Jornalões formam frente única, organizada por grupo dos EUA, para combater fake news na eleição

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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O “Comprova” é financiado com “ajuda” do Google e Facebook e é organizado pelo grupo estadunidense First Draft. Associado a veículos como Veja, o Comprova acha que terá mais legitimidade por causa da chamada “checagem cruzada”
 
 
 
Jornal GGN – O grupo estadunidense First Draft – que encampa um projeto “global” de fact-checking que, no Brasil, é “representado pela Agência Lupa– decidiu reunir 24 grandes grupos de comunicação numa frente única contra a disseminação de boatos e mentiras durante a eleição de 2018.
 
Por trás do projeto estão Folha de S. Paulo, Estadão, Veja, UOL, SBT, Band, Exame, AFP, Canal Futura, Jornal do Commercio, Gazeta do Povo, Gazeta Online, Metro Brasil, Correio, Correio do Povo, GaúchaZH, Nexo Jornal, Nova Escola, NSC Comunicação, O Povo, Poder360 e a revista piauí (cujo endereço eletrônico abriga a Lupa; mas a Agência ressalta que não faz parte da frente). 
 
Reunidos e organizados pela Abraji (Associação Brasileiro de Jornalismo Investigativo, instituição composta principalmente por jornalistas da grande mídia), o projeto não contém nenhum representante da mídia independente. O site Poder 360, do jornalista Fernando Rodrigues (ex-presidente da Abraji), faz questão de destacar que a reunião foi feita entre os veículos que exercem o “jornalismo profissional” apenas.
 
O jornalista Luis Nassif, editor-chefe do GGN, encaminhou pedido para fazer parte do “Comprova”, mas teve a solicitação recusada. “Claro que mandei o pedido já imaginando que isso fosse acontecer. É um modelo alinhado aos sites dos grandes jornais. A institucionalização da informação”, definiu Nassif.
 
Batizado de Comprova, o projeto curiosamente não vai checar conteúdo propagado por candidatos e tampouco atacar fake news de baixa repercussão.
 
Segundo o Estadão, a iniciativa do First Draft é financiada com “ajuda” do Google e Facebook, que também oferecem treinamento e apoio técnico.
 
A ideia do Comprova é colocar jornalistas desses 24 veículos para detectar e verificar “rumores, conteúdo enganoso e táticas de manipulação nas redes sociais.” A Abraji vai coordenar mas não gerenciar o conteúdo publicado.
 
O Comprova acha que terá mais legitimidade que as agências de checagem isoladas porque promete fazer uma “checagem cruzada”, isto é, só vai publicar um desmentido quando ao menos 3 dos veículos associados “entrarem em acordo sobre a falsidade da informação em questão.”
 
O First Draft é um “centro de estudos jornalísticos ligado ao Shorenstein Center da Universidade Harvard” e afirma já ter testado esse modelo de checagem durante as últimas eleições na França. A porta-voz da instituição estadunidense, no Brasil, é Claire Wardle.
 
A estratégia do Comprova é produzir material de fácil circulação – como imagens, vídeos, textos curtos – para disseminar e viralizar nas redes, numa tentativa de fazer contraponto às notícias falsas. A ser lançado no dia 8 de agosto, o projeto ainda não sinalizou, por meio dos veículos associados, o que entendem como fake news.
 
CORTINA DE FUMAÇA
 
O episódio do terço de Lula serviu de alerta sobre o uso das agências de checagem patrocinadas por grandes empresas para atacar a credibilidade de portais da mídia independente, onde estão situados atores como Brasil 247, Diário do Centro do Mundo, Revista Fórum, o GGN e outras iniciativas que colocam em xeque a narrativa da mídia comercial.
 
Quando a história de que o Papa Francisco teria enviado um terço abençoado a Lula veio à tona, Lupa usou uma nota errada do Vatican News para cravar que os blogues estavam difundindo fake news. A agência desvalorizou o fato de que os blogues – assim como UOL, Folha e outros grandes veículos – usaram notas oficiais do PT e da assessoria de Lula para produzir a matéria questionada. Sem entrar em contato com os portais independentes para conversar sobre a apuração, Agência Lupa definiu que o conteúdo era “falso” e recomendou punição (que culmina em censura) ao Facebook.
 
