema na televisão e na internet, principalmente, a polêmica parece ter crescido. E, para completar, a recente eleição de um pastor evangélico para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, acusado de homofobia e racismo, bem como as declarações do papa Francisco sobre os gays durante a Jornada Mundial da Juventude, realizada no Brasil — “quem sou eu para julgar os gays” —, acirraram os ânimos do povo, criando uma verdadeira divisão entre militantes contrários e prós homossexualidade.
 
Polêmica é sinônimo de audiência e a televisão brasileira está sabendo muito bem tirar proveito disso, em especial por meio do seu principal produto interno e para exportação, a telenovela. No horário das 21h, considerado o mais nobre da televisão, a atual novela, Amor à vida, da Rede Globo, bateu o recorde de personagens homoafetivos na trama, pelos menos três. Até a TV Record, cujo proprietário, o bispo Edir Macedo, é líder da Igreja Universal do Reino Deus, conhecida por seu fundamentalismo em se tratando da questão homossexual, já tem personagens gays em suas novelas. Mas a pergunta é: de que forma esses personagens são apresentados?
 
 
Eron (Marcello Antony) e Niko (Thiago Fragoso): casal gay na novela nobre da TV Globo
 
Irineu Ramos Ribeiro, autor do livro A TV no armário, lançado pelas Edições GLS, em entrevista a Adital afirma que nunca se falou tanto do tema na televisão brasileira e, para ele, o balanço atual é mais positivo do que negativo. Ou seja, as personagens estão cada vez mais próximas do que acontece na vida real. Na sua avaliação, a televisão teve que ceder às pressões de grupos gays organizados e da própria sociedade. “A mídia eletrônica só funciona na pressão e essa pressão demandava que fossem mostradas personagens gays de forma mais visível e menos jocosa”, afirma. Ele reconhece que o Brasil ainda está distante do nível de abordagem do tema por TVs de outros países, como a Alemanha e os Estados Unidos, e acredita que ainda há um longo caminho a percorrer, mas que a televisão brasileira vai chegar lá.
 
Nos EUA, para a construção de personagens homossexuais, os roteiristas consultam regularmente a organização não-governamental Glaad (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation). O objetivo é evitar abordagens que difamem e excluam cada vez mais a figura do homossexual. O Brasil está longe disso, mas ao mostrar personagens em situações e com caráter de gente considerada “normal”, para Ribeiro, há uma clara evolução. É o caso, por exemplo, do casal Eron e Niko, de Amor à vida, em que um deles se envolve sexualmente com uma amiga mulher, e também do vilão Félix, uma das personagens de maior destaque da telenovela brasileira na atualidade. “Quando se mostra que uma pessoa gay pode, eventualmente, ter relações sexuais com mulheres sem que, por isso, ele deixe de ser homossexual; ou que uma pessoa gay pode ter falhas de caráter, isso está representando o que acontece na realidade”, salienta o escritor, que também é editor de uma revista de turismo gay, Via G, e membro do CEPCoS (Centro de Estudos e Pesquisa em Comportamento e Sexualidade).
 
Apesar de toda essa evolução, em pleno século XXI, manifestações de afeto e de relações sexuais ainda ficam de fora das cenas envolvendo as personagens homossexuais nas telenovelas brasileiras. Até hoje, só um beijo entre lésbicas foi registrado, na novela Amor e revolução, do SBT, em 2011. Os valores religiosos conservadores ainda seriam o principal motivo para a ausência de manifestações de afeto e de desejo sexual. Ribeiro afirma que, em relação ao sexo, principalmente, o forte caráter religioso da população brasileira ainda inibe esse tipo cena. Não por acaso, o livro de Ribeiro, lançado em 2010, revela como as emissoras ainda se pautam pelo preconceito.
 
Plábio Marcos Martins Desidério, professor da UFT (Universidade Federal do Tocantins), no artigo “Ficção e Homossexualidade na TV Brasileira: de Eduardo e Hugo à Félix”, afirma que, mesmo que os escritores queiram abandonar estereótipos que foram e ainda são representados na televisão, eles acabam adotando representações da família tradicional, heterossexual, moderna e burguesa. Para ele, as mídias sociais talvez sejam, hoje, o principal termômetro em que os escritores e as emissoras utilizam para avaliar a produção televisiva.
 
