Sete cordas e uma navalha: o violão de Zé Barbeiro

 

Zé Barbeiro, em cena do DVD Violões do Brasil

 Zé Barbeiro é considerado por Luís Nassif o melhor violão de 7 cordas do Brasil e sucessor de José Horondino da Silva (em seu artigo “Gênios anônimos da música”, de 19/03/2005), é um desses exemplos de chorão de rara estirpe, carregando em suas baixarias uma autêntica escola de vida e um aprendizado de anos de convívio informal com músicos de várias tendências e lugares. (in As 7 cordas do choro paulistano por Zé Carlos Cipriano – 04/05/2005 – blog Suvaco de Cobra)

ouça abaixo o choro com pegada de samba “De trás pra Frente” 

 

 

 

 

 

Navalha sonora

Um dos maiores violonistas do País, Zé Barbeiro grava, ao vivo, seu 2º disco autoral

Zé Barbeiro no Itaú Cultural – Amanhã, 27/02 – 20 hs – Av Paulista, 149 – tel 2168 1776 – Grátis

26 de fevereiro de 2011 | 0h 00

Lucas Nobile – O Estado de S.Paulo

O poder da música já fez com que várias pessoas abandonassem (futuras) carreiras em outras áreas. Chico Buarque largou a arquitetura; João Bosco, a engenharia; Edu Lobo, o direito; Guinga, a odontologia; Noel Rosa, a medicina. Embora nunca tenha pensado em enveredar por caminhos acadêmicos – mesmo sob forte pressão do pai -, em 1995 o alagoano José Augusto Roberto da Silva deixou de vez seu ofício primeiro, a barbearia, para se dedicar exclusivamente ao ritmo, às melodias, harmonias, contrapontos e “baixarias” de seu violão de sete cordas, mas manteve as origens no apelido.

 

Contemplado pelo edital do Rumos Música Itaú Cultural, amanhã Zé Barbeiro grava ao vivo seu segundo disco solo, que será lançado em agosto deste ano, intitulado No Salão do Barbeiro. No palco, ele estará rodeado de Alexandre Ribeiro (clarinete), Rodrigo Y Castro (flauta), Fabrício Rossil (cavaquinho) e Léo Rodrigues (pandeiro), mesma trupe que já o havia acompanhado em Segura a Bucha, primoroso álbum de estreia, viabilizado em 2009 pelo Projeto Pixinguinha, da Funarte.

Se o disco anterior já combinava diversos gêneros com um instrumental competente para as melodias venenosas e as harmonias malucas – no melhor sentido dos termos – de Zé Barbeiro, sendo capaz de levantar qualquer um das cadeiras, é de se imaginar o que vem neste próximo trabalho, já que o compositor e violonista promete algo “mais dançante”. “Serão músicas ligeiras, principalmente choro, mas também teremos gafieira, xote, baião, frevo, maxixe”, diz Zé Barbeiro. Não à toa, inspirado na brincadeira do título do disco em referência também aos salões de gafieira, o show de amanhã terá no palco a presença de casais de bailarinos.

Assim como em Segura a Bucha, que trazia temas de Zé Barbeiro com nomes bem-humorados, como Clarinetista Enchendo o Sax, Chorâmbulo e Bafo de Bode (esta última em parceria com o craque Alessandro Penezzi), os títulos de No Salão do Barbeiro mantêm a mesma pegada de brincadeira, como Sessedentário, Trinca Ferro e Koolongo.

Hoje com 59 anos, Zé Barbeiro tem cerca de 160 composições, fala sério sobre a intenção de ainda gravar todas e brinca dizendo achar que a vida não lhe dará tempo de chegar às 300. Habitué das rodas do Ó do Borogodó, onde se apresenta às terças-feiras, e do Bar do Cidão, às sextas, ambos na Vila Madalena, Zé Barbeiro tem em sua matriz musical o choro, mas passeia com naturalidade por uma infinidade de estilos. “O choro e o samba vêm em primeiro lugar, mas eu gosto de bolero, tango, música japonesa e italiana. As pessoas até me perguntam se, com toda essa estrada, eu não penso em dar aulas. Até penso, mas nunca vou largar o bar e a noite, na diversão que é tocar com os amigos”, diz.