Quando o Vatican News se retratou, admitindo que o terço fora abençoado para Lula e entregue ao ex-presidente por meio de um assessor do Pontífice, Lupa mudou o status da checagem de “falso” para “de olho”. Retirou a recomendação para descredenciar os portais no Facebook, mas não se retratou com nenhum portal atingido nem admitiu que, no mérito, cometeu o mesmo “erro” de apuração ao usar a nota errada do Vatican News.
 
Tampouco há notícia de que Lupa tenha pegado no pé de grandes veículos de comunicação que rerpecutiram a notícia usando a mesma fonte dos blogues.
 
O DEBATE NO TSE
 
No Tribunal Superior Eleitoral também há um debate sobre como combater fake news da eleição. O ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes, convidado para uma audiência neste mês, argumentou que, por vezes, a linha editorial de veículos de massa também servem à propagação de notícia falsas.
 
A título de exemplo: em 2014, a Veja divulgou uma capa afirmando que Dilma e Lula “sabiam de tudo” que ocorria na Petrobras. Mais recentemente, a Justiça mandou tirar do ar uma série de matérias que associavam Marina Silva à Lava Jato. Mas as postagens foram feitas tomando como base uma coluna de Lauro Jardim, em O Globo, que informava que Marina seria citada na delação da OAS por caixa 2.
 
As situações levantam a dúvida: eventuais erros de apuração ou reportagens que usam material institucional (seja denúncia do Ministério Público ou nota do PT e Lula) serão niveladas como boatos e mentiras?
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

12 Comentários

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  1. os 33% de votos em lula,
    os 33% de votos em lula, apesar de toda a propaganda nazista, inviabiliza essa ideiazinha de tentar separar o que é e não é fake. as oligarquias não entenderam que o povo hoje é elite e não quer que ninguém, ninguém mesmo, o engane.

  2. MELHOR NASSIF E COMPANHIA
    MELHOR NASSIF E COMPANHIA MONTAREM UMA AGÊNCIA DE CHECAGEM TAMBÉM,SEI Q EXISTE A AGÊNCIA XEQUE DO NASSIF,MAS NECESSÁRIO É ALGO MAIS ABRANGENTE OU DAR MUITO MAIS VISIBILIDADE A XEQUE !

  3. pitaquinho.

    Quer ajudar a diminuir um pouco que seja a influência das notícias falsas? 

    Viva um pouco, meta o pé na lama, meta-se naquilo que diz respeito a sua vida, ou seja, na política.

    Contato com o mundo ajuda. 

  4. As muitas roupas da mentira e a nudez inocente da verdade

    As “fake news” são para o espaço público e os mercados de comunicação o que a corrupção tem sido para a política: um problema real cooptado por seus próprios praticantes para inviabilizar o jogo quando lhes desfavorece. E assim como o discurso do combate à corrupção serviu apenas para criminalizar a Política e fazer retroceder ou estagnar décadas de conquistas sociais e institucionais, o discurso do combate às fake news pretende criminalizar, literal e simbolicamente, a Comunicação Independente, seja ela profissionalizada ou não (seria interessante conhecer o conceito de “jornalismo profissional” de um medíocre que exclui jornalistas experientes e respeitados como Luis Nassif, do GGN, e Fernando Morais, do Nocaute, por exemplo; na verdade, esta é a senha para especular que se trata apenas de uma artimanha de defesa corporativa de jornalistas pelegos contra seus concorrentes). 

    Assim, é necessário aprender com a forma como o assunto foi tratado pelos grupos políticos criminalizados: não recuar, não conciliar, não ser ingênuo, denunciar o procedimento sem incorrer na negação do problema real, ao qual outras estratégias de combate são apresentadas e praticadas. 

    No caso dos blogues independentes e progressistas, eu já havia dito, quando a criminalização formal pelo poder judiciário se tornou mais forte, logo após o golpe, com perseguição judicial a blogueiros que o denunciavam, que achava que eles deviam se unir para se defender. E para justificar tal argumento de que a blogosfera unida é mais forte que a comercial, mesmo em cartel, lembrei de episódios em que isso se comprovou, como na farsa de pesquisa da F@lha de SP, em favor de Temer, que foi desmontada pelo trabalho conjunto mas independente do jornalista Fernando Brito, do Tijolaço, e do G. Greenwald, do The Intercept Brasil. Mas a norma é trabalharem isolados, raramente um repercutindo o trabalho do outro, mesmo quando há interesse e temática comuns. Outro caso recente é o da “indústria da delação premiada”, em que ação conjunta deste GGN com o DCM resultou em importante material sobre o tema, dando espaço e atenção jornalística ao caso das denúncias do advogado Tacla Durán sobre o consórcio entre autoridades públicas, advogados e delatores, que depois foram reforçadas por delações de doleiros investigados. O caso do terço é apenas o mais recente que mostra que a blogosfera pode enfrentar e ultrapassar a mídia comercial em repercussão e credibilidade, desde que não adote os métodos da concorrente, afinal, quem frequenta a blogosfera jornalística geralmente busca a diferença qualitativa e não a repetição do mau jornalismo em chave simétrica. 

