Como venho fazendo nas últimas semanas, na tentativa de manter acesa a chama da boa música que iluminou o Festival Choro Jazz,de Jericoacoara, no Ceará, comentarei o DVD/CD Miramari (Estúdio Monteverdi), que reuniu o pianista brasileiro André Mehmari e o clarinetista italiano Gabriele Mirabassi. Dois gênios.
Talentos díspares, Mirabassi é mais da música clássica; Mehmari, mais da popular. Ou seria o contrário? Os dois são pop? Concertistas? Não há resposta errada, todas vão na mosca.
No show que fizeram em Jeri, eles tocaram todo o repertório que está no DVD/CD. Piano e clarineta dialogam num turbilhão de conceitos. Cada um deles tem o que dizer, e o faz com técnica, que, aditivada pela emoção, faz com que o virtuosismo aflore. Nada mais contemporâneo, nada mais exuberante.
Os arranjos parecem gêmeos univitelinos das canções, e as variações de dinâmicas as engrandecem. Há momentos em que a genialidade da interpretação se sobrepõe à própria composição: é quando os instrumentistas criam asas e sobrevoam o sublime.
“Apenas o Mar” (Mehmari e Thiago da Silva), faixa que abre tanto o DVD quanto o CD, inicia com o sopro delicado da clarineta. O piano o ampara, acrescentando ainda mais doçura à melodia. Seguindo, vem o frevo “Brilha o Carnaval” (Mehmari e Luiz Tatit) e o bicho pega geral. Clarineta e piano ensandecem. Uma sola, o outro incendeia. Quanto sentimento! Os improvisos endoidam. Quanta técnica! Quanta emoção!
A clarineta e o piano iniciam “O Espelho” (Mehmari). Um tema sereno. A sonoridade dos instrumentos é coisa linda.
“Primeiro Choro de Lucas” (Mehmari) une a tradição à modernidade. A interpretação dos instrumentistas é uma aula de bom gosto.
“Elogio ao Choro”(Mehmari) é mais dolente do que o anterior, com direito a Mehmari citar alguns dos mais famosos do gênero, como “Apanhei-te Cavaquinho”, de Ernesto Nazareth.
“Canção Desnecessária” (Guinga e Mauro Aguiar), junto com “Rasgando Seda” (Guinga e Simone Guimarães) e “Vivo Entre Valsas” (Mehmari), vêm em sequência. Harmoniosos em sua suave beleza, clarineta e piano, em acordo mútuo, tangem o clássico.
Assim, numa escalada de suprema musicalidade, tocam os dois gênios desassossegados. As mãos do pianista, com a mesma força dadivosa de sua inspiração composicional, e a respiração do clarinetista, com a intensidade de um sopro de vida divina. Juntos, a precisão de suas atuações ultrapassa a capacidade que temos para coexistir com algo que desconhecemos. São como o mistério expondo a alma ao desconhecido: ao mesmo tempo em que assusta, enche-nos de orgulho por pertencermos ao mesmo mundo que eles, gênios.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
O chamado ativismo judicial provoca rusgas institucionais desde o tempo do mensalão, antecedendo os ataques…
Denúncias de alienação descredibilizam acusações de violência contra menores e podem expor a criança aos…
Os dois conversaram sobre o combate à desigualdade e à fome. Para Dilma, o papa…
Os pesquisadores constataram que pessoas que sofrem de hipertensão sofrem ainda mais riscos, especialmente as…
Caso ganhou repercussão no interior de SP; jovem faleceu após ser baleado na região do…
É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente…
View Comments
Nem um bilisco dessa suposta
Nem um bilisco dessa suposta maravilha?