Na Flip, Tinhorão diz que tem “uma pena do Tom Jobim”

Jornal GGN – Em debate durante a Festa Literária de Paraty no domingo, o crítico e pesquisador musical José Ramos Tinhorão afirmou que Tom Jobim tinha um “equívoco fundamental: achava que cumpunha música brasileira”. Em mesa com Hermínio Bello Carvalho e mediada por Luiz Fernando Vianna, Tinhorão também afirmou que a bossa nova era um “jazz pasteurizado” e que a única novidade do gênero foi a batida criada por João Gilberto no violão.

Hermínio Bello de Carvalho, compositor e também pesquisador musical, discordou de Tinhorão:”é samba sim, é brasileiro sim, tem gente bacana compondo coisas brasileiras ­ acho injusto você pintar a figura do Tom com tintas sangrentas”. Bello de Carvalho é autor de  Taberna da Glória e Outras Glórias, livro lançado na Flip que conta histórias do bar carioca que recebeu Aracy de Almeida, Mário de Andrade e outros artistas.

Enviado por Paulo F.

Do Estadão

‘Tenho uma pena do Tom Jobim’ , diz José Ramos Tinhorão em mesa sobre música brasileira na Flip

Pesquisador dividiu a Tenda dos Autores com Hermínio Bello de Carvalho e fez um dos melhores debates desta edição da Festa

PARATY -­ As mesas do início de domingo nas Flips costumam guardar boas surpresas: Hermínio Bello de Carvalho e José Ramos Tinhorão ­ – dois verdadeiros pilares na música brasileira -­ divergiram em vários momentos do debate que ocorreu neste domingo, 5, na Tenda dos Autores, em Paraty, para deleite do público.

“Tenho uma pena do Tom Jobim”, disse Tinhorão, “ele tinha um equívoco fundamental: achava que compunha música brasileira”. O crítico e pesquisador está relançando pela Editora 34 o livro O Samba Agora Vai, de 1969, numa edição revista e ampliada. O subtítulo revela a ironia do título e é um pequeno resumo do conhecido posicionamento do autor em relação à música popular brasileira: A Farsa da Música Popular no Exterior.

Entre problemas para ouvir os outros participantes da mesa (que teve o jornalista Luiz Fernando Vianna na mediação) e facadas no peito da MPB, Tinhorão é um verdadeiro frasista: “a bossa nova era o jazz pasteurizado”, “a bossa nova é ritmo de goteira”, “há uma relação clara entre a capacidade de produzir música e capacidade de produzir aparelhos capazes de transmitir”, “a bossa nova é então bossa velha”.

Para Tinhorão, a única novidade do gênero é a batida de João Gilberto no violão. “Ele pega o samba tradicional e desintegra o tempo, faz o que o Moreira da Silva chamava de ‘ritmo de goteira’, que não é certinho”, explicou em um momento.

“Não acho nada disso que o Tinhorão falou”, rebateu Bello de Carvalho, ele mesmo compositor e também pesquisador da música brasileira. “O Brasil está comemorando 50 anos de carreira de diversos artistas, Bethânia, Gal, Ivan Lins, Dori Caymmi, há um número enorme de compositores, cantores, instrumentistas, Tom fez sucesso nos Estados Unidos, foi gravado com respeito por Frank Sinatra”, enumerou. “É samba sim, é brasileiro sim, tem gente bacana compondo coisas brasileiras ­ acho injusto você pintar a figura do Tom com tintas sangrentas”, disse para Tinhorão, que respondeu: “se são 50 anos é porque a bossa nova é bossa velha”.

No livro Taberna da Glória e Outras Glórias (Edições de Janeiro), que Bello de Carvalho lança na Flip, ele conta histórias do mítico bar do bairro carioca, que recebeu entre suas paredes Aracy de Almeida, Mário de Andrade (que viveu no Rio entre 1938 e 1941) e muitos outros.

“Mário foi expulso de São Paulo porque ele tinha ideias tão brilhantes”, comentou Bello de Carvalho. Sobre a sexualidade do escritor paulistano ­- tema recorrente nas mesas da Flip este ano -­ o compositor preferiu não ser taxativo. “Mário era confuso sexualmente, mas discutir sexualidade, se não for muito aprofundado, fica banal, rasteiro”, explicou -­ para aplausos do público.