    As ações da mídia comercial não surpreendem, na verdade, vieram com atraso considerando sua forma agressiva e desonesta de atuar contra o interesse público. E representam de alguma maneira a reação “imunológica” (imunocínica) ao fato que a blogosfera jornalística e sua narrativa contra-hegemônica estão conseguindo chegar ao público e romper o cerco monopolista do discurso unificado e falsificado do consórcio golpista. E que aconteçam às vésperas das eleições apenas comprova que se tratam de interesse meramente econômico na vida política do país – agora que o fantasma do “mercado” não funciona para impugnar candidatos e que o judiciário perde credibilidade, resta ao golpismo apelar para outra vertente dos meios de comunicação (também combalidos na vertente de produtores de notícias, pelo enfrentamento feito pela blogosfera e meios alternativos ao seu discurso enviesado), a filtragem de fatos inconvenientes para sua narrativa, mantendo o apelo ao verniz de autoridade que outros atores (mercado e judiciário) já desgastaram. 

    É como se em um jogo qualquer em que há jogadores talentosos e desonestos, tanto no time “empresarial” quanto no time “cooperativado”, o juiz fosse um instrumento de proteção dos “profissionais empresariais” e não um garantidor das regras do jogo independente do resto; considerando que os juízes foram escolhidos pelos “times empresariais”, não resta a menor dúvida, nem esperança tola, de que serão justos – a palavra árbitro, aparentada de arbítrio, parece mais adequada. 

    Não por acaso, esses grupos associados para combater “fake news” são contrários à regulamentação oficial, feita por órgãos e poderes públicos, dado o alto, e para eles indesejável, risco de democracia e isonomia no tratamento do problema. E não me admira que as iniciativas desses grupos, que mesmo que fossem de autoregulamentação seriam suspeitas, ao pretenderem regulamentar, e representar, o espaço público de comunicação, de maneira privada e corporativa, acabem por se tornar um think tank para combater também as iniciativas que discutem a regulamentação da mídia no país. 

    Quanto à blogosfera jornalística, ou se junta para se articular em defesa de seus interesses comerciais e jornalísticos, ou será censurada legalmente, com as luvas do tecnicismo e do cinismo corporativo que agem como mecanismos cancerígenos, se apropriam do próprio funcionamento sadio do corpo para fazê-lo destruir-se a si mesmo. Há os que dizem que o caminho se faz ao caminhar. A  blogosfera precisa construir agendas comuns e partir para o enfrentamento. A exigência conjunta que fizeram ao Facebook para apresentar informações sobre o financiamento de propaganda política na plataforma é um excelente passo, que precisa se tornar uma associação permanente em defesa da transparência e do direito à pluralidade nos meios de comunicação. Acho incrível que uma geração de grandes jornalistas que viveram a ditadura militar de 1964-1985 (que eu vivi inconscientemente por ser criança no período) não utilize sua experiência para finalmente se tornar independente de fato, e no momento em que a fragmentação dos meios de comunicação favorece iniciativas contramajoritárias. 

    Por fim, acho ruim que nesse momento de grandes discussões para o presente e o futuro do país, grande parte das grandes universidades e centros de pesquisa esteja ausente do debate público. Afinal, os temas da liberdade de expressão e da pluralidade nos meios de comunicação deveriam ser assuntos de interesse primordial  em instituições, ao menos nos departamentos de ciências humanas e sociais, que delas dependem para existir com autonomia. Imagino que os mais progressistas, instituições e estudiosos, podem ajudar os blogues a fazer o contraponto no debate público, sem o qual o combate necessário à indústria de fake news será privatizado e utilizado como arma de silenciamento dos dissidentes, um tipo de diversionismo para minar adversári@s, habitual d@s don@s do poder. Eles têm o poder e o dinheiro mas trabalham pela mentira – seu ponto fraco a ser explorado. O que a mídia alternativa tem a seu favor? 

