O rei do rock negro

Enviado por jns

O REI DO ROCK NEGRO

“Eu não sou Shakespeare. Mas ganhei muita grana e transei com mais de 4 mil mulheres. Tenho certeza de que Shakespeare trocaria de lugar comigo a qualquer hora”, Gene Simmons, do Kiss, dos Més e dos Rocks Brabos.

por André Barcinski

Elvis, ao contrário de vários outros ídolos da época (como Pat Boone, por exemplo), nunca renegou a origem de sua música. “O que eu faço não é novidade”, disse. “Os negros vêm cantando e dançando dessa forma há muito tempo.”

“Eu agradeço a Deus por Elvis Presley”, disse o negro Little Richard (foto), um dos grandes pioneiros do rock. “Ele abriu as portas para muitos de nós.”

Uma história emblemática é a de Shelley “The Playboy” Stewart, um radialista negro que apresentava um programa de rock na estação WEDR, no Alabama. O programa de Stewart atraía um público predominantemente branco, que aprendera a gostar dos artistas “de cor” que o DJ tocava.

No dia 14 de julho de 1960, Stewart estava apresentando um show na cidade de Bessemer, quando recebeu um aviso do dono do clube: a Ku Klux Klan, temida organização racista, havia mandado 80 homens para atacá-lo. Os encapuzados cercavam o clube e ameaçavam invadir o local. Sem perder a calma, Stewart avisou à platéia – formada por 800 brancos – que teria de parar o show. Foi aí que o inesperado aconteceu. “Os jovens que estavam no clube se rebelaram”, disse Stewart, anos depois. “Eles saíram correndo do local e atacaram a Klan, lutando por mim.” A simbologia do fato é forte demais: brancos lutando contra brancos, pelo direito de ouvir música negra.

O rock’n’roll não mudou a sociedade, mas serviu como espelho de mudanças e tendências. Claro que ninguém deixou de ser racista ao ouvir Elvis Presley cantando música “de negros”, mas o simples fato de Elvis aparecer em cadeia nacional, rebolando os quadris e celebrando uma cultura marginal, mostrava que o país estava mudando.

Os roqueiros passavam por maus bocados no fim dos anos 50: Elvis Presley foi para o Exército, Chuck Berry ficou preso dois anos por ter atravessado uma fronteira estadual com uma prostituta menor de idade, Little Richard abandonou o rock e virou pastor depois de “ouvir o chamado de Deus” durante um vôo turbulento, Jerry Lee Lewis arruinou a carreira ao casar com uma prima de 13 anos, Buddy Holly morreu em um acidente de avião, que matou também Ritchie Valens (La Bamba) e Big Bopper (Chantilly Lace), e Eddie Cochran morreu em um acidente de carro. Quando o futuro do rock’n’roll parecia negro, surgiram os Beatles.

 Michael Ochs Archives / Getty Images

George Harrison, Paul McCartney, Pete Best e John Lennon no palco do Cavern Club, em fevereiro de 1961, em Liverpool, Inglaterra | Fotógrafo: Michael Ochs Archives / Getty Images

A influência dos Beatles é incalculável. Musicalmente, eles elevaram o rock a um nível até hoje inigualado, estabelecendo parâmetros e modelos para toda a música pop. Suas experimentações abriram novas possibilidades sonoras e ampliaram os horizontes musicais das gerações posteriores. Culturalmente, eles foram igualmente importantes: carismáticos, irreverentes e cheios de sex-appeal, eles surgiram no mundo como um sopro renovador, obliterando a caretice da década de 50 e inaugurando uma era mais livre e esperançosa – os anos 60.

O rock democratizou a música pop. Subitamente, qualquer um podia subir em um palco e cantar. Elvis, um caipira ignorante, passou a freqüentar as paradas de sucesso ao lado de Sinatra (foto) e Nat King Cole (dá até para entender por que Sinatra, acostumado a trabalhar com músicos experientes, não aceitou o novo estilo: “rock’n’roll é a coisa mais brutal, feia e degenerada que eu já tive o desprazer de ouvir”, disse o “olhos azuis”).

Essa “democracia” do rock teve um efeito imediato: os artistas ficaram cada vez mais parecidos com seu público, tanto em idade quanto em classe social. Os jovens passaram a se identificar mais com seus ídolos, estabelecendo uma relação mais próxima com a música. O rock também passou a buscar na sociedade – especialmente nos jovens – os temas de suas canções. Essa troca fez do rock a música mais popular e culturalmente impactante do século 20.

Não foram os únicos roqueiros que se tornaram símbolos de uma era: Bob Dylan, Jimi Hendrix e Jim Morrison também viraram ícones dos anos 60, tanto quanto o símbolo da paz ou o rosto de Che Guevara. Sid Vicious é, até hoje, a imagem mais reconhecível da rebeldia punk. E basta um passeio por qualquer grande cidade para ver, a qualquer hora, jovens usando camisetas com o semblante triste de Kurt Cobain (foto).