Aventura. Representante de uma linhagem de verdadeiros monstros do violão como Dino 7 Cordas (1918-2006), Raphael Rabello (1962-1995) e Luizinho 7 Cordas, Zé Barbeiro se aventurou no instrumento – a contragosto do pai – nos anos 1960, ainda na barbearia do patriarca. Em meio à efervescência do iê-iê-iê, aprendia os primeiros acordes com O Calhambeque, versão de Erasmo Carlos consagrada por ele e Roberto. “Todo mundo que ia à barbearia tocava, era simples e eu comecei a imitar os acordes. A música é fraca demais. Como o cara conseguiu ganhar tanto dinheiro com aquilo?”, diz o músico fazendo o turrão, reconhecido no meio musical apenas como uma faceta do generoso e simples Zé Barbeiro.

“Apesar daquela cara séria, de poucos amigos (tipo!), é um dos músicos mais agradáveis com quem já trabalhei. Cobrão nas harmonias e na execução de seu instrumento, tem um ouvido privilegiado, captando tudo, “de prima”. E além disso, é um grande contador de casos – talento cada vez mais raro entre virtuoses do violão”, diz Nei Lopes.

O sambista é apenas um dos grandes com quem Zé Barbeiro teve o privilégio de dividir os palcos. Autodidata e intuitivo, estimulado por João Macacão, comprou seu primeiro sete cordas e começou a participar de festivais na década de 1970. De lá pra cá, segue sendo praticamente um anônimo para o público, mesmo tendo tocado com Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso, Altamiro Carrilho, Zeca Pagodinho, Noite Ilustrada, Dona Inah, Batatinha, entre outros. Nomes apenas comprobatórios de que Zé Barbeiro, há tempos, deve figurar no panteão dos que tratam a música com a fineza que ela merece.

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Criolina abre série de shows do Rumos da Música

 

Ao longo do ano serão 25 apresentações, com entrada franca, com ingressos distribuídos com uma hora de antecedência

 

24 de fevereiro de 2011 | 11h 35

AE – Agência Estado
Começa nesta quinta-feira à noite uma viagem musical pelo Brasil no Itaú Cultural no projeto Rumos da Música, que mapeou o som contemporâneo que se pode ouvir em todo o País.

Ayrton Valle/DivulgaçãoLuciana Simoes e Ale Muniz, da CriolinaAo longo do ano serão 25 apresentações, com entrada franca, com ingressos distribuídos com uma hora de antecedência. O som começa às 20h, com a apresentação da banda Criolina, do Maranhão.

A banda é comandada por uma dupla de artistas maranhenses que, recentemente, lançou seu segundo álbum, Cine Tropical, numa mistura da música popular do Maranhão com surf music e jovem guarda, com referências do cinema antigo em suas músicas, como Barbarella, Mazzaropi e Glauber Rocha.

Também fazem parte do primeiro bloco de show do projeto João Parahyba, de São Paulo, que se apresenta amanhã; Carlos Careqa, do Paraná (26/2), e Zé Barbeiro, de Alagoas (27/2). No segundo bloco se apresentarão Diego de Moraes e o Sindicato, de Goiás (3/3); Emicida, de São Paulo (4/3); O Jardim das Horas, do Ceará (5/3); e Maurício Marques, do Rio Grande do Sul (6/3). O Rumos da Música recebeu um total de 2.699 inscrições.