     

    Sampa/SP, 28/06/2018 – 18:59 (alterado às 19:15). 

     

  5. Só falta o TSE passar a usar
    Só falta o TSE passar a usar essa frente como parâmetro para suas decisões.
    Fica evidente que os meios tradicionais estão perdendo, a passos largos, a credibilidade.
    Curioso é que nenhuma Universidade brasileira ou instituição ligada à elas participam dessa empreitada.
    “Me engana que eu gosto”

  6. O Tribunal Superior

    O Tribunal Superior Eleitoral, dirigido pelo Ministro Luís Fux, nem muito menos o Ministério Público Eleitoral, certamente não estão preocupados com as notícias falsas, Preocupam-se, sem dúvidas em controlar as notícias para fins eleitorais, para isso estão investindo. Estivessem com alguma preocupação no sentido, de procurar impedir a divulgação de notícias falsas, como admitir que toda a mídia, tendo o IBOPE acabado de divulgar que Lula com 33% lidera a pesquisa, tendo o dobro do segundo colocado, o único que não perde para os votos brancos e nulos, com índice de rejeição menor que o de seus concorrentes “diretos”, divulgando a notícia deturpada, em manchetes, memo assim com pouco destaque, informando, na realidade desinformando  que ” Sem Lula, Bolsonaro tem 17%, Marina, 13%, e Ciro, 8%, aponta CNI/Ibope”. Esta não é uma notícia falsa, certamente, mas divulgar essa meia notícia, escondendo  a  inteireza,o principal do ocorrido, é uma falsa notícia, tendenciosa, que busca um resultado, no sentido de influir no eleitorado, não divulgando o fato em si, o acontecido. Só a mídia alternativa está divulgando verdadeiramente a notícia. Para a Justiça e o MP Eleitoral tudo normal. 

  7. Mais do mesmo: CAMPANHA

    Sigo em campanha:

    Enquanto setores mundiais progressistas (união de partidos políticos de esquerda, sindicatos, coletivos, etc.) não se unirem para o estabelecimento planetário de seus próprios meios de armazenamento, busca e difusão de informações (buscadores, redes sociais, plataforma de armazenamento de vídeos e imagens…), de preferência incluindo a criação de uma Internet paralela, a exemplo do que está sendo providenciado pelo governo da Rússia, as forças reacionárias, detentoras do grande capital e dos meios respectivos da Internet (google, youtube, facebook…), seguirão manipulando a opinião pública com a faca e o queijo na mão.

    É preciso perceber, com urgência, que o capitalismo fim de linha, em seu atual estágio financeiro, está em guerra aberta de aniquilação e domínio contra a dissidência que coloca em xeque seus pressupostos e consequências nefastas.

    “We all know who the chief administrator of the global internet is. And due to its volatility, we have to think about how to ensure our national security,” said Peskov. It’s not about disconnecting Russia from the World Wide Web, he added, but about “protecting it from possible external influence.”

  8. As prostitutas irão fechar as
    As prostitutas irão fechar as pernas ?? Ou ficarão só no discurso da MORALIDADE E ÉTICA,uma coisa é certa,já começa com as empresas e pessoas erradas,eles só estão preenchendo os espaços vazios deixados!

  9. A censura pós-moderna

    É muito suspeita essa organização corporativa da grande mídia e, mais preocupante, conciliada com grandes oligopólios como o Facebook e o Youtube, instituições estrangeiras e, incrivelmente, o TSE. Sugiro como contraponto a tal agência Comprova uma organização urgente das principais universidades públicas de Jornalismo e Comunicação fazendo exatamente o mesmo, grupos de pesquisa elaborando a tal checagem cruzada e pesquisas na área, a exemplo do próprio Manchetômetro. Além da credibilidade inquestionavelmente maior, teríamos uma sistematização dos dados e metodologias mais consistentes e avançadas realizadas por pesquisadores da área. Nesse sentido, instituições como o TSE seriam obrigadas a aceitar a participação da universidade pública brasileira em detrimento de organizações privadas ou estrangeiras que possuem interesses políticos e econômicos evidentes na manipulação da informação. 

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