Esses rostos passaram a representar mais que a simples paixão por uma banda ou artista: tornaram-se símbolos de um estado de espírito e de um jeito de ser. A iconografia, claro, reduz tudo a seu nível mais rasteiro – e um artista como Kurt Cobain, autor de dezenas de músicas, acabou reduzido a garoto-propaganda do suicídio e da alienação adolescente. John Lennon foi assassinado e virou “marca”, transformado, como Gandhi, em símbolo de paz e amor. Logo ele, que nunca escondeu ter sido um pai ausente e que tratou Paul McCartney como um cachorro sarnento depois do fim dos Beatles. O rock simplifica tudo.

Talvez seja essa a razão de seu sucesso. Como bem disse Gene Simmons, do Kiss: “Eu não sou Shakespeare. Mas ganhei muita grana e transei com mais de 4 mil mulheres. Tenho certeza de que Shakespeare trocaria de lugar comigo a qualquer hora”.

Quem duvida?

***

Tamára, pinçei partes do texto original de André Barcinski prá dizer que sou fã dos Beatles, dos Roliing Stones e até de algumas Antas Cantoras que, despudoradamente, despertam o gosto pela música por velhos, jovens e criancinhas que, no passado, viravam apreciados petiscos de comunistas famélicos.

E muito ‘Ding Dong, Ding Dong’ prá você!

Redação

14 Comentários

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  1. Nassif, se você me permite

    Nassif, se você me permite fazer uma sugestão de tópico, houve grande repercussão o caso do tweet racista de Justine Sacco.

    http://www.quora.com/Justine-Sacco-Offensive-Tweet-Controversy-December-2013/What-should-Justine-Sacco-do-to-start-rebuilding-her-reputation-and-career

    A repercussão foi 100% negativa, ela perdeu seu emprego, foi fortemente condenada por todos.

    Seria interessante um tópico salientando a diferença na reação a demonstrações de racismo nos EUA e no Brasil, onde Gentili e similares fazem declarações ofensivas e racistas(o comentáriod e Gentili oferecendo bananas para o rapaz negro), recebem apoio e seus patrões não fazem absolutamente nada, talvez até os incentive a continuar fazendo isso.

    1. Eu tinha visto o caso “lá

      Eu tinha visto o caso “lá fora” mas demorei pra ligar com o nome….já ia soltar um “quem”…

      …por sinal, ela era uma diretora sênior da empresa quando postou isso aqui:

      “Going to Africa. Hope I don’t get AIDS. Just kidding. I’m white!”

      E realmente, a reação lá tende a ser diferente. Teve também o caso de um reality show chamado “Duck Dinasty” que estava gerando polêmica nos últimos dias:

      http://www.huffingtonpost.com/2013/12/18/duck-dynasty-phil-robertson-gay_n_4465564.html

      ‘Duck Dynasty’ Star Phil Robertson Makes Anti-Gay Remarks, Says Being Gay Is A Sin

  2. Orgulho negro com beneficio geral

    Além de outras, é notável a influência negra na música predominante dos últimos tempos (XX e XXI).

    Jazz, blues, rock..

    No Brasil, dentre outros, o óbvio samba e sua filha com o jazz, a nova bossa que, embora de composição mais branquela, não poderia por suas origens, deixar de ser bem mulata sapoti.

    Propaga-se que aqui hoje predomina o funk e o sertanejo (como diria Tacanhêde: “mas univesitááário”).

    Aquele ainda também bastante negro.,O último, mais uma mercadização da música original “do sertão” com o country americano, que tem origens mais branquelas dos colonos que a “customizaram” na terra de Marlboro.

    Sabs-se que Elvis (e outros pioneiros) chegou a ser excomungado e proibido em muitas paróquias, pelas origens negras e pela “dança sexual” do diabo (sim, o “balança e gira” era (tam) bem uma dança.

    Logo pra quem quiseram “soltar essa”: pra geração baby boomers!

    De minha parte, talvez pela contemporaneidade (virtual, certo?) sempre gostei mais deste rock original. Depois complicou e distorceu um tanto demais, me parece.

    Quando vi o título pensei que fosse algo específico a Little Richard. Mas aí percebi que não era  “O rei negro do rock”, hehe.

    Ótimo o trecho sobre a Klan, mostrando como se pode separar e juntar pessoas em trono de algo.

    Muitos algos!

    Boa!

     

    1. Cai nessa tambem, pensei

      Cai nessa tambem, pensei tratar-se do Litlle Richards, esse sim o verdadeiro rei do rock

      sem desmerecer  o “the pelvis ” lá do inicio. É mais que  notório que  o rock n roll musicalmente

      é uma variação”jocosa e sensualizada  do  Rhythm and blues  em seu nascedouro ,  já era tocado

      bem antes da introduçaõ de “pitadas country ” seu  é dançar é filho direto do ” swing e do lindy hop.