No artigo “Personagens homossexuais nas telenovelas da Rede Globo: criminosos, afetados e heteressoxualizados”, Leandro Colling, pesquisador associado do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT) e professor da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), relata que, na década de 70, os gays nas telenovelas da Globo eram ligados à criminalidade e a maioria era efeminada, afetada ou baseada em estereótipos. Na década de 80, a emissora começou a alternar personagens efeminados e afetados com personagens ditos “normais”, que não demonstravam nenhum traço que os distinguisse dos demais.
 
“Uma parte significativa dos personagens não mantém relação com ninguém e, quando isso ocorre, as cenas de sexo ou mesmo beijos não são exibidos. Ou seja, a televisão não mostra exatamente o principal aspecto que nos diferencia dos heterossexuais: com quem fazemos sexo. Além disso, a partir da década de 90, verificamos que, quando os personagens não são afetados, eles passam a se comportar dentro de um modelo heteronormativo”, assinala Colling.
 
Texto publicado originalmente no site da Adital (Agência de Informação Frei Tito para a América Latina)
 
 
Redação

22 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Ou seja, a televisão não

    Ou seja, a televisão não mostra exatamente o principal aspecto que nos diferencia dos heterossexuais: com quem fazemos sexo.

    Só que não dá para ignorar que o sexo heterossexual só é mostrado porque dá ibope e não porque sua exibição seja realmente necessária para o desenvolvimento da história. Ou seja, o mostrar ou não mostrar, nesse caso e mesmo em outros é movido pelo lucro. O dia que a Globo achar que dá retorno, ela mostra.

    1. Com certeza.

      Está crescendo rapidamente na sociedade a percepção de que viver em uma sociedade inclusiva é um direito difuso de todos. Assim como viver numa sociedade que respeita o meio ambiente, trabalha pela mobilidade urbana, etc. Pega bem, portanto, em termos de imagem, se mostrar inclusivo. 

      Mas o romantismo e o sexo na mídia, dramaturgia ou publicidade, aparece para inspirar emulação. As pessoas se projetam, e é claro que aí 95% contam.

      Beijo gay vai aparecer na TV não porque a maioria sinta ‘desejo’ de vê-los, mas quando a maioria manifestar aplausos para abordagens inclusivas. A mensagem subliminar será “que bom que meu filho, minha irmã, meus amigos são mostrados como gente com vida afetiva e profissional normal, posto que é isso que desejo para eles.”

      O episódio Barilla trouxe várias lições. Uma delas é que vi mais compartilhamentos de faceamigos hétero que de LGBTs.

      Combater homofobia não é mais causa de uma minoria, é talvez já da maioria. 

  2. Até hoje não teve o tal

    Até hoje não teve o tal “beijo gay” na novela da Globo, Gunter? Acho que a primeira vez que ouvi essa polêmica foi na década de 90.

    Homossexualismo dá audiência sim. Mesmo nas pornochanchadas, o suprasumo do machismo, tinha que ter um personagem “viado” (nessa época ninguém era gay, era viado). Era a parte “comédia” do filme.

    Pode ter mudado muita coisa, mas eu não contaria com a mídia para que os gays sejam apresentados de uma forma que diminua o preconceito na cabeça do cidadão comum. Esse preconceito está diminuindo pela amadurecimento da própria sociedade.

    O politicamente correto não dá audiência. Basta ver que todos que querem aparecer ofendem o P.O. deliberadamente, vide Rafinha Bastos

    1. A Globo e as questões de LGBTs

      A Globo é muito mais estruturada do que estereotipadamente se fala.

      Isso do beijo gay está sendo testado desde o final dos 90. Frequentemente os beijos são filmados, mas não exibidos. Provavelmente se trata de um processo de ‘aproximações sucessivas’. Sabe-se que é muito comum fazerem pesquisas qualitativas com grupos de espectadores, então certamente se está esperando um momento de bom retorno de imagem, que compense eventual rejeição.

      Nas novelas aparecem casais há quase duas décadas. Mas era numa novela aqui outra ali. Este ano, com o impulso dado por uma série de eventos (STF – maio/2011; Obama & Hollande – maio/2012; enfim, as incontáveis discussões sobre direitos LGBT em quase todos os países desde o final de 2009), houve uma mudança interessante em como as questões LGBT aparecem na programação da Globo.

      É inescapável observar que abordar as questões LGBT ficou algo (aparentemente) quase praticamente obrigatório este ano na Globo. Todas as faixas de horário de novelas (inclusive a juvenil Malhação, das 17:00) apresentam personagens LGBT de modo positivo. Os quatro seriados (os exibidos em dupla nas 3as. e 5as.) também. É mais fácil dizer que novelas não tiveram personagens gays recentemente (eu só lembro de Lado a Lado e Guerra dos Sexos.)

      Além dos famosos personagens de ‘Amor à Vida’, este ano já vi casal de lésbicas adotando, triângulos com pelo menos uma ponta bissexual, travesti, transmulher, beijos gays técnicos (não românticos, mas de atores fingindo ser gays por algum motivo das tramas), casal homem + trans (posso ter perdido algum episódio, mas em Tapas & Beijos não me ficou claro se Tijolo é hétero ou gay, nem se Stephanie é transmulher ou travesti), gay idoso viúvo, pós-adolescente gay (ainda apresentado com mais de 18 anos, no entanto.)

      A abordagem estereotipada e negativa ainda existe no pavoroso Zorra Total, que, como o felizmente finado Planeta & Casseta, ainda faz humor com homofobia, racismo e machismo sexista. Nas novelas, no entanto, com ou sem esteriótipos, a abordagem é sempre (até onde vi/acompanhei) para o lado positivo. As personagens são apresentadas basicamente de três modos: discriminadas (o que implica em denúncia subentendida à homofobia), sendo aceitas por famílias, escolas, empresas, grupos de amigos (inclusão) ou, ainda, mostradas como se o Mundo desde sempre fosse inclusivo (naturalização, o que é também didático.) Posições preconceituosas nunca são endossadas ou elogiadas.

      Como nos EUA, desde uns 5 anos, é comum se apresentar beijo gay, e como este ano teve beijos gays em novelas da Argentina e Portugal, pode ser questão de tempo alguns serem encaixados nas novelas brasileiras também. Os beijos gays não românticos em ‘A Grande Família’ e ‘Entre Tapas & Beijos’ podem ter sido testes de mercado. O que se sabe é que não tiveram simplesmente repercussão nenhuma. Isto é, até houve alguns elogios de militantes LGBT, algumas críticas de militantes que gostariam de ‘ver mais’, mas nenhuma crítica na mídia, nem sequer de grupos ou portais religiosos.

      Um outro cuidado é tomado. Há atores e atrizes que são sabidamente (ou com muitas fofocas a respeito) L, G ou B, mas não assumidos. A eles/elas o trabalho de casting normalmente não lhes reserva papéis de LGBTs, o que é até respeitoso com suas carreiras (que, também sabemos, são ‘produtos’ da emissora.) Gays e lésbicas, quando não muito jovens, são geralmente interpretados por atores e atrizes notoriamente em relações heteronormativas na vida presencial.   

      Os programas de auditório abordam muito também, através de entrevistas. Em ‘Esquenta’, ‘Encontro com Fátima Bernardes’, ‘Faustão’ e ‘Na Moral’, questões de direitos civis de LGBTs aparecem  com grande frequência. E os programas jornalísticos idem. Os jornais locais do meio-dia e das 19:00 mostram casos de violência homofóbica, sempre sendo condenada; a deliberação do TST sobe direitos trabalhistas passou em vários horários, incluindo JN. Fantástico, Globo News e Globo Esporte frequentemente abordam situações mal-resolvidas, como a de Sochi, e noticiam em boa medida o que acontece pelo mundo.

      A abordagem da Globo em questões LGBT pode ser, portanto, muito mais elogiada que criticada. Em linhas gerais está sintonizada com nossa sociedade, especialmente de classe média e urbana, pouco manifesta receio de pressões de religiosos.