Para conhecer o projeto veja o link: http://www.youtube.com/watch?v=5gfVWkVvzxA

Rumos da Música
Itaú Cultural – Sala Itaú Cultural
Avenida Paulista 149 – Paraíso próximo à estação Brigadeiro do metrô Tel.: 11 2168 1777
twitter.com/itaucultural
E-mail: [email protected]
Site: www.itaucultural.org.br

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As 7 cordas do choro paulistano

por Zé Carlos Cipriano em 4 de maio de 2005  
Publicado no Blog Suvaco de Cobra

 Zé Barbeiro é um desses exemplos de chorão de rara estirpe que carrega em suas baixarias uma autêntica escola de vida e um aprendizado de anos de convívio informal com músicos de várias tendências e lugares.

 

Quem já teve a oportunidade de assistir ao recente documentário Violões do Brasil deve ter se impressionado com rostos de instrumentistas completamente novos perante o mainstream da mídia cultural do país. Dentre eles, destaco o duo de violões Alessandro Penezzi e Zé Barbeiro.

Zé Barbeiro, em cena do DVD Violões do BrasilEste último, considerado por Luís Nassif o melhor violão de 7 cordas do Brasil e sucessor de José Horondino da Silva (em seu artigo “Gênios anônimos da música”, de 19/03/2005), é um desses exemplos de chorão de rara estirpe, carregando em suas baixarias uma autêntica escola de vida e um aprendizado de anos de convívio informal com músicos de várias tendências e lugares.

Natural de Maceió, José Augusto Roberto da Silva, 53 anos, fala em depoimento gravado no documentário, sobre a origem do choro em São Paulo, numa época em que algumas barberarias das grandes cidades e subúrbios, eram redutos dos chorões das redondezas.

Foi justamente assim seu início na música. Seu pai, proprietário de uma barbearia em Carapicuíba, cidade da região metropolitana de São Paulo, abria seu espaço para músicos locais. O menino Zé, que na ocasião engraxava sapatos para a freguesia paterna, permanecia inerte e contemplativo diante de um habitual cliente de função militar que freqüentava o salão e que tocava um violão bonito que lhe chamava sempre a atenção. Pegando um instrumento emprestado de seu vizinho, lá ia Zé imitar a seqüência de acordes do Calhambeque, sucesso da jovem-guarda na época que, teimoso e perseverante, decidiu que aprenderia a tocá-lo daquele jeito que tanto o impressionara. Foi o suficiente para que ele pedisse na visita seguinte do cliente para que lhe ensinasse, passo a passo, como era a bendita seqüência de acordes.

Há 10 anos aposentou-se da profissão de barbeiro para se dedicar integralmente à música.

A obstinação do menino Zé e seu jeito de humilde observador e dedicado aprendiz permanecem todavia intactos nesse violonista do povo que hoje se tornou a principal referência do choro em São Paulo. Seu virtuosismo e versatilidade para acompanhar qualquer instrumentista solo ou cantor através de seus generosos bordões, no andamento que for, estão sempre à disposição daqueles que quiserem aprender. Há dez anos aposentou-se da profissão de barbeiro, herdada do pai – ficando esta apenas em seu apelido – para dedicar-se integralmente à música, tocando nos redutos de boa música da noite paulistana, como o Ó do Borogodó e o Bar do Cidão, e sendo bastante requisitado em shows e gravações no circuito musical.O devido reconhecimento vem à passos de tartaruga, mas chega aos poucos: seu choro Baba de Calango foi um dos premiados no último festival de choro de Curitiba; sua direção musical no CD Divino Samba Meu, da cantora Dona Inah, não consegue passar depercebida pela qualidade e acabamento dos arranjos; e mais recentemente a performance solo de suas peças foram ovacionadas no palco da Maison de Cultures du Monde, em Paris, no mês de março último.

Estamos no aguardo do dia em que esse primeiro time da música brasileira – citado por Nassif – que as gravadoras ainda não conseguiram localizar possa submergir à divisão de elite. Time onde Zé Barbeiro, Alessandro Penezzi, o grupo Choro Rasgado e tantos outros pertencem, já que bagagem e qualidade não faltam. Já é tempo deles subirem de aspirantes para titulares.

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áudio:

choro com pegada de samba “De trás pra Frente”

 

Luis Nassif

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