  3. Champagne & Reefer

    Jns, eu nunca gostei dos bitôus, apenas por George Harrison, eu nutria uma particular simpatia. Harrison foi para mim o maior dos Beatles, o mais discreto, sempre tímido, e mantendo-se em segundo plano o seu talento, infelizmente, acabou ofuscado pelo egocentrismo de John e Paul. Assim como eu sempre preferi os ‘Rolling Stones’ exatamente por eles respeitarem e reverenciarem os cantores negros de blues tanto que adotaram como nome da banda o título de uma das canções de Muddy Waters gravada em 1950 e foram uma das primeiras bandas de rock britânico dos anos 60, que se adaptou ao som de clássicos do blues cantado pelos negros norte-americanos, com versões originais que foram posteriormente reformuladas pela banda, como a ‘Love in Vain’ de Robert Johnson ou a ‘I’m a King Bee’ de Slim Harpo. Ou ‘Champagne & Reefer’ de Muddy Waters, brilhantemente acompanhada pelo bluseiro Buddy Guy no documentário ‘Shine a Light’ de Martin Scorsese. Aliás, Buddy Guy poderia fazer parte dos ‘Rollings Stones’ tal a fantástica sintonia. 

    Obrigada pelo ‘Ding, Dong’ e como estamos em vésperas de festejar um outro ano, ‘Champagne’ para você, e para nós todos. O ‘Reefer’ fica apenas na música. E como adoro blues e os Stones, alguns vidiozinhos no original e na versão dos Stones para alegrar um modorrento domingo. 

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=oHowqKYSXNI align:center]

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=p-aw6n6xznI align:center]

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=-BkPm8JIJJQ align:center]

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=ryRDcE2sB2A align:center]

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=XWLvm11MAaM align:center]

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=yDxE9SaqUtI align:center]

    1. Tamara, o John era cheia de

      Tamara, o John era cheia de frases impctantes e muitas vezes tiradas de contexto, é só lembrar de “mais famosos que Jesus”.  Elvis era (é) o ícone gostemos ou nao, sendo justos ou não, com os precursores reais do rock. E é obvio que John conhecia e também gostava do som negro americanos. Aqui dois pequenos exemplos.

      Chuck Berry e Lennon com Memphis, Tenessee.

      http://www.youtube.com/watch?v=h9kgu71d81U

      Uma versão swingada de I Want You com Billy Preston

      http://www.youtube.com/watch?v=R6BxmfiDHOM

       

       

  4. O titulo Rei do rock negro

    O titulo Rei do rock negro remete a Tarzan rei das selvas. O título é infeliz e inadequado. Ao contrário não exisitiria Elvis sem a música negra. Elvis, quando adolescente, se escondia para ouvir música negra em bares e também para ver como os negros dançavam. A importância de Elvis foi mostrar, para menores,isto é brancos, a música negra. nesse sentido, Elvis tem um pouco de Al Johson, só não pintava a cara. Os veradeiros herois e criadores do rock foram e continuam sendo subestimados, mesmo que em função de caras como os Stones, Rolling Stones, dentre outros, esses roqueiros negros tenham tido, na década de 1960 e 1970, um tardio revival e reconhecimento.

  5. Para quem não sabe, elvis era

    Para quem não sabe, elvis era presbiteriano e frequentava regularmente a sua Igreja

    ele fez muito sucesso cantando hinos cristão, alguns muitos famosos

    Nos seus ultimos dias de vida ele estava frequentendo a sua Igreja em Memphis.

    1. Sem desmerecer o talento de

      Sem desmerecer o talento de Elvis,ele foi bastante apoiado justamente para contrabalançar o sucesso da musica negra nos EUA.

      Não sou expert em Elvis, mas, pelo que li, tratava-se de um racista radical.

      Era famosa uma de suas afirmações racistas. 

      Dizia ele:

      “Prefiro beijar mil negras do que uma mexicana”.

      1. Elvis não era racista, muito

        Elvis não era racista, muito pelo contrário, era um cara que quebrava os paradigmas do racismo sulista:frequentava paruqes de diversão em dias reservados para negros, frequentava bares de negros, imitava os negros em seu jeito de vestir e cantar.

  6. Engraçado o texto, quase uma

    Engraçado o texto, quase uma colagem “paia”..mas enfim se for do Barcinski  tá perdoado

    a praia dele é outra,  é a das bandas  que de tão “undergrounds  nem foram formadas

    ainda e certamente todas elas serão a melhor banda de todos os tempos por algumas

    semanas e da-lhes Lúcio Ribeiro , Álvaro Pereira “globo-punk” jr…etc. Reparem no trecho:

    “Quando o futuro do rock parecia  NEGRO surgiram os Beatles.  pum! Engraçado!

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