      Se há uma crítica que se pode fazer, além do ‘enrolation’ nisso do beijo gay, é na quase total ausência de críticas ao Governo Federal. Vários políticos e os ministérios da Saúde, Educação e Direitos Humanos são frequentemente (e asperamente) criticados em blogs LGBT, mas, na Globo, apesar de todo o aparente empenho em manter as questões LGBT à tona e na direção certa, críticas explícitas ao governo são evitadas.

    2. Quanto a PC não vejo assim

      “O politicamente correto não dá audiência. Basta ver que todos que querem aparecer ofendem o P.O. deliberadamente, vide Rafinha Bastos”

      Eu acho que é o contrário. Você está apontando o destaque negativo, que são casos como Rafinha Bastos, programa CQC, Zorra Total.

      Mas progressivamente o politicamente correto (que é um espírito de tempo no incosciente coletivo) vem se impondo. Os programas humorísticos preconceituosos são cada vez em menor número. A programação geral da TV brasileira, pelo menos a da Globo que conheço mais, é basicamente PC. Eu passo dias e dias vendo TV sem ver nada ofensivo, ao contrário, vê-se muitas iniciativas voltadas à inclusão ou combate de preconceitos.

      Então, aparecem esses casos de gente que quer se mostrar pelo lado negativo, mas estão para a mídia como Bolsonaro e Feliciano estão para a política. Disputam um mercado decrescente de fãs.

      Quando um Rafinha Bastos, uma Joelma, uma Mara Maravilha ou um Danilo Gentili falam besteiras, há muito mais repercussão negativa que positiva. Praticamente ninguém sai em defesa deles.

      A sociedade está em transição, então conflitos aparecem, mas não vejo como o PC possa perder não. O caso Barilla é muito exemplar de como o discurso preconceituoso é tóxico. Estraga a imagem e inclusive empana eventuais ações positivas das pessoas e organizações.

      E que bom que é assim!

  3. Casais homossexuais da teledramaturgia brasileira

    Marília Galvão/ Redação iBahia

    Christiane Torloni (Rafaela) e Silvia Pfeifer (Leila) eram ricas e elegantes, mas não agradaram o público de Torre de Babel (1998). As duas então morreram na explosão de um shopping no final da trama.

    Alinne Moraes (Clara) e Paula Picareli (Rafaela) estudavam na mesma escola e o relacionamento homossexual causou confusões com os alunos da novela Mulheres Apaixonadas (2003). Elas chegaram a dar um selinho em uma das cenas da trama.

    Bárbara Borges (Jenifer) e Mylla Christie (Eleonora) formaram o primeiro casal homossexual a aparecer em cena, deitado na mesma cama em Senhora do Destino (2004).

    Bruno Gagliasso (Júnior) e Erom Cordeiro (Zeca) aprontaram muito durante a exibição de América (2005).

    Carlos Casagrande (Rodrigo) e Sérgio Abreu (Tiago) eram casados e trabalhavam juntos em um hotel. No final de Paraíso Tropical (2007) eles foram para o exterior por causa de uma promoção no trabalho.

    Thiago Mendonça (Bernardinho) e Lugui Palhares (Carlão) tinham um relacionamento conturbado em Duas Caras (2008). As cenas de declaração de amor deram audiência e geraram uma grande polêmica em volta de um possível beijo gay.

    Em Ti-Ti-Ti, Julinho (André Arteche) era um cabeleireiro que namorava Osmar (Gustavo Leão), que morre logo no início da trama. Na história, Julinho também se envolveu com o surfista Thales (Armando Babaioff).

    Crô (Marcelo Serrado) e Fred (Carlos Vieira) tinham um relacionamento secreto em Fina Estampa (2011). Mas o romance terminou quando Fred foi empurrado da escada por Thereza Christina. No folhetim, Crô arranjou um novo amor.

    Félix (Mateus Solano) foi criado numa família de médicos. Após se casar com Edith (Bárbara Paz) por armação do pai, o administrador se envolve com Anjinho (Lucas Malvacini) e acaba sendo expulso do emprego, em Amor à Vida (2013).

  4. Protagonistas do primeiro beijo lésbico da TV brasileira

    Vida Alves e Georgia Gomide foram protagonistas do primeiro beijo lésbico da TV brasileira. Em ‘Calúnia’, teleteatro dirigido por Valter Foster na Tupi em 1963, Georgia vivia uma professora lésbica. A cena chocou a sociedade da época. Infelizmente, não há registro público disponível desse primeiro beijo gay histórico, o teleteatro era transmitido ao vivo.

    Vida Alves de vermelho, e Georgia Gomide à direita

  5. Infelizmente, por enquanto,

    Infelizmente, por enquanto, os homossexuais, sempre se comportam como homens heteros, são belos. Somente o gay “bem sucedido”, o “comportado’, aquele que vive a sua sexualidade entre quatro paredes, tem espaço, os outros, o pobre, afeminado, são estereótipos, simples fontes de riso e discriminação. 

     

    1. Pobre, no geral, independente

      Pobre, no geral, independente de orientação sexual tá em novela pra fazer parte de núcleo de periferia, então o buraco é mais embaixo.

      Mas aproveitando a deixa das fotos que você postou dos casais LGBTs de novela, o que chama atenção é que seriam apenas casais novos.

      Onde estão os velhos, não existem na vida real, que querendo ou não, acaba influenciando tramas? Porque não usar o Tarcísio e o Fagundes pra fazer um casal abordando o tema na terceira idade?

      1. Faz sentido

        Nos EUA é comum, nas paradas gays, aparecerem casais com cartazes ‘juntos há 60 anos’. no Brasil, até os anos 70 pelo menos, a pressão social para que gays e lésbicas arrumassem casamentos de aparência ou ficassem solteiros era enorme. 

        Mas idosos eram muito mais invisibilizados antes. De uma década para cá apareceram. Como cada geração é cerca de 1/4 menor que a anterior temos uma sociedade em que há mais pessoas entre 40 e 60 anos que entre 20 e 40 anos e assim por diante. O filme ‘Mamma Mia’ (muito bacana aliás) é sintomático: apenas um casal na faixa dos 20 anos, todos os demais protagonistas eram cinquentões. Já há vários e vários filmes sobre o cotidiano, inclusive afetivo, dos idosos.

        E bem neste momento tem o seriado ‘Loucos por Ela’ em que o personagem ex-pai de Eduardo Moscovis e ex-marido de Gloria Menezes é agora uma transmulher (não lembro o nome do ator.) E a TV inglesa lançou um seriado de muito sucesso em que os protagonistas são um casal gay sessentão.

        (em off: Fagundes é sonho de consumo faz décadas, mas Tarcísio nunca fez meu tipo. Preferiria Herson Capri ou Nuno Leal Maia contracenando…)

         

      2. As hoje, lésbicas da terceira

        As hoje, lésbicas da terceira idade, aqui no Brasil, nasceram em tempos bicudos, décadas de 40 e 50 e foram criadas num ambiente onde falar e vivenciar a homossexualidade era algo extremamente secreto. Na minha adolescência, na rua onde morava, tinha a Francisca, butch, pobre, chamada por todos de Chica a mulher-macho. Francisca se matou, não suportou a pressão e a solidão. Por outro lado, Rosi e Meire, coroas, grisalhas, as solteironas da rua, poder aquisitivo superior aos demais moradores, se diziam irmãs, somente mais tarde percebi que eram um casal, todos sabiam que na verdade, eram irmãs de lençóis, mas eram toleradas, desde que continuassem como ‘irmãs’.

        Depois veio a ditadura. Sexo, liberdade sexual, feminismo, virgindade, divórcio e homossexualismo, como era chamado, eram assuntos tabus e proibidos. Sexo gay e lésbico era altamente secreto e clandestino. Muitas destas mulheres lésbicas entraram no casamento heterossexual para protegerem-se. Outro modo muito comum na época era seguir carreira religiosa. Algumas desistiram deste projeto, pois as contradições são muitas. A opção final era ser a tia solteirona da família e mudar-se para uma grande cidade à procura de liberdade de escolha, isolando-se assim da família e de todos.

         

        1. Para homens também era ruim

          Havia a vantagem, nessas décadas de chumbo, em se ter emprego, afinal o mercado de trabalho era masculino, mulheres só podiam ser professoras, secretárias ou governantas. Quando artistas eram mal-vistas.

          Além das carreiras religiosas e suas contradições, havia o espaço para seguir carreiras militares ou de caixeiros viajantes.

          Mas homens gays eram ameaçados de não fazer carreira em seus empregos ou mesmo serem deserdados se não apresentassem ‘herdeiros’. Até os anos 1970, quando havia cortes em empresas, o critério de preservação de empregos era mais para quem ‘tem família’ que para quem tem talento ou produtividade.

          E muito mais do que em relação a mulheres havia patrulhamento em relação a dois homens morando juntos. 

          Felizmente (para os gays), essa experiência violenta de casamentos por conveniência parece ter sido menos traumática. Não gosto nem de imaginar o cotidiano de quase-estupros que pode ter sido a vida de lésbicas casadas por decisões dos pais.

          O sistema machista, patriarcal, heteronormativo e da ideologia da reprodução pela reprodução foi um desastre completo. Inclusive para héteros, mesmo que não se apercebam disso.

          Desastre comum, no meu entender, a capitalismo e socialismo, a islamismo e ateísmo.

          Por essas e outras razões é que nunca me cai bem quando alguém começa a falar aquele papo-barbante de “no meu tempo era melhor”…

    2. Eu não fiz comentário introdutório…

      Eu não fiz comentário introdutório a essa matéria.

      Mas, na verdade, achei a abordagem da mesma antiquada em muitos pontos. Aliás, eu acho quase todas as matérias sobre questões de gênero meio antiquadas, há ainda uma prisão (voluntária) nas teorias de psicologia evolutiva.

      Vamos tomar isso do estereótipo do homossexual como exemplo. Alguns pontos para considerar…

      – quase sempre só se fala da homossexualidade masculina. Há uma invisibilização da mulher lésbica (faz parte isso do incosciente coletivo machista?)

      – os primeiros exemplos, digamos dos anos 60 (revistas), 70 (filmes) e 80 (TV) para cá eram mais dos gays afeminados. Só que eram esses mesmos que apareciam na sociedade, posto que ‘optaram’ por não se reprimir ou não tinham como ficar no armário. Eram muito discriminados sim, mas pelo menos tinham mais chance de uma vida sexual satisfatória que aqueles no armário.

      – nunca se avaliou a representatividade dos estereótipos na população real. Mas tanto o gay afeminado como o que parece hétero são presentes, normais, naturais, etc.

      – a bissexualidade é praticamente não compreendida em absoluto, talvez por não ser pesquisada.

      – mesmo quando alguém quer resistir à imposição de valores normativos da sociedade é virtualmente impossível ser natural (ou não-estereótipo) posto que a carga de construções sociais propagandeadas por igrejas, famílias, escolas, mídia, etc é IMENSA.

      Vem daí que não necessariamente apenas o homossexual afeminado ou a homossexual masculinizada são estereótipos. As imagens mais comuns para homens e mulheres hétero podem ser grandes estereótipos coletivos.

      .

       

      1. A história das mulheres lésbicas é algo praticamente inexistente

        Contar a história das mulheres lésbicas é contar a história de algo que não existe. A mulher raramente faz parte da história, e no caso das lésbicas, menos ainda, já que é pouco comum associar à mulher o exercício de sua sexualidade, homo ou hétero, sem associá-la à procriação. O próprio sexo anatômico da mulher só passou a ter existência há pouco tempo. Haveria apenas um sexo, o masculino, e a mulher seria o avesso disso, com os mesmos órgãos sexuais masculinos não desenvolvidos, ou voltados para dentro. Por todas essas razões, a história das mulheres lésbicas é algo praticamente inexistente. Há, entretanto, alguns momentos de visibilidade.

        1. Infelizmente você está certa

          Precisamos não nos omitir em relação a isso e continuamente ficar lembrando de como a invisibilização da mulher em geral, ou a visibilização apenas como complemento dependente, são um problema para o desenvolvimento da sociedade.