Tinhorão também ressaltou a profusa produção de Mário de Andrade sobre a música brasileira -­ ele escreveu, recentemente, a introdução para o livro A Música Popular Brasileira na Vitrola de Mário de Andrade, organizado pela professora da USP Flávia Camargo Toni.

Redação

Redação

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  • Tinhorão?

    Achei que esse homem tivesse morrido. É a boataria de internet.

    Um grande pesquisador, mas que não acha nada original; confunde influência com cópia e faz uma salada com diversos outros conceitos, sempre invocando o marxismo.

    Mas vale a presença porque tem conhecimento profundo sobre o assunto.

  • E eu tenho uma profunda pena

    E eu tenho uma profunda pena do Tinhorão.

    Duvidar da importancia do Tom Jobim é o mesmo que "ter pena" de Picasso ou de Gershwin.

    Esse Tinhorão é umamumia perdida no tempo.

  • Tinhorão sempre foi um mala

    Tinhorão sempre foi um mala sem alça, o arquétipo do crítico-musico-frustrado. O Hermínio sempre foi um contraponto mais lúcido, até porque não é músico frustrado e sim bem sucedido. Por esse caminho a única música brasileira é a monocórdia cantilena dos Waimi-atroari.

  • Tinhorão o bossa novista enrustido

    No fundo, no fundo Tinhorão é um bossa novista enrustido, mas nunca quis sair do armário, acho que vai morrer por lá na mais total solidão. Mas sempre será lembrado como uns dos maiores pesquisadores da mpb.

  • Ainda está vivo????

    Eu fico impressionado como as bobagens do Tinhorão sobre o que é a "verdadeira" música brasileira ainda ocupam espaço na midia. Isso só pode ser explicado por algum tipo de sensacionalismo desinformado de focas do jornalismo cultural.

    Quando, há dez anos atrás, eu escrevi um livrinho de bolso sobre música andina para a coleção Memo, do Memorial da América Latina (http://www.academia.edu/1434086/M%C3%BAsica_andina), eu fiquei até constrangido de, mais uma vez, ter que fazer um contraponto ao esquematismo classificatório do Tinhorão. Tanto que até evitei de mencionar o nome do dito-cujo.

  • Zumbi

    Tinhorão morreu e não sabe.

    Agora, o que eu não sei é como alguém ainda consegue levar esse sujeito a sério.

    Eruditos de província, que reivindicam a virtude das enciclopédias viciadas, mas que estão apenas anquilosados em esquemas mentais mecanicistas, simplórios e intelectualmente indigentes não são muito mais que figuras folclóricas. É o caso dele.

  • Sobre Tinhorão

    "Tinhorão, urutu, sucuri

    O Jobim, sabiá, bem-te-vi"

    de ALDIR BLANC E MAURICIO TAPAJÓS

  • Deus meu. As décadas passam e

    Deus meu. As décadas passam e a mentalidade desse senhor não avança um milímetro sequer. Seu cérebro parece fossilizado. 

  • Como se sabe, tinhorão é uma planta bulbosa, tóxica e venenosa

    O tal pesquisador é do "tipo google", que pode pesquisar bem, mas só dados. Opinião é outra coisa...

    Um direito dele pendurar-se e enroscar-se, como parasita, na fama alheia, destilando sua seiva tóxica.

    Ele "descobriu" (óóh!) que bossa nova, um processo (iniciado pelo menos em 1954) que é um estilo musical e não um mero ritmo (1959), tem "influência do jazz", algo que (o gigante) Carlinhos Lira já musicara em 1961 e antecipara em 1956 com "Criticando".

    Não só do jazz, como também do bolero (ah os boleros!), além obviamente do samba. E daí? O jazz, como o samba, tem também raízes negras, oops, afrodescendentes.

    Como afinal somos todos, mesmo branquelos como eu, do autralopithechus, homo-habillis, erectus e sapiens, O pesquisador prefere talvez começar como neanderthal ou cro-magnon, pois é mais chic, europeu... Mas vieram da mãe Africa também. A diferença é que (como o "pesquisador", que nem desconfia) estão extintos...

    O fato é que a bossa nova, assim como (o gigante) Tom Jobim são conhecidos (e curtidos) lá fora e são marca musical genuinamente brasileira. 

    Já o sr. zé ramos de plantinha venenosa... pfff

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