  6. Arf…

    Titia ‘tá de saco cheio desta lenga-lenga gay…Troço chato…querem casar, namorar, vestir estereótipos, desmunhecar, disfarçar, subir, descer, sair do armário, entrar no armário, façam…

    Mas deixem de tentar pautar os aspectos da vida política e social do país pelo filtro desta demanda, que coloca a sexualidade o gênero no centro de tudo…

    Querem até dizer quem a presidenta deve dar mais atenção na geopolítica, Irã é “out”, França é “in”…isto c-a-n-s-a…

    Desencanem…

    Titia imagina que tantos anos de persguição despertou tanta paranoia, mas é certo que a atenção do mundo, do país, da vizinhança, e talvez até daquele almoço de domingo não repouse nas opções e dramas de vocês…

    Tá na hora de ser mais um pouco blasé…desafeta, minina…

    E aí, para fincarem bandeira, cerram fileiras até ao lado do escrotinho do caetano miolo mole…vai ser incoerente assim lá no fim do arco-íris…

  7. COLOCAR MULHERES COMO DERROTADAS PODE!.
    Na novela “amor a vida” tem a personagem Amarilis, um médica FRACASSADA, que não tem condições de cuidar de sua vida financeira E muito menos de arrumar um marido, então , ela querendo muito ter um filho e forma uma família resolve , para FELICIDADE DO CASAL GAY, alugar a sua barriga, mais depois ela desiste e fica suplicando o amor do parceiro gay, afinal de contas a novela mostra como será o futuro das mulheres …Ter filho gay, ter marido gay, ter padrão gay e ser chamada de cadela por ele, ser gorda, virgem e rejeitada……Ou seja, se o machismo do hétero é ruim , espere o machismo gay, é PERVERSO…É sempre bom lembrar que o autor da novela é gay!. …..MAIS ISSO NINGUÉM DISCUTE, PORQUE HUMILHAR MULHER…PODE!. 

  8. ATIVISMO GAY NA TELEVISÃO

    ATIVISMO GAY NA TELEVISÃO E NA MÍDIA
    A MÍDIA NÃO TEM O DIREITO DE TRANSFORMA O HOMOSSEXUALISMO COMO PRODUTO DE PROPAGANDA!. 

    O portal da internet, que é uma agência de propaganda,  que recebe verbas públicas e tem um colunista gay e deputado, usa o homossexualismo como se  fosse mais um produto pra se vender…..O autor é gay, então coloca temas e personagens gays nas novelas, o diretor é gay, então coloca atores e atrizes gays nas novelas e nas mídias, a filha do jornalista é gay, então pega o político, que é contra o casamento gay, e prega uma pegadinha para que suas respostas fique parecendo preconceito racial, a jornalista tem filho gay, então quando vai entrevistar o pastor que é contra o casamento gay ,ela toma partido e se coloca não como jornalista, mais sim, como mãe de gay, o filme tem tema gay, então ele leva premiações.E assim eles vão tomando espaços, que não são exclusivos deles!. !. 

     

  9. E as bichas palestinas?

    O tio Gunter tem que resolver primeiro sua ambiguidade com o problema do estado-judeu quando pretende atacar estados teocráticos que violem direitos humanos dos gays…

    É paradoxal algumém divisar suas concepções políticas bseadas nestas premissas sexistas gays, inclusive para a denúncia de relações diplomáticas com países de costumes diferentes, quando defende a existência e permanência do holocausto palestino.

    No dia que ele abjurar o estado de Israel, titia volta a conversar com ele..

    Caso contrário, até, titia “‘tá di mau”…dá o dedinho…

     

    1. O que tem mesmo a ver

      homossexualidade na TV brasileira com Israel?

      O que você chama de ‘holocausto palestino’ é um sofisma. Contraproducente para a causa palestina, aliás.

      Ou esqueceu do Setembro Negro?

      De qualquer modo, converse com quem quiser quando quiser.

      Bye…

  10. Todo dia a mídia mostra que

    Todo dia a mídia mostra que muitos  travesti morrem no Brasil, que é um país homofóbicos, SENDO QUE, A CADA UM HORA E MEIA SE MATA UMA MULHER NO BRASIL, ou seja, sr. travesti não vire mulher, se não vocês iram MORRER MUITO MAIS